Mariana voltou para a casa antiga, cumprimentou Gustavo com um aceno breve e disse que não estava se sentindo bem. Sem esperar resposta, subiu diretamente para o quarto. Deitou-se no sofá, tentando encontrar algum conforto. Era Natal, o dia em que as famílias costumam se reunir e celebrar. Mariana, no entanto, não conseguia se sentir parte desse espírito. Pegou o celular e abriu o Instagram, onde já havia várias postagens mostrando mesas fartas e famílias sorridentes. Na casa antiga, a ceia de Natal também estava impecável, como sempre. Mas Mariana sequer sentia fome. Luísa tinha voltado para o interior para passar o feriado com os pais, e Paulo ainda estava de plantão no hospital. No grupo do WhatsApp com os quatro amigos, apenas Camila falava. Mariana leu as mensagens por um tempo antes de responder:— Amanhã estou de plantão. Daqui a uns dois dias posso me encontrar com vocês.Camila respondeu quase imediatamente:— Então marcamos para daqui a dois dias!Mariana suspirou. Na verd
Lucas respondeu com impaciência:— E por que eu mentiria pra você?— Mas por que não foi vê-la? — Pedro insistiu. — Você não se preocupa com ela?— Ela... não quer me ver. — A voz de Lucas saiu firme, quase fria.Pedro ficou sem palavras. Como assim? Era óbvio que ela queria vê-lo! Se não quisesse, não teria contado a ele, Pedro, que estava doente. Era claro que ela queria que ele servisse de mensageiro.Pedro suspirou, já um pouco irritado:— Cara, quando uma mulher está doente, é quando ela mais precisa de cuidado. E você...— Ela me disse que não quer me ver. — Lucas o interrompeu, sua voz mais baixa, quase abafada. — Então, pra quê eu iria?Pedro ficou sem saber se Lucas era realmente tão idiota ou se estava apenas provocando. Pensando bem, considerando o histórico dele, era provável que ele realmente acreditasse no que estava dizendo. Pedro riu, incrédulo:— Então, enquanto ela não disser com todas as letras que quer te ver, você não vai?— Não.— Nem se ela... sei lá, passasse p
Pedro perguntou, intrigado:— O que você quer dizer com "depois"? Mesmo que vocês se divorciem, você ainda vai cuidar dela?Lucas respondeu, sem rodeios:— Não.Pedro suspirou, aliviado:— Ah, ainda bem.— Mas vocês… — Lucas disse fixamente para ele. — Não pensem em incomodá-la. Se fizerem isso, vão me fazer passar vergonha!Pedro estranhou:— Mas por que você...Antes que pudesse terminar, Lucas o cortou:— Tá, chega por aqui.Lucas desligou o telefone, virou-se e desceu as escadas. Ao chegar na sala, viu Mariana e Gustavo conversando e rindo animadamente.Lucas se juntou a eles, sentando no sofá. Mariana imediatamente se levantou:— Vou dar uma olhada na cozinha, vovô.Gustavo sorriu:— Vai lá, mas cuidado, tem bastante gente cuidando das coisas. Melhor você não mexer muito, não quero que se machuque.Mariana assentiu e foi para a cozinha.Lucas então quebrou o silêncio:— Vô, tem uma coisa que eu queria conversar com o senhor.Gustavo olhou para ele, curioso:— O que foi?— É que...
— Eu fui viajar, não te trouxe presente, e você ainda foi reclamar pro meu avô? — Disse Lucas com frieza. — Se quiser alguma coisa, é só falar. Eu mando alguém comprar pra você.— Muito obrigada pela sua generosidade. — Mariana soltou uma risada irônica. — Mas não preciso de nada! E, aliás, eu não sou do tipo que fica reclamando dessas bobagens pro meu avô.— Mariana, será que dá pra você parar de ser tão orgulhosa? — Rebateu Lucas, encarando-a. — Você não chega nem aos pés da Joana!sPelo menos a Joana fazia de tudo pra conseguir o que queria.Mariana lançou um olhar gelado para ele, mas permaneceu em silêncio.— Ficou sem palavras? — Lucas provocou, irritado.— Lucas, faz um favor pra mim. — Mariana disse, perdendo a paciência. — Vai ao hospital e marca uma consulta. Quem sabe eles conseguem resolver os problemas na sua cabeça?Ela cruzou os braços, sua voz carregada de desprezo:— Quem liga pros seus presentes? É verdade, eu não sou como a Joana. Mas ao menos eu não me rebaixaria a
Gustavo estava feliz, afinal, Lucas e Mariana pareciam estar se dando bem. Mesmo com Mariana explicando que não poderiam ter filhos nos próximos dois anos, Gustavo achava que esperar esse tempo não seria problema. Para ele, o importante era que os dois estivessem bem juntos.O resultado da alegria foi que todos acabaram bebendo demais. Lucas terminou sozinho uma garrafa de vinho, enquanto Gustavo e Mariana dividiram outra.Gustavo, por já estar mais velho, e Mariana, por ter uma tolerância baixa ao álcool, não aguentaram muito. Antes das dez, Gustavo se recolheu para o quarto, e Mariana, completamente tonta, foi carregada por Lucas até o andar de cima.Naquela noite, Mariana teve sonhos estranhos. Sentia-se extremamente sedenta, procurando água desesperadamente. Quando finalmente encontrou uma fonte, a água saía em pequenos goles, insuficiente para saciar sua sede.Desesperada, ela se agarrou com as duas mãos e começou a sugar com força, mas a sensação continuava. Até que, de repente,
— Você tá falando besteira! — Mariana estava furiosa. — Eu bebi demais, como é que eu ia fazer alguma coisa?— Dá pra fazer muita coisa. — Lucas, recostado preguiçosamente na cabeceira da cama, com aquele ar provocador, respondeu de forma que só aumentava a raiva dela. — Pediu pra eu te beijar, me abraçar... Ficou me chamando de "meu amor", dizendo pra eu não parar...— Cala a boca! — Mariana interrompeu, sentindo o rosto queimar de vergonha. — Só um idiota acreditaria nisso!Sem dar mais atenção a ele, Mariana voltou para o banheiro e bateu a porta com força.Lucas arqueou as sobrancelhas, um sorriso satisfeito aparecendo em seus lábios enquanto lembrava da noite anterior. A sensação da boca quente e úmida dela envolvendo-o era inesquecível, algo que ele jamais imaginara sentir. Mas, claro, isso só aconteceu porque ela estava bêbada. Se estivesse sóbria, provavelmente teria mordido ele até arrancar um pedaço.Ele passou a mão pelo rosto, tentando afastar os pensamentos. Apenas lembrar
Paulo sempre fazia questão de presentear Mariana. Aniversários, Ano Novo, e até mesmo datas menores, ele nunca deixava passar em branco. No entanto, sempre que dava algo para Mariana, Luísa também ganhava um presente. Por isso, Mariana nunca ligou muito.Mariana pegou o presente de Paulo e ainda nem tinha aberto quando ele estendeu a mão, com um sorriso maroto:— E o meu?Mariana quase riu:— Então quer dizer que isso aqui é uma troca de presentes? Por que não paramos com isso e cada um compra o que quer? Não seria mais prático?— De jeito nenhum. — Paulo respondeu, fingindo indignação. — Isso é sobre o gesto. Você não entende nada de romantismo, hein?Mariana sabia que, no fundo, ele tinha razão. Ela nunca fora uma pessoa muito romântica. Mas, como Paulo sempre se esforçava para escolher algo para ela, não seria justo não retribuir. O presente dele, aliás, já estava comprado há dias. Ela e Luísa tinham escolhido juntos, justamente para não esquecer.Paulo, animado, abriu o presente e,
— Obrigada, vovô. — Mariana agradeceu com um sorriso.Mas, no fundo, ela sabia que a desculpa de Lucas não fazia sentido. A empresa estava de folga, que “urgência” poderia aparecer de repente? Ela não fazia ideia do que Lucas estava tramando dessa vez.Se ele queria dar início a uma guerra de silêncio, ótimo. Ela estava mais do que disposta a entrar no jogo.Mariana voltou sozinha para a casa dos pais. No entanto, ao chegar lá, foi recebida com a frieza habitual. Mário e Mónica estavam ocupados com compromissos sociais, típicos dessa época do ano.Quando souberam que Lucas não a acompanharia, os dois não conseguiram esconder o descontentamento. Nem sequer convidaram Mariana para almoçar. Disseram que estavam apressados e logo a dispensaram.Mariana não se surpreendeu. Estava acostumada com a indiferença deles. Ao sair de lá, resolveu ligar para Camila e Paulo, marcando um almoço.Depois da refeição, Camila pegou uma carona com Mariana. No caminho, viu a pulseira que Lucas havia dado:—