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Capítulo 6: A proposta

POV Elizabeth Collins

—Lissy? —Ouço algo vindo de trás de mim e um arrepio percorre minha espinha ao reconhecer a voz de Dante. A caixa de morangos em minha mão cai e se espalha por toda a loja, deixando uma bagunça de manchas vermelhas e frutas amassadas.

«Como ele me encontrou?» penso com um nó no estômago. Não acho que seja apenas uma coincidência, esta é a barraca mais distante da cidade e não tenho nada que estar aqui como comprador.

—Você está bem, se machucou? —Ele se aproxima de mim e pergunta, examinando minhas mãos em busca de ferimentos. 

Eu me forço a sair de minha letargia. Solto o instinto e dou um passo para o lado, determinado a mostrar meu descontentamento com sua presença. 

—O que está fazendo aqui? —pergunto com um olhar o mais inexpressivo possível. Não quero que ele saiba a revolução que sua proximidade está causando dentro de mim; não pretendo permitir que ele me prejudique ainda mais.

—Vim ver o que aconteceu com você. Estamos ligando para o número de contato que você nos deixou no seu currículo há duas semanas e você não atende —ele limpa a garganta desconfortavelmente e fica atônito quando percebe que estou colocando alguma distância entre nós e não dou muita importância à sua explicação. 

—Não respondi porque recuperei o juízo —respondo automaticamente. Nunca lhe diria que fiz isso para ficar longe dele. —Minha avó não tem mais ninguém para ajudá-la aqui, e eu não posso deixá-la sozinha na idade dela. 

—Pensei que você estivesse procurando um emprego só para ajudá-la. Na verdade, você mencionou isso como um de seus motivos.

Como esperado, ela não desiste. Ela caminha para ficar em frente ao balcão e me encara.

—Eu me arrependi, essa é a única resposta que tenho, Sr. Edwards, não precisava ter vindo até aqui só para isso.

—Lissy, com o salário que você pode ganhar na empresa, você poderia deixar esse cargo e seu emprego noturno no restaurante —ele insiste. —Você teria muito mais tempo para passar com sua avó, para que ela possa descansar.

Vejo que ele dedicou todo o tempo do mundo para dar uma olhada na minha pasta. O que eu não entendo é como ele conseguiu me encontrar, embora, francamente, eu duvide que um homem com suas posses financeiras não tenha seus próprios métodos especiais para conseguir o que quer.

Ele tira um cartão da carteira e o deixa sobre o balcão.

—Infelizmente, já temos uma pessoa para o cargo para o qual você estava concorrendo, mas precisamos de um assistente para a área administrativa, especificamente na contabilidade; o contador é uma pessoa experiente, mas está sobrecarregado de responsabilidades e você sempre foi bom nisso, portanto, tenho certeza de que conseguirá se adaptar rapidamente. Obviamente, o salário não é o mesmo, mas é muito bem pago —continua ele. —Se estiver interessada na vaga, ligue para mim, por favor. Neste cartão está meu número de telefone e também o do meu assistente. Ficaria muito feliz se aceitasse trabalhar conosco.

—Por quê? —Tenho coragem e pergunto. —Por que está vindo até aqui para me fazer essa proposta? O que você ganha com isso? Sua empresa é uma das melhores do país, você pode ter a melhor assistente do mundo se quiser, a mais bonita, a mais preparada, a mais educada, a mais elegante. Por que está fazendo isso se me despreza?

Seu olhar muda drasticamente e seus braços caem ao lado do corpo enquanto ele me ouve. Mantenho minha posição e entrego o cartão de volta para que ele o aceite.

—Já se passaram dez anos, Lissy. 

É claro que já se passaram dez anos! Isso apaga o que aconteceu? Apaga toda a dor que ele me causou, ou a mágoa que ele me causou, ou que nos machucou sem nem mesmo saber?

Dante está em silêncio, esperando uma resposta e eu não hesito em dá-la. Tenho tantas palavras presas em meu peito esperando para fluir, tenho tanta raiva acumulada que não sei se poderia ser sensato e ficar calado sobre o que jurei nunca deixar que ele soubesse.

—Isso muda as coisas que você fez? —Até eu me surpreendo com a serenidade em minha voz, apesar de me sentir péssima. —Ou essa é sua nova maneira de trapacear? Não entendo sua irritação em conseguir me humilhar quando deveria simplesmente me ignorar e me deixar ir, porque se há uma coisa de que tenho certeza é a capacidade que você e sua irmã têm de persuadir e magoar pessoas que nunca fizeram nada de errado com vocês.

—Não acho que devamos falar sobre isso aqui e agora.

—Concordo plenamente, Sr. Edwards. —Vou até a porta e olho para ele de lá. —Não deveríamos estar falando sobre isso, nem sobre nada. O senhor não deveria estar aqui em primeiro lugar, não deveria estar me fazendo essa proposta, não deveria estar me procurando aqui, no mercado, onde sempre teve repulsa de estar, não deveria querer essa mulher gorda em sua empresa como uma de suas funcionárias.

—Lissy...

—Elizabeth, para você, Sr. Edwards. Não somos mais o que costumávamos ser, não se confunda —é a primeira vez que falo com ele dessa forma sem me dirigir a ele dessa forma, e ele não esconde sua surpresa. —Já se passaram exatamente 10 anos e eu não sou mais aquela jovem iludida que acreditava na bondade das pessoas. Desculpe-me se agora me tornei uma pessoa desconfiada, mas a vida me ensinou da maneira mais difícil a não confiar em ninguém, especialmente naqueles que dizem que me amam e, alguns minutos depois, me dão um golpe baixo. O que não posso dizer com certeza é que você mudou nesse período.

—Elizabeth —ele limpa a garganta. —Não sei se é útil esclarecer tudo isso agora, mas poderíamos conversar sobre isso algum dia. 

Ele coloca o cartão de volta em minhas mãos e vai embora, sem mais nem menos, para sua van estacionada na calçada. O senhor que parece ser seu motorista acena para mim em sinal de saudação e eu nem sinto vontade de retribuir. 

Quando o vejo se afastar o suficiente, toda a dor dentro de mim explode como um vulcão em erupção, arrastando-me para um abismo de profunda depressão.

—Por que, Dante? —Pergunto pela trilionésima vez, sentando-me no chão úmido do local precário onde me deixo chorar, mais uma vez, como me acostumei a fazer durante todos esses anos. 

Fecho os olhos para evitar que os vestígios do que aconteceu naquela noite se repitam em minha cabeça, mas isso não é realista; tudo é projetado como um verdadeiro filme de terror.

(...)(...)

—Onde você estava até agora, garota? —Eu me assusto quando minha avó me pega na porta do meu quarto. 

—Eu... estava... 

—Elizabeth Collins, hoje é sua festa de aniversário, onde você estava até esta hora? Já está escuro —eu a ouço entrar na cozinha e mexer em algumas coisas. —Pensei que você fosse me ajudar com os lanches. Tive de pedir ajuda à Dona Teresa.

—Desculpe-me, vovó. 

Eu me abraço com força para aliviar o tremor em meu corpo. Minha respiração continua irregular e o cheiro de Dante em minha pele me domina.

—Sinto muito, vovó —ele bufa, repetindo após mim.  —Isso é tudo o que você tem a dizer? Está quase na hora da festa, você precisa se arrumar, seus amigos devem chegar logo.

De onde estou, olho para ela envergonhado, pois isso nunca aconteceu antes. Apesar de sua doença e de sua idade avançada, ela nunca falhou comigo e eu falhei com ela, agora mesmo. Sou uma neta ruim e não a mereço.

Vou para o meu quarto e me esforço para tirar o uniforme. Sinto-me bastante dolorida, como se uma manada de elefantes tivesse passado por cima de mim. Minhas partes íntimas estão ardendo e minha calcinha tem vestígios da minha primeira vez. 

Decidi não deixar minha avó descobrir o que aconteceu e ficar desapontada comigo, então optei por lavar as roupas que estava usando e tomar banho em água quente por um longo tempo para relaxar meu corpo. 

Em minha mente, só consigo projetar o que Dante e eu acabamos de fazer, ainda não consigo acreditar. Várias vezes me pego sorrindo como uma boba ao me lembrar de seus beijos, de seu toque e de como ele me fez sentir coisas que eu nem sabia que existiam. 

—Lissy! A vovó está chamando você —Tamara b**e insistentemente na minha porta e o pequeno cubículo faz barulho. —Lissy! Lissy!

(...)(...)

—Lissy! Lissy! Amiga, o que está acontecendo? —Alejandra se senta ao meu lado e me abraça. —Por que você está assim?

Eu não respondo, não é necessário, ela é a única que sabe toda a verdade dessa história. Eu a abraço com força, procurando algum conforto e apoio dela. Sem dúvida, preciso muito dos dois para tudo o que me espera com esse novo encontro entre mim e Dante.

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