Cidade de Deus – Rio de Janeiro – BrasilAtualmenteAngel observava e prestava bastante atenção em toda história contada por Mikael. Ela percebia angustia em suas palavras. Percebia seus punhos cerrando em forma de amargura. Seus olhos se umedecendo. Mikael relatara como tudo ocorrera com os maiores detalhes, mas parecia estar deixando algo oculto, algum segredo que pelo visto não tinha coragem ou não queria compartilhar com ela.- Esse tal de Adilsinho parecia muito importante para você não é mesmo Mika? – Angel lhe tomou a mão e apertava com bastante ternura em forma de tentar consolar aquele homem que parecia tão forte, mas naquele momento parecia a criança mais frágil.- Na verdade sim. Ele foi meu amigo desde os tempos de moleques, e ser obrigado a caça-lo para mata-lo foi muito para mim. E o pior, saber que ele não tinha aguentado toda aquela pressão e acabou por se matar, se jogando dezenas de metros rio abaixo. Até hoje não encontraram o seu corpo.- Sinto muito por isso, deve
Cidade de Deus – Rio de Janeiro – BrasilPor alguns instantes, era como se nenhum dos dois estivessem realmente ali naquele quarto.Mikael era um homem vivido, já teve diversas mulheres, mas nunca realmente alguma que parecesse querer mesmo estar com ele. Sempre parecia interesse ou medo por ele ser o dono do morro. No caso de Angel, ela era inocente, era virgem, e pouquíssimas vezes teve contato íntimo com um homem.Nenhum deles sabia realmente o que estavam sentindo com aquele contato, com aquele beijo, mas estava bom, estava diferente de tudo que já haviam provado e sentido antes.Seus lábios se tocavam com suavidade, era algo puro, parecia haver sentimento de ambas as partes.Mikael a envolveu em seus braços negros e fortes e Angel suspirou de paixão como uma adolescente ao sentir pela primeira vez o toque de um homem. Lentamente ele ia lhe conduzindo a se deitarem na cama e delicadamente ele ia depositando o peso de seu corpo sobre o dela.Suas mãos se entrelaçavam acima da cabeç
Cidade de Deus – Rio de Janeiro – BrasilAo ver aquele homem mirando as suas armas tanto para ele quanto para Angel, Mikael queria ali mesmo estourar a cabeça daquele porco traidor, mas corria tanto o risco de ser atingido, ou ter Angel sendo alvejada pelo disparo da segunda arma. Ele teria contato com seus homens, mas nenhum dos dois conseguiram sacar as suas armas a tempo.- Qual foi Beterraba, que porra é essa meu truta? – Mikael continuava apontando a arma para ele e com a outra mão, tentava induzir que aquele homem viesse abaixar o seu armamento.- A porra dessa patricinha tinha que se meter né neguinho? Agora vai você e ela pra puta que pariu.Beterraba mirou tanto para Angel quanto para Mikael e pronunciou suas ultimas palavras antes do disparo final.- Bang.Estouro. O ouvido de todos produzia um zumbido forte junto a uma dor de cabeça repentina devido ao alto barulho dos disparos naquele pequeno ambiente. O cheiro forte de pólvora tomando conta daquela sala e do pulmão dos pr
Cidade de Deus – Rio de Janeiro – BrasilDois meses depois.Após todos os acontecimentos, Mikael passou evitar visitar a menina Angel, apenas procurava saber se a mesma não havia desenvolvido algum surto psicótico devido aos últimos acontecimentos e também sobre sua crise de ansiedade, que a levou a desmaios frequentes. Com tudo isso, ele apenas ordenou que o seu médico de confiança fizesse visitar a cada dois dias para verificar seu estado de saúde.Angel de fato não desenvolvera nenhum estado de pânico ou psicose traumática, mas por dias ficara sem se alimentar direito e até mesmo sem dormir. Tinha diversas crises de choro, medo e ânsias de vomito. Toda vez que a menina loira dos olhos claros tentava fechar seus olhos, só vinham as imagens da carnificina que houvera no escritório de Mikael. Sangue, gritos e morte, era apenas essas coisas que mentalizava a todo momento. E por isso, evitou dormir por quatro dias seguidos, evitando assim fechar seus olhos.Após uma semana de consulta c
Cidade de Deus – Rio de Janeiro – BrasilAlgumas horas depois.Angel acordou se sentindo melhor que em todos os outros dias. Estava feliz e com um lindo sorriso estampado durante toda a manhã. Cantarolava suas musicas preferidas, dançava pelo quarto e estava ainda mais linda que o normal.Usava uma calça fina de moletom na cor rosa e uma lusa branca de dormi. Seus cabelos estavam presos em dois rabos de cavalo laterais. Estava bela e angelical como uma princesa europeia.Pela primeira vez desde que tudo começou, Angel não estava tão feliz, era como se algo muito bom estivesse para acontecer em sua vida. Ela não sabia o que poderia ser, mas sua intuição lhe flertava com as mais diversas possibilidades.Já faziam duas semanas que ela e Mikael não se encontravam. Ele nunca mais viera ao seu encontro, não depois do beijo que acabara acontecendo entre eles e do incidente em seu escritório, que resultou na morte de alguns homens e que afetara bastante Angel – mesmo que temporariamente.Por
Cidade de Deus – Rio de Janeiro – Brasil“Você está livre patricinha”Aquelas palavras de Mikael horas antes era para ter lhe trazido toda a felicidade do mundo, mas por alguma razão, Angel não estava tão animada como deveria estar.Sentia alegria sim. Iria voltar para a sua casa, para sua vida normal, mas alguma coisa estava estranha dentro dela. Algo que nem ela mesmo poderia descrever.Sem muita emoção, ela terminava seu banho e já se trocava para encontrar com seu pai na entrada do morro da Cidade de Deus. Mikael não iria junto, apenas um homem iria lhe levar de carro até o destino.Angel estava ainda mais linda que o normal. Cabelos soltos, lisos como a seda esvoaçavam com o vento forte que soprava aquela hora da tarde. Antes mesmo de adentrar no veículo, Angel deu um forte e demorado abraço na empregada de Mikael que esteve sempre ao seu lado. Foram momentos difíceis sobre estar em um diferente tipo de cativeiro, e aquela senhora lhe trouxe bastante consolo e conforto, nunca iri
Cidade de Deus – Rio de Janeiro – BrasilJá faziam dois dias que Angel havia voltado para casa, e o mesmo tempo trancada em seu quarto. Não queria conversar com ninguém, nem com suas amigas que lhe ligavam ou iam em sua casa, e muito menos com seus pais – principalmente com seu pai.Angel não se sentia traumatizada, na verdade, ela nem sabia o que estava sentindo e nem pelo o que estava passando. Estava triste, angustiada, se sentia vazia, desolada e entediada.No dia em que chegou em casa, achou que poderia conversar com sua mãe sobre o que tinha passado, mas não conseguiu. Não chorou, não teve crise de ansiedade e muito menos de pânico. Apenas não teve palavras ou mesmo animo para relatar seus dias de cativeiro. Apenas relatou que nunca fora destratada ou maltratada. Disse que tinha um quarto só para ela e e se alimentava como qualquer pessoal. Nada mais foi dito. Nada mais.Dois meses se passaram, e pelo mesmo tempo Angel se manteve presa em seu quarto. Seus pensamentos sempre foca
Cidade de Deus – Rio de Janeiro – BrasilBarra da Tijuca – Rio de JaneiroAngel havia finalmente saído de seu quarto. Se alimentou com uma refeição farta na própria cozinha de seu apartamento e foi ao banheiro tomar banho. Eram dezoito horas e o clima estava bastante refrescante.Da cozinha sua mãe ouvia sua filha cantarolar alegremente enquanto tomava banho, ficando mais aliviada em ver sua filha de bom humor e possivelmente sairia daquele seu cárcere de solidão. Ela mencionou bater na porta do banheiro para falar com Angel, mas acabou mudando de ideia.Angel estava se sentindo estranhamente bem e ficou mais tempo do que imaginava relaxando embaixo daquela ducha morna e relaxante. Angel depilou suas pernas e suas partes intimas e usou seu melhor shampoo e condicionador. Ao sair do banho limpou sua sobrancelha sem muitos caprichos e ficou a se admirar no espelho. Ela era linda, se achava linda e pensou melhor sobre sua noite. Não iria ficar em casa. Precisava relaxar, se distrair e co