Era uma manhã ensolarada quando cheguei à loja. O aroma fresco do café recém-passado misturava-se com o perfume das flores que enfeitavam a entrada, criando uma atmosfera acolhedora. A loja, um pequeno refúgio de encantos e detalhes cuidadosamente selecionados, estava repleta de cores vibrantes, cada produto contando uma história única. Era aqui que eu me sentia em casa.Assim que entrei, fui recebida pelo som da campainha da porta e pelos sorrisos dos colegas. O clima era sempre leve e animado. O proprietário, Carlos, estava no caixa, organizando alguns documentos e acenando para mim.— Alby! Que bom que você chegou! — Ele exclamou, iluminando o ambiente com sua energia contagiante. — Temos algumas novas mercadorias que você precisa conferir.A empolgação em sua voz era contagiante. Desde que fui contratada, cada dia na loja era uma nova oportunidade de aprender e crescer. Os desafios se tornaram parte da rotina, e eu me divertia em cada interação com os clientes, ajudando-os
Alice estava dormindo profundamente, seu corpo pequeno e frágil escondido sob os cobertores quentes. A luz da lua filtrava-se pela janela, iluminando suavemente o quarto. No entanto, em seu mundo imaginário, a escuridão se aproximava, transformando a tranquilidade em um campo de batalha entre medos e inseguranças.Em seu sonho, ela se via em um lugar familiar, mas distorcido. Era o parque onde costumava brincar com os pais, mas agora estava envolto em uma neblina espessa, e as risadas que uma vez ecoavam agora eram substituídas por sussurros distantes. Alice tentava chamar por eles, mas sua voz soava abafada, como se estivesse presa sob água.— Mamãe! Papai! — ela gritou, mas a neblina parecia engoli-la, isolando-a em uma solidão aterradora. Seus pequenos pés correram pelo gramado, mas a paisagem parecia mudar a cada passo que dava, tornando-se um labirinto sem fim.De repente, a neblina se dissipou, e Alice se viu diante de uma cena perturbadora. Seus pais estavam lá, mas não e
Sentei-me no carro, o volante praticamente moldado pela pressão de meus dedos, tão intensamente o segurava. Eu me sentia perdido, preso entre a ansiedade e a frustração, incapaz de desfazer esse nó que parecia me consumir de dentro para fora. As batidas do meu coração ecoavam em cada giro da chave de ignição, o motor roncando como se fosse a única coisa que me mantivesse ainda em movimento.Tentei ligar para Alby e Alice inúmeras vezes nos últimos dias, mas era como se elas tivessem se dissolvido no ar, uma ausência pesada, constante, impossível de ignorar. Eu me vi murmurando para mim mesmo:— Onde elas estarão?Passei as mãos pelos cabelos, frustrado. Conhecia Alby, ou pelo menos acreditava que sim. Era possível que ela, de repente, sumisse sem deixar rastro? Levando minha sobrinha, que agora dependia de mim tanto quanto eu dependia dela?A ideia de esperar me dilacerava, então fiz a única coisa que podia. Dirigi até a loja onde Alby costumava levar Alice. Algo dentro de mim
Eu estava sentada na pequena mesa da cozinha, cercada por papeis e alguns brinquedos de Alice que agora preenchiam os espaços vazios da nossa nova vida. Nosso apartamento era acolhedor, sim, mas havia sempre essa sensação inquietante de um refúgio temporário. Por mais que tentasse me acostumar, não conseguia ignorar a pontada de saudade que teimava em me lembrar de tudo que deixei para trás. E, junto com a saudade, a dúvida me atormentava. Quando o telefone tocou, me pegou de surpresa, me fazendo quase saltar da cadeira. Olhei para a tela, um número desconhecido, mas algo me disse que eu devia atender. Respirei fundo e levei o telefone ao ouvido. — Alô? — minha voz saiu hesitante, mas me esforcei para soar firme. — Alby, sou eu, Dr. Moon. Desculpe incomodar, mas precisamos conversar — a voz grave dele trouxe um aperto imediato ao meu peito. Minha testa franziu, e uma sensação gelada subiu pela minha espinha. — O que aconteceu? Está tudo bem? — perguntei, tentando manter
Minha rotina tinha virado uma verdadeira montanha-russa de emoções. Fernanda, com sua energia intensa e comportamento impulsivo, havia transformado meus dias em um pesadelo. A cada nova ideia absurda que ela surgia, eu me sentia mais perto do limite. Mal conseguia me concentrar no trabalho, e a tensão já estava afetando minha sanidade.— Não é possível que você tenha encomendado um vestido de noiva sem me consultar! — explodi, passando a mão pelos cabelos, numa mistura de frustração e incredulidade.Ela estava ali, na sala, cercada de pacotes e catálogos de casamento, totalmente alheia à gravidade da situação.— É um sonho, Isaías! E eu não posso esperar para realizá-lo — ela respondeu, com um brilho nos olhos que só aumentava minha irritação.— Um sonho? Fernanda, nós não estamos nem juntos! Não percebe que isso é loucura? — tentei controlar a raiva que fervilhava dentro de mim, mas minha voz saiu mais alta do que pretendia.Ela fez uma careta, se levantou, e colocou as mãos nos q
A semana parecia interminável, e a pressão de tudo que estava acontecendo com Fernanda parecia que ia explodir no meu peito a qualquer momento. Tentar lidar com isso em meio ao trabalho, à minha própria vida, estava me exaurindo. Tudo o que eu queria era um pouco de paz, mas parecia um pedido impossível. Então, uma manhã fria trouxe uma reviravolta que eu não esperava.— Isaías, é a Fernanda. Eu não estou bem... Preciso que você venha aqui, por favor — a voz dela parecia fraca, mas havia um tom de urgência que me fez sentir um aperto no estômago.Vesti-me às pressas, saindo de casa com uma preocupação que eu não conseguia esconder. Ao chegar ao hospital, fui recebido pelo caos: médicos e enfermeiros corriam de um lado para o outro, um clima pesado pairava no ar. Quando finalmente a encontrei, ela estava deitada numa cama, com o rosto pálido e uma expressão de dor que era difícil de ignorar.— O que aconteceu? — perguntei, sentindo a preocupação transbordar na minha voz, mesmo com
A luz do sol entrava pela janela da sala, refletindo-se nas paredes brancas e criando um ambiente alegre. Porém, essa sensação de felicidade foi abruptamente substituída por uma sombra quando recebi a ligação da professora de Alice.— Alby, houve um acidente. Alice se machucou no escorregador e precisamos que você venha para o hospital — a voz da professora soava preocupada, e meu coração disparou.A imagem de Alice caindo do escorregador, com a expressão de dor estampada no rosto, invadiu minha mente. A pequena tinha apenas cinco anos e já enfrentava um mundo repleto de desafios. E, como guardiã/tutora, eu queria estar ao lado dela em cada momento, especialmente nos difíceis.Cheguei ao hospital em um turbilhão de emoções. O cheiro do álcool e dos produtos de limpeza invadiu minhas narinas enquanto eu procurava Alice na sala de emergência. Quando finalmente a encontrei, estava sentada em uma maca, com um curativo no braço e o olhar distante, como se estivesse lutando contra as l
Os dias passaram como um borrão, com a rotina de Fernanda me mantendo em um estado constante de alerta e cansaço. A cada nova excentricidade dela, meu cérebro parecia entrar em um modo de sobrevivência. Mas, naquele dia, algo inesperado aconteceu. Eu estava sentado em um café, tentando me concentrar em um relatório que precisava revisar, quando meu telefone vibrou na mesa.Era Raúl, um amigo próximo da época em que eu e Alby estávamos mais juntos. Fui pego de surpresa ao ver o nome dele na tela. Desde que Alby e Alice desapareceram de nossas vidas, Raúl tinha sido uma das poucas pessoas que ainda tentava entender o que estava acontecendo.— Isaías! — a voz dele soou animada, mas havia uma tensão que não consegui ignorar. — Você não vai acreditar no que eu descobri!— O que foi, Raúl? — minha mente imediatamente se alertou. Havia uma mistura de esperança e apreensão.— Eu estou em viagem e parei em um café numa cidade pequena para esticar as pernas, e… — ele hesitou, como se qui