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Capítulo 5: Uma Escolha Inadiável

O dia amanheceu com uma névoa suave, como se o mundo refletisse a confusão que residia no coração de Noemi. Ela acordou cedo, mas não conseguiu encontrar a energia para se levantar da cama imediatamente. Olhou para o teto, sentindo o peso da manhã anterior ainda sobre seus ombros. A conversa com Ricardo no café havia sido como uma faísca que acendeu todas as emoções que ela vinha tentando sufocar.

Ela sabia que não poderia mais ignorar a situação. O casamento estava a poucas semanas de distância, e cada vez que pensava em andar até o altar, era como se estivesse caminhando em direção a uma prisão invisível. No entanto, a ideia de magoar André era quase insuportável. Ele era seu companheiro há tanto tempo, seu amigo, sua família. Como ela poderia simplesmente jogar tudo isso fora?

Noemi levantou-se finalmente e foi até a cozinha, onde André estava tomando seu café da manhã. Ele sorriu para ela quando ela entrou, e o carinho em seu olhar fez seu coração doer ainda mais.

“Bom dia, amor”, ele disse alegremente. “Estava pensando que, quando nos casarmos, poderíamos começar a planejar nossa viagem para a lua de mel. O que acha?”

Noemi forçou um sorriso, tentando esconder a culpa que a consumia.

“Isso soa maravilhoso, André.”

Ele se levantou e a abraçou por trás, beijando o topo de sua cabeça.

“Estou tão feliz que você aceitou se casar comigo, sabia? Você é tudo que eu sempre quis.”

Ela fechou os olhos com força, lutando contra a vontade de chorar. Como ela poderia continuar enganando-o desse jeito? Como ela poderia se casar com ele quando seus pensamentos estavam constantemente em outro homem? Mas, ao mesmo tempo, o medo de machucar André a paralisava, como se fosse um crime imperdoável destruir a vida que ele havia imaginado para os dois.

No hospital, a tensão entre Noemi e Ricardo era quase tangível. A cada troca de olhares, ela sentia o peso de suas emoções se intensificar. Mesmo nas tarefas mais simples, como servir o café ou limpar as bandejas, ela podia sentir os olhos dele sobre si, como se ele estivesse esperando, esperando por um sinal de que ela tomaria uma decisão.

Foi ao final daquele dia que Ricardo finalmente não conseguiu mais conter-se. Ele a esperou no corredor, sabendo que ela passaria por ali para ir embora. Quando a viu, deu um passo à frente, bloqueando seu caminho.

“Precisamos conversar, Noemi”, ele disse, sua voz baixa, mas urgente.

Ela hesitou, olhando ao redor para se certificar de que ninguém estava por perto.

“Ricardo, eu... não sei se podemos.”

“Eu não posso mais ficar em silêncio, Noemi”, ele insistiu, seu olhar preso ao dela. “Eu sei que você está confusa, e eu respeito isso. Mas não posso ignorar o que está acontecendo entre nós.”

Noemi sentiu o coração disparar, cada palavra dele era como um golpe em sua muralha de resistência.

“O que você quer que eu faça, Ricardo?” ela sussurrou, sentindo-se à beira de um colapso. “Você quer que eu abandone tudo? Meu noivado, minha vida com André?”

“Não quero que você faça nada por minha causa”, ele respondeu, dando um passo mais perto. “Eu quero que você faça o que for melhor para você. O que te fará feliz. Mas eu preciso saber... há alguma parte de você que sente o mesmo que eu sinto?”

A pergunta pairou no ar, e Noemi sentiu que o mundo parou de girar. Ela sabia a resposta, sempre soube, mas admitir era como abrir mão de tudo que ela conhecia, tudo que acreditava ser seguro.

“Eu... eu não sei, Ricardo”, ela disse finalmente, a voz falhando.

Ricardo suspirou, tentando manter a calma, mesmo que seu próprio coração estivesse em pedaços.

“Tudo bem”, ele disse suavemente. “Se você precisar de tempo, eu vou esperar. Mas eu preciso que você seja honesta consigo mesma, Noemi. Porque a vida é muito curta para viver com arrependimentos.”

Naquela noite, Noemi caminhou sem rumo pelas ruas ao redor de seu apartamento. O ar frio da noite parecia clarear seus pensamentos, e cada passo que ela dava a aproximava mais de uma verdade que não podia mais ignorar. Ela sabia que tinha que tomar uma decisão. Continuar adiando só a deixaria mais infeliz e faria com que todos ao seu redor sofressem ainda mais.

Quando chegou ao apartamento, encontrou André sentado no sofá, olhando para as fotos do casamento que haviam tirado como teste. Ele parecia tão feliz, tão apaixonado, que o coração de Noemi se apertou de dor.

“Precisamos conversar”, ela disse, sua voz soando como um eco distante.

André levantou o olhar e percebeu a expressão séria no rosto dela.

“O que houve, amor?”

Noemi sentou-se à frente dele, sentindo as lágrimas se acumularem em seus olhos.

“André, eu... eu não sei como dizer isso. Mas eu preciso ser honesta com você.”

O sorriso dele desapareceu lentamente, substituído por uma expressão de preocupação.

“Você está me assustando, Noemi. O que está acontecendo?”

Ela respirou fundo, buscando coragem.

“Eu não tenho certeza se estou pronta para me casar. Eu... eu tenho dúvidas, e não é justo com você se eu continuar fingindo que está tudo bem.”

André a olhou, o choque e a dor se formando em seus olhos.

“Dúvidas? É sobre nós? Ou... há alguém mais?”

Noemi fechou os olhos, incapaz de encarar a verdade que tanto temia.

“Eu conheci alguém, sim. Mas isso não é sobre ele, André. É sobre mim. Eu preciso descobrir o que eu realmente quero, e não posso fazer isso enquanto continuo fingindo que tudo está perfeito.”

“Eu te amo, Noemi”, ele disse, a voz trêmula. “Eu pensei que você me amava também.”

“Eu amo você”, ela respondeu, sentindo o coração partir. “Mas eu preciso descobrir se isso é o suficiente para nós dois. Não seria justo te prender a alguém que não tem certeza do que sente.”

André ficou em silêncio por um longo tempo, e Noemi sentiu o peso de suas palavras afundando no silêncio que se seguiu. Finalmente, ele respirou fundo e assentiu, as lágrimas brilhando em seus olhos.

“Eu não vou te obrigar a nada, Noemi. Se você precisa de tempo, então eu vou te dar. Mas quero que saiba que meu amor por você não vai desaparecer.”

“Obrigada”, ela sussurrou, sentindo a culpa e o alívio colidirem dentro de si.

“Eu só preciso de tempo para entender o que eu realmente quero.”

E naquela noite, pela primeira vez em muito tempo, Noemi dormiu sozinha no sofá, envolta em um cobertor de incertezas e esperanças. Ela sabia que o caminho à frente seria difícil e doloroso, mas pela primeira vez, sentiu que estava finalmente tomando as rédeas de sua vida.

Do outro lado da cidade, Ricardo olhava para o céu pela janela de seu apartamento, pensando em Noemi e no futuro incerto que os esperava. Ele não sabia o que viria a seguir, mas de uma coisa ele estava certo: por ela, ele estava disposto a esperar o tempo que fosse necessário.

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