O apartamento estava horrível, mas não me importei muito. Eu gastaria algumas horas colocando tudo em ordem e ficaria grato pelo tempo ocupado.
Coloquei o carregador no celular pela primeira vez em muito tempo. Segundos depois recebi centenas de mensagens alertando por chamadas perdidas.
Estranhei. Claro que Renan e Teo tentavam falar comigo com regularidade, mas aquilo estava muito além do volume normal. Afinal, até meus pais tinham reduzido as tentativas de conversa - eu era muito determinado quando queria ficar sozinho.
Será que alguma coisa tinha acontecido?
A primeira coisa que pensei foi algum acidente ou doença, mas depois varri a i
Fiquei aliviado por não ter trancado a porta do apartamento. Meu corpo parecia tão pesado no sofá que seria impossível levá-lo até lá. Teo entrou primeiro, ansiosa. Quando me viu, correu na minha direção e me envolveu com os braços. - Senti tanto sua falta. - sua voz estava embargada. - Oi, mãe. - passei os braços ao seu redor. Ela se afastou para pegar meu rosto com as duas mãos. Parecia que eu era uma criança de novo. - Acabou a loucura? - agora ela estava séria, como se desejasse me dar uma bronca.
Me tranquei no apartamento o quanto pude. Com a liberação para que eu trabalhasse de casa - por um tempo -, acabei me adaptando a fazer tudo por sistema de entrega. Isso me liberava de sair por vários dias seguidos, então eu não correria o risco de esbarrar com nada que falasse sobre Bea. Foram muitos dias sozinhos. Tantos que, aos poucos, fui me sentindo ainda mais vazio. Era um buraco no peito, inflamado e mal resolvido. Nunca ia passar? A saudade, a falta? A vida que eu gostava tanto parecia ser a de outra pessoa. Quase como se nunca tivesse existido - eu até acreditaria nisso se a falta de Bea não fosse tão real. Minha ro
Não pensei que eram quase duas da manhã. Me lancei para fora do apartamento, entrei no meu carro e acelerei em direção ao apartamento de Bea. As ruas estavam completamente vazias, então atingi meu objetivo em um tempo recorde. Meu coração batia freneticamente, de ansiedade e pelo novo esforço físico. Quando toquei a campainha, minhas mãos tremiam tanto que derrubei as chaves do carro. O som ecoou pelo corredor vazio. Eu não esperava que Bea atendesse logo, afinal ela devia estar dormindo, mas conforme os minutos se prolongaram e eu já havia tocado mais três vezes, resolvi bater direto na porta. - Que é isso, meu jovem? - o vizinho abriu a porta. E
Eu estava nervoso quando peguei a estrada, mas a certeza me dava foco. Era tão óbvio que nós éramos perfeitos um para o outro, que aquela separação era ridícula. Bea nunca havia sido uma fantasia. Eu estava apaixonado há muito tempo, tanto que a imaturidade não me permitiu perceber, mas agora eu estava pronto - e ela também. Depois de assistir o filme e ler o livro, não me surpreendi por Bea ter se instalado mais perto da natureza. Fazia sentido. A casa era grande, mas não exageradamente. Haviam árvores na frente, e dois canteiros de flores abaixo das grandes janelas de vidro. Minha boca estava seca e o coração acelerado quando comecei a a
A estrada se estendeu na minha frente. Dirigi mecanicamente, consciente de que estava me distanciando do que mais queria na vida. Quando cheguei na minha cidade, cogitei ir atrás da minha família, mas eu não queria repetir o episódio de quando voltei da casa de Rebeka. Antes de tudo, fui para minha própria casa. Sentei na sala, fitei o teto e contemplei o fato de perder Bea. Não parecia real. Eu já a havia perdido uma vez - mesmo que na minha mente -, mas agora tendo ouvido o "não" tão claro, só me fazia sentir desligado da realidade. Devia ser choque. Em algum momento, eu sentiria aquela dor absurda outra vez. Choraria, me desesperaria e… e depois? &nb
Entrei na sala do meu pai e o encontrei debruçado sobre vários papéis. Quando ele ergueu os olhos, meio sem foco pela concentração, levou um instante para constatar que eu era real. - Rê! – ele ficou de pé em um instante. - Oi, pai. – cumprimentei, dando passos para poder abraçá-lo. - Você parece meu filho outra vez. – riu. - Que bom. – me afastei, sorrindo – Eu tinha esperança de afastar aquela nova versão bizarra. Eu me sinto mais como eu mesmo. Sorrindo, Renan voltou para sua cadeira e eu me acomodei de fr
Alguns dias depois, em um domingo, acordei com o som da campainha. Não era muito cedo - quase a hora do almoço -, e virei na cama ainda confuso. Os domingos eram os únicos dias que eu podia dormir até mais tarde. Em todos os outros, eu me dedicava totalmente ao trabalho. Cambaleei até a porta, me recriminando por pensar - apenas por um mísero segundo - que poderia ser Bea. Era difícil perder a esperança. - Oi. - Lilly sorriu para mim. - Oi. - respondi, confuso. - Espero que não se importe. - como ela podia ficar tão radiante na minha frente? - Peguei
- Desculpa. Eu juro que eu olhei duas vezes. - pedi, totalmente frustrado. Lilly e eu estávamos parados diante do cinema. O filme já havia iniciado há meia hora, e era a última sessão do dia. - Tudo bem, Rê. - ela tocou meu braço com gentileza. - Devo ter visto errado. - me virei para ela. - Não tem problema. - garantiu - Pode acontecer com qualquer um. Voltamos para o carro. Era uma noite de sábado nublada e fria, perfeita para ficar em locais fechados. Lilly se abraçou no banco do passag