O segundo dia de Jobson no emprego foi mais fácil. A chegada em casa na noite anterior também tinha sido boa e motivadora para um dia seguinte. Ele tinha pequenas tarefas, a maioria delas relacionadas a documentos, arquivamentos, organização de papéis. Por sorte, ele era muito bom nisso. Quando era um pouco mais novo, auxiliava a vizinha Adalgisa, já idosa, que era bibliotecária. Ele gostava de ler e a biblioteca pública era perto da casa onde morava. A vizinha era bibliotecária lá e, vez por outra, ajudava-a a carregar livros. Ela sempre dava alguma caixinha para ele. Com a amizade, ela acabou ensinando algumas coisas, como o padrão de organização, o tipo de ordens, o que significavam os números de tombo. Ele era muito esperto, aprendia muito fácil. Usou uma lógica muito parecida, agora, para organizar melhor os papéis do Dr. Ricardo. Organizou, também, os livros. Aliás, ele tinha muitos livros em sua sala, era praticamente um elemento decorativo.
Já Nicolas, em seu segundo diaOs dois lembraram da conversa amistosa que tiveram no almoço antes de dormirem. Ambos tiveram uma sensação estranha a respeito de uma amizade, de uma forma que nunca tinham sentido antes. Nada tinha mudado na rotina deles até a chegada ao trabalho. Jobson ainda teve sua manhã bem suave de uma forma que parecia começar a se tornar uma rotina.Nicolas por outro lado teve um início de dia bastante agitado.Chegando perto do escritório, os olhares para ele eram mais fuzilantes que no seu primeiro dia. A saudação de bom dia de Sandra foi seca e sem desviar o olhar de suas tarefas. Adentrando em sua sala, estava lá, em sua cadeira, seu pai.- Bom dia, filho! - disse Dr. Carlos, num tom entre autoritário e conciliador, que Nicolas raramente sabia diferenciar.- Bom dia, Dr. Carlos, que bom que pôde vir me ver depois de eu ter pedido uma audiência - respondeu o filho, em tom de ironia, afinal, além do pedido de jantar que fez para a mãe, já tinha feito duas tentativas de encontr
Vez por outra se cruzavam de longe, horário de entrada no trabalho era próximo, na saída era mais difícil. Nicolas saia mais cedo que Jobson. Mas ainda não tinham sequer se cumprimentado novamente.A rotina dos dois foi ficando mais comum, natural, sem grandes novidades. Num desses dias que se seguiu, essa repetição de processos foi quebrada de uma forma trágica. Uma explosão elétrica no prédio culminou num incêndio de grandes proporções, no meio da tarde, no auge do período de trabalho, com alta lotação do contingente de funcionários. O desastre aconteceu no meio do edifício e os funcionários da parte mais baixa, incluindo Jobson, conseguiram ser evacuados rapidamente. Mas quem estava na parte alta do prédio, principalmente o alto escalão da empresa, incluindo Nicolas, ficaram presos.Jobson que estava muito próximo da região do local onde o fogo estava mais forte, ao entrar na escada de emergência, pensou se deveria descer. Ele tinha treinamento básico de brigada de incêndio
- Mãe, você pegou meu secador de cabelo de novo? - A pergunta era frequente naquela casa e a resposta, na maioria das vezes igual.- Dafne Cristina, eu pego seu secador quantas vezes eu quiser, a hora que eu quiser. Quem comprou fui eu, aliás a dívida do cartão de crédito tá lá ainda, se você quiser pode pagar pra exigir que eu não pegue. - Sua mãe sempre respondia nervosa, como se qualquer pergunta fosse uma acusação. - Mas mãe, será que você não pode pôr de volta no lugar depois de usar? Ou pelo menos deixar num mesmo lugar? Cada hora tá num canto e eu tenho que ficar procurando, atrasada. - Muitas vezes a filha parecia a mãe naquela casa.Era comum que, com a idade, algumas pessoas que tiveram muitas responsabilidades acumuladas durante toda a vida, decidam que seja o momento de tentarem, de certa forma, aproveitar o tempo perdido. Era o caso de Auxiliadora, mãe de três filhos, dois homens já casados de mais de 30 anos e de Dafne, com 18 anos recém completados. Desde os
No dia seguinte, Jobson foi tentar trabalhar como se nada tivesse acontecido, mas somente as equipes de limpeza e segurança estavam lá. O celular dele não funcionava e sua mãe, de quem era o número de contato que ele tinha deixado, também não tinha recebido notícias do Dr. Ricardo sobre o que fazer. Quando a equipe o reconheceu assim que entrou no prédio, todos pararam o que estavam fazendo e começaram a aplaudi-lo. Ele ficou completamente sem graça e um dos seguranças foi cumprimentá-lo, levando-o para uma outra área. - Você não está acostumado com a fama, né? - perguntou ele, abrindo a porta de uma sala vazia, onde entraram. - Não, definitivamente não - respondeu Jobson. - Me chamo Glauber, sou o chefe dos seguranças. Achei que seria melhor trazê-lo para cá. Você trabalha nos escritórios, não trabalha? É jovem-aprendiz, estagiário, não é? - Jobson respondeu que sim com a cabeça à pergunta dele. Ficou com receio de explicar que sequer sabia ao certo sua função e
O tempo foi passando, Jobson conseguiu colocar algumas contas da casa em dia, fazer uns mimos para mãe e rapidamente voltou ao trabalho. Continuava trabalhando com o Dr. Ricardo, mas uma carga horária menor, já que ganhou dois cursos da empresa, um de técnico em segurança e outro para auxiliar de administração. Como ele ainda estava no último ano da escola, recebeu a promessa também de que ganharia um curso superior na área que ele escolhesse ligada à empresa. Saiu até no noticiário. Como parte do pacote, a empresa anunciou uma série de mudanças, como a da ampliação de sua brigada de incêndio e equipe de primeiros socorros, o que na verdade, praticamente era uma ampliação de zero para alguma coisa, e reformas na integração social dos funcionários. O marketing da empresa achou que essas medidas trariam uma repaginada para a imagem arranhada pelo incêndio. Como símbolo dessa renovação escolheram as figuras de Nicolas e de Jobson. Por conta disso, suas agendas acabaram se encontran
A notícia do casamento de Nicolas e Cristina foi muito comemorada por todas as pessoas que recebiam o comunicado deles. Os pais de ambos eram os mais efusivos. Ana, a mãe da moça, era a responsável por todo o braço brasileiro de uma empresa japonesa de automóveis. Ela também era sócia majoritária de uma empresa gestora de negócios, herança de sua família, mas de lá, só recebia os lucros, pois a administração era toda feita e bem feita, diga-se de passagem, pelos investidores acionistas. Estava decidida que o casamento deveria ser simples. Luxuoso mas sem chamar muito a atenção.Já, Viviane, mãe de Nicolas, acreditava que a festa deveria ser o maior evento social já realizado no Brasil. Ela queria toda honra e toda a glória, como disse em tom de brincadeira séria para o mordomo, enquanto conversava com o filho. - I
Enquanto Cristina e Dafne haviam se tornado unha e carne, Nicolas e Jobson já não estavam mais tão próximos naquele momento. Dafne era despudorada o suficiente para jogar a realidade na cara de Cristina, com bom humor e dizer que seria impossível para ela acompanhar sua realidade enquanto gastava o equivalente ao salário dela em um jantar. Tudo se resolveu rapidamente, já que para Cristina pagar esse valor para Dafne não ocupava nem toda a mesada dela, fora todos os cartões que ela tinha direito de usar para diferentes situações. O aumento de despesa nem foi percebido pelos pais da garota. Já Jobson, mesmo que Nicolas entendesse o problema, coisa que não aconteceu, seria orgulhoso demais para aceitar qualquer tipo de ajuda. E nas primeiras saídas que teve com o rapaz e outros amigos, percebeu que se tivesse uma próxima, não teria mais dinheiro para levar pra casa e ainda era dia 8 do mês. Por mais que Nicolas pagasse boa parte das despesas dele quando saiam, ainda assim pouca coisa
Dafne nem dormiu a noite. Era o dia mais importante da vida dela. Se ela conquistasse a mãe de Nicolas, não teria mais volta, seu destino dos sonhos estava garantido. Ela estava empolgada com a história de tornar-se influenciadora, criado por Cristina, mas se não fosse madrinha daquele casamento, tudo estaria perdido. E ser madrinha passava pela benção de Viviane.Aquela noite ela dormiu na casa da Cristina. Diferente do que o cabeleireiro insinuou no dia anterior, não havia risco das duas se relacionarem. Dafne era muito profissional e se algo pudesse colocar em risco os seus interesses, ela automaticamente passava a ter aversão. Não que Cristina deixasse de, por algumas vezes, sentir algumas coisas que não esperava, como um frio na barriga quando de um toque inesperado de mãos ou de gostar dos momentos de troca de roupa, com um interesse que nunca revê com nenhuma outra amiga. Mas, enqu