Capítulo 182 - "Entre Mundos"(Narrado por Thalrik) O silêncio foi a primeira coisa que notei. Não o tipo de silêncio que se sente em um bosque ou em uma sala vazia. Este era absoluto, opressor, como se o próprio conceito de som houvesse desaparecido. Um vazio. Abri os olhos lentamente, piscando contra a luz suave e prateada que me cercava. Não havia paredes, nem chão. Apenas um céu infinito, pontilhado de estrelas que pulsavam como corações distantes. — Elira? Draegon? — Minha voz saiu rouca, quase inaudível, como se o som tivesse medo de existir ali. Olhei ao redor, buscando qualquer sinal deles. Eu não sabia onde estava, nem como chegara ali. A última lembrança era a explosão de luz, o poder do vínculo se expandindo além do que eu achava possível. E agora... isso. “O limiar...” A palavra sussurrou em minha mente, sem origem, sem voz. Apenas um pensamento fragmentado. Meu corpo parecia mais leve, quase etéreo. Quando tentei me levantar, meus movimentos foram mais fluid
Capítulo 183: “A Decisão”(Narrado por Elira) Um silêncio se instalou entre nós. A palavra “guardiões” ecoou em minha mente. Protetores do equilíbrio... era isso que éramos agora? Eu olhei para Draegon, que cerrava os punhos, e para Thalrik, que estava desconfiado, eu estava entre maravilhada e receosa. — Isso não é o que queríamos — Draegon murmurou, a voz quase em um rosnado. — Nós não escolhemos isso. — Muitas coisas no universo não dependem de escolha — respondeu o Guardião, sereno. — O Tear escolheu vocês. As imagens ao nosso redor desapareceram, deixando apenas o vazio estrelado e o brilho dourado da figura. O silêncio voltou, ainda mais opressor do que antes. — Então o que acontece agora? — Perguntei, baixinho. O Guardião ergueu a outra mão. Mais uma vez, a luz ao nosso redor começou a mudar, formando uma cena. Desta vez, era algo completamente diferente, uma porta de luz dourada apareceu no horizonte, pulsando suavemente, como se estivesse viva. — O universo lhes
Capítulo 184 - "O Novo Mundo"(Narrado por Elira) Quando abri os olhos, tudo o que vi foi luz.Era uma luz dourada, quente, mas não cegava. Não havia nada à minha volta além dela, sem céu, sem chão, sem sons. Por um instante, pensei que ainda estávamos presos no limiar, presos naquela eternidade entre mundos. Mas então senti. O vento. Ele soprou contra meu rosto, carregando o cheiro fresco de terra molhada e folhas, uma promessa de algo familiar, algo real. Pisquei, tentando enxergar melhor, e então a luz começou a dissipar, lenta e suavemente, revelando o que estava à nossa volta. Nós estávamos de pé no meio de uma vasta planície. O céu, limpo e imenso, era de um azul profundo, quase irreal, com apenas algumas nuvens finas que flutuavam preguiçosamente. O sol estava alto, lançando seu calor agradável sobre a pele, e o horizonte se estendia em todas as direções, um mar verdejante de grama alta que balançava sob a brisa.— Estamos... de volta? — murmurei, minha voz soando fraca
Capítulo 185 - "A Ameaça Oculta"(Narrado por Thalrik) O silêncio que nos envolvia era tão denso quanto o ar frio que soprava ao nosso redor. A sombra no horizonte ainda pulsava, uma presença inquietante que parecia crescer a cada segundo, mesmo enquanto permanecia distante. Eu podia sentir o peso daquele presságio nas minhas costas, um peso que não vinha apenas da escuridão visível no céu, mas das palavras daquele estranho. “Forças virão para reclamar o que vocês possuem.” Quem era ele? E por que suas palavras pareciam tão certeiras? Aquele tipo de verdade que, mesmo sem entender completamente, reconhecemos como real no fundo da alma. — Precisamos sair daqui — murmurei, tentando manter minha voz firme, mesmo que o desconforto se instalasse em mim como uma serpente se enrolando no peito. Elira olhou para mim, hesitante, os olhos dela refletindo a mesma dúvida que eu sentia. Draegon, por outro lado, assentiu lentamente, mas sua expressão permanecia dura, calculada. — Para o
Capítulo 186 - "A Jornada Continua"(Narrado por Draegon) A sombra ainda estava lá. Pairando no horizonte, densa, pulsante, como uma ferida negra que não cicatrizava. Ela me fazia pensar no que Eryas dissera: "O Abismo dos Primordiais. É lá que tudo começou, e é lá que tudo pode ser encerrado." Minhas mãos coçavam de ansiedade. Os nós dos meus dedos estavam brancos pelo aperto no cabo da espada, mesmo que ela permanecesse embainhada. O vento frio cortava a pele, mas o verdadeiro calafrio vinha de dentro, de um lugar que eu não conseguia alcançar. Algo em mim se revolvia, como uma fera acordando lentamente. Desde que destruímos o Tear, nada parecia certo. A magia do mundo se fora, mas ainda restávamos nós, as últimas fagulhas, os restos de um poder que não compreendíamos. Cada passo que dávamos me deixava mais convencido de que tínhamos nos tornado um alvo. — Draegon? — A voz de Elira me chamou de volta à realidade. Ela caminhava um pouco atrás de mim, as sobrancelhas franzid
Capítulo 187 - "O Primeiro Confronto"(Narrado por Elira) O cheiro de sangue e ferro ainda impregnava o ar. As criaturas haviam desaparecido tão rapidamente quanto surgiram, mas o estrago que deixaram para trás era evidente. Meus dedos ainda tremiam ao redor das adagas, ambas manchadas daquele sangue negro e espesso, tão denso que parecia óleo. Não era apenas o cheiro ou a cor que me incomodavam, era o que ele parecia. Vivo. Como se, a qualquer momento, pudesse se arrastar de volta aos corpos mutilados e fazê-los levantar outra vez. — Está tudo bem? — Draegon perguntou, aproximando-se. Sua voz estava rouca pelo esforço, mas havia uma firmeza característica nele. Olhei para ele, a respiração ainda irregular. Draegon estava coberto de manchas escuras, uma delas escorrendo pela lateral de sua bochecha. Mas seus olhos, aquele dourado severo e inquebrável, estavam vivos. Determinados. — Estou bem — respondi, mas minha voz soou fraca demais, quase falsa. Thalrik veio logo em seg
Capítulo 188 - "As Marcas do Tear"(Narrado por Thalrik) O vento soprava em rajadas irregulares, uivando entre as pedras desgastadas pelo tempo. A fogueira tremeluzia à minha frente, lançando sombras dançantes que pareciam se contorcer de maneira antinatural. Estávamos parados ali, como se o mundo ao nosso redor estivesse segurando o fôlego, aguardando um desfecho que ninguém poderia prever. Elira dormia, encolhida sob um manto escuro que parecia incapaz de protegê-la do frio crescente. Ela estava pálida, as sombras sob os olhos mais profundas do que jamais haviam sido. Aquela manifestação do Tear, ou seja lá o que fosse, a deixara exausta. Mesmo em repouso, seu rosto parecia carregar o peso de algo que eu não podia compreender. Draegon estava ao lado dela, imóvel. A espada descansava entre suas pernas, mas o jeito como ele a segurava, com os dedos apertando o cabo, mostrava que ele também não confiava na calmaria. Seu olhar fixo na fogueira me irritava. Ele tinha aquele jeito d
Capítulo 189 - "O Caminho ao Abismo" (Narrado por Elira) O vento soprava como um lamento antigo, carregando consigo uma melancolia que parecia se agarrar à pele. Cada passo que dávamos na direção do Abismo dos Primordiais era um peso a mais nos ombros, como se o próprio mundo estivesse tentando nos avisar que continuarmos seria um erro. Olhei para o horizonte, onde o céu se tornava um emaranhado de nuvens escuras e opressoras. Não havia cor, não havia vida, apenas um cinza ininterrupto que parecia sugar o calor de tudo ao nosso redor. O chão era estéril, rachado, como se estivesse há milênios sem conhecer a chuva. A paisagem se estendia até onde os olhos podiam ver, uma vastidão de desolação pontilhada por formações rochosas que mais pareciam ossos de gigantes esquecidos. — Isso é pior do que imaginei — murmurei, mais para mim mesma do que para os outros. Draegon caminhava à minha esquerda, sua expressão fechada e tensa, como se carregasse o peso de um mundo inteiro. Ele man