Antes, quando via Lucas sentado na cadeira de rodas, sempre abatido, Camila ansiava todos os dias para que ele pudesse voltar a andar. Mas, quando ele finalmente conseguiu, sua tia e seu pai passaram a achar que ela não era boa o suficiente para ele. Eles se consideravam parte da alta sociedade, onde o lucro valia mais do que qualquer sentimento.Depois de secá-lo, Lucas vestiu o roupão. Enquanto amarravam o cinto do roupão, Camila usou a mão direita, e ele, a esquerda. Cada um segurou uma ponta do cinto, e juntos, com um movimento sincronizado, deram um nó perfeito.Lucas sorriu de leve:— O que a gente pode chamar isso?Camila pensou por um momento, inclinou a cabeça para olhá-lo e sorriu com os olhos:— Sintonia de casal?Lucas pareceu refletir sobre algo e, após uma breve pausa, respondeu:— Sim, sintonia de casal.Ele abaixou o olhar, fixando-o nas sobrancelhas arqueadas dela, e perguntou:— Se há três anos eu não tivesse dinheiro, você ainda teria se casado comigo?O coração de C
Houve dois anos, quando Lucas não conseguia mais ficar de pé, ele caiu em uma profunda depressão e chegou a ter pensamentos suicidas.Camila, então, desenvolveu um hábito. Não importava se era de dia ou de noite, sempre que ele desaparecia de vista, ela ficava preocupada, temendo que ele pudesse fazer alguma besteira. Saía à sua procura sem parar, até o encontrar e se sentir aliviada. Mesmo depois que ele voltou a andar, esse hábito persistiu.Camila abriu a porta do quarto de hóspedes ao lado, mas a cama estava vazia. Foi até o escritório, mas também não havia ninguém.Checou o banheiro, a varanda, o andar de baixo, até a cozinha. Lucas não estava em nenhum desses lugares.Seu coração começou a bater descompassado, como se alguém estivesse batendo tambores em seu peito. Embora soubesse que ele não pensaria mais em suicídio, o medo ainda a dominava.Ela abriu a porta e saiu apressada em direção ao jardim. De repente, um relâmpago iluminou o céu, tornando a noite escura tão clara quanto
— Já escovei à noite. — Respondeu Lucas.Camila empurrou-o suavemente com o ombro, a voz suave e doce:— Vai escovar, vai.Lucas riu e segurou os ombros dela:— Você está um pouco diferente ultimamente.— Diferente como?— Está mais carinhosa e fala mais do que antes.Camila sorriu:— Vocês homens não gostam de mulheres carinhosas?Lucas curvou os lábios num leve sorriso:— É, também acho.Ele a soltou e foi para o banheiro. Camila o seguiu.Como a mão direita dele estava machucada, ele tinha dificuldade para apertar a pasta de dente, então ela o ajudou.Lucas pegou a escova com a mão esquerda e começou a escovar os dentes, olhando para o espelho.Talvez fosse a noite que deixava as pessoas mais sentimentais. Pensando que os dias ao lado dele estavam contados, Camila sentiu uma pontada de tristeza. Sem conseguir se segurar, ela o abraçou por trás, encostando a cabeça em suas costas. Ela não disse nada, mas seu coração estava cheio de uma saudade antecipada.Sendo justa, tirando o incôm
O sorriso de Camila se desfez no rosto. Os dedos apertavam com força a alça do copo.Enzo olhava para ela com um olhar enigmático.— Nossas famílias têm negócios juntos há muitos anos. Lucas e Chloe cresceram juntos, e nós sempre consideramos Chloe como a futura nora. Na época, escolhemos você para ser a esposa de Lucas porque Chloe havia ido para o exterior, e você se parecia com ela. Lucas precisava de alguém ao seu lado, e essa pessoa poderia ser você ou qualquer outra que se parecesse com Chloe.Camila sempre acreditou que tinha uma boa força mental. Mas, naquele momento, ela realmente sentiu que estava prestes a desmoronar.Ela apertou os lábios e permaneceu em silêncio. Segurou o copo com força, com a cabeça abaixada.As lágrimas se acumulavam nos olhos, quase escapando a qualquer instante.A voz impiedosa de Enzo soou novamente em seus ouvidos:— Você dedicou três anos da sua juventude, ajudou Lucas em muitas coisas, mas ele também te ajudou muito. Não vamos falar de outras cois
Camila voltou para o quarto de hospital da avó. Maria, ao ver o rosto pálido da neta, perguntou preocupada:— O que houve, minha filha? Por que essa cara tão abatida?Camila balançou a cabeça, caminhou até a cama da avó e sentou-se ao lado dela. Segurou a mão dela e, forçando um sorriso, começou a conversar.Maria, impaciente como sempre, não esperou muito e logo puxou o braço de Camila, dizendo:— Vem comigo, vamos sair um pouco.No corredor, Maria encarou-a nos olhos:— O Lucas te maltratou de novo?— Não.— Então, quem te aborreceu? Eu sou sua mãe, não sou? Se não contar para mim, vai contar para quem? Maria estava visivelmente irritada.Camila respondeu com tranquilidade:— O pai do Lucas veio falar comigo.— O Enzo te pressionou?— Ele pediu para que a gente se divorcie.Maria soltou uma risada irônica:— Quando o Lucas estava numa cadeira de rodas, incapaz de andar, o Enzo não te pressionou a se divorciar. Agora que o Lucas voltou a andar e a correr, ele vem te forçar? Que falta
Lucas guardou o celular e os documentos na pasta, dizendo calmamente:— As coisas devem ser feitas até o fim.Essas palavras fizeram algo apertar no peito de Camila.Depois de retirar o gesso, o médico deu várias orientações, inclusive sobre como fazer a reabilitação. Lucas gravou tudo no celular e depois enviou o áudio para Camila.Os dois voltaram para o quarto da avó. Daniel estava examinando a avô, enquanto Maria, ao lado, conversava e sorria com ele. Ao ver Lucas entrar, Maria elevou o tom de voz de propósito:— Dr. Daniel, você tem namorada?Daniel lançou um olhar discreto para Camila e respondeu:— Não.Maria se animou:— E o que acha da Camila? Desde pequena, essa menina é um talento. Se formou na faculdade aos dezanove anos. É doce, de bom temperamento, trabalha duro, e você já conhece o talento dela para restaurar pinturas.Daniel sorriu de canto:— A Camila é, de fato, excepcional.Maria lançou um olhar de provocação para Lucas e continuou falando com Daniel:— Se você est
Camila sentiu o coração apertar de repente. Não imaginava que Lucas já tivesse descoberto tão rápido. Lembrou-se do que Enzo havia dito: que não deveria deixar Lucas saber, pois poderia prejudicar a relação entre pai e filho. Ela tentou disfarçar, com um ar despreocupado:— Você já tinha falado em divórcio antes. Eu disse que não aguentava a Chloe.Os dedos de Lucas deslizaram pelas costas dela, acariciando suavemente:— Mentira. Tenho feito de tudo para manter distância dela ultimamente.Os lábios de Camila se curvaram em um sorriso, mas seus olhos permaneceram sérios. Ela respondeu, com indiferença:— Vocês cresceram juntos, as famílias se conhecem. Eu não passo de uma empregada que você contratou. Agora que sua perna está boa, essa empregada deve ir embora.Ao ouvir essas palavras, rebaixando-se assim, Lucas sentiu um peso súbito no peito e apertou-a ainda mais em seus braços. Ele era muito alto, com uma postura firme como um pinheiro, traços marcantes, e um olhar decidido. Ap
A Sra. Costa veio recebê-la com um sorriso afável, saudando-a calorosamente: — Camila, você chegou!Camila respondeu com doçura: — Oi, vovó.— Isso, sente-se. A Sra. Costa puxou-a carinhosamente pela mão até o sofá. Seus olhos rapidamente desceram para o ventre ainda plano de Camila, e ela perguntou, em um tom misterioso: — Minha menina, já está grávida?Camila balançou a cabeça, sorrindo com um ar de desculpas: — Vovó, eu vou me divorciar do Lucas, me desculpe.A avó congelou, o sorriso desaparecendo de seu rosto, e uma expressão de decepção se espalhou em seus olhos:— Mas não foi você que prometeu há pouco tempo que me daria um bisneto? Faz tão pouco tempo, como é que já mudou de ideia?Camila abaixou o olhar, sem dizer nada. Até houve pouco, ela acreditava que não ter filhos era o melhor. Mas diante dos olhos desapontados da avó, sentia-se profundamente culpada. A Sra. Costa era uma mulher compreensiva. Ao ver a expressão de Camila, ela entendeu parte da situação. Acari