Enzo segurou o ar no peito, sem conseguir soltá-lo nem para cima, nem para baixo. Para piorar, a mensagem de Camila estava perfeita. Não tinha uma falha sequer, nada que ele pudesse criticar, e isso o deixava com um aperto no fígado.Camila esperou um pouco, mas o retorno de Enzo não veio. Em vez disso, o telefone tocou e era Beatriz.A voz de Beatriz soou doce e gentil:— Querida nora, você tem um tempinho amanhã à tarde? Dá uma passadinha aqui na minha loja, preciso falar com você.Ao ouvir as palavras “querida nora”, o coração de Camila se apertou. Ela tinha escondido de Beatriz e da avó o fato de ter perdido o bebê e o divórcio, sem deixar que elas soubessem.Camila, tentando manter a calma, respondeu:— Tudo bem, mãe, amanhã à tarde eu passo aí.No dia seguinte, à tarde, Camila dirigiu até o atelier de vestidos de noiva de Beatriz, chegando pontualmente. Beatriz já estava esperando por ela no escritório.Assim que Camila entrou, Beatriz a recebeu calorosamente, envolvendo-a em um
Enzo ouviu aquilo e sentiu o sangue ferver, percebendo que a conversa não ia acabar bem. Com um tom arrogante, perguntou:— O que você quer? Beatriz respondeu friamente:— Quero, sim. E é algo muito importante. Enzo fez questão de se mostrar superior:— Estou muito ocupado. Se tiver algo, fale com a minha secretária e marque um horário. A voz de Beatriz se tornou mais dura:— Eu te dou uma hora para vir aqui, ou vou expor seus antigos casos de traição para todos. Enzo ficou paralisado por um segundo, rangendo os dentes:— Você tem coragem! E desligou o telefone com um baque. Beatriz jogou o celular na mesa com desprezo, depois virou-se para Camila com um sorriso falso:— Camila, pode ir embora. Tenho algumas pendências pessoais para resolver com o Enzo. Camila, preocupada que Beatriz fosse prejudicada por causa dela, insistiu:— Eu posso ficar e te ajudar. Beatriz massageou as têmporas, visivelmente cansada:— Não precisa, querida. É um assunto entre mim e ele. Não tem
Enzo bateu a cinza do cigarro no cinzeiro e riu:— Vou tomar isso como um elogio.Beatriz tremia de raiva, os dedos quase não obedeciam:— Eu devia estar cega quando me casei por um homem como você!Enzo deu de ombros, sem se abalar:— E você também mudou. Aquela garota doce e encantadora virou uma mulher impossível de lidar.Beatriz soltou uma risada sarcástica:— Você tem coragem de falar isso pra mim? Teve um filho com a ex-namorada antes de nos casarmos e, depois que engravidei, você ainda teve a audácia de me trair!Enzo massageou as têmporas, exasperado:— Sem provas, Beatriz. Não jogue acusações ao vento.— Acredite, provas é o que não me falta. Eu mesma vi aquela mulher! Ela teve um filho seu! Se alguém tem que sair de mãos abanando, esse alguém é você!Enzo deu de ombros novamente:— Já disse, cadê as provas?— Seu canalha! Quer prova? Pois toma!Beatriz agarrou a xícara de café ao seu lado e, num movimento rápido, jogou todo o líquido quente no rosto de Enzo. O café estava fe
O operário de construção viu a enorme placa de vidro se espatifar no chão, quebrando-se em mil pedaços. Ele ficou com uma expressão confusa, estendendo a mão para Enzo:— Você tem que pagar pelo vidro!Enzo, sentindo uma mistura de dor e raiva, apontou para seus sapatos de couro, gritando:— E você vai me pagar pelo meu sapato!— Foi você que se jogou contra o vidro! Agora me pague pelo prejuízo! Eu preciso subir e instalar outra peça para o cliente. Por sua culpa, vou ter que cortar um novo vidro, que saco! — Rebateu o operário, indignado.Enzo deu uma risada sarcástica, ignorando o homem, e mancou em direção ao carro. A dor em seu pé era insuportável, e seu rosto, que antes exibia traços rígidos e austeros, agora se contorcia em uma expressão de puro sofrimento.O motorista, ao vê-lo, correu para abrir a porta do carro com um sorriso submisso:— Sr. Enzo, por aqui.Mas o operário não desistiu. Correu atrás de Enzo, segurando sua manga para impedi-lo de partir:— Não vai sair sem paga
Enzo estava quase perdendo a paciência. Seus filhos eram por acaso um depósito de problemas alheios? Mas, por conta dos anos de parceria entre as famílias e dos negócios em comum, ele não podia simplesmente mandar Daulo às favas. Então, respirou fundo e disse:— Vamos, vamos entrar. Qualquer coisa, resolvemos lá dentro.Ao tocar a campainha, a empregada abriu a porta. Eles entraram e, após se acomodarem na sala, foram servidos com café. Daulo tomou um gole e, sem rodeios, insistiu:— Ainda repito: Chloe está passando pelo pior momento da vida dela. Você precisa fazer alguma coisa pra ajudar.Enzo suspirou, exasperado:— Mas o que exatamente você quer que eu faça?— O médico sugeriu que a gente faça uma surpresa gigantesca, algo que a choque, entende? Talvez isso ajude a trazer ela de volta ao normal.Enzo franziu o cenho:— Desde quando terapia de choque é recomendação médica? Isso parece mais uma piada!Daulo ergueu as sobrancelhas, com um ar cínico:— Se não acredita, pergunte ao mé
Enzo ficou tão irritado que os lábios começaram a tremer:— Como é que você tem coragem de dizer uma coisa dessas? Eu considero a Chloe como se fosse minha filha!— Não faça aos outros o que você não quer para si. Se nem você consegue fazer isso, com que direito exige de mim? — Rebateu Lucas.Sem dizer mais nada, Lucas se virou e saiu, passos firmes e decididos. Chloe olhava fixamente para aquele vulto alto e esguio que desaparecia sem hesitação pela porta. Seus olhos vazios começaram a transbordar de lágrimas lentamente.Ao ver sua filha querida chorar, Daulo ficou desolado. Ele rapidamente puxou um lenço de papel e começou a enxugar suas lágrimas, tentando consolá-la:— Não chore, minha querida. Um homem tão insensível assim não merece suas lágrimas.No entanto, Chloe apenas chorava ainda mais. As lágrimas fluíam como uma torneira aberta, sem parar, e Daulo não conseguia dar conta de secá-las.Cheio de tristeza e raiva, Daulo se virou para Enzo e o encarou: — Chloe foi praticamente
Ao ver o número familiar, Camila sentiu uma pontada no peito. Queria atender, mas pensou em Enzo. Se não atendesse, Lucas continuaria ligando.Quando o celular tocou pela quinta vez, ela finalmente atendeu.Uma voz grave e agradável soou do outro lado da linha:— Soube que você está procurando um lugar para morar?Camila ficou surpresa:— Como você sabe disso?Lucas respondeu em tom de brincadeira:— Eu adivinhei seus pensamentos.— Para com essa brincadeira. — Resmungou Camila.Ele mudou para um tom mais sério:— Eu tenho uma casa no Condomínio Hipicus que está desocupada. Já foi decorada do jeito que você gosta, fazia tempo que planejava te dar de presente de aniversário. Mas como você precisa agora, vou te dar antecipadamente.Camila ficou visivelmente surpresa. Ela pensou um pouco antes de responder:— Nós já estamos divorciados. Eu não posso aceitar mais nada seu.Sua voz era firme, mas seu coração estava inquieto.Lucas corrigiu:— A casa é sua, está no seu nome, eu comprei usand
Lucas deu um sorriso meio sem graça:— Entre a gente, falar de dinheiro só estraga a amizade. Camila foi sincera:— Não quero ficar te devendo nada. — Ex-marido e ex-mulher ainda são parentes diretos perante a lei, eu tenho todo o direito de cuidar de você. Camila não conseguiu segurar e soltou uma risadinha:— Ah, para com isso! Eu já pesquisei na internet. Marido e mulher são parentes, mas uma vez que o divórcio é concluído, essa relação também é anulada. A voz de Lucas ficou um pouco mais grave:— Eu só quero cuidar de você. Por algum motivo, Camila sentiu um nó na garganta. Os dois ficaram em silêncio, sem saber o que dizer. A porta estava entreaberta. De repente, passos familiares ecoaram pelo corredor. Camila, num impulso, abriu a porta de vez. Viu uma figura alta e elegante subindo as escadas. Traje escuro sob medida, postura impecável, pele clara como marfim e traços inconfundivelmente familiares. Quem mais poderia ser senão Lucas? Camila ficou surpresa, mistura