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Princípio dos tempos

    Quando Deus criou o mundo em sete dias, ele caiu em um sono profundo, pois estava esgotado, isso quando concluiu sua maior criação. Antes de se ausentar, foi realizado um conselho celestial, formado por “Arcanjos”, quando iriam ditar as ordens, impondo seus desígnios no céu e na terra. Alguns Arcanjos, entre eles Lúcifer, não estavam de acordo com a criação daquele mundo, pois alegavam que era imperfeito. Depois de vários debates sobre esse assunto, a maioria decidiu que a obra do Criador ia permanecer intocável até ele acordar daquele sono profundo

    Lúcifer não estava de acordo com a decisão e, a partir desse momento, o Arcanjo mais belo começou a criar ideias diabólicas, corrompendo, assim, seus próprios pensamentos, onde apareceram seus primeiros pecados. Alguns Arcanjos, os quais apoiavam sua teoria, se juntaram a ele, dividindo, dessa forma, o Céu em duas partes, enfraquecendo de forma drástica o sistema celestial.

    O Líder dos Anjos Rebeldes acreditava que Deus e os demais Anjos não estavam aptos para governar e muito menos para organizar o novo mundo. Então aproveitaram, enquanto Deus, o Senhor Supremo de Todas as Coisas, continuava imerso no sono profundo, para dar um golpe Celestial desencadeando, dessa maneira, uma batalha angelical.

    Miguel Arcanjo, um dos guerreiros celestiais, vestiu sua armadura dourada e, junto com seus aliados, combateu Lúcifer e seus seguidores. Foi uma batalha dura, mas o poder do bem os superou, expulsando, assim, os rebeldes, lançando-os em um poço obscuro de trevas e sofrimentos, um lugar terrível, um cárcere permanente. Durante o confinamento, Lúcifer, o Arcanjo Sombrio, governava os demais anjos caídos, que esperavam o momento oportuno para iniciarem sua vingança.

    Depois de algum tempo, Deus acreditava que os famosos anjos que haviam sido expulsos do céu, tinham se redimido de seus pecados e os liberou daquele lugar terrível. Deus deu a oportunidade de demonstrarem, entre os humanos, que estavam prontos para regressarem ao céu. Infelizmente, ele estava equivocado, e essa foi a ocasião perfeita para se vingarem sendo seu principal objetivo os humanos.

    Seu plano foi maquiavélico. Lúcifer ordenou, aos anjos caídos, para mudarem os conceitos da humanidade, semeando algumas ideias absurdas e pensamentos diabólicos, despertando os primeiros pecados da raça humana. Deus, no entanto, foi generoso, apesar de ser advertido por Miguel, que isso poderia ocorrer, devido à influência dos Anjos Caídos. Com sua benevolência, ditou novas regras para combater os sete pecados capitais, dando uma nova oportunidade à raça humana. Eles poderiam escolher entre o caminho do bem e do mal e como consequência, por ter destorcido as mentes de sua maior criação, enviou Lúcifer de volta ao poço das trevas. Sua esperança era encontrar certas virtudes nos anjos caídos, dando-lhes, assim, outra oportunidade.

    Esse foi seu maior erro, pois o rei das trevas já havia dado ordens aos seus servos, para aproveitar a ocasião de escolher alguns humanos, que já estavam corrompidos por seus pecados e os transformar em demônios com poderes. Com isso, passariam despercebidos entre os habitantes da terra.

    Quando o guerreiro Miguel viu que não reduziu a maldade na terra, ele e os demais Anjos Celestiais expulsaram os servos de Lúcifer, enviando-os de volta ao submundo. Durante sua pequena estadia na terra, observou que alguns humanos comentavam que existiam seres com poderes. Quais seriam? À simples vista, todos eram normais e tinham pecados. Então resolveu procurar alguns seres com corações puros, humildes e nobres, implantando neles os genes dos Arcanjos, que só despertariam em caso de extrema necessidade.

    A humanidade se expandiu de forma impressionante e, no decorrer dos séculos, o mal sempre ressurgia. Quando isso acontecia, os descendentes do Guerreiro Celestial, conhecidos pelo sobrenome de Arcanjo, surgiam enviando seus espíritos ao mundo das trevas. Porém, esses seres não estavam enclausurados ali eternamente, podiam regressar, através de uma nova vida, mostrando que suas almas seriam regeneradas ou não.

    Durante centenas de anos, farto desses conflitos, certos terráqueos desenvolveram alguns dons como o caso das bruxas as quais possuíam o livre arbítrio de escolher seu destino, outros foram penalizados pelos demônios por não seguirem suas ordens, sendo transformados em monstros, como foi o caso dos Lobisomens, entre outros seres Místicos, que surgiram no decorrer dos tempos. Entre todas essas espécies místicas, havia uma conhecida como Vampiros, que eram os segundos servos mais fieis das forças do mal, depois dos demônios. Sua história era intrigante e a mais comentada até a atualidade, devido aos mistérios ocultos e certas histórias polêmicas que ressurgem de tempos em tempos, porém são interpretadas de diferentes maneiras.

    Entre todas as histórias, existe uma real, cheia de amor, aventuras, momentos de terror, desencadeados por um amor proibido e por um destino cruel e traiçoeiro.

    Tudo começou quando o príncipe Vlad Tepes, associado à “Ordem do Dragão” (conhecida por proteger aos cristãos e lutar contra o Império Otomano), foi atraiçoado em uma das batalhas, perdendo, assim, sua esposa. Cego pelo ódio, jurou vingança, mas seu exército não tinha mais capacidade de combater os turcos, devido à maior parte de seus guerreiros terem morrido no combate. Às pressas, os restantes bateram em retirada. Desesperado, resolveu atravessar os Montes Cárpatos em busca de ajuda. Durante sua trajetória, atormentado pela consciência e pelo excesso de rancor, que guardava em seu coração, ficou em desalento. Entre seus delírios, o pouco juízo que tinha foi desaparecendo, sendo possuído pelo ódio mortal e mental, e sua alma foi se corrompendo. Quando estava prestes a ser possuído por espíritos macabros, um demônio surgiu diante de seus olhos, oferecendo-lhe poder, força, para se vingar de qualquer inimigo. Sua oferta era tentadora, praticamente irrecusável e, por sua ira, ele a aceitou:

        – O que tenho de fazer?

        – Beba esse Cálice. 

        Sem pensar, tomou-o em suas mãos tremulas, bebendo todo o liquido, sem questionar o que era e o que continha.  De repente, seus olhos começaram a ficar vermelhos e começaram a sangrar.

        – Que fizeste comigo?

        – Nada, você compactou comigo e estou cumprindo o que acordamos. Morrerá e quando meu senhor o necessitar, voltará à vida; será imortal, belo, jovem, forte, poderoso, porém terá certas fraquezas e servirá o resto de seus dias em prol das forças das Trevas.

    Assim que acabou de falar, sua imagem desvaneceu diante dos olhos de Vlad, ao mesmo tempo em que desaparecia o último alento de sua vida. Nunca regressou com a ajuda que prometeu deixando seu exército à deriva, porém sua tropa, para preservar a imagem de seu líder, informou que Vlad Tepes morreu em combate. O certo é que seu corpo jamais foi encontrado.

    Tempos depois, Vlad ressurgiu. Foi visto, pela primeira vez, por um camponês próximo ao seu castelo. O pânico se espalhou pelas aldeias vizinhas, com medo de que voltassem a surgir novas batalhas e massacres. Também proliferam comentários de que era um monstro e que transformava os demais a sua semelhança. Eram seres sanguinários que possuíam uma força sobre-humana, podendo se transformar em morcego, névoa, tendo os dons de hipnotizar, poderes sobrenaturais, como queimar as coisas com a mão, além de ser imortal. Por causa dessas histórias, ele resolveu se ausentar do território para assim abafar tais fatos. Em um futuro distante, sua história não passava de uma lenda.

    Depois de 100 anos sentiu que era a hora de regressar. Então Vlad ofereceu uma festa em seu castelo, convidando toda burguesia e altos cargos. Surgiu uma polêmica que se expandiu por toda região. Quem era o indivíduo que tinha herdado aquele castelo amaldiçoado? Para sua sorte, a estratégia triunfou, todos concordaram com a sua apresentação.

    O dia de sua apresentação chegou; o castelo voltou a reabrir as portas depois de um século, devido a sua misteriosa desaparição. Os primeiros convidados começaram a chegar e, depois de algum tempo, todo o restante da lista havia comparecido a sua magnífica festa. Chegaram em suas carruagens luxuosas, empurradas por cavalos de puro sangue e de diferentes cores. Aos poucos, Damas e Cavalheiros descerem de suas carroças, vestidos com roupas de gala, especiais para a ocasião.

    Atravessaram a ponte que dava acesso ao seu castelo, sendo recebidos pelos supostos empregados uniformizados com trajes vermelhos daquela época. Quando todos estavam bem acomodados no salão do palácio, puderam apreciar vários tipos de mobiliários góticos, com um toque renascentista, até que um empregado anunciou que desceria, pelas escadas cobertas por alfombra vermelha, o anfitrião da festa o Conde Vlad Dracul, hoje em dia, conhecido como Conde Drácula.

    De repente, formou-se um clima de suspense, todos ficaram em silêncio, com a expectativa de conhecer o novo proprietário do castelo. De longe não dava para apreciar quem era e como era, mas, a cada passo que dava e conforme ia avançando, sua imagem ia se revelando. Era alto, vestia uma roupa escura, fazendo jogo com seu chapéu e, uma vez no salão, foi se apresentando pessoalmente a cada convidado.

    Algumas damas jovens apreciaram sua beleza, pois ele era alto, com cabelos longos e negros, tinha uma cor de pele pálida, olhos negros, bigode, cavanhaque e um bom porte físico, mas o mais comentado era o olhar encantador que possuía. Quanto aos cavalheiros, queriam saber quem era, o que fazia e a que se dedicava. Segundo o Conde, ele era neto de um filho bastardo de Vlad Tepes e veio tomar posse de sua herança, dedicava-se ao comércio e a treinar guerreiros.

    Entre todos os nobres, um lhe chamou a atenção, conhecido por Dom. Marek Popescu, um senhor robusto, mas muito elegante na maneira de se vestir. Durante a conversação fez um comentário meio desagradável, alegando que, apesar de ter passado mais de um século, a semelhança dele com o retrato de Vlad Tepes era grandíssima, somente se diferenciavam na maneira de cortar o bigode e a barba e, de uma maneira satírica, comentou que tinha herdado algo mais em comum.

        – O quê? – perguntou Drácula de um jeito garboso.

    Rindo de maneira pomposa, contestou:

        – Criar guerreiros para lhe servir e seguir os passos de seus antepassados.

    Vlad não respondeu, mas, de uma maneira bem elegante, sorriu e anunciou que havia chegada a hora do baile e que tocaria uma canção. Esperava que todos desfrutassem da festa.

    Aproximou-se do “Cravo” – Instrumento Musical, muito similar ao atual piano, e tocou uma belíssima canção da época. A noite foi longa e divertida, e tudo transcorreu perfeitamente. No dia seguinte, sua festa foi notícia por todo o território da Romênia, e sua reputação se expandiu por todos os povoados. O plano foi um sucesso e, de agora em diante, Vlad ressurgiria das sombras, cumprido as metas que foram interpostas por Lúcifer.

    Em muitas ocasiões, Drácula era convidado para certos eventos que ocorriam nas casas dos senhores da alta sociedade, para debaterem questões políticas, entre outros assuntos de grande interesse econômico e social. Na maioria das reuniões, ele não podia estar presente devido a outros propósitos. Sempre mandava Roberto Gallus, um vampiro de alta categoria. Ele era de cor pálida, alto, olhos verdes e cabelo cor de fogo, que sempre o ajudava manter as aparências. De todos os seus discípulos ele era o mais fiel e um verdadeiro amigo, pois tinha várias habilidades úteis:

  • O poder de se tele transportar – mover-se entre duas localizações de uma maneira instantânea, manifestando-se através de ondas, podendo levar outros consigo.
  • Hipnose – Consegue hipnotizar as pessoas para obrigá-las a fazer o que ele quiser. Esse dom todos os vampiros possuem, principalmente para se alimentarem, seduzindo suas vítimas.
  • Desaceleração Molecular: Esse poder tem a capacidade de diminuir a velocidade de moléculas até que parem de uma maneira temporal.

    Uma bela noite de lua cheia, quando Vlad e seu fiel amigo saíram para caçar, depararam-se com um conjunto de pessoas andando por um caminho escuro, iluminado somente pelo brilho da lua, o qual dava acesso a uma aldeia. Era o lugar perfeito, estavam sozinhos no meio da montanha e ninguém saberia quem os havia atacado. Quando ambos estavam prestes a executar o que já haviam planejado anteriormente, uma rajada de ar fez com que eles adiassem o ataque naquele momento, mas isso foi o tempo suficiente, para repararem que um dos integrantes do grupo havia desaparecido do conjunto.

    Quem tinha se distanciado era uma jovem, que por causa daquele repentino vento, perdeu seu chapéu pelo caminho e, quando regressou alguns passos para pegá-lo, ao erguer a cabeça, ela os viu.

    Naquele breve momento, a linda jovem ficou sem ação, mas o mais inquietante é que Vlad tampouco reagiu. Seu amigo, ao perceber que algo estranho ocorria, utilizou seu poder de desacelerar a molécula. Fechou o punho direito e, com um simples giro, o tempo parou de maneira instantânea. Foi o suficiente para se tele transportarem a um lugar onde os olhos da moça não os pudessem alcançar.

    Tudo ocorreu em questão de segundos, mas para a jovem foi em questão de minutos. Quando o tempo continuou seu percurso natural, eles já não estavam ali, e a última lembrança dela era que havia dois indivíduos diante de seus olhos que ela já não via. Quando não os encontrou, chegou a pensar que estava imaginando coisas, mas antes de retomar o caminho, observou ao redor e tampouco viu nada, somente as árvores, mas para sua maior tranquilidade acelerou o passo, até alcançar seus companheiros.

    Ao regressarem ao castelo, Drácula comentou com seu amigo que aquela moça lembrava muito sua amada, e que a fragrância que desprendia era tentadora. Roberto lhe disse que já fazia mais de um século que convivia sozinho e que talvez já fosse hora de procurar uma companhia, que o aceitasse e amasse tal como é, para toda a eternidade. Com uma risada irônica, ele contestou.

        – Quem vai querer viver ao lado de um monstro predador?

        – Creio que todos os seres estão destinados a encontrar sua alma gêmea, não importa quanto tempo tenha de esperar. Chegará o dia que ela nos encontrará.

        – Que romântico você é! Menos mal que, apesar de ser imortal, não deixou de sonhar.

    No dia seguinte, por volta das três da tarde, um mensageiro, montando um cavalo malhado chegou ao Castelo com uma carta, a qual informava que ia acontecer uma reunião na casa de Dom Popescu no final da semana. Por sua vez, Vlad confirmou sua presença. Ao se despedir do mensageiro, informou a Roberto que iria caçar e, enquanto estivesse ausente, ele estaria no comando. Também sugeriu para não se preocupar que dentro de dois dias regressaria para a tal reunião.

    Depois de restabelecer suas energias e saciar a sede de sangue, Vlad regressou e se preparou para ir à tal reunião, colocou seu traje preto, o qual fazia jogo com o chapéu, sua camisa de linho bordô, que harmonizava com um casaco justo chamado gibão. Uma vez pronto, subiu na carruagem, que o levou até a residência da família Popescu.

    Ao chegar, foi recebido pelo mordomo que o acompanhou até a biblioteca onde estavam reunidos os demais nobres. Suas damas e respectivos filhos estavam em uma sala à parte.

    Geralmente, Vlad não procurava se pronunciar muito, apoiava sempre a maioria e assim evitava meros conflitos, pois seu objetivo era evitar simples discussões. Praticamente realizava atos diabólicos em grande escala. Esses eventos eram como um passatempo, e a melhor parte dessas reuniões era quando os empregados os interrompiam, pois era um tédio escutá-los.

    Assim foi que, depois de uma longa e duradoura conversação, a porta foi aberta. Era uma jovem que aparentava ter uns 30 anos. Em suas mãos trazia uma bandeja de prata com uma garrafa e vários copos. Pouco a pouco, foi distribuindo a bebida e, quando estava prestes a servir a Vlad, tropeçou no tapete, deixando cair toda bandeja no chão. Vlad ajudou-lhe recolher os restos dos cacos de vidro, e quando ambos se olharam, ela lembrou que já o havia visto antes. Ele, por sua vez, também a reconheceu, e foi um momento inquietante. Com a voz trêmula, ela agradeceu e informou ao senhor Popescu que voltaria dentro de alguns instantes para terminar o que estava fazendo.

    Depois de um tempo, voltou para recolher os demais objetos que haviam caído. Entusiasmado com a presença dela, Drácula não deixou de observá-la, porém o anfitrião da casa não gostou do ambiente que girava em torno de ambos.

    Após uma longa noite cansativa, a reunião terminou. Todos os convidados pegaram suas carruagens ou cavalos e voltaram às suas residências, inclusive Vlad. Durante o percurso, ele ordenou que regressasse à casa de Popescu. Teve um pressentimento de que voltaria encontrar a jovem manceba. Oculto entre as árvores, esperava a saída dos empregados. Não demorou muito quando viu a linda jovem, acompanhada de vários empregados, sair pela porta. A poucos metros dali, Vlad se aproximou do grupo, mantendo uma conversação, os quais ficaram surpresos com sua presença. Ousada e com um olhar suspeitoso, a linda jovem se aproximou, questionando se já teriam se visto anteriormente.

            – Quero dizer em outra ocasião? – reafirmou, olhando em seus olhos.

            – Talvez, insinuou. Gosto muito de caminhar pelo campo e liberar meus pensamentos. Às vezes, saio com alguns amigos para caçar. Espero não estar sendo importuno?

        – Não, é uma honra falar com o senhor, respondeu com um sorriso encantador.

        – Deixemos de formalidade, pode me chamar de Vlad. Qual é seu nome?

        – Ah! Perdoa minha indiscrição, eu me chamo Yelena. Yelena Popovich.

        – É uma honra conhecê-la, segurou sua mão e a beijou. Se não é muito incômodo poderia lhe acompanhar até sua casa?

    Quando ela aceitou sua companhia, os demais ficaram surpreendidos e o grupo se dividiu. Yelena foi na frente com Drácula e os demais a poucos metros deles. Ao deixá-la, antes de se despedirem, Yelena comentou que fora um prazer em conhecê-lo. Surpreso e encantado de escutar esse comentário, Vlad retribuiu o gesto com um olhar sedutor e irresistível e aproveitou para lhe perguntar se poderiam se encontrar outro dia.

    Yelena ficou atônita com o pedido. Antes de responder, hesitou, pois seus pensamentos estavam atordoados, e várias perguntas passaram por sua mente. Uma delas era: o que um nobre queria com uma mera trabalhadora? Que dilema! Seu olhar intrigante deixava Vlad inquieto, mas, depois de pensar nos prós e contras, resolveu aceitar seu convite.

        – Perfeito, pego-lhe amanhã quando você sair do trabalho?

        – Não. Encontre-me na praça principal da aldeia, pois amanhã será o meu descanso.

        – Esplêndido, a uma hora da tarde está bem?

        – Sim, ali estarei.

    Com um beijo em sua mão, Vlad se despediu. Assim que ela fechou a porta rústica da casa, ele desapareceu através de uma névoa.

    No dia seguinte, antes do horário combinado, Drácula já se encontrava perto da praça, desejava muito conhecê-la melhor. De longe a viu chegar, sua beleza era extraordinária, lembrava muitíssimo sua esposa. Era alta, branca, cabelo longo ondulado e negro, olhos verdes como esmeralda e, no rosto, possuía algumas sardas as quais lhe davam um charme especial.

    Depois de apreciá-la por alguns minutos, se aproximou de Yelena.

      – Você está encantadora com esse vestido cor-de-rosa, que tal irmos dar uma volta na minha carruagem. Conheço um lugar maravilhoso digno de ser apreciado. Toda deslumbrada, aceitou o convite. Ia ser a primeira vez que andava em uma carruagem. Ficou impressionada com o luxo interno, mas, depois, uma vez bem acomodada, o que ela mais apreciou foi a conversação que ambos mantiveram; era como se conhecessem a vida inteira.

    Foi uma tarde maravilhosa. Vlad a levou conhecer uma laguna rodeada por árvores e os campos estavam repletos de flores, um lugar magnífico digno de inspirações. O passeio foi super agradável, ambos conversaram muito sobre coisas que faziam, também falaram de suas respectivas famílias entre outros assuntos. Vlad sentia que havia uma harmonia entre eles, mas não resolveu ser de todo sincero. Se contasse o que era, talvez a espantaria. Apesar de seus instintos por sangue serem mais fortes, relutou várias vezes para que não o dominasse. No final da tarde, deixou-a na casa dela. Ambos combinaram que iam se ver mais vezes, inclusive depois do trabalho, e sempre que Vlad podia, antes de encontrá-la, enviava uma mensagem através do seu fiel amigo Roberto, informando a hora certa e o local exato. A relação entre ambos evoluía, e foram inúmeros os comentários que surgiram, alguns maldosos outros não. Era a notícia do momento, o que não agradava muito ao Senhor Popescu.

    Durante vários meses de namoro, Drácula almejava revelar seu terrível segredo. Oportunidade teve e várias, mas o medo de que ela o rejeitasse era imenso. Por isso, sempre postergava para outra ocasião. Roberto já o tinha advertido de que quanto mais tempo tardasse em contar o segredo pior seria, pois os sentimentos eram cada vez mais intensos, e se a resposta não fosse o que ele gostaria de escutar, superar esse amor ia ser dificílimo. Seu amigo estava certo, não podia adiar mais. Certo dia, quando Drácula menos esperava, apareceu um demônio no seu castelo. Trazia uma mensagem de Lúcifer que queria que ele e os demais líderes, que o seguiam, se reunissem no submundo para traçarem um novo plano.

    Depois de Vlad confirmar a sua presença para daqui a três dias, o demônio desapareceu diante de seus olhos. Naquele exato momento, ordenou a Roberto ir em busca dos cinco líderes e assim que regressassem, eles iriam se reunir com o Mestre das trevas.

    Esse era o momento ideal para revelar seu segredo a sua amada, pois sabia que, ao se ausentar, tardaria em regressar, nem podia dizer que voltaria daqui a um mês ou dois, pois já teve ocasião em que permaneceu longe da Romênia por um ano ou mais. Na mesma tarde, quando a encontrou na saída do trabalho, caminhavam pelo bosque, e Vlad comentou que precisava revelar um segredo. Nesse momento, Yelena parou e olhou para seus olhos, pois sabia que algo se passava, já que a forma de ele se expressar não era o habitual; parecia estar tenso e, ao mesmo tempo, temeroso.

        – Calma, o que está acontecendo? Com um gesto carinhoso, passou sua mão pelo rosto de Vlad tentando confortá-lo.

        – Vejo que você me conhece mais do que eu imaginava. Não sonhava em lhe contar assim, mas se não lhe revelar agora, não conseguirei jamais. – Tomou um pouco de ar e continuou: terei de fazer uma viagem longa e tardarei em regressar.

    Através de um gesto, Yelena expressou que o conhecia perfeitamente, e esse motivo era irrisório, pois notava, pela sua forma de falar e de olhar que temia em revelar algo mais importante.

        – Não tenha medo em me contar, saberemos afrontar qualquer tipo de problema juntos.

    Suas doces palavras produziam um efeito tranquilizante, e Vlad não podia postergar mais, era o momento. – Está bem, contarei.

        – Sei que você é muito forte, seu espírito é de uma verdadeira guerreira. Independente de sua reação, creio que conseguira superar qualquer desafio. Antes de partir, quero que você me conheça profundamente, vou lhe revelar meu segredo mais escuro. Confio no meu instinto e acredito que você é a pessoa certa, sempre me apoia e está comigo quando mais necessito; é a única pessoa que consegue acalmar meu instinto assassino. Quando terminou de dizer isso, a expressão dela mudou, estava inquieta e, pela primeira vez, parecia vulnerável.

    Minha história é mais antiga do que você possa imaginar, remonta a mais de um século atrás. Na realidade, o que muitos creem que é um mito e é verídico. Há décadas, procuro alguém que me faça companhia por toda minha eternidade; sou consciente de que não é fácil aceitar um monstro predador como futuro esposo, mas quando estou ao seu lado, me sinto mais humano.

      – Não pode ser; você deve estar delirando, ou melhor, está querendo me dispensar e não sabe o que inventar – insinuou Yelena.

    Apesar de aparentar ser forte, a incerteza daquele momento a deixava angustiada. Impactada pela misteriosa conversação, várias dúvidas surgiram, inclusive chegou a pensar nos comentários fúteis das pessoas que a rodeavam, e de certas ideias mórbidas que comentaram com ela.

    Vlad percebeu que conversar não ia solucionar, ela jamais acreditaria. Tinha certeza de que, nesse momento, ela estaria pensando que ele estava louco ou totalmente desequilibrado.

    – Espere, não fique assim – implorou. Sei que você não está acreditando no que estou lhe contando, então demonstrarei. Conhecerá minha pior faceta, não tenha medo, não fuja, jamais lhe machucarei, consegui dominar meus instintos décadas atrás.

        A respiração de Yelena era ofegante; estava indignada com a história que ele estava contando, mas resolveu dar um voto de confiança pelo sentimento que tinha por ele.

     – Está bem, o que você tem para me mostrar, mostre-o agora. Prometo não fugir, mais saiba se você estiver rindo de mim, jamais lhe quero ver novamente.

      – Não se preocupe, quero que você me olhe atentamente.

        Com o olhar fixo nele, aos poucos, ela percebeu alterações na sua face; primeiro a cor dos olhos, que de preto ficaram vermelhos, depois seus dentes cresceram e suas unhas ficaram maiores. Estava perplexa, ele não estava mentindo. Praticamente foi impossível expressar o que estava sentindo naquele momento. A única sensação que teve foi um grande alívio no seu coração.

    Vlad, ao ver que ela não falava, se transformou de volta em sua forma humana, ao perceber que ainda ela não se expressava, resolveu seguir a conversação, ao menos terminaria de contar tudo a seu respeito e talvez assim a ajudasse a se descontrair um pouco. Meu mundo não é igual ao dos humanos, vendi minha alma em prol de glória, poder e imortalidade.

    Meu trabalho é espalhar o mal pelo planeta. Treino jovens vampiros, e assim somos conhecidos. Minha missão agora, pela qual vou me ausentar, é a reunião com meu mestre. Quando lhe conheci, também comentei que saía a caçar e não lhe menti, caçamos seres humanos, pois minha fonte de energia, ou melhor, minha alimentação é o sangue de um animal. Para ser sincero, nunca provei outro tipo de animal a não ser humanos.

    De repente, Yelena soltou um suspiro. Vlad pensou em tocá-la, mas estava receoso, foi quando escutou uma voz frágil responder, depois daquela declaração:

     – Não me importa o que você é, não me mentiu, foi sincero, tarde, mais foi. Seus sentimentos por mim são verdadeiros, posso notar em cada palavra que você me diz. Quando pediu se eu aceitaria um futuro esposo predador, estava brincando ou é o que realmente deseja?

    Perplexo com a forma que ela racionou, Vlad aparentava estar desorientado, tardou um pouco em responder e ,quando voltou a se expressar, concretizou, através de uma pergunta, seu desejo.

        – Você quer ser minha esposa para toda minha eternidade?

        Ignorando o risco que poderia correr, Yelena aceitou o pedido, seu coração estava acelerado, a adrenalina disparada. Era uma loucura total, mas a mistura de vários sentimentos, fez nublar seu raciocínio, deixando se influenciar loucamente por suas emoções.

    A alegria de ambos era tão grande que durante o fervor daquele momento, um beijo transcendeu, ultrapassando todos os limites imaginários, tanto mortais como imortais. Ao deixá-la em sua casa, Vlad confirmou que assim que regressasse de sua missão, ia preparar para que ela fosse morar em seu Castelo. A única coisa que Vlad pediu era que ambos só revelariam ao público quando ele voltasse e que, se precisasse de algo, Roberto estaria pronto para socorrê-la em suas dúvidas.

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