Uma paixão desvendada — 1992
A novela “De corpo e alma” estreava no horário nobre da Globo, com uma emocionante história de amor, que envolvia até transplante de coração. Logo na abertura, Isabela ficou apaixonada pelo folhetim, principalmente em função da música “Raios de Luz”, interpretada pela cantora Simone.
“Você chegou, e iluminou o meu olhar,Teus olhos nus, raios de luz, no azul do marMeu coração, que sempre quis acreditar,Bateu feliz, foi só você chegar”
Mas o que realmente arrebatou Belinha foram as cenas de flashback do casal protagonista: Paloma e Juca. Quando se lembravam da adolescência, eles apareciam correndo em uma relva alta, cercados por belezas naturais. Rolavam no mato, mergulhavam em um riacho de águas cristalinas e trocavam beijos apaixonados.
Isabela não conseguia tirar os olhos da tela, hipnotizada pelos cabelos loiros do jovem ator. “Quem seria ele? Que idade teria?”
Quando o presente voltava à cena, a menina ficava decepcionada. Queria mais tomadas do passado do personagem, nas quais pudesse admirar à vontade o seu mais novo muso-inspirador.
Ainda sonhando acordada com o capítulo da noite anterior, Bela chegou ao colégio distraída. Cantarolava a música de Simone e se imaginava correndo naquele cenário cinematográfico da novela. De repente, ela foi retirada do seu mundo por uma voz grossa, que questionava:
— Oi? Você é da oitava série? É que fui transferido de outra escola e hoje é o meu primeiro dia. Ainda estou um pouco perdido aqui — disse o menino, educado. Isabela olhou em direção ao interlocutor, mas teve que subir – e muito – o pescoço para encará-lo. Ele era enorme. Ao colocar os olhos no seu rosto, ela quase desmaiou: diante dela, em toda a sua grandiosidade e loirice, estava o ator que lhe tirava o sono nos últimos dias. Perplexa, Bela desejou estar na turma da irmã, duas séries acima. Respirando fundo, encontrou forças para falar.
— Não. Eu... eu estou na sexta série — gaguejou. — Mas a minha irmã estuda na oitava. Eu posso te mostrar onde fica — ofereceu, tentando demonstrar uma tranquilidade que, definitivamente, não sentia.
— Vai ser ótimo. Aproveitando, o meu nome é Bruno. E o seu? — perguntou, parecendo realmente interessado.
— Eu me chamo Isabela. E a minha irmã, que é da sua turma, é a Valentina — disse, com um sorriso tímido e o coração aos pulos.
— Comecei com o pé direito aqui. Já vi que vou gostar desse colégio — completou, arrancando o pouco de ar que Bela ainda mantinha nos pulmões.
Foram até a sala de aula em silêncio e se despediram. Em menos de uma semana, ele já era a sensação do lugar. Era amigo de todos, esbanjando simpatia e popularidade. As meninas se atiravam no seu colo, sedutoras. Os caras riam antes mesmo da piada acontecer.
Bela observava de longe, admirando um Bruno cada vez mais distante do seu mundinho. E, claro, escrevia sobre ele por horas a fio, inventando versos, compondo músicas ou simplesmente listando os seus muitos predicados. Qualquer folha de papel em branco era um convite para a menina destrinchar a sua paixão.
Certa vez, usou o caderno da irmã para fazer uma versão de “Garota de Ipanema” inteiramente customizada para o seu crush platônico. O que Isabela não esperava era que Bruno tivesse acesso à sua criação.
Depois de precisar faltar a algumas aulas, ele pediu o caderno de Valentina emprestado para copiar as matérias atrasadas. E, ao folhear o objeto, encontrou a canção. Não bastasse a enumeração das suas características físicas, ao final, tinha uma dedicatória com nome e sobrenome completos. Só faltava endereço e CPF para tornar a situação ainda mais constrangedora.
Em um primeiro momento, Bruno pensou que Valentina tivesse escrito aquilo. Perguntou para ela e acabou descobrindo que a poetiza em questão era Bela, a irmã mais nova, a mesma que o acolhera no primeiro dia na escola. Então, esperou por ela depois do sinal para falar sobre a música.
— Isabela? Oi. Tudo bem? — indagou, já quase matando a menina do coração.
— Oiee. Tudo. Ótimo — devolveu, bastante atrapalhada.
— Quer dizer que você é escritora? Eu vi a música que fez para mim. Ficou maravilhosa. Eu queria agradecer — contou, com um sorriso doce estampando o seu rosto lindo.
Bela congelou e perdeu toda a cor. Tentou balbuciar algumas palavras, mas o som fugiu dos seus lábios trêmulos. Fez gestos com a cabeça, abriu um sorriso amarelo e fugiu dali. Deixou escapar um momento único, no qual o seu sonhado príncipe estava bem ao alcance das suas mãos. Escondeu-se em casa, trancada no quarto, aos prantos e completamente envergonhada. Fechou-se no seu casulo tímido, com medo de encontrar a própria sombra.
Os dias passaram, os meses mudaram e, em pouco tempo, Bruno saiu da escola. Dessa vez, foi literalmente para longe de Isabela e passou a habitar apenas os seus românticos devaneios apaixonados.
O primeiro beijo — 1993Bela tinha treze anos e sonhava com o seu primeiro beijo. Todas as suas amigas mais próximas já tinham dado esse passo e, de uma certa forma, ela ficava diminuída por nunca ter vivido a tão aguardada experiência.Queria se sentir realmente adolescente e ser tratada como tal. Ansiava por ser descolada e ter histórias reais para contar. Mas pensava que não podia beijar qualquer um, afinal, seria um momento absolutamente inesquecível, que não poderia ser protagonizado por um total desconhecido.Em um sábado à noite, Isabela acompanhou Valentina a uma boate do Clube Naval Piraquê: chamava “Galera”, era bem privada e estava repleta de jovens na faixa dos 15 anos. Tinha um ambiente moderno, músicas da moda e ainda ficava à beira da Lagoa Rodrigo de Freitas, proporcionando uma vista privilegiada da cida
Troca de lugares — 1993Cabelos compridos, totalmente descoloridos, e olhos azul-piscina. Simpático, bronzeado, surfista. Assim era André: o colírio que derretia Isabela em todas as suas visitas à praia de Ipanema. O ponto de encontro com as amigas era sempre o posto 10, que vivia rodeado de adolescentes lindos, saudáveis e descolados.Embora nunca tenha gostado de sol e odiasse a água salgada, Belinha não perdia um fim de semana praiano, afinal, precisava “encontrar” o seu mais recente alvo de inspiração.Eles nunca foram apresentados e, portanto, não se falavam, mas a menina já sabia tudo a seu respeito: onde morava, a escola em que estudava e até os locais que frequentava. Decorou nome, sobrenome, signo, idade, gostos, tudo.André também encarava Isabela e, volta e meia, a observava em silêncio. No ent
A primeira obsessão – 1994Quando Isabela viu Rodrigo na pista de dança da matinê do “Resumo da Ópera”, tudo pareceu ficar em câmera lenta. No auge dos seus 14 anos, a adolescente se sentiu dentro de um filme clichê de comédia romântica, avistando o cara dos sonhos pela primeiríssima vez. Ele era moreno, alto, com os cabelos castanhos e os olhos negros. Tinha uma beleza comum, mas totalmente desconcertante. Bela não conseguia parar de olhar, ficando alheia a todas as outras pessoas que a cercavam. Não se atinha às conversas nem se interessava pelas músicas: estava enfeitiçada pela visão de Rodrigo e anestesiada pelo que ela ocasionava em seu corpo juvenil.“Como podia ter uma reação tão forte por alguém que nunca tinha visto?” Ela não sabia, mas esperava, com toda a for&ccedi
A aposta — 1995Francisco estudava na sala de Isabela. Apesar de muito bonito, ela nunca tinha prestado atenção nele. Mas, certa vez, se encontraram na boate “Fun Club”, que ficava no meio do shopping Rio Sul, e o rapaz investiu pesado em Bela. Tentou beijá-la, elogiou a sua beleza e até mesmo confessou uma admiração reprimida há muito tempo.Embora Isabela não tenha cedido aos apelos de Francisco, ficou mexida com eles. Voltou para casa pensando no menino e, na segunda-feira, foi incapaz de vê-lo com indiferença. O investimento continuava, firme e forte, na sala de aula. Ele não economizava cantadas, paqueras, piadas e olhares.A cada novo dia de sedução, a garota ficava mais disposta a aceitar o assédio, vislumbrando qualidades nunca observadas no rapaz. Em pouco mais de dois meses, já estava louca para beij&a
Amor da vida — parte 1 — 1996A paixão inesperadaEra fevereiro de 1996 e Isabela ainda estava de férias no colégio. Foi à boate Fun Club mais uma vez: o seu destino preferido para dançar. O lugar estava bastante movimentado e já contava com uma fila na entrada, indicando que a noite prometia ser boa.De repente, viu uma das suas amigas cumprimentar um menino que encheu os seus olhos e roubou toda a sua atenção. Com cabelos castanho-escuros e um amplo sorriso no rosto, o rapaz era uma graça. A sua voz e o seu jeito de falar faziam o coração de Bela falhar algumas batidas.Assim que ele saiu de perto, quis saber tudo a seu respeito.— Quem é esse garoto, Cris? — perguntou, sem nem tentar disfarçar o interesse.— Ué, vai dizer que não conhece o Júl
Confusões amorosas — 1999Mais velho, cheio de charme e muito bonito. Assim era Patrício: um verdadeiro deus grego que frequentava os mesmos lugares que Isabela nos últimos meses. Com os cabelos bem pretos e uma pinta no canto da boca carnuda, ele parecia ter saído direto das telas de Hollywood.Bela suspirava sempre que o rapaz passava por perto nas festas e baladas dos fins de semana. Para completar, ainda era dono de um sorriso lindo, dançava bem e se vestia com extremo bom-gosto.Junto com Valentina e as amigas, Belinha ficava imaginando o que ele fazia, onde morava, o que o atraía. Todas sabiam que se tratava de um sonho distante: alguém perfeito e totalmente inalcançável. Mas, em uma determinada noite, o que parecia impossível aconteceu. Patrício veio falar com Isabela.— Oi, Isabela. Tudo bem? — disse, sorridente.&md
Trocada por um Yakult — 1999A faculdade de Comunicação finalmente começou e Isabela estava radiante com a nova etapa da vida. Sentia-se adulta, responsável e pronta para recomeçar.Agora, universitária, ela tinha esperança de ter mais sorte no amor e de dizer adeus a todas as derrotas sentimentais que marcaram a sua trajetória até aquele momento.Logo no dia do trote, um colega de sala demonstrou interesse por ela. Era até bonitinho, mas não despertava nada diferente na garota. Os outros alunos perceberam a situação e começaram uma campanha incansável para unir o possível casal, colocando uma pressão desmedida para que Bela cedesse às investidas de Adriano.Quando contou para a mãe e para a irmã, as duas fizeram coro para que ela desse uma chance ao menino.Depois de dois m
É culpa do destino (EMBARCAÇÕES & GISELE FORTES)Pensando em vocêEm todos os momentos que me fez perderNos sorrisos bobos, que preencheram meu coração Ou no calor tristonho, que me fez chorar no chãoSe para você é engraçado, para mim é deslealO seu presente é o amor e a sua partida é a minha dorVocê faz e desfazLeva e trazVocê mudaMe bagunça, tira a pazSentimento que se esvaiE machucaEu insisto em dizer ...Que é culpa do destinoQue age em desatinoQue rasga a minha almaMe golpeia, depois me acalma<