Estreia emocionante no mundo — 1980
Era julho de 1980 e ainda faltava um mês para Isabela nascer. Tudo corria bem e o seu corpo miúdo se desenvolvia dia após dia, protegido na segurança quentinha da barriga de Maria, sua mãe.
Então, na tarde de um domingo qualquer, Maria foi ao clube com a filha mais velha, Valentina, que tinha dois anos de idade e fazia de tudo para chamar a sua atenção. Bastou um segundo de distração para a pequena fugir para o meio da rua e correr, perigosamente, em direção aos carros que passavam.
Maria foi atrás da menina, em total desespero, perdendo o equilíbrio no meio da perseguição e espatifando-se no chão molhado. Conseguiu proteger a barriga com as mãos, mas acabou sofrendo um grande impacto com a queda brusca. Um pedestre resgatou Valentina antes que algo grave acontecesse, mas, com o tombo da mãe, Isabela não teve a mesma sorte. Rodopiou no ventre e começou a ser enforcada pelo mesmo tubo que a mantivera viva até aquele momento: o cordão umbilical.
O parto aconteceu de emergência, com muita tensão, trazendo ao mundo um bebê pequenino e um tanto assustado, que gritava com força, aliviado com o ar que lhe preenchia os pulmões.
Maria teve sangramentos e ficou com a vida ameaçada, mas reverteu o seu quadro clínico e pôde ir ao encontro da filha. Sem sobrancelhas nem unhas, o corpo de Isabela traduzia toda a sua fragilidade. Ainda arroxeada pela quase-morte, a menina causava espanto aos olhos mais desavisados: parecia um ratinho acuado, já com medo do mundo que, insolente, a observava.
Foi uma chegada compatível com toda a trajetória que Bela iria traçar: intensa e muito dramática.
O primeiro amor platônico — 1984Em um fim de semana de 1984, Maria levou as filhas ao teatro para assistir ao musical infantil “Sapatinho de Cristal”, dirigido por Claudio Tovar, com músicas originais de Ivan Lins. Era a primeira montagem grandiosa que Isabela iria ver e a menina não poderia estar mais ansiosa. A peça, baseada na história da Cinderela, era estrelada por Lucinha Lins e pelo seu filho Cláudio Lins.Com apenas 11 anos, o ator-mirim estreava na profissão, no papel do príncipe da historinha. Ao colocar os olhos nele, envolto pelas luzes brilhantes do palco, Bela soube que era amor: uma paixão instantânea e irremediável, que a faria sonhar acordada por anos a fio.A conexão à primeira vista ficou ainda mais forte quando Cláudio cantou uma canção romântica, escrita pelo pai, intitulada &ld
Fascinada pelo ídolo — 1985Nem tinha se refeito do deslumbramento por Cláudio Lins, Isabela arrumou outro ídolo para chamar de seu: Ricky Martin, o integrante caçula dos apoteóticos Menudos. O grupo, criado em Porto Rico em 1977, era uma boy band latina que se tornou uma verdadeira febre mundial e enlouqueceu fãs-mirins dos quatro cantos do planeta.Em 1985, o avô de Belinha, Otávio, quis fazer uma surpresa para as netas e comprou ingresso para o show que aconteceria no estádio do Vasco da Gama, em São Januário. A menina e a irmã, Valentina, estavam no céu: usavam faixas temáticas na cabeça e entoavam, sem parar, a dançante “Não se reprima”.“Canta, dança, sem pararSobe, desce, como quiserSonha, vive, como euPula, grita,
Os primeiros versos — 1989Belinha contava os dias para o aniversário de nove anos. Era a primeira vez que comemoraria em uma boate badalada pelo público juvenil da época: a Mikonos. Situada no Leblon, bairro nobre do Rio de Janeiro, a discoteca era conhecida pelas matinês privadas, que embalavam as tardes das crianças e dos pré-adolescentes da zona sul.Era praticamente um sonho ter uma festa no local e a menina não poderia estar mais exultante com a conquista. Tamanha expectativa também tinha outro motivo: um convidado para lá de especial. Já fazia meses que Isabela admirava Rafael de longe, fitando-o, em silêncio, durante as aulas de português e de matemática. Com os cabelos castanhos lisos, ele ostentava um topete típico de galã de novela e era, sem sombra de dúvidas, o garoto mais bonito da classe.Por vezes, Beli
A primeira traição — 1992Alto, loiro e com as bochechas muito rosadas, o garoto parecia uma pintura no pátio do colégio. Quando colocou os olhos nele, vestido em um casaco de moletom cinza-claro, Isabela perdeu a compostura. As pernas bambearam, as mãos começaram a suar e o coração deu início a uma maratona solitária. Os braços já não mais obedeciam aos seus comandos, deixando-a estática diante daquela visão.Descobriu que o seu nome era Iago e que estava duas séries à frente: tinha 14 anos e, a partir daquele momento, habitava cada um dos seus sonhos.A melhor amiga, Maria Lúcia, foi a primeira a saber da sua paixão. Com ela, confidenciava olhares, comentava sensações e dividia devaneios. Juntas, idealizavam o momento em que ele se aproximaria, faria uma declaração
Uma paixão desvendada — 1992A novela “De corpo e alma” estreava no horário nobre da Globo, com uma emocionante história de amor, que envolvia até transplante de coração. Logo na abertura, Isabela ficou apaixonada pelo folhetim, principalmente em função da música “Raios de Luz”, interpretada pela cantora Simone.“Você chegou, e iluminou o meu olhar,Teus olhos nus, raios de luz, no azul do marMeu coração, que sempre quis acreditar,Bateu feliz, foi só você chegar”Mas o que realmente arrebatou Belinha foram as cenas de flashback do casal protagonista: Paloma e Juca. Quando se lembravam da adolescência, eles apareciam correndo em uma relva alta, cercados por belezas naturais. Rolavam no mato, mergulhavam em um riacho de águas cristalinas e tro
O primeiro beijo — 1993Bela tinha treze anos e sonhava com o seu primeiro beijo. Todas as suas amigas mais próximas já tinham dado esse passo e, de uma certa forma, ela ficava diminuída por nunca ter vivido a tão aguardada experiência.Queria se sentir realmente adolescente e ser tratada como tal. Ansiava por ser descolada e ter histórias reais para contar. Mas pensava que não podia beijar qualquer um, afinal, seria um momento absolutamente inesquecível, que não poderia ser protagonizado por um total desconhecido.Em um sábado à noite, Isabela acompanhou Valentina a uma boate do Clube Naval Piraquê: chamava “Galera”, era bem privada e estava repleta de jovens na faixa dos 15 anos. Tinha um ambiente moderno, músicas da moda e ainda ficava à beira da Lagoa Rodrigo de Freitas, proporcionando uma vista privilegiada da cida
Troca de lugares — 1993Cabelos compridos, totalmente descoloridos, e olhos azul-piscina. Simpático, bronzeado, surfista. Assim era André: o colírio que derretia Isabela em todas as suas visitas à praia de Ipanema. O ponto de encontro com as amigas era sempre o posto 10, que vivia rodeado de adolescentes lindos, saudáveis e descolados.Embora nunca tenha gostado de sol e odiasse a água salgada, Belinha não perdia um fim de semana praiano, afinal, precisava “encontrar” o seu mais recente alvo de inspiração.Eles nunca foram apresentados e, portanto, não se falavam, mas a menina já sabia tudo a seu respeito: onde morava, a escola em que estudava e até os locais que frequentava. Decorou nome, sobrenome, signo, idade, gostos, tudo.André também encarava Isabela e, volta e meia, a observava em silêncio. No ent
A primeira obsessão – 1994Quando Isabela viu Rodrigo na pista de dança da matinê do “Resumo da Ópera”, tudo pareceu ficar em câmera lenta. No auge dos seus 14 anos, a adolescente se sentiu dentro de um filme clichê de comédia romântica, avistando o cara dos sonhos pela primeiríssima vez. Ele era moreno, alto, com os cabelos castanhos e os olhos negros. Tinha uma beleza comum, mas totalmente desconcertante. Bela não conseguia parar de olhar, ficando alheia a todas as outras pessoas que a cercavam. Não se atinha às conversas nem se interessava pelas músicas: estava enfeitiçada pela visão de Rodrigo e anestesiada pelo que ela ocasionava em seu corpo juvenil.“Como podia ter uma reação tão forte por alguém que nunca tinha visto?” Ela não sabia, mas esperava, com toda a for&ccedi