Ragnar
Em meu quarto, a irritação fervilhava dentro de mim, uma tempestade silenciosa ecoando nas paredes de pedra. Meu lobo desejava o sangue daquela loba difícil. A decisão de exigir um contrato de casamento com Cameron parecia, agora, mais uma maldição do que uma solução para os problemas de minha alcateia. Eu sabia que ela era uma loba forte; no entanto, não esperava que sua presença fosse tão desafiadora a ponto de ameaçar a paz que eu tanto preservava.
"Ela é tão diferente de você, Amanda." Me virei para a foto emoldurada de minha falecida esposa, observando seus traços delicados e sua postura gentil, tão diferente daquela que estava a alguns metros de distância de mim.
Enquanto eu me debatia com meus pensamentos, ouvi uma batida suave na porta e autorizei sua entrada. Era Gabriel, meu beta leal, cuja presença sempre trazia uma certa ordem ao caos.
"Todos os convidados voltaram para o gramado, Alfa," anunciou ele ao entrar. "Estão todos aguardando que vocês desçam para celebrar a união."
Eu assenti, ajustando meu terno no espelho. "Vamos acabar logo com isso," respondi, deixando os rosnados de meu lobo de lado. Ele ainda estava se rebelando contra uma nova companheira.
Amanda era o amor de nossa vida, e sua morte prematura, nos deixou abalados por anos. Eron foi o motivo de eu nunca ter desistido do meu destino. Ele era a lembrança constante do quanto o meu amor e o de Amanda era grande e poderoso.
Enquanto me preparava para sair, Gabriel hesitou, um olhar preocupado cruzando seu rosto. "Ragnar, você tem certeza de que continuar com essa união é o melhor caminho? A senhorita Reynolds se mostrou instável. Não seria prudente reconsiderar?"
Eu respirei fundo, o peso de sua pergunta assentando sobre meus ombros. "Não há volta, Gabriel. Ela traz uma força que nossa alcateia precisa, mesmo que isso custe minha tranquilidade."
"Não falo apenas da sua, senhor. É possível que ela tome essa atitude novamente? Que tente fugir dos problemas que não consegue resolver?" me virei para ele o encarando.
"Ensinarei a ela nossos costumes, Gabriel. Transformarei Cameron em uma Luna digna, quer ela esteja disposta ou não. Se ao término deste contrato, ela não estiver pronta para ser marcada, a devolverei para sua família, mais preparada e resiliente do que quando chegou." Minha voz ressoou com uma determinação sombria, enquanto meu lobo interior rugia em aprovação.
Com um aceno de cabeça, Gabriel recuou, respeitando minha decisão, embora sua preocupação fosse evidente.
Saindo do quarto, desci as escadas em direção ao gramado onde a cerimônia estava sendo montada. Eron, meu filho, notou minha presença e correu em minha direção, jogando-se em meus braços com uma alegria despreocupada que só as crianças possuem.
"Papai, por que demorou tanto?" Ele olhou para mim, seus olhos castanhos curiosos.
Eu limpei as marcas de chocolate em seu rosto, sorrindo apesar do caos interno. "Cameron precisava de um momento," expliquei, tentando manter a leveza.
"Por quê? Ela estava triste?" eu não tinha pensado nessa possibilidade. Tudo o que estávamos fazendo, mudava completamente com as nossas vidas, porém a dela seria mais afetada do que a minha.
"Não, filho, ela só estava nervosa." me ajoelhe diante dele, para que nossos olhos ficassem da mesma altura. "Às vezes nós precisamos de um momento para nos recompor.
"Assim como você faz quando se tranca em seu quarto?" concordei com a cabeça.
"Isso, dessa forma. Às vezes os adultos precisam se acalmar e fazem isso escondidos de todos." Eron voltou a me abraçar, abraçando com força meu pescoço.
"Eu sinto falta da mamãe." meus braços o apertaram mais, e o levantei do chão, arrumando minha postura.
"Eu também, lobinho. Eu também sinto." ele se afastou me encarando.
"Acho que ela não está mais triste." não entendi o que ele quis dizer.
"Quem não está mais triste, Eron?"
Ele riu, claramente achando graça na situação. "A loba triste!" exclamou ele, pulando do meu colo e correndo de volta para se juntar aos outros.
Ao me virar, meus olhos encontraram Cameron saindo da mansão. Ela estava... deslumbrante. O vestido da cor champanhe contornava cada curva do seu corpo, deixando evidente sua perfeita forma física. Os cabelos estavam presos em um coque solto e a maquiagem não tirava seus traços bonitos. Cada passo que dava em direção ao gramado parecia medido, sua postura era a de quem dominava seu destino, não o contrário. Assim que as safiras azuis se voltaram para mim, ela parou, com suas irmãs vestidas de vestidos rosas chás. As três me encaravam com intensidade e pela primeira vez me senti desconfortável ao olhá-las juntas.
Nesse momento, a complexidade de nossas vidas entrelaçadas se tornou clara. Cameron não era apenas uma loba a ser domada; ela era uma força a ser reconhecida. E enquanto eu a observava, um novo respeito por ela começava a florescer em meu peito, misturado com uma inegável admiração.
"Vamos," disse Gabriel suavemente ao meu lado, me trazendo de volta ao momento. "É hora."
CameronParada na entrada da grandiosa mansão, eu observava Ragnar se dirigir à cerimônia. Eu não podia negar que o lobo estava lindo, e que sua postura determinada sempre foi algo que eu invejei.A única diferença é que agora eu não podia admirá-lo, sem me sentir traidora. Não podia sorrir e contar para minhas irmãs, como aquele lobo, ao mesmo tempo, me dava medo, me arrancava suspiros.Minhas pernas tremiam, ao mesmo tempo que meus lábios, e os apertei com força, um contra o outro, para tentar afastar aquele sentimento irritante. Arrumei minha postura, erguendo minha cabeça, e me posicionando como a verdadeira dona de tudo aquilo. Todos estavam ali por mim e eu seria a rainha daquele evento. Ninguém veria a Cameron temerosa com o futuro. Veriam apenas a nova companheira de Ragnar.Mallory, percebendo minha hesitação, inclinou-se e sussurrou, "Você está pronta? Quer que eu peça mais alguns minutos?" Neguei com a cabeça, vendo o beta se aproximar."Já fiz o suficiente, Mallory, não qu
RagnarMeu lobo estava rosnando dentro de mim, irado. Ela não seria capaz de me abandonar no altar, na frente de todas as alcateias da Aliança, seria? Eu via tudo em vermelho, sabendo que dessa vez eu lhe daria uma lição por sua insolência. Ela poderia enganar os outros, mas não a mim.Finalmente, Cameron começou a caminhar novamente com o pai ao lado. Parei, incerto se deveria voltar para o meu lugar ou se era melhor ficar onde estava, para evitar que ela fugisse novamente. Quando ela chegou até mim, sua expressão se contorcia em um sorriso falso. Ignorei sua atitude e me virei para cumprimentar Jordan com um aceno respeitoso, tomando a mão de Cameron, que tremia levemente ao se apoiar em meu braço. O toque sutil, porém perceptível, não me escapou."Ragnar, estou te entregando um dos meus bens mais preciosos. Espero que você cuide bem da minha
Cameron"Te marcando como minha.” Ele me puxou de volta, e me virou de frente para todos os convidados, entrelaçando seus dedos aos meus.A cerimônia inteira passou como um borrão diante de meus olhos. Cada palavra, cada gesto parecia flutuar em uma névoa distante. Quando finalmente pronunciei "Sim", uma onda de realidade me atingiu com força. Aquele simples ato ativava o contrato que agora me unia a Ragnar como sua Luna. No momento em que nossos lábios se tocaram, senti que aquilo era mais do que apenas uma formalidade. Seus lábios foram intensos e convidativos, me deixando com a sensação de querer explorá-los, mesmo que eu soubesse que aquilo era errado."Prossigam agora, caminhem sob a luz da Deusa, e saibam que cada olhar aqui presente apoia esta união. Com o poder deste enlace, declarem-se marido e mulher, Alfa e Luna Suprema, guardiões da Aliança, hoje e s
RagnarA puxei novamente quando sua rebeldia a fez andar em minha frente. Meu rosnado a paralisou e senti que ela estava começando a entender que não conseguiria nada daquela forma. Seus olhos, assustados, estudavam minha postura, e segurei sua mão com força, fazendo com que nossos dedos se entrelaçassem de forma áspera."Na frente de todos, Cameron, você deve se mostrar mais delicada e amorosa. É essencial que todos acreditem que somos um casal verdadeiramente unido," eu disse, minha voz baixa, sussurrada em seu ouvido. Qualquer um que nos visse daquela maneira, não diria que estávamos a ponto de nos matar.Ela me lançou um olhar penetrante e, com uma reverência debochada, concordou. "Como desejar, meu Alfa," respondeu, sua voz tingida de sarcasmo. Apesar disso, segurou minha mão com mais suavidade e caminhamos de volta para o salão onde os convidado
CameronDançando lentamente na pista, os braços de Benjamin ao meu redor, senti uma momentânea paz em meio ao turbilhão do dia. Ele inclinou a cabeça para o lado, me estudando com preocupação."Você está realmente bem, Cam?" Sua voz suave contrastava com a intensidade de seu olhar."Sim, estou," respondi automaticamente, embora meus olhos desviassem dos dele. Sabia que não poderia enganá-lo.Ben soltou um suspiro pesado, seus olhos me estudando, buscando a verdade que eu tentava esconder. "Sinto muito por tudo isso, Cam. Sei que te coloquei nessa situação, e prometo que farei tudo para que esses seis meses passem rápido." Meu irmão sabia o quanto eu o amava, mas toda aquela situação era por culpa dele. Se ele não tivesse se envolvido em uma batalha que exigisse a intervenção e apoio do alfa Supremo, eu
CameronUma risada quase escapou por meus lábios ao ouvir suas palavras, mas a reação de Ragnar foi imediata. Ele parou a dança, segurando firmemente meu queixo entre seus dedos e me encarando com intensidade."Está achando que estou brincando, Cam?" ele usou o apelido que minha família reservava para mim, a intimidade em seu tom contrastando com a seriedade de seu olhar."Acho que vai precisar de mais do que simples vontade para conseguir isso," rebati, me desvencilhando de seu aperto com uma leveza calculada e recuando. "Preciso de um pouco de ar, com licença." Me afastei em direção à mesa de bebidas, pegando um copo de água enquanto evitava os convidados que tentavam me abordar, usando uma desculpa qualquer para me esquivar deles e me dirigir para a lateral da casa.O ar fresco da noite me acalmava enquanto me aproximava das estufas da mansão. De repente, mãos fo
RagnarAssim que Cameron desapareceu de minha vista, uma faísca de irritação acendeu-se em meu peito. Estava farto de todo esse teatro, de todos os jogos e manipulações. Eu precisava de um momento de paz, longe das exigências de ser o Alfa Supremo. Todos pareciam querer saber o que estava acontecendo entre nós, e minha vontade era apenas de mandar todos embora e me resolver de uma vez com aquela loba da língua afiada. RagnarA raiva borbulhava em minhas veias, cada palavra venenosa de Tayrus sobre Cameron atiçando a fogueira em meu peito. A honra dela, agora interligada à minha, não podia ser manchada impunemente."Você não tem o direito de falar assim da minha Luna!" Minha voz ecoou pela estufa, saturada de fúria, enquanto me aproximava ameaçadoramente de Tayrus."Ragnar, por favor, não!" O desespero na voz de Cameron se misturava ao rugido do meu lobo, exigindo justiça.Sem hesitar, avancei, nossos corpos colidindo com a violência de titãs em batalha. O vidro da estufa estilhaçou ao nosso redor, marcando nossa luta desesperada. Cada golpe que eu desferia era impulsionado pelo instinto primal de proteger e dominar."Você vai matá-lo!" Cameron gritava, aterrorizada.Empurrando Tayrus para fora da estufa destruída, nós caímos13. A festa acabou