Capítulo 6

BIANCA

-Soraia certo? - Pergunto enquanto dirijo para casa.

Já pegamos o filho dela na escola da prefeitura e as coisas dela estavam em uma casa abandonada em torno da cidade e para minha surpresa é um dos lugares que tenho que reformar. Lá era uma antiga livraria em um prédio histórico da cidade.

-Sim senhora - ela responde do banco de trás do carro com os filhos.

-Me chame de Bianca por favor me chame assim nada de senhora!

-Tudo bem... - ela sorri e eu continuo a dirigir em silencio e olhando ela e os filhos pelo espelho retrovisor.

Ela é uma mulher que se não estive tão maltratada seria incrivelmente bonita, tem a pele clara e olhos verdes e cabelo castanho ela tem postura de quem já teve tudo do bom e do melhor e agora está assim, dependendo da ajuda dos outros.

Os filhos eu descobri que é um menino de quase 9 anos chamado Henry e o bebê é uma menininha chamada Charlotte que tem quase um ano, ou seja, ela está na rua com as crianças esse tempo todo. Sobrevivendo com o pouco que algumas pessoas dão escondidos para ela.

Pelo que ela contou por cima ela desconfia que seja a mãe dela quem ajuda ela e também descobri que ela tem 30 anos então ela é mais velha do que eu, mas sinceramente não parece.

-Soraia você não precisa se preocupar com nada ok? Eu preciso começar a mudar as coisas na casa e em especial preciso transformar aquele museu sombrio em um lar, eu ainda não tenho certeza de onde você vai ficar, mas tem muitos quartos lá e algum deve servir!

-Obrigada Bianca, eu só quero poder cuidar dos meus filhos e ter um trabalho digno - ela disse e beijou a cabeça dos filhos, o menino dormiu com a cabeça no colo dela e a menina está com o punho enterrado na boca. Tão fofo! Ambos têm os olhos dela, mas a menina é loira quase branco e o menino tem o cabelo tão escuro quanto o meu.

-Então vamos fazer funcionar, minha única regra é seja sempre sincera comigo, não tolero mentiras - digo e olho pelo retrovisor, para garantir que ela entendeu

-Eu não quero que você saia me contanto seus segredos, mas se quiser me contar algo conte e se não quiser apenas deixe claro que é pessoal demais e que você não quer falar sobre entendeu?

-Sim, alto e claro!

-Bom, agora preciso saber, você realmente sabe cozinhar?

-Sim - ela ri e com humor genuíno e vejo que ela se surpreendeu com a própria risada

-Desculpe, não estava mais acostumada a rir assim, foi - seus olhos encheram de água enquanto falava - foi libertador eu não tive uma vida fácil nos últimos anos.

-Eu sei, ouvi no mercado, mas quero ouvir a sua verdade depois. Eu melhor do que ninguém sei que a verdade nem sempre é a que se ouve no meio da fofoca.

-Claro, outro dia eu conto, mas não é nada que te fara se sentir mal por me contratar eu juro!

-Relaxa!

A conversa segue por um rumo mais humorado, sobre comidas favoritas entre outras coisas. Quando a casa aparece entre as arvores fico chocada ao ver um carro parado na porta e quando me aproximo vejo que o motorista é o moleque do Luca. O que ele quer agora?

-Aquele é o Luca? - Soraia pergunta

-Você conhece ele?

-Sim ele é o irmão mais novo do Adrian... - ela disse isso e ficou um pouco vermelha, será que ela também caiu na rede do Rossi lenhador?

Eu paro o carro na frente da casa, eu ainda não tinha reparado muito, mas agora que vou morar aqui vejo o quanto a construção é imponente, tem até uma fonte na frente na casa com uma entrada para carros pavimentada que gira em torno dela. Meu Deus é tanta ostentação!

Descemos do carro e eu ignoro que ele está lá, vou para a carroceria da caminhonete e começo a tirar as compras e as poucas coisas da Soraia e das crianças.

Preciso ajudar ela e comprar coisas novas para eles, mas não hoje, vou encomendar pela internet o básico e depois levar ela para comprar o que sentir falta.

-Russo! - Luca grita

- Eu tenho um nome garoto - Eu paro e olho para ele respondendo com voz de tédio.

-Sim, mas você ainda não me disse qual é! - Ele disse e tomou as coisas que estavam na minha mão e levou para dentro da casa.

Quando ele sai vê Soraia e para surpreso - Soraia?

-Luca, como você está?

- Bem, o que faz aqui? - Ele respondeu e tirou as coisas das mãos dela para levar para dentro.

-Moleque não seja grosseiro! - Digo pegando mais coisas na carroceria.

-Está tudo bem, eu já conheço ele e esse jeito impertinente dele, fico feliz que você ainda seja o mesmo - ela faz uma pausa e pega a filha no colo - A Bianca me contratou para trabalhar para ela como empregada.

-Entendo - ele diz surpreso e entra na casa com as coisas que ainda estão na mão dele.

Quando ele sai de novo pronto para ajudar eu deixo até que as coisas acabam e eu digo para Soraia entrar com as crianças e ir conhecendo a casa.

-Você precisa ir embora!

-Por que? Meu irmão é bom o suficiente para você conversar, mas o garoto infantil não?

-Luca eu só não quero mais problemas com a sua família! Preciso deles e se você continuar... -eu respiro fundo - A fazer isso, seja lá o que isso for eu não vou conseguir nada!

-O que quer dizer? Como assim precisa da minha família? - Ele diz e cruza os braços, exatamente como o irmão.

-Quer saber, apareça mais tarde na sacada, como você fez essa noite, vamos conversar com calma. Agora não é um bom momento e não estou afim de causar mais problemas na minha vida agora.

-Tudo bem, eu volto - ele diz e se aproxima do meu rosto - Mas se você não abrir a porta ou fugir de mim vai ser pior.

-Pior por que criatura? Eu nem te conheço direito!

-Eu só preciso falar com você - Ele se afasta e passa a mão pelo cabelo, pelo jeito a família faz isso quando está confusa ou frustrada - Eu também não sei o que acontece, só sei que preciso conversar de verdade com você.

Ele diz isso e sai sem esperar uma resposta. Pelo jeito a noite vai ser loooonga de novo.

LUCA

Por que eu fui até a casa dela? Por que eu tinha que ser um babaca? 

Eu só dei vacilo de ontem para hoje, o pior é que ela está certa eu nem conheço ela direito, mas sinto atraído a voltar aqui, a voltar a ver ela. 

Eu passei a noite no saco de dormir que deixo escondido na casa abandonada e quando volto para casa ninguém fala comigo, meu pai ainda me chama para conversar e avisar que não vai tolerar minha rebeldia. Ele falou ainda mais coisas, mas não me lembro ainda estava entorpecido e minha atenção estava longe.

Depois disso passei a manhã deitado no meu quarto até que minha irmã mais nova apareceu, puxou a cadeira e ficou na minha frente esperando, esperando, esperando.

-Que cacete fala logo Andressa!

-Você acha que está assim por causa da maldição?

-Eu não acredito nisso você sabe...

-Deveria! Por que se você não percebeu ele disse que tem 5 filhas! 5 Russos - Ela disse se levantando e andando em volta do quarto - E nós somos em 5 também!

-Dessa ela não é assim, acho que nem ela conhece a maldição...

-Como você pode saber? Um Russo nunca é confiável! Você está apaixonado por ela? Você só conheceu ela ontem! Deve ser a maldição ninguém pode se apaixonar tão rápido! Ou ela te seduziu? Você é novo, mas eu sei que tem um mar de garotas que você já.... Sabe...

E ela continuou a falar e falar, depois de um tempo perdi o foco, sai do quarto sem olhar para trás. Ela falou tanto que não conseguia ouvir meus pensamentos, passei por minha mãe e dei um beijo na cabeça dela, como um pedido de desculpas silencioso.

-Seja um bom menino é tudo o que quero! -Ela gritou quando passei pela porta. 

Andei pela cidade só para descobrir que meu irmão tinha se enfiado em um banheiro no restaurante do senhor Ferrari com ela, que ficaram ali tempo o suficiente para causarem a maior fofoca na cidade maior do que quando meu irmão foi abandonado pela namorada.

Fico puto da vida, mesmo sabendo que é sem sentido, afinal ela já disse que prefere ele não é mesmo? Eu deveria torcer por eles e seguir com minha vida.

Eu vejo a Lívia saindo da farmácia e pela primeira vez não sinto vontade de tentar levar ela para algum lugar e .... Cara como isso pode não me animar?

Depois disso quando dei por mim estava na porta dela tirando satisfação. Eu sou um grande idiota! Mas hoje à noite vou poder provar que não sou assim de fato.

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