Deja vu
Deja vu
Por: Totomo Injobua
Capítulo Um

Eu queria poder acordar com amnésia

E esquecer sobre as pequenas coisas estúpidas

Como a sensação de adormecer ao seu lado

E as memórias que eu nunca consigo escapar

Porque eu não estou nem um pouco bem

(5 Seconds off summer: Amnesia);

Neusa Cumbe

O

s mitos gregos, sempre me fascinaram desde pequena, que sou apaixonada pelas aventuras de Chena a Princesa guerreira, Hércules, Percy Jackson e todas as batalhas entre os deuses do Olimpo contra os Titãs. Mesmo adorando tudo isso, eu nunca gostei cem por cento dos deuses favorecidos e amados, como Zeus. Ele é um idiota mulherengo que adora começar um caus por causa de alguma mulher mortal.

De todos os deuses do Olimpo, o que mais me fascina realmente, é Hades, o deus do submundo, o deus mais injustiçado da mitologia grega.

Eu não entendo quando ou como, mas desde pequena, eu tenho o desejo e vontade de defender a honra dele, as pessoas vêem ele como um vilão, eu o vejo como alguém triste e julgado por sua aparência, acho que ninguém o deu a acha de mostrar seu interior.

Eu sei que parece ridículo pensar assim, mas eu simplesmente sou fascinada pelo mitu do sequestro de Persephone e todas as vezes que leio, me imagino sendo levada no lugar dela.

O sequestro de Persephone

Hades deixou temporariamente o seu reino para presenciar as lutas travadas entre gigantes e deuses. Eros, o Cupido na mitologia romana, desafiado por Afrodite, decidiu lançar uma flecha contra Hades, e a flecha acertou o coração do deus do submundo. Após ser atingido pela flecha, Hades cruzou o caminho de Perséfone, que passava por uma pradaria (tipo de cobertura vegetal que se estabelece em planícies) colhendo flores, e ao vê-la apaixonou-se perdidamente pela deusa, filha de Deméter e Zeus.Com isso, Hades decidiu raptar Perséfone e levá-la ao submundo. Algumas versões desse mito narram que Hades raptou Perséfone com a autorização de Zeus. No mito, o rapto de Perséfone aconteceu na Sicília, próximo ao monte Etna.

Quando criança, eu gostava de pensar que eu e Arthur, nos parecíamos com Hades e Persephone. Duas pessoas de mundos diferentes, realidades diferentes, planos diferentes, unidas por uma simples coisa, o amor. Como eu era boba, sinto até vergonha de me recordar de todas as loucuras que fiz por ele.

Arthur Karelly, era o próprio Hades na terra, tanto que as pessoas o chamavam assim. Para além de ser grego, ele exalava tudo que o próprio Hades talvez tivesse: Poder, mistério, classe, sensualidade, perigo e destruição, principalmente isso, ele exalava o mais puro poder de destruição.

Não me lembro quando foi a primeira vez que o vi, se foi numa das empresas da família dele, ou numa das festas de natal ou numa excursão escolar. Só consigo me recordar que, desde que me entendo por gente, Arthur Karelly está na minha vida, nos meus pensamentos, no meu coração, no meu sistema e em tudo. Eu o amei desde pequena.

Não sei o que me chamou atenção nele, não me recordo de nada, quando dei por mim já estava sonhando com ele, fazendo planos para o nosso futuro e escolhendo os nomes dos nossos filhos, eu era dele, mesmo sem saber.

— Neny, estás a prestar atenção em mim? — meu melhor amigo Bruno, que tem um crush secreto por mim, b**e a minha testa com a caneta e me tira dos meus devaneios.

A verdade é que eu não estou pensando em nada, todo o final de ano, depois que ele foi embora, eu fico assim, pensativa e apreensiva. Quase todos os anos, nós fazemos uma viagem a Bilene para passar o natal na casa de praia dos pais dele.

Meu pai é advogada na empresa dos pais de Arthur, ele é um simples empregado que se tornou amigo.

Desde que ele foi embora, as viagens nunca foram as mesmas, tudo ficou cinzento e minha mente faz questão de me castigar com memórias que quero esquecer e apagar.

— Desculpa amigo, estou ansiosa, nós vamos viajar e eu não gosto de sair daqui — murmuro irritada.

Para além de meu amigo, Bruno é meu professor particular, a pesar de ser uma boa estudante e ter amigas extremamente inteligentes, eu nunca gostei de química e nunca entendi nada dela. Fiquei surpresa quando admiti ao curso de Química marinha na universidade Eduardo Mondlane, eu coloquei o curso como segunda opção e passei.

— Está ansiosa pela viagem ou porque ele está voltando? — Bruno questiona irritado.

Quando Arthur foi embora, Bruno ficou do meu lado, enxugou minhas lágrimas e nunca me deixou sozinha, ele e minhas amigas são as únicas pessoas que sabem que nós tivemos um caso no passado, nem mesmo os nossos pais sabem disso.

— Ele está voltando? Como assim? — me sobressalto na cadeira.

Eu sou tão patética, foi só ouvir que ele está voltando para ficar igual a uma boba, não me espanta que ele tenha pisado em meu coração no passado.

— Está vendo? Foi só falar que ele está voltando, para você ficar assim, igual a uma boba — ele murmura irritado, fecha o livro de química analítica e me encara como quisesse me dar um sermão.

— Assim como? Eu já falei que, Arthur Karelly morreu para mim — comento sem graça tentando parecer convicta das minhas palavras.

Quem eu estou querendo enganar? Arthur Karelly ainda está alojado em meu coração, igual a um câncer, quanto mais tento me livrar dele, mais presa a ele eu fico, eu não tenho cura, eu simplesmente estarei conectada a ele para sempre.

— Escuta Neny, você precisa esquecer ele, precisa seguir em frente, Arthur foi embora, deixou você quando mais precisou dele, ele não presta e nem se importa com os seus sentimentos — meu amigo j**a a verdade na minha cara a verdade é que, eu sei dessa verdade, sei que ele não presta, sei que ele me machucou, eu só não sei como esquecer ele.

— Eu sei Bruno, por isso mesmo que eu falo que já esqueci ele, eu não vou voltar a ficar daquele jeito, ele não vai me fazer mal de novo — junto minhas mãos as do meu amigo, para tentar passar confiança.

— Se você me der uma chance, eu prometo te fazer esquecer ele em segundos Neny — Bruno tenta se aproximar de mim, ele tenta me beijar mas eu me esquivo, não posso usar ele para esquecer meu ex-namorado gostoso.

— Bruno não — estendo uma mão até seu peito — Eu sei que suas intenções são óptimas, mas eu não posso fazer isso com você, não posso te usar para esquecer o meu ex, é errado e você não merece isso — explico da melhor forma possível, para que ele não pense que estou rejeitando ele.

Seu olhar de tristeza, me deixa incomodada, mas o olhar é substituído por outra coisa: Determinação.

— Tudo bem, mas eu vou te propor um desafio — fala com determinação — Eu vou deixar você em paz, por enquanto, mas eu quero que até o início das aulas você me dê uma resposta, não importa qual seja, só me dê uma resposta está bem? — Bruno me desafia, ele está determinado a me conquistar.

Ele quer conquistar o meu coração, ele está decidido, mas o que ele não sabe é que, não existe nada para ser conquistado, meu coração foi roubado faz muito tempo, por Arthur Karelly, ele trancou meu pobre coração numa sela revestida do mais puro gelo, não existe uma forma de trazer ele de volta, só ele pode descongelar o meu pobre coração. O meu coração foi sequestrado igual a Persephone.

— Quer que eu namore com você? — Indago surpresa com seu desafio, ele nunca foi alguém de tomar atitudes, é apaixonado por mim desde criança e nunca sequer se atreveu a me roubar um beijo, talvez se ele tivesse feito algo do tipo no passado, eu não tivesse me apaixonado por Arthur.

— Sim, mas pense na resposta primeiro, eu aguardo até sua volta — ele abana a cabeça animado.

Mas isso não tem nada de divertido nem animação, ele está me colocando contra a parede quer que eu escolha entre ganhar um namorado novo ou perder um amigo incrível, isso não se faz com ninguém. Mas convenhamos, o desafio até que é bom, dessa forma, eu posso esquecer um pouco Arthur Karelly e voltar a aquela casa de praia onde nós demos nosso primeiro beijo, não vai ajudar em nada no processo de desintoxicação Arthural.

— Está bem, eu aceito seu desafio — concordo não muito certa da minha decisão, mas disposta a me dar mais uma chance de viver uma nova história.

Arthur Karelly nunca me amou, só me usou e quando se cansou ele deitou fora sem dó nem piedade, eu preciso seguir em frente, não é como se ele fosse voltar do nada, ele está praticamente do outro lado do mundo, não tem como ter tanto poder assim na minha vida.

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