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Capítulo Dois

Olhando agora

Para dezembro passado (dezembro passado)

Nós fomos feitos para desmoronar

Depois nos reconstruirmos de novo (reconstruirmos de novo)

( Taylor Swift: Out of the Woods) 

Arthur Karelly

O dia hoje está quente em Atenas, tão quente que é impossível andar descalço no asfalto, como eu sei? Há quatro anos atrás, quando cheguei aqui igual a um desavisado, eu me atrevi a andar descalço no asfalto e me arrependo até hoje, a dor é tão insuportável que você é obrigado a chorar. Sim, eu chorei.

Há quatro anos, eu fui obrigado a me mudar para a Grécia, segundo o meu pai para aprender a ser um verdadeiro Karelly, é tradição de família passar, por esse processo, dirigir a empresa por dois anos sem a ajuda de ninguém, é considerado um rito de passagem, todos os Karelly passam por isso e comigo não seria diferente, assim que fiz dezoito anos me mudei para Grécia e comecei com o meu preparo no mundo dos negócios.

« Manhã você volta a Maputo, preciso de você aqui » meu pai informa, não consulta se quero ou não voltar, típico de Ares Karelly, ordenar e não perguntar.

— Como assim pai, pensei que eu só voltasse ano que vem — tento ser o mais calmo possível diante desta situação, mas é praticamente impossível, esse velho não tem respeito por ninguém.

« É isso mesmo, amanhã você está de volta e não se fala mais nisso » sem mais nem menos o velho desliga a chamada na minha cara.

— Skatá¹ — berro irritado fechando o laptop com toda a minha raiva existente — Cum²  — Chuto a cadeira para trás.

Eu preciso de uma bebida para me acalmar, esse velho desgraçado, não tem o menor respeito por ninguém, ele ordena e nós temos que obedecer as ordens dele, como se fôssemos seus capachos.

— Iiiih! O que foi Arthur, alguém comeu sua namorada — meu irmão mais velho Nikos, indaga entrando em meu escritório. Ele me encontra andando de um lado para o outro tentado desfazer o nó da gravata.

— Melissa não é minha namorada, e não ninguém comeu ela, não que eu saiba — retruco um pouco mais calmo.

Meu irmão Nikos, assim como eu, é extremamente alto, ele mede uns um metro e noventa e sete, apesar de sermos irmãos, nós somos muito diferentes um do outro. Nikos é alto, loiro de olhos azuis e é branco, os olhos azuis e os cabelos loiros, ele puxou da mãe dele que é uma senhora escocesa. Meu segundo irmão Hiroshi, é também alto, mas ele puxou o lado asiático da mãe dele.

O velho Ares Karelly, parece o verdadeiro Ares da mitologia grega, um filho da puta galinha do caralho. Ele teve três filhos antes de mim, todos homens, cada um com sua mãe diferente. Depois de Hiroshi veio Apolo o único que puxou a fisionomia dele, mas a face é da mãe dele, que  também é grega e por fim eu, Arthur Karelly. O“ último filho” da casa, Karelly.

Eu sou filho de uma brasileira, minha mãe é uma Baiana, dos cabelos cacheados, extremamente linda, pele brilhante igual pérolas. Eu sou muito parecido com o meu pai o único filho que levou a cara dele, infelizmente, mas por algum milagre eu não saí branco, eu saí uma perfeita mistura dos dois.

Meus pais nunca viveram como um casal, eles só tiveram um caso de uma semana, e pronto, eu fui concebido. Minha mãe estava apaixonada pelo desgraçado do Ares Karelly, mas o filho da mãe, estava nem aí para ela, só quis se divertir típico de um playboy mimado. Quando eu nasci, meu pai me roubou dos braços da minha mãe, por vários anos eu fiquei sem vê-la, até que ele se casou novamente e a minha madrasta Moçambicana o convenceu a me deixar visitar minha mãe nas férias. Foi a melhor coisa que aconteceu.

— Então o que houve? — meu irmão insiste em pôr limão na ferida.

— Seu pai quer que eu volte a Maputo amanhã — falo logo de uma vez. Seu semblante muda de zombeteiro a surpreso num estalar de dedos.

Assim como eu, ele não entendeu absolutamente nada do que o meu pai quer.

— Que velho desgraçado, ele falou por quê? — meu irmão indaga, entendendo totalmente a minha frustração.

Ele quer que eu volte sem mais nem menos, logo agora que eu estava conseguindo abrir minha própria empresa, ele deve ter descoberto e está fazendo isso para que eu não saia de suas asas.

— Não, só mandou como sempre e eu tenho que obedecer como um bom capacho que sou — retruco irritado me sentando na cadeira, extremamente vencido pelo cansaço.

— Somos irmão, somos seus capachos — meu irmão b**e em meu ombro como se compartilhasse da mesma dor que a minha, e a verdade é que ele, entende perfeitamente do que eu estou falando.

Há dois anos atrás, antes do meu irmão ser um acionista sénior da empresa Karelly, ele quis se casar com uma moça de Família humilde, mas o grande chefão não deixou, o forçou a se casar com alguém da mesma classe social que a nossa. A verdade é que todos nós somos covardes e nos deixamos manipular por nosso pai..

— Opha! Que caras são essas? Alguém morreu? — meu irmão Apolo entra no meu escritório com sua postura totalmente relaxada e despreocupada, mão no bolso, sem sua gravata, cabelo desgrenhado e sorriso zombeteiro. Com certeza esteve comendo uma de nossas secretarias no banheiro da empresa.

— Seu pai vai morrer se não parar de fazer merdas — Nikos retruca com sua falsa calma e Apolo ri, sabendo o pai que tem deve imaginar que é uma merda das boas e grande.

— O que ele fez dessa vez, tirou você do cargo de CEO? — Apolo indaga olhando Nikos e ele abana a cabeça negando — Não, não é o que eu estou pensando, é? — Indaga olhando directamente para mim, como se já soubesse a merda que está por vir.

— Se está pensando sobre a minha volta a Maputo, então sim, é isso mesmo — retruco abanando a cabeça.

Meu irmão xinga nosso pai de todas as formas e nomes possíveis, em grego e em inglês. Ele está extremamente decepcionado com o nosso pai, também o que esperar de um homem que tem a coragem de arrancar um menino pequeno dos braços de sua mãe.

Depois de muito se lamentar, nós decidimos, acabar com os lamentos, na praia tomando um bom whisky e apreciando as mulheres nela. Mas mesmo vendo todas as beldades gregas, meus pensamentos não saiem da viagem que tenho que fazer amanhã, não consigo tirar meus pensamentos da possível reação da minha Persephone ao me ver. Será que ela ainda me ama? Será que ainda guarda rancor de mim? Ou pior, será que ela seguiu em frente?

— Arth, você está aqui? — Melissa me desperta dos meus devaneios com um aperto forte em minhas bolas.

Ela e eu não namoramos, só ficamos às vezes, quando ela quer e quando eu quero. Na verdade eu nem sei por quê, eu aceitei sair com ela hoje, mesmo estando extremamente sexy com essa calcinha minúscula de renda, eu não consigo sentir nada com ela, meu pau nem sequer levanta, todos os meus pensamentos estão nela, em seu sorriso, seu cheiro, suas manias, está em tudo dela.

— Desculpa Melissa, hoje eu não estou no clima — murmura tirando ela do meu colo, visto minha camiseta de volta.

Melissa me abraça por trás e distribui beijos em meu pescoço, ela está tentando me deixar no clima mas acho que nada, vai conseguir me colocar no clima.

— O que foi amor, você está quieto desde que chegou aqui — sussura em meu ouvido e morde o lóbulo da minha orelha.

Eu não consigo sentir absolutamente nada com isso, a verdade é que eu estou com uma vontade absurda de fugir dela e de todos.

— Nada Melissa, só estou pensando na minha viagem que terei que fazer amanhã — murmuro irritado.

Só de pensar na arrogância do meu pai ao me dar essa ordem, meu peito explode de raiva.

— Amanhã, onde vai? Visitar sua mãe, me leva com você amor — tiro suas mãos do meu peito.

Não gosto quando ela fica com excesso de carinho para cima de mim, como se tivéssemos algo mais além de uma relação de foda. Ninguém pode me chamar de amor além dela, só ela tem esse direito, minha Persephone, minha Neusa.

— Não vou visitar minha mãe Melissa, eu vou embora amanhã, eu vou voltar a Moçambique — comunico me levantando de sua cama. Procuro por meus sapatos, calço eles e me preparo para sair do quarto dela.

— E quando pretendia me contar isso, como assim você vai embora, que porra é essa? — Melissa berra com histeria, como se eu lhe devesse alguma explicação sobre a minha vida.

— Estou contando agora e pará com isso, não combina com você — saio de perto dela, rumo ao andar de baixo onde está o meu carro.

Eu preciso voltar para casa, dormir um pouco e esquecer que tenho voltar a enfrentar os meus problemas mais uma vez.

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