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CAPÍTULO 2 - NOITE DE ANIVERSÁRIO

(Camila)

Já são oito horas da noite e estou morta de cansaço. Minha mãe e meu padrasto foram ao banco pela manhã e não voltaram mais para o quiosque. O meu irmão também não apareceu também depois do intervalo dele do almoço. Espero que ele não tenha aprontado.

Guardo as coisas, pego o dinheiro do caixa e fecho o quiosque porque vou para a boate. Se eu me apressar, chego em casa em dez minutos. A Larissa disse que me buscaria às nove e ela é super pontual.

Ando pela praia um pouco temerosa, mas qualquer coisa uso o spray que tenho dentro da bolsa.

Chegando perto de casa já dá pra ouvir os gritos do meu irmão e do meu padrasto.

_ Você é um covarde por bater em mulher!

_ E você não passa de um delinquentizinho.

Corro, sabendo que algo de ruim deve ter acontecido. Entro dentro de casa assustada.

_ O que houve gente? – pergunto.

_ Esse monstro bebeu de novo e bateu na nossa mãe – meu irmão responde totalmente alterado.

Ah não! Não sei se fique triste porque minha mãe mais uma vez sofreu violência doméstica do meu padrasto ou se fico triste porque sinto que meu irmão usou alguma droga. Belo presente de aniversário que minha família me deu!

_ Cadê a mamãe? – pergunto.

_ A vadia foi se esconder no seu quarto como sempre – meu padrasto responde.

_ Não chame minha mãe de vadia, seu covarde – o Átila fala.

_ Se não você fará o quê? – Turco debocha.

Meu irmão se enfeza mais ainda e vai pra cima do meu padrasto. Eu vou até os dois e os separo.

_ Parem vocês dois, por favor!

Os dois ficam se olhando. Meu padrasto passa a mão no cabelo e sai batendo a porta.

Eu fico observando meu irmão. Ele está com os olhos vermelhos e a respiração muito acelerada. O que será que ele usou dessa vez?

_ Por que você nos separou? – ele pergunta – Eu iria matá-lo no soco.

_ Você não vai matar ninguém Átila. Aquele idiota não vale a pena.

Ele bufa e depois deita no sofá com um braço sobre a cabeça. Eu balanço a cabeça inconformada e apenas digo:

_ Eu vou ver como a mamãe está.

Vou para o meu quarto e bato na porta dizendo:

_ Mamãe, sou eu!

Ouço os passos dela pelo quarto e ela destrancando a porta.

Ela abre e eu vejo. Dessa vez meu padrasto não bateu muito. Pela marca na face de minha mãe ele lhe deferiu apenas um tapa.

_ Mamãe, por que a senhora aceita isso?

Ela não diz nada. Mas eu sei o principal motivo, o dinheiro.

Eu entro no quarto, jogo a bolsa na cama e abraço minha mãe.

_ Um dia vou tirar a senhora dessa vida.

Minha mãe não diz nada, apenas retribui o meu abraço.

Depois de uns instantes a gente se separa e ela fala:

_ Eu não pude te comprar nada, mas pelo menos posso te dar um abraço de aniversário e desejar toda a felicidade do mundo pra você.

_ Obrigada mamãe.

Nos abraçamos novamente.

_ Espero que você tenha planos para hoje a noite – ela fala sorrindo – Afinal só se completa dezoito anos uma vez na vida.

_ Na realidade a Larissa me deu ingresso para ir a boat.

_ Ótimo filha. Vá e se divirta

Eu me sinto mal em me divertir e deixar a minha mãe nesse estado.

_ Vou ligar pra ela e cancelar. Vou ficar com a senhora.

Minha mãe me contradiz:

_ Não faça isso filha. Me sentiria muito mal em saber que por minha causa você não pôde sair pra se divertir. Você já abriu mão de tanta coisa.

_ Mamãe – eu a interrompo, mas ela continua.

_ É verdade, filha. Se você não tivesse parado de estudar pra trabalhar comigo e com o Turco no quiosque você estaria numa universidade em Atenas.

Ela fala isso com tanta tristeza. Eu nunca a culpei por essa decisão. Eu precisava trabalhar se não morreríamos de fome.

_ Vá se divertir filha. Quem sabe o que essa noite te reserva?!

Não sei por que, mas quando minha mãe falou isso, eu me lembrei do cliente da praia.

_ A senhora tem razão mamãe. Vai que eu não encontro o príncipe que vai nos libertar dessa torre?

Minha mãe sorriu e disse:

_ Vou te deixar se arrumar, mas eu quero passar a noite no seu quarto.

Eu entendo a minha mãe. O meu quarto tem tranca por dentro e se o Turco tentar entrar não conseguirá. Eu pus essa tranca porque quando fui ficando mocinha comecei a ver os olhares dele para mim e senti que precisava me precaver.

_ Fique à vontade mamãe.

Ela sai e eu vou até o meu guarda-roupa e começo a olhar as minhas roupas.

Tenho poucas roupas para sair, mas todas são bonitas e de boa qualidade. Eu não sei se foi pelo Bulling que sofri na infância, mas desde que comecei a trabalhar sempre fiz questão de comprar roupas e calçados de marca.

E, por causa dessa atitude, posso frequentar qualquer ambiente que não me sinto como um "patinho feio" ou um "peixe for d'água".

Escolho um conjunto de blusa e calça jeans falso e como calçado uma sandália preta de salto 15. Como acessórios vou usar uma jaqueta e brincos de argolas.

Pego uma toalha e vou ao banheiro. Tomo meu banho de chuveiro e escovo os meus dentes. Coloco um anticéptico bucal, porque sempre pode rolar uns beijinhos numa boate. Apesar de virgem não sou santa. E estou solteira.

Mais uma vez a imagem do cliente desconhecido surgiu na minha mente.

Sorrio comigo mesmo, se eu fosse romântica diria que tinha me apaixonado a primeira vista por ele e que talvez ele se apaixonaria por mim também.

Até parece que um deus grego daquele olharia para uma garota comum como eu. Não tenho problemas com a minha auto-estima, mas eu sei que aquele homem é muita areia para o meu caminhãzinho. E, com certeza, ele já deve ser comprometido e com uma mulher belíssima.

Me enrolo na toalha e volto para o meu quarto. Fecho a porta e tranco. Tiro a toalha e passo hidratante em todo meu corpo. Depois me visto e borrifo um perfume.

Fico me observando no espelho e concluo que estou bonita.

Escuto uma buzina e vejo pela janela que é a Larissa.

Pego minha bolsa e saio do quarto.

Encontro minha mãe e o meu irmão na sala.

_ Já estou indo mamãe.

_ Se divirta filha.

_ Onde você vai Mila?

Eu olho para o meu irmão e me lembro do convite da Larissa pra ele.

_ Larissa me deu um ingresso para a boate hoje – digo abrindo minha bolsa e pegando o ingresso dele – Ela te deu esse também, caso você queira.

Ele fica olhando o ingresso na minha mão, mas não o pega.

Eu sei que ele está com vontade de ir. Ele é um rapaz normal de vinte anos que ama uma farra. Mas acho que ele está sem graça porque o convite veio da garota que ele gosta.

_ Eu vou deixar ele aqui, caso decida ir – deixo o ingresso dele em cima de um aparador perto da porta – Tchau pra vocês.

_ Se divirta filha – minha mãe deseja.

Eu saio da casa e vou até o carro de Larissa.

_ Oi – a cumprimento.

_ Mila do céu, tenho um babado pra te contar – ela diz dando partida no carro.

_ Que babado? – pergunto colocando o cinto de segurança.

_ O dono da ilha voltou.

_ Como assim?

_ Théo Alexandros está de volta na ilha.

Théo Alexandros é o primo poderoso do Erik. A família Alexandros tem vários negócios pelo mundo. Eles são considerados os donos da ilha porque o único hotel, o banco, o restaurante e a única boate da ilha pertencem a eles.

Erik sempre se referiu ao primo com muita inveja. Sorrio de lado sabendo que nesse momento meu ex deve está com muita raiva.

_ Eu nunca imaginei que ele voltaria um dia para a ilha – Larissa continua falando – Na época o escândalo foi enorme.

_ Que escândalo?

_ Parece que há dez anos ele desistiu do casamento arranjado pelos pais e pouco tempo depois seu pai morreu.

É incrível como em pelo século XXI, alguns pais gregos arranjam casamentos aos seus filhos.

_ Minha mãe está toda contente com a volta dele. Tenho certeza que ela já deve está pensando numa forma de me jogar pra cima dele.

Eu olho para minha amiga, mas ela dá uma piscadela e depois nós duas começamos a rir.

Chegamos na boate e ela estaciona o carro. Saímos e fomos para a entrada da boate. Não há fila, porque aqui só se entra com ingresso comprado antecipadamente. É uma forma de garantir a segurança do lugar em relação a quantidade de pessoas.

Fazia tanto tempo que eu não entro aqui, mas tudo continua igual. Larissa e eu vamos direto para a pista e começamos a dançar "Casanova" da Paulina Rubio.

"Toco tua pele e começo a cair

Em perigo, demência e exageros

Te ver dançar é quase um ritual

E sabes que eu te desejo

Não sei controlar a loucura que há em mim

É irracional o que me faz sentir

Dança para mim, somente para mim

Que ao mover-te me escapa o ar

A noite é mágica e sensual

Um desejo incontrolável

O momento é ideal

Então não pare de dançar

Ama-me, dança dança Casanova

Dança para mim, somente para mim

Que ao mover-te me escapa o ar

A noite é mágica e sensual

Um desejo incontrolável

O momento é ideal

Então não pare de dançar

Ama-me, dança dança Casanova

Teu calor, minha paixão, que combinação

Delírio, perfume, mistério

Não posso evitar ao te ver dançar

Realize o amor em meus sonhos

Que não posso passar sem a vontade de querer mais

Açúcar e sal, não quero fugir

Dança para mim, somente para mim

Que ao mover-te me escapa o ar

A noite é mágica e sensual

Um desejo incontrolável

O momento é ideal

Então não pare de dançar

Ama-me, dança dança Casanova

Dança para mim, somente para mim

Que ao mover-te me escapa o ar

A noite é mágica e sensual

Um desejo incontrolável

O momento é ideal

Então não pare de dançar

Ama-me, dança dança Casanova

Oooooh, dança dança Casanova

Oooooh, dança dança Casanova

Dança para mim, somente para mim

Que ao mover-te me escapa o ar

A noite é mágica e sensual

Um desejo incontrolável

O momento é ideal

Então não pare de dançar

Ama-me, dança dança Casa nova

Dança para mim, somente para mim

Que ao mover-te me escapa o ar

A noite é mágica e sensual

Um desejo incontrolável

O momento é ideal

Então não pare de dançar

Ama-me

Dança dança Casanova"

Enquanto eu dançava, senti alguém me observando. O homem estava encostado na grade da galeria na área vip da boate com um braço levantado. De vez em quando ele passava a mão esquerda no queixo. Eu fiz questão de dançar olhando pra ele assim que o reconheci. Era o cliente desconhecido que me mirava com um olhar muito quente.

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