Rubi dormia profundamente, o rostinho sereno iluminado pela luz suave do abajur. Ela estava deitada no meio da nossa cama, tão pequena e indefesa, parecendo um anjinho em meio aos lençóis macios. Cassidy a observava com um olhar mais tranquilo, mas ainda assim carregado de pensamentos. Eu sabia exatamente o que se passava em sua mente. Eu também ouvira aquela gravação. E quando aquela mulher ameaçou nossa filha, algo dentro de mim mudou para sempre. Eu soube, naquele instante, que seria capaz de qualquer coisa para protegê-la. — O que te preocupa? — perguntei, desviando meu olhar de Rubi para Cassidy. Ela demorou um segundo antes de responder. Quando seus olhos angelicais encontraram os meus, vi neles um misto de ternura e determinação. — Eu faria qualquer coisa, Kai. Qualquer coisa. É nossa filha... Ela é tão inocente, tão pequena, ainda é só um bebê. — sussurrou, a voz embargada pela emoção. Meu coração apertou. Cassidy sempre foi forte, mas naquele momento, eu via
Estávamos todos reunidos ao redor da mesa no escritório: o advogado, meus cunhados e Alexander, e as equipes responsáveis pela divulgação do áudio e pela nota de esclarecimento. A tensão era palpável, cada olhar carregado de determinação, ansiedade e uma pitada de esperança. O ar parecia diferente, carregado de certo alívio. Eu sentia o peso do momento, mas também uma convicção profunda de que venceríamos, de que iríamos recuperar cada pedaço do que nos foi tirado injustamente. — Está tudo bem, Kai. Nós conseguimos, — sussurrei em seu ouvido, tentando transmitir confiança. Seu olhar, inicialmente tenso, suavizou com um alívio momentâneo, mas logo endureceu novamente. Seus olhos escureceram, estavam carregados de uma raiva contida e um desejo de justiça inabalável. Ele virou-se para o advogado com determinação que me fez ofegar: — Quero que localizem todas as pessoas que difamaram Cassidy. Enviei algumas imagens dos comentários mais pesados, mas sei que há muitos outros. Não m
Estranho. Já se passou uma semana, e Antonella Rizzo simplesmente desapareceu do mapa. Sumiu como se nunca tivesse existido. Mas as marcas do que fez ficaram. Lançamos todas as provas que conseguimos reunir contra ela—o áudio nossa briga foi a peça-chave, a última gota para derrubá-la. E caiu. Rápido. Como um castelo de cartas em meio a um furacão. Todas as empresas que vendiam seus desenhos rescindiram os contratos. Todas as parcerias foram encerradas. Agora, ela é quem está sendo massacrada na internet, sentindo na pele o peso das suas escolhas. Enquanto isso, Kai não perdeu tempo. Ele foi atrás, um por um, daqueles que nos julgaram, que nos difamaram sem pensar duas vezes. E os pedidos de desculpas começaram a surgir. Públicos, desesperados, tentando apagar as marcas do que haviam feito. — Está mais segura para voltar a viver? — Mike perguntou, a voz carregada de esperança. Respirei fundo e sorri, sentindo pela primeira vez em muito tempo um alívio real. — Sim. É impressionant
Mesmo que tudo estivesse se resolvendo, minha mente não encontrava descanso. A cada passo pelos dois aeroportos, meus olhos varriam o ambiente, atentos, vigilantes. A sensação de que algo poderia acontecer a qualquer instante me mantinha tenso, como se a qualquer momento alguém pudesse surgir das sombras e ameaçar minha família. Enquanto isso, Cassidy e Michael conversavam animadamente, mostrando os lugares para Rubi, que absorvia tudo com a mesma empolgação. O brilho no olhar dela me trazia um misto de conforto e inquietação—será que algum dia eu poderia baixar a guarda de verdade? Ao desembarcarmos em Denver, senti um peso invisível se dissipar. O ar ali parecia mais leve, familiar. O motorista já nos esperava para nos levar até meu apartamento no centro—meu verdadeiro lar antes de partir para Nova York com Cassidy. — Que saudade... — Cassidy murmurou, os olhos perdidos na paisagem pela janela. Eu gostava de Nova York, mas Denver sempre foi minha casa. E, no fundo, eu to
Cassidy Anos atrás — Você é linda, Cassidy. Eu sempre quis você. Posso te beijar?” Eu não podia acreditar no que estava ouvindo. Kai Hoke, minha paixão platônica, estava se declarando para mim. Ele segurava minha cintura, sua boca estava próxima à minha, e aquele olhar cheio de desejo me arrepiava, eu quis gritar e afirmar que sim, mas minha voz trêmula apenas conseguiu dizer: “— Me beije, Kai, por favor — supliquei.” “— Seu desejo é uma ordem, meu doce — sussurrou, inclinando o rosto para me beijar.” Não tive tempo de sentir o gosto de seus lábios. O som do alarme tocou, e aquela imagem dele me segurando começou a se dissipar. Não... não... foi um sonho? Eu sonhei de novo com Kai Hoke me beijando? Bufei, inconformada, e desliguei o alarme do telefone. Levantei-me, arrastando os pés, frustrada. — Isso está me enlouquecendo — murmurei para mim mesma. Caminhei até o banheiro, pronta para começar o dia e tentar aproveitá-lo sem fantasiar com um amor proibido. Hoje é o meu anive
Kai Hoke— Kai, vamos precisar viajar em breve, tudo bem? — Dylan, meu irmão, entrou na minha sala e afirmou. — Para onde? — Nova York, irmão. Início da fiscalização das obras do empreendimento do hospital. Teremos que ir, porque o cliente quer os responsáveis diretos lá, e não apenas "algum encarregado". — Fez aspas com os dedos e revirou os olhos. — Insuportável — murmurei. — Concordo, mas assinamos o contrato. Temos que ir — enfatizou. — Quando? — Semana que vem. Podemos passar no apartamento e ver como os meninos estão — sugeriu. — Sim, pelo menos não vai ser uma viagem totalmente perdida — ri. Mike já está lá há quase dois anos, e Cassidy foi no início desse ano, os dois são irmãos da minha cunhada e eu gostei deles logo que os conheci. Faz bastante tempo que não vejo os dois. Aqueles irmãos são como sobrinhos de verdade. Eu os amo como se fossem parte da minha família. Ir visitá-los não será tão chato assim. Podemos ver se estão precisando de alguma co
Cassidy Algumas coisas não mudam. O tempo passa, eu tenho mais oportunidades de viver minha vida, mas continuo presa nos meus pensamentos, imaginando como deve ser estar no lugar das mulheres nas fotos ao lado de Kai. Minha última aula terminou e eu estava indo para casa quando senti uma mão em meu ombro. Parei e me virei. — Cass. — Oi, Peter. — sorri, surpresa. Peter e eu trocamos poucas palavras neste ano, e quase não tivemos interações além de olhares e, como Mike diria, "um clima". — Então, vai rolar uma festa hoje. Topa? — perguntou. Pisquei, surpresa com o convite. Nunca tivemos intimidade além de um simples "bom dia". — Ah, obrigada, mas não sei se vou conseguir, tenho muito o que estudar — respondi, sorrindo sem graça. — Tudo bem, se mudar de ideia, esse é meu número. Até mais. — Ele me entregou um papel e sorriu. Peter tocou meu ombro antes de se afastar. Fiquei alguns segundos tentando entender a situação, mas logo dei de ombros e segui meu caminho.
Já faz uma semana que cometi a maior burrada da minha vida. O que eu tinha na cabeça para achar que Kai simplesmente iria sorrir para mim e me beijar apaixonadamente? Claro que ele fez o completo oposto. Estou exausta de sentir isso, de ficar olhando as notícias dele e vê-lo saindo com mulheres diferentes a cada fim de semana. Preciso acabar com esse sentimento de uma vez por todas. Mike percebeu minha tristeza nos últimos dias, mas disfarcei e disse que era apenas preocupação com as matérias difíceis. — Você parece muito triste, quer fazer algo? Olha, sei que não curto essas coisas, mas... — ele respirou fundo. — Vai ter uma festa amanhã à noite. Vai querer ir? — Quem é você e o que fez com meu irmão recluso? — sorri. — Está tudo bem, Mike. Não quero ir, vamos em outro lugar. Talvez ao shopping? — Você é a melhor irmã. Eu odiaria ficar mais de trinta minutos com aquele bando de idiotas se esfregando uns nos outros, suados e bêbados. — Falando assim, parece nojento — gargalhei.