Sunny Andrade Soutto

Tia Louise praticamente revirou meu armário inteiro, procurando algo que atendesse ao seu padrão, mas nada parecia satisfatório-la. Após bufar algumas vezes e lançar olhares críticos para cada peça de roupa, ela anunciou dramaticamente:

Antes que eu pudesse protestar, ela já me puxava pelo braço, me arrastando para fora de casa. No caminho para o shopping, ela recebeu uma ligação que a deixou visivelmente nervosa.

O desconforto dela só aumentou minha curiosidade. Quem foi Jonas e por que tanta orientação? Não demorou muito para que chegássemos ao shopping, onde ele já nos esperava com uma equipe completa. Pelo jeito, o plano da minha tia não era apenas comprar roupas, mas sim uma transformação total.

Duas horas depois...

Finalmente, me olhei no espelho. A imagem que vi foi... chocante. A garota que costumava viver de moletom e tênis largos tinha desaparecido. Em seu lugar, era uma mulher. Eu estava usando uma calça jeans que modelava meu corpo de um jeito que nem sabia ser possível. A blusa realçava minhas formas, e a maquiagem estava impecável. Meu cabelo estava mais curto, com um corte moderno, e minhas unhas, antes com resquícios de terra do meu trabalho como paisagista, agora estavam perfeitamente feitas.

— Não sei se consigo enfrentar o mundo assim, tia... — admiti, olhando para ela com nervosismo.

— Sunny, querida, você está deslumbrante. Confie em mim. Hoje você vai mostrar para todos a mulher incrível que sempre foi. — Sua voz era firme, mas carinhosa. — E, bem, está na hora do seu pai perceber isso também.

Enquanto tentava absorver aquelas palavras, meu celular começou a tocar insistentemente. Respire fundo antes de atender.

— Onde você e a destrambelhada da sua tia se meteram? — Meu pai, Victor Andrade, foi direto ao ponto.

— Pai, fomos fazer umas compras. Já estamos voltando para casa.

— Não demorem. Estamos todos aqui, só faltam vocês.

Ele desligou antes que eu pudesse responder.

No caminho para o estacionamento, esbarramos em um rapaz que aparentava ter a minha idade. Antes que eu pudesse pedir desculpas, ele abriu um sorriso radiante ao ver minha tia.

— Deus te abençoe, querido. O que está fazendo aqui? — Disse ela, surpresa.

— Meus pais estão comprando uma casa no mesmo condomínio que a senhora. Vou trabalhar com o tio Allan. Terminei meu curso de Publicidade e Marketing.

Foi então que ele olhou diretamente para mim, seus olhos analisando cada detalhe do meu novo visual. O sorriso em seu rosto se alargou ainda mais.

Tia Louise riu e sacudiu a cabeça, como se tivesse esquecido de algo importante.

— Meu Deus... — Ele parecia genuinamente parecido. — Agora entendo por que o tio Victor esconde você de todo o mundo.

Fiquei sem palavras, desconcertada pela intensidade do olhar dele.

— Prazer em te conhecer, Sunny. Você é... linda. — Sua voz soava tão sincera que senti meu rosto esquentar.

— O prazer é meu — respondi, quase num sussurro.

Enquanto nos despedavamos, Lucas se inclinou para me cumprir e, inesperadamente, beijou o canto da minha boca. Foi tão rápido que não tive tempo de reagir, mas a intensidade daquele momento ficou gravada em minha mente.

Quando voltamos ao carro, tia Louise lançou um olhar brincalhão na minha direção.

— Tia, isso não tem nada a ver. E o Noan tem namorada.

Ela riu, divertida.

Arregalei os olhos, horrorizada.

Ela apenas deu de ombros, indiferente à minha indignação.

Pouco depois, na casa dos meus avós...

Assim que estacionamos, meu pai veio ao nosso encontro. Coloquei meus óculos escuros, tentando me preparar para o fato dele.

— Louise, cadê a Sunny? Não me diga que você já foi deixá-la naquele sítio.

Antes que minha tia pudesse responder, tirei os óculos e o encarei.

A expressão dele foi impagável. Ele não disse uma palavra, apenas voltou para dentro, arrastando meu tio Allan pelo braço. Logo depois, apareceu minha mãe e Noan.

— Allan, olha o que a sua destrambelhada fez com a minha filha!

Meu tio sincero, olhando para mim.

Noan deu um passo à frente, me analisando de cima a baixo.

Antes que eu pudesse responder, outro carro parou ao lado da tia Louise. Era Lucas. Ele desceu, cumprimentando todos com simpatia antes de me lançar um olhar caloroso.

Noan, percebendo a atenção de Lucas, se colocou discretamente ao meu lado, como se quisesse marcar território. Mas Lucas não parecia se intimidar.

— Lucas, meu rapaz, é sempre bom vê-lo. — disse meu pai, tentando manter a compostura.

A tensão não era palpável, mas não podia evitar um sorriso. Algo me disse que aquele domingo seria inesquecível.