Por alguns dias, Lívia aproveitou a densa paisagem verde e floreada daquele lugar acolhedor. A Ilha de Elba tinha praias silenciosas, com encostas íngremes e arborizadas.Fazia anos que queria visitar aquele pedacinho do paraíso na terra, mas nunca tinha tempo. Após passar por um momento de quase morte, ela decidiu aproveitar o melhor da vida.O calor do sol aquecia a sua pele enquanto caminhava com os pés descalços pela areia fina e dourada. A água era tão azul quanto céu durante a manhã. Respirou o ar puro e passou a mão no tecido branco na altura da barriga e se permitiu observar as dunas repletas de flores brancas com um perfume intenso.Não podia negar que ainda pensava no pai do bebê que estava esperando e o quanto desejava que ele aproveitasse cada lugar daquele cenário paradisíaco ao lado dela, mas a realidade era outra. Ela não tinha como mudar o passado. Lívia acreditava piamente que Enrico sempre a odiaria por ser filha de seu inimigo.Certa tarde, enquanto comia num restau
Em meados de uma manhã primaveril, Lívia passou mal após a refeição de café da manhã. Escondeu-se no quarto e não quis comer as outras refeições. Preocupada com o sumiço da médica, a diretora foi procurá-la.— Você está bem, querida? — Tocou com o punho direito fechado na madeira branca três vezes.No quarto, Lívia jogou a bolsa dentro do guarda-roupa de madeira envernizada e logo depois de prender os cabelos num coque mal feito, ela abriu a porta.— Oi! — Lívia esboçou um sorriso contido.— Você não apareceu no almoço, — adentrou o quarto. —Trouxe isso para você! — Entregou a bandeja para Lívia.Reparou na cama de solteiro estava desarrumada e as cortinas ainda estavam fechadas, pelo que viu, Lívia passou a manhã deitada.— O que está acontecendo? — A voz serena perguntou.— Meu estômago está embrulhado, — Lívia olhou para o prato de macarronada com almôndegas e o copo de suco de laranja na bandeja que a senhora de rosto bondoso segurava. — Eu não sei se eu vou conseguir comer.— Voc
Sob a lua cheia, Lívia entrava num combate para salvar a sua vida e a do bebê que ainda estava esperando. Pensando que o ex-colega queria capturá-la, ela resistia bravamente. Enfiou as unhas no antebraço de Mattia e em seguida, cravou os dentes, mordendo-o com bastante força.Suportando a dor, ele continuou segurando a mulher que não parava de sacudir as pernas no ar. Tapou a boca de Lívia quando ela começou a gritar.No desespero, ela continuou socando os braços que a prendiam. Não tinha tanta força, mas virou uma leoa para defender o bebê em seu ventre.— Por favor, se acalme e eu vou te soltar! — Ele prometeu.Era difícil lidar com aquela mulher agitada sem chamar atenção dos moradores.— Pare de gritar ou logo os capangas do Enrico vão aparecer! — Ele continuou segurando-a até que Lívia parou de lutar. — É isso que você quer?Ela fez que não com a cabeça. Bem devagar, Mattia retirou a mão de sua boca.— Que diabos faz aqui, Mattia? — Ela tomou distância. — Está esperando o quê? —
Por motivos óbvios, Lívia sentiu pena depois de ter escutado tudo pelo que seu ex-colega havia passado. Em anos de amizade, Mattia nunca lhe contou sobre o abuso e tudo o que sofreu nas mãos de seu pai. Perder a mãe, a única por quem era capaz de fazer tudo, era extremamente doloroso para o seu ex-colega. Ela continuou olhando o homem que tentava esconder suas emoções.— Eu sinto muito! — Ela engoliu em seco.No impulso, Lívia passou os braços no pescoço do amigo logo depois que o veículo parou no estacionamento de um hotel no meio da estrada. Mattia desligou o motor, as lágrimas transbordaram pelos cantos de seus olhos ao lembrar não só da mãe, mas por todas as maldades que ele fez a amiga.— Sua mãe está descansando em um bom lugar! — Prestou condolências na esperança de consolá-lo.Lívia o soltou e passou as mãos nas vistas, estava comovida com a situação de Mattia.Emocionado, ele encostou a cabeça contra os braços apoiados no volante, entregou-se ao choro angustiado por mais algu
Havia uma ironia irrecusável naquele acordo, era o primeiro homem que tinha colhões para fazer tal proposta. Enrico estava se aliando ao seu inimigo para espiar o capo de seu clã. Não tinha dúvidas de que seu tio escondia coisas sobre o passado e nada mais justo do que usar a magia utilizada pelo próprio feiticeiro. A contragosto, ele tirou a pistola do rosto de Mattia, segurou a mandíbula forçando a abrir a boca onde enfiou o cano da glock.— Se você tentar me enganar e der um passo em falso, vou arrancar cada um dos seus dentes e estourar seus miolos, — ameaçou num tom petulante. — Estamos entendidos?Mesmo com o rosto desfigurado após a sessão de pancadas, Mattia concordou com a cabeça.Já em pé, Enrico enxugou o suor da testa com a manga da camisa. Ainda segurava a semiautomática enquanto Mattia se apoiava no sofá para levantar do chão.— Um dos meus homens vai te acompanhar, — tencionou a boca. — Desapareça até que esses ferimentos cicatrizem e mantenha o celular ao seu lado. Em
Em casa, Enrico já estava preparado para o ataque. Andou pelo quarto onde a Lívia dormiu nas últimas noites em que esteve naquela casa e sentou-se na cama. A imagem de sua mãe ensanguentada estava gravada em sua memória. Toda a história que seu tio contou acerca de seu pai era uma terrível mentira. Enrico olhou para o carpete e então, prometeu:— Vou me vingar dele, mamãe!Um traçante seguido de outro atravessou o céu escuro. Enrico abaixou quando dois tiros atravessaram o vidro e acertaram a parede acima de sua cabeça.Arrastando-se, Enrico foi para a janela. Encostado na parede, levantou devagar. Esticou o pescoço para ver o exército de homens que defendiam a sua casa bravamente.Enrico correu e pegou a submetralhadora que estava em cima da cama, era hora de lutar contra o tio que o enganou por todos aqueles anos. Quebrou o vidro e em seguida, disparou uma rajada de tiros contra os homens que tentavam invadir a casa pelo jardim da sua mãe.Saindo do quarto, correu até as escadas. Já
A batalha entre as gangues demorou menos do que os homens da Gaspipe esperavam. Eles invadiram a sede inimiga em apenas cinco minutos.— Essa crise realmente derrubou os Bianchi, — pulou um dos homens mortos.A sede tinha apenas dois homens vigiando. Bonano foi até o escritório, queria ficar de frente com aquele desgraçado que liderava toda aquela merda.— Olha o que temos aqui, chefe! — Um dos homens puxou o conselheiro.— Quanto tempo? — Bonano sorriu. — Seus conselhos não ajudaram muito os Bianchi! — Ergueu as mãos ao girar devagar. — Onde está o seu chefe?— Não sei!— Você sempre foi o fiel escudeiro daquele capo maledetto! — Don Bonano apontou a pistola para o joelho do consigliere, — onde ele está?— Você nunca vai saber, estúpido!Um grito surgiu após o disparo, a dor lancinante fez com que o consigliere caísse no chão.— Isso dói, não é mesmo! — Afirmou com ironia. — Onde está o garoto? — Apertou o cano da pistola contra o joelho esquerdo e começou a contar: — Um, dois, três…
Assustada, Lívia ficou em silêncio no trajeto até o local marcado. O homem ao seu lado conduzia o automóvel com uma fisionomia sombria. Ao chegar, os dois andaram até um galpão abandonado no meio de uma vegetação rasteira. Enrico abriu a porta, entrou na frente de Lívia. A voz ecoou no local mal iluminado.— Estão atrasados!Enrico tentou sondar de onde vinha a voz de seu tio. Tirou a pistola e olhou para cada lado daquele balcão com madeiras tomadas pelos cupins.— Atire nela! — ordenou ao sobrinho.Enrico tinha forças para lutar contra o desejo que sentia por aquela mulher, mas não tinha coragem de matar Lívia.— Prefere ver o seu filho morrer?Don Bianchi surgiu das sombras segurando um criançpa de cabelos castanhos que parecia estar dopado. Ele botou o menino no chão e então sorriu.Impaciente, o velho capo empunhou a arma e disparou na direção de Lívia. Mattia surgiu como num passe de mágica e entrou na frente de sua ex-amiga.Aproveitando a oportunidade, Enrico se esgueirou pela