— Vamos resolver esse conflito de agenda em um lugar mais tranquilo? — sugeriu Elise, seu sorriso profissional não alcançando os olhos. — A menos que prefira discutir negócios no meio do salão.Avaliei minhas opções, nenhuma delas agradável. Recusar parecia infantil e pouco profissional. Aceitar significava tempo a sós com Elise. Entre o profissionalismo e o conforto pessoal, escolhi o primeiro.— Claro. O lounge dos expositores deve estar vazio agora.Caminhamos em silêncio pela lateral do salão, através de um corredor menos movimentado até uma pequena sala reservada para os organizadores dos estandes. Como previ, estava vazia, com apenas alguns sofás, uma mesa de centro, e uma máquina de café que zumbia suavemente no canto.— Então — comecei, mantendo o tom estritamente profissional. — Sobre os horários conflitantes...— Vamos pular essa parte, sim? — Elise fechou a porta atrás de si, seu sorriso desaparecendo instantaneamente. — Não há conflito nenhum. Inventei isso para conversarm
~POV Christian~Eu a vi assim que entrei no salão principal. Era impossível não notar Zoey, mesmo de costas, organizando algo com sua equipe. A forma como ela gesticulava, como inclinava a cabeça ligeiramente quando escutava alguém — eram detalhes que eu tinha memorizado sem perceber durante nosso tempo juntos.Evitei olhar em sua direção pelo resto da manhã, concentrando-me nos representantes da Bellucci e nas reuniões agendadas. Mas minha consciência dela permanecia, como um campo magnético sutil puxando minha atenção sempre que ela se movia pelo espaço.Foi Marco quem mencionou o incidente primeiro.— Parece que houve uma confusão com a equipe da Vale do Sol — ele comentou casualmente, consultando o celular. — Algo sobre uma briga entre Zoey Aguilar e Elise Costa.Minha cabeça virou instantaneamente, todos os meus sentidos em alerta.— Briga? Que tipo de briga?Marco ergueu as sobrancelhas, surpreso com minha reação.— Pelo que estou ouvindo, um tapa foi dado. Os seguranças tiveram
~POV Zoey~O estacionamento estava quase vazio, o que me deu alguns minutos preciosos para respirar e tentar organizar meus pensamentos. Eduardo provavelmente já estava espalhando pelo evento que eu havia pedido demissão. Alguns minutos e meu celular começaria a vibrar com mensagens de Lisa e do restante da equipe, surpresos, confusos, talvez até decepcionados.Mas antes que pudesse lidar com qualquer uma dessas consequências, tinha algo mais importante a fazer.Dei meia-volta e entrei novamente no complexo, desta vez evitando o salão principal. Precisava encontrar Christian, e rapidamente.Avistei Marco primeiro, coordenando alguns ajustes finais em um display interativo. Quando me viu, suas sobrancelhas se ergueram em surpresa.— Zoey Aguilar. — Ele sorriu, polido mas distante. — Ouvi dizer que você teve uma... tarde interessante.— As notícias voam. — Mantive meu tom neutro. — Preciso falar com Christian. É urgente.Marco hesitou, claramente avaliando se deveria ajudar.— Ele está
Encarei Christian, tentando processar o que ele tinha acabado de dizer. Voltar para a mansão? Onde fingimos ser um casal. Onde ficamos tão próximos. Onde quase me apaixonei de verdade.— Eu não sei se é uma boa ideia — respondi finalmente.— Provavelmente não é — ele concordou, o que me pegou de surpresa. — Mas é prático. E você não tem muitas opções no momento.Apertei os lábios, olhando para minha mala solitária. Ele tinha razão, é claro. A Serra Gaúcha estava em plena temporada alta. Mesmo os hotéis mais simples estavam lotados ou cobravam valores exorbitantes.— Não há segundas intenções aqui, Zoey — acrescentou Christian, sua voz mais suave. — É apenas um lugar para ficar até seu voo. Um lugar que você já conhece.Mordi o lábio inferior, dividida. A oferta era tentadora em sua simplicidade. Um lugar para ficar. Sem complicações. Sem expectativas.— Tudo bem — decidi finalmente. — Mas vou continuar tentando remarcar minha passagem.Christian pegou minha mala antes que eu pudesse p
Christian desviou o olhar, seus dedos tamborilando nervosamente na mesa de madeira nobre. A luz das estrelas dançava através do vinho em sua taça, projetando reflexos avermelhados em seu rosto tenso.— Vou contar quando ele voltar — respondeu finalmente, sua voz baixa e controlada, como se escolhesse cada palavra com cuidado. — Ele tem muita coisa na cabeça no momento.— O que você quer dizer?Ele fez um gesto vago com a mão, como se tentasse espantar um pensamento desconfortável.— Não importa. O relevante é que sim, pretendo contar. Apenas esperando o momento adequado.— Quando ele volta?— Provavelmente no último dia do evento.Afastei-me da mesa, empurrando a cadeira com mais força do que pretendia. O vinho em minha taça tremeu, derramando algumas gotas sobre a toalha branca. Um turbilhão de emoções me atravessava.— Então me trouxe para a mansão sabendo que seu avô voltará em poucos dias? — Encarei-o, as peças se encaixando em minha mente como um quebra-cabeça sombrio. — Bastante
As palavras de Christian martelavam em minha mente enquanto eu me preparava para sair. "Não é como se ela fosse realmente o tipo de mulher para alguém na minha posição." Cada sílaba era uma pequena ferida que se abria, repetidamente.Vesti-me com cuidado - jeans escuro, blazer bem cortado e uma blusa simples. Não era o traje que usaria se ainda estivesse representando a Vale do Sol, mas era adequado para passar despercebida no evento.Meu plano era simples: ir ao complexo, verificar se a apresentação da Bellucci ocorreria sem problemas, e então partir. Sem confrontos, sem drama. Apenas a confirmação de que meu alerta sobre a sabotagem tinha surtido efeito.Peguei um táxi até o complexo, observando a paisagem da Serra Gaúcha pela janela. Era irônico como um lugar tão lindo poderia ser cenário para tanta dor. O motorista, percebendo meu silêncio, manteve-se calado durante todo o trajeto.Quando cheguei, o evento já estava em pleno vapor. Estandes coloridos, pessoas circulando com taças
As palavras de Giuseppe ficaram suspensas no ar enquanto eu tentava manter a compostura. Minha mente corria freneticamente, buscando uma resposta apropriada que não soasse como uma mentira descarada nem revelasse a verdade dolorosa.— Espero que tenha tido uma boa viagem — comentei, optando por mudar de assunto. — Espero que tenha tido uma boa viagem.Giuseppe ofereceu seu braço, guiando-me em direção à sala de estar. Notei que seus passos eram mais vagarosos do que me lembrava, como se cada movimento exigisse um esforço calculado.— A viagem foi... produtiva — respondeu ele, sua voz carregando uma nuance que não consegui interpretar. — Por favor, sente-se. Vou pedir que nos tragam um pouco daquele chá que você gostou da última vez.Acomodei-me no sofá enquanto Giuseppe fazia um sinal discreto para uma das empregadas. A familiaridade com que me tratava, como se eu já fosse parte da família, apertava meu coração. Ele se lembrava do chá que eu havia gostado. Um detalhe tão pequeno, mas
A iluminação do hospital era implacável, aquele branco azulado que parecia extrair toda a vida e cor das pessoas. Caminhei pelo corredor estéril, carregando uma pequena sacola térmica com um sanduíche cuidadosamente embrulhado e uma garrafa térmica que pesava na minha mão.As horas que se seguiram à partida da ambulância haviam sido um borrão. Depois do choque inicial, minha mente entrou em modo automático. Liguei para a recepção do hospital, consegui confirmar que Giuseppe havia sido internado, e decidi que ficar na mansão sozinha, remoendo pensamentos, não ajudaria ninguém.Encontrei Christian exatamente onde a recepcionista havia indicado - na sala de espera do setor de cardiologia. Sentado sozinho em uma das cadeiras de plástico, os cotovelos apoiados nos joelhos, as mãos enterradas nos cabelos que agora estavam completamente desalinhados. Seu terno impecável estava amarrotado, a gravata ausente, os primeiros botões da camisa abertos.Ele parecia tão... humano.Aproximei-me silenc