Fechei a porta do quarto de hóspedes e me joguei na cama, exausta física e emocionalmente. Precisava falar com alguém que entendesse minha situação, alguém que me conhecesse melhor do que eu mesma. Peguei o celular e disquei o número tão familiar.— Zoey! — A voz de Annelise explodiu do outro lado da linha após apenas dois toques. — O que significa essa mensagem maluca sobre casamento? Está bêbada? Drogada? Sequestrada?Não pude evitar um sorriso cansado, mesmo em meio ao turbilhão de emoções.— Nenhuma das alternativas. Estou perfeitamente sóbria e agindo por vontade própria.— Então você vai se casar com um homem que, segundo você mesma, não ama? — A voz incrédula de minha irmã me fez fechar os olhos por um momento.— Exatamente.— E você diz que eu sou a irmã confusa da família. — Pude praticamente visualizar Annelise revirando os olhos do outro lado da linha. — Zoey, você precisa se decidir. Ou você o ama e se casa, ou não o ama e segue sua vida. Pessoas normais não se casam com q
Os corredores de pedra pareciam infinitos enquanto Christian me guiava através de uma parte da propriedade que eu não conhecia. A cada passo, o ar ficava mais fresco, o silêncio mais denso. Minha respiração havia voltado ao normal, embora as lágrimas secas ainda deixassem marcas em meu rosto.— Onde estamos indo? — perguntei finalmente, minha voz ecoando levemente nas paredes de pedra.— Para o meu lugar favorito em toda a propriedade — respondeu ele, sem soltar minha mão.Descemos por uma escadaria circular de pedra até chegarmos a uma pesada porta de madeira. Christian digitou um código em um painel discreto e a porta se abriu com um suave clique.— Bem-vinda à adega principal da Bellucci.Entrei, e meu fôlego imediatamente se perdeu. O espaço era imenso, muito maior do que parecia possível, iluminado por luzes suaves que criavam sombras dançantes contra as paredes de pedra antiga. Fileiras e mais fileiras de barris de carvalho se estendiam pelo ambiente, alguns tão grandes que eu p
O último dia do evento chegou com uma energia frenética. Depois de um dia inteiro lidando com os preparativos do casamento e as exigências intermináveis de Vivian, o encerramento do evento intersetorial parecia quase um alívio – apesar da nova missão que tínhamos pela frente.— Lembre-se, vocês precisam parecer naturais — instruiu Marco enquanto caminhávamos em direção ao complexo. — Como um casal que superou uma crise e está mais forte do que nunca.— Nós sabemos — Christian respondeu, o tom ligeiramente irritado. — Não é a primeira vez que fingimos estar juntos.Marco ergueu as mãos em rendição.— Só estou dizendo que há muito em jogo. Os repórteres estarão por toda parte.Christian estendeu a mão para mim, seus dedos se entrelaçando aos meus com uma familiaridade que não deveríamos ter depois de três meses separados – se realmente tivéssemos estado separados.— Vamos ficar bem — assegurou ele, embora não estivesse claro se falava comigo ou com Marco.Enquanto caminhávamos pelo esta
A manhã de sexta-feira amanheceu com um céu azul perfeito, como se a própria natureza quisesse abençoar a chegada da família Aguilar à propriedade dos Bellucci. Observei da janela do quarto enquanto o carro subia a estrada sinuosa, meu coração batendo com uma mistura de nervosismo e alívio. Era reconfortante ver rostos familiares depois da semana caótica que tivera.Christian aguardava ao meu lado na entrada principal, elegante como sempre, mas com uma tensão sutil na maneira como ajustava repetidamente o relógio de pulso.— Relaxa — disse a ele. — Eles não mordem.— Seu pai pode não gostar muito de mim depois da última vez...Não tive tempo de responder, pois o carro parou e minha família desembarcou em uma explosão de energia. Annelise foi a primeira, praticamente saltando do veículo com um grito animado, seguida por meu irmão Matheus, que assoviou impressionado ao ver a mansão. Meus pais vieram por último, minha mãe ajeitando o cabelo nervosamente, meu pai com uma expressão que ten
A mansão parecia diferente naquela noite. As luzes suaves criavam um ambiente acolhedor no salão de jantar principal, que raramente era usado para reuniões tão íntimas. A mesa comprida de madeira escura havia sido arrumada com a melhor porcelana da família, taças de cristal cintilavam sob o lustre, e arranjos discretos de flores frescas completavam o cenário.Minha família parecia quase cômica em seu deslumbramento. Matheus tirava fotos discretamente com o celular, enquanto minha mãe passava os dedos sobre os talheres de prata como se temesse quebrá-los. Annelise, por outro lado, havia se adaptado ao ambiente luxuoso com uma facilidade surpreendente, especialmente depois de descobrir que ficaria sentada ao lado de Marco durante o jantar.— Seu avô vai se juntar a nós? — perguntei a Christian, que verificava os últimos detalhes com o mordomo.— O médico o liberou para o jantar. — Ele consultou o relógio. — Deve estar chegando a qualquer momento.Como se invocado por nossas palavras, a
O café da manhã na mansão Bellucci tinha um ar quase irreal. A elegante sala de refeições matinais, com suas janelas amplas permitindo que o sol da manhã inundasse o ambiente, parecia saída de uma revista de decoração. Eu tentava manter a compostura enquanto observava a mãe de Christian, Isabella Bellucci, cortar meticulosamente uma fatia de pão como se estivesse realizando uma operação delicada.Ela não havia parado de falar desde que desceu para o café, seu sotaque italiano sutilmente acentuado quando convinha — principalmente quando falava sobre a "importância das tradições familiares". Cada palavra era cuidadosamente escolhida, cada gesto perfeitamente calculado. Ao contrário de Giuseppe, cuja nobreza vinha de uma autenticidade natural, Isabella exalava uma aristocracia forçada, como se estivesse constantemente lembrando a todos sobre sua posição.— É uma pena que tenhamos chegado apenas ontem — ela comentou, olhando diretamente para mim. — Mal tivemos tempo de conhecer a noiva do
A noite era surpreendentemente quente para a Serra Gaúcha naquela época do ano. O céu estrelado se estendia como um manto de luz sobre a propriedade, e a lua cheia refletia na superfície da piscina infinita localizada em um dos terraços mais afastados da mansão – um lugar que Christian havia me mostrado mais cedo, garantindo que raramente era usado pela família.— Esse negócio é aquecido? — perguntou Annelise, mergulhando a mão na água com cautela.— Trinta e dois graus, para ser exata — respondi, descalçando os sapatos. — Privilégios dos bilionários.Annelise já estava tirando o vestido leve, revelando o biquíni que aparentemente vinha usando por baixo da roupa o dia inteiro, como se tivesse planejado esse momento.— Então, isso é uma despedida de solteira? — Ela ergueu a garrafa de champanhe que havia "pego emprestado" da adega, seu sorriso travesso iluminado pelo luar. — Meio sem graça, não acha? Sem strippers, sem jogos constrangedores...— Perfeito para mim — respondi, entrando n
Eu estava mesmo fazendo isso.Andava de um lado para o outro na antessala do salão de festas do Hotel Milani, um dos lugares mais luxuosos da cidade, tentando convencer a mim mesma de que aquilo era uma boa ideia. Contratar um gigolô para fingir ser meu noivo? Deus me perdoe, mas eu não tinha escolha.Meu ex-noivo estava prestes a se casar. E não com qualquer pessoa, mas com a minha ex-melhor amiga. Sim, eu fui duplamente traída, num pacote "compre um, leve outro" que eu nem sabia que estava assinando. Se existisse um programa de fidelidade para otárias, eu já teria acumulado pontos suficientes para resgatar um tapa na cara e uma passagem só de ida para o fundo do poço.Ignorar o casamento? Era o que eu queria. Mas Elise fez questão de me ligar pessoalmente! Claramente ela estava querendo rir de mim, me humilhar. Mas eu não podia perder aquela briga. Então disse que iria. Mas pior: eu disse que iria acompanhada pelo meu noivo incrivelmente gato e rico!— Rico? — Ela riu, parecendo não