“Flávio”Minha cabeça estava girando com milhares de pensamentos e medos, mas com uma única certeza, eu não queria perdê-la e não queria que ela fosse embora da minha casa.- Manu, antes de entrar nisso eu te avisei, eu sou um homem feito, sei o que eu quero da vida e eu quero você morando comigo, não preciso de tempo pra saber disso. Eu tenho certeza do que eu quero. Até porque, não faz sentido a gente passar uma parte da semana no seu apartamento e a outra parte no meu, isso é só geografia. Lá ou cá eu vou ficar com você todos os dias, a menos que você não queira. – Falei bastante sério para que ela considerasse o que eu dizia com o peso que realmente tinha.Ela me olhava com a mesma seriedade, como se pesasse minhas palavras. E nesse momento me preocupei que a diferença de idade entre nós nos levasse a querer coisas diferentes, isso seria um balde de água fria em mim, e isso poderia ser a nascente de muitos problemas. Mas eu entendia que era natural ter dúvidas na idade dela.- Tal
“Manuela”Acordei muito cedo com o meu telefone chamando. Me lembrei que havia esquecido de desligar o aparelho que a minha mãe tem o número e eu já sabia que era ela ligando antes de olhar a tela.- Oi, mãe. – Atendi com voz de sono. – Bom dia!- Que bom dia o quê, garota! São seis da manhã, está acordando tarde agora? Quais outros hábitos ruins você aprendeu aí e que eu vou ter que corrigir? – Ela já estava a pleno vapor e com muita raiva pra descarregar sobre mim.- Mãe, eu começo a trabalhar as nove e meu trabalho é aqui pertinho, eu não preciso acordar tão cedo. – Expliquei.- E daí? Eu te ensinei a acordar as cinco da manhã todos os dias, é assim que uma mulher tem que fazer, para o café estar na mesa para o marido quando ele acordar.- Mãe...- Mãe, nada, Manuela. Já falei que vou te trazer de volta e seu casamento já está quase certo com o filho do senhor Cândido.- Acho melhor você desfazer esse acordo ou sei lá qual é o nome que você dá a isso. Eu não vou voltar e não vou me
“Flávio”Os dias estavam passando num ritmo gostoso e tranquilo. Eu adorava o meu trabalho, que era bem mais interessante em uma cidade grande do que em uma cidade pacata do interior, tinha uma namorada linda e que me deixava louco e um grupo de amigos realmente unido. Estava indo tudo muito bem.O único problema era a mãe da Manu, ela insistia em ligar para maltratar a filha quase que diariamente, tanto que minha baixinha começou a deixar o antigo celular cada vez mais tempo desligado. Mas hoje aquela doida começou cedo, pois a baixinha havia esquecido de desligar o telefone. E eu não me aguentei, marquei logo meu território, pois aquela bruxa não ia continuar com essa de casar minha baixinha com outro.Enquanto isso, minha peculiar família que eu jurava que iria me infernizar, estava no mais absoluto silêncio. Falava com a minha mãe toda semana e ela se mantinha serena e unicamente se interessava em saber se eu estava bem e reclamava da Lisandra. Meu pai não falou comigo desde que m
“Flávio”Bati na porta da sala do Bonfim e entrei. Ele estava sentado atrás da mesa lendo um inquérito e levantou os olhos logo que entrei, me recebendo bem humorado.- Bom dia, Flávio. O que temos pra hoje? – Bonfim perguntou animado. Ele, assim como eu, adorava o trabalho.- Meu delegado, preciso de um favor. – Falei sabendo que só ele poderia me ajudar. Bonfim se levantou, foi até a cafeteira e serviu dois cafés, colocando um em minha frente.- Sente-se e me conte, se eu puder ajudar o farei com prazer. – Era tudo o que ele fez desde que nos conhecemos, estava sempre me ajudando.- Meu pai está vindo aí com a missão de conseguir a minha expulsão da polícia e parece que já até falou com o secretário de segurança. – Falei de uma vez.- E por que o seu pai quer isso? – Bonfim era detalhista e sempre queria saber o porque das coisas.- Porque ele quer que eu trabalhe na empresa dele.- Hum. Pelo que sei sua família é bem poderosa, meu amigo.- Fez o dever de casa, Bonfim? – Eu nunca ha
“Flávio”Meu pai estava sentado em uma cadeira próxima a porta da minha sala. Vestindo seu terno caro de três peças, ele destoava do ambiente. Mas estava ali com aquela expressão estóica. Eu sabia que era um homem com uma missão. Ela não desistia das coisas facilmente.- Pai! Está me esperando há muito tempo? Devia ter me ligado. – Falei tentando ser cordial.- Não tem cinco minutos que eu cheguei, Flávio. Quero falar com você e com certeza você já sabe o assunto. – Meu pai era um homem com seus de sessenta e seis anos, mas muito imponente e extremamente ativo, o que o fazia parecer mais jovem até. Mas ele também era direto e objetivo.- Vamos até a minha sala. – Apontei a direção e precisei me segurar para não sair bufando e resmungando como um moleque.Meu pai olhava em volta da minha sala com desdém, como se avaliasse cada objeto ali com desprezo.- Como estão as coisas em Campanário? – Tentei ser cordial, mas quando o meu pai ficava mal humorado ele esquecia as boas maneiras.- Nã
“Flávio”Depois da visita do meu pai eu passei o resto da semana tenso, sem ter idéia do que ele estava aprontando. Até liguei para o meu irmão, mas ela não sabia de nada, porém prometeu tentar descobrir. No sábado eu fui ajudar a Manu com a mudança.- Baixinha, isso é tudo? – Perguntei colocando a última caixa da mudança da Manu no carro.- Sim, grandão, aluguei o apartamento mobiliado, então não tenho muita coisa para levar para a sua casa.- A nossa casa. – A puxei pela cintura e a corrigi. – Agora é a nossa casa. Na verdade sempre foi.Manu e eu passamos o sábado no apartamento dela arrumando a mudança, no final da noite minha baixinha já ocupava o meu apartamento e a minha vida inteira. Eu estava feliz demais com isso.Mas eu ainda estava preocupado com a visita do meu pai no início da semana. Depois dessa visita ele estava quieto. Eu não havia falado sobre nada disso com a Manu, ela já estava lidando com a própria mãe louca e eu não queria que ela se preocupasse com a minha famí
“Flávio”Entrei no bar do hotel e vi, numa mesa ao fundo, na varanda do bar, a imagem inconfundível daquela mulher alta, esguia, com cabelos castanhos ondulados e brilhantes, usando um vestido preto com um decote profundo e segurando um daiquiri de morango em uma mão e um cigarro na outra, como sempre. Aquela mulher que já havia sido minha esposa, que decidiu me fazer escolher entre ela e a minha profissão e depois simplesmente foi embora.Caminhei até ela analisando a cena. Sabrina pouco tinha mudado, ainda era uma mulher linda e provocante. Nós tínhamos a mesma idade, nossos pais eram amigos, estudamos juntos e eu nem percebi que éramos empurrados um para o outro desde sempre pelos nossos pais. Quando me dei conta, já estava casado e achava que ela era a mulher certa pra mim. Até que ela me colocou contra a parede e não aceitei deixar a polícia e voltar para a empresa do meu pai como um cachorrinho adestrado. E eu fiz a escolha certa!- Por que diabos um morto sai do túmulo para inf
“Flávio”Eu estava pirando! Passei a noite em claro e resolvi ligar para o Bonfim e pedir ajuda, ele com certeza poderia me ajudar. A Manu ainda estava dormindo quando saí, então deixei um bilhete pra ela dizendo que precisei voltar para a delegacia. Eu me sentia mal por não dizer a verdade, mas eu não queria que ela se preocupasse com isso ou que isso fosse motivo para ela pensar em ir embora.- Bonfim, obrigado por vir me encontrar. – Falei ao encontrar o Bonfim na porta da delegacia.- Amigos são pra essas coisas. – Ele bateu a mão no meu ombro. – Tenho certeza que vamos resolver isso.Fomos para a minha sala e eu contei para o Bonfim tudo o que aconteceu e mostrei a ele os documentos.- Bonfim, eu não assinei nada disso, tenho certeza. – Arrematei.- Então, o que vamos fazer é falar com um advogado da minha confiança que vai entrar com um recurso. E também vamos falar com a delegada da especializada em investigação de fraudes, ela é uma amiga e vai nos ajudar, vamos fazer a queixa