* LucaEu não sei o que me deu, mas soltei essa de levar Carina para dormir em minha casa. Não fazia sentido eu dirigir até o outro lado da cidade, em um bairro que não conheço e depois atravessar tudo novamente para chegar na minha casa. É mais prático assim, afinal, nós vamos ter que morar um tempo juntos mesmo, então é melhor que seja logo. E isso só vai ajudar a manter o plano funcionando bem, já que vamos começar a saber mais um do outro.Carina está cochilando no banco com o balanço do carro. Olho suas mãos em cima do colo. Ela parece tranquila e ao mesmo tempo cansada.Eu não quis encher a bola dela, mas foi muito esperta quando minha prima tentou insinuar que era tudo mentira. Conseguiu levar o assunto de boa e sempre com uma calma que eu sei que deixou Diana na dúvida. E o tal apelido carinhoso que ela soltou de repente foi engraçado. E meio cafona também.Balanço a cabeça rindo. Quem diria que Roberto estava mais ligado do que eu e que Carina era alguém tão esperta assim.P
Parte 2...— Até puxa sim, às vezes, mas não foi por isso - suspirei fundo e abri o jogo — É que... Bom, eu já estou fazendo planos com esse dinheiro que você vai me pagar.— Eu já paguei, tonta - ele deu uma risadinha — Você não conferiu sua conta no banco? Roberto já fez o pagamento.Ela nem tinha lembrado de fazer isso por causa da correia. Ficou ligada só na ideia de poder pagar a clínica para Gorete e depois de procurar uma casa para as duas morarem quando chegasse a hora deles se separarem.— Não pode ser lenta assim, sabe... Se você assinou um contrato, tem que ficar ligada se está sendo cumprido.— Não pode falar comigo sem me chamar de tonta e lerda?— Eu disse lenta - ele riu.Me deu vontade de dar um tapa nele. E agora eu posso, não sou mais sua secretária. Lhe dei um tapa com força.— Aiii... Que violência é essa? - ele esfregou o braço onde bati.— Pare de me chamar assim ou vou começar a te chamar pelos nomes que o pessoal do escritório chama.— Vocês falam de mim pelas
Parte 3...— Eu vou lavar o rosto... Por acaso tem creme dental aí, quero escovar os dentes.— Tem sim... Por acaso em sua bolsa você carrega uma escova de dentes?— Não, mas até que é uma boa ideia.— Então não vai usar o dedo - fez uma careta — Eu vou te dar uma. Vem - me puxou pelo braço.— É impressão minha ou você acorda cheio de energia?— Não é impressão. Eu sempre fui assim.— Ah, que bom - balancei a cabeça — É, ser rico sempre tem vantagens.— Nossa, que fala mais cheia de preconceito - ele parou.— Foi sem querer... Escapou.— Você não é tão santinha assim. Aos poucos eu vou pegando mais coisas suas.— Olha quem fala.Ele me puxou e me mostrou o banheiro, que era maior do que o pequeno apartamento onde moro, sem falar que é muito bonito.Me deu uma toalha, creme dental e uma escova novinha. Depois me disse para ir até a cozinha quando terminasse.Eu não devia, mas dei uma olhada na bunda dele quando saiu do banheiro. Até me deu uma coisa. Não sei o que acontece comigo, mas
Parte 1...* LucaSó meu velho para me colocar em uma situação como essa. Eu ter que pedir ajuda a uma pessoa que não tem nada a ver comigo para conseguir segurar o que já é meu.Tudo bem que essa ajuda está recheada com uma quantia em dinheiro bem gorda e que vai mudar a vida dela, mas se não fosse a ideia do Roberto, talvez eu estivesse arrancando os cabelos de ódio ou brigando na justiça contra minha prima.E agora eu estava quase que implorando para que ela aceitasse fazer sexo comigo, justo comigo, que nunca tive que fazer esforço para ficar com mulher nenhuma.Ao contrário, elas é que corriam atrás de mim, querendo minha atenção. Eram tantas que eu nem precisava me preocupar e agora eu teria que colocar em um contrato que poderia ter relações sexuais com ela. Era até engraçado de certa forma. Mas, tudo bem. O importante era ter minha vida normal como sempre foi.Eu ainda fiquei um tempinho acordado olhando-a dormir ao meu lado. Ela dorme tão profundo que até parece que morreu. E
Parte 2...Eu só penso em ajeitar logo tudo e não ter dívidas mais com nada, só que dinheiro acaba, então mesmo sendo muito, eu tenho que ter cuidado. Depois vou pedir um conselho a Roberto do que fazer para não sair perdendo dinheiro, principalmente para o banco.Peguei um carnê com um ano de pagamento da clínica. Como sei que o tratamento de Gorete é longo e o tempo passa depressa, é melhor prevenir agora que posso e já ir pagando o que for possível. O dia de amanhã é imprevisível.Encontro Gorete distraída vendo um programa na televisão. Quando ela me vê abre um sorriso pequeno. Realmente ela está com a expressão de cansada.— Eu soube que você não dormiu bem.— Que nada, filha - abanou a mão — Me virei na cama a noite inteirinha e quando consegui cochilar um pouco, o sol já estava raiando - pegou o controle e abaixou o volume.— Então aproveite mais tarde, depois do almoço. Dá um tempinho e depois vai deitar. Se você dormir pelo menos meia hora já vai ajudar.— Ah, mas eu estou ru
Parte 1...* LucaEu não pensei que o bairro onde Carina morava seria tão feio assim. Olhando com calma as ruas são sem cor, tudo cinza. O que tem de colorido na maior parte são pichações e nada agradáveis, com palavrões e desenhos que parecem ter saído de um livro pornográfico.O condomínio onde ela mora é feio. Em duas cores, ou quase duas cores, porque está desbotado pelo tempo, tem vários prédios de quatro andares. Pego o celular e mando uma mensagem para ela. Quero entrar e sair daqui logo. Pelo jeito segurança é algo que faz tempo que não há aqui.Muitas casas têm grades nas portas e janelas, vi dois pontos de ônibus quebrados e nem banco para sentar havia mais. É uma pena o descaso. De todos. Porque não adianta jogar a culpa apenas no governo. Quem mora ali também tem culpa. A maior parte das coisas quebradas e da sujeira é feita por moradores do próprio bairro.Infelizmente não existe uma consciência de direitos e deveres de cada cidadão e fica mais fácil jogar a revolta em c
Parte 2...Eu tive vontade de rir, mas ela tinha razão. Eu sei que às vezes eu falo demais e posso mesmo acabar exagerando, ainda que não tenha essa intenção.Começo a perceber que como chefe eu era rude demais com ela. Tenho que repensar isso, agora que vou trocar de secretária. Vou tentar não repetir os mesmos erros.— Coloque aqui atrás no banco as bolsas. Eu vou colocar as caixas na mala.— Ok - ela deu uma risadinha — Por que essa risadinha?— Ah... Estou surpresa por você estar se dando ao trabalho de me ajudar.— Eu também fiquei muito surpreso quando o Roberto me disse que você seria a saída para mim - fechei a mala do carro — E pelo jeito ele estava mesmo certo - abri a porta do carro para ela — Você foi ótima lá no evento e muita gente nos viu. — É, mas a sua prima está esperando que a gente vá até a casa dela. Não esqueça.— Ah, mas quando nós formos, já vamos estar preparados. Ela que venha com as perguntas - sorri.— Hum... Confiante você!— Sempre fui - dei a volta e en
Parte 3...— Eu fui para o mais longe que podia e passei a morar nas ruas - mordi a bochecha por dentro, apertando forte — Eu não sabia que Gorete estava me procurando. Se soubesse teria esperado mais até ela me achar.— Quanto tempo ficou nas ruas?— Até os dez anos, quando ela me achou no abrigo da igreja.— Você ficou em um abrigo? - ele entrou na rua da casa — Quem te levou para lá?— Eu costumava dormir de dia, escondida em qualquer lugar que desse, desde que ninguém me visse - expliquei — E durante a noite eu ficava perto de igrejas, de delegacias, de farmácias abertas... Qualquer lugar que eu soubesse que tinha mais gente por perto.— Meu Deus... - ele fechou o semblante e entrou quando o vigia abriu o portão — Eu sinto muito... Isso é péssimo para uma criança.— Eu sei... - soltei o ar devagar — Uma noite um grupo de mulheres se aproximou de onde eu estava, com mais três pessoas. A gente estava passando o tempo como sempre - dei de ombro — Elas se aproximaram com cobertores e