- Amor, você precisa dar um jeito de tirar a Eliana da prisão. Ela nunca passou por algo assim na vida. - Disse a Sra. Leite, com uma expressão de profunda preocupação no rosto, os olhos inchados e vermelhos de tanto chorar.O que mais inquietava a Sra. Leite era a sua filha mais nova. Mesmo com o filho no ensino médio, ela não se preocupava tanto com ele. Para ela, Eliana sempre foi a criança mais frágil e sensível, que precisava de proteção constante.Seu filho, um estudante do terceiro ano do ensino médio, morava no internato e só voltava para casa uma vez por mês. Ela só precisava garantir que o saldo do cartão de alimentação dele estivesse sempre cheio. Ele era bem mais sensato que Eliana. A única coisa que incomodava a Sra. Leite era que ele sempre defendia Natália, com uma determinação que às vezes a surpreendia.Quando ele estava em casa, a Sra. Leite precisava ser mais amável com Natália para evitar discussões com ele. O menino, alto e já demonstrando traços da virilidade que
Natália estava na calçada, de frente para o carro que havia acabado de estacionar, erguendo os ouvidos, tentando identificar quem estava ao volante pelo som. A chuva fina da manhã caía suavemente em seu rosto, e ela só podia perceber a fraca luz através da cortina de chuva, sem conseguir distinguir qualquer detalhe. As gotas de chuva caíam em seu guarda-chuva, produzindo um leve som de pingos, misturando-se ao ruído de fundo da rua. Sentia a luz tão próxima, quase ao alcance, mas inatingível, como se uma barreira invisível a impedisse de chegar até ela.- Você caminha todos os dias para voltar à loja? - Uma voz grave rompeu a tranquilidade.Natália reconheceu imediatamente a voz, era Rivaldo. Ele havia sido enganado por Aurora, mas ainda assim a acompanhou até a floricultura. Quando Natália agradeceu e perguntou seu nome, Rivaldo, ao contrário de Bruno, não ocultou sua identidade e lhe disse que era o segundo filho da família Alves.- Sr. Rivaldo. - Disse Natália, esboçando seu sorri
Rivaldo lançou um olhar rápido para ela, seus olhos brilhando com uma mistura de preocupação e curiosidade. - Você não pode ver. Mesmo que o ônibus passe, você não conseguirá sinalizá-lo.Com uma serenidade que contrastava com a sua situação, Natália respondeu: - Os seguranças na entrada do condomínio são muito prestativos. Todos os dias, eles me ajudam a parar o ônibus e garantem que eu embarque com segurança.Rivaldo ficou em silêncio após a resposta. Ele mal a conhecia, e ainda assim, se sentia compelido a protegê-la. Depois de ser enganado por Aurora, se sentia obrigado a cortejar Natália, não apenas por orgulho, mas para não dar ao Bruno e à Aurora, a satisfação de vê-lo falhar. Contudo, Natália permanecia um mistério para ele. Sua avó tinha fornecido apenas as informações básicas. O resto, ele teria que descobrir por si mesmo.A falta de conhecimento e familiaridade criava um silêncio palpável entre os dois. Rivaldo dirigia concentrado, enquanto Natália ouvia atentamente a músi
- Srta. Natália, ao fazer essas tarefas, você nem parece cega. - Observou Rivaldo, admirado, enquanto ela se movia com destreza pela loja. Natália colocou a vara de volta no lugar, seus movimentos precisos demonstrando anos de prática, e respondeu calmamente: - A prática leva à perfeição. Tenho esta floricultura há anos e faço essas tarefas todos os dias. Com o tempo, aprendi a fazer tudo pelo tato. Depois de abrir a porta, Natália deixou sua bengala de lado e começou a mover habilmente os vasos de plantas para fora da loja, um por um, organizando-os cuidadosamente na entrada. Ela conhecia cada vaso, cada planta, como a palma da sua mão.- Sr. Rivaldo, quais flores deseja comprar hoje? - Ela perguntou enquanto carregava os vasos, sua voz suave contrastando com a força necessária para mover as plantas. - Se sinta à vontade para olhar com calma. Rivaldo, vendo-a mover vários vasos sozinha, finalmente decidiu ajudar. Ele se aproximou e começou a carregar os vasos de plantas, organizan
Eliana não suportava ver o irmão sendo carinhoso com Natália. Quando ele ainda estava na escola primária, ela convenceu a mãe a mandá-lo para um internato, reduzindo assim o tempo que ele passava em casa. Mesmo com essa distância, o meio-irmão de nove anos de Natália continuava nutrindo um profundo carinho por ela.O jovem sempre se culpava por não estar presente quando Natália adoeceu, e por não poder forçar os pais a levá-la ao hospital, o que resultou na perda de sua visão. Para Natália, o calor humano vinha exclusivamente do irmão, e essa era a única fonte de conforto em sua família.Rivaldo ouvia Natália falar com uma calma surpreendente sobre as experiências mais dolorosas de sua vida, e sentia uma compaixão crescente por ela. Talvez fosse porque, desde o início, sabia que Natália era a escolha de sua avó para ser sua esposa. De alguma forma, ele já a via como alguém sob sua proteção.- Os tempos difíceis vão passar. - Disse Rivaldo com uma voz grave e consoladora.Natália sorr
Agora, Rivaldo e Natália ainda nem haviam começado uma relação. Ou melhor, Rivaldo havia começado, mas Natália ainda não sabia. Ela recusava dar rosas a ele, e ele entendia perfeitamente, mesmo que isso doesse um pouco, como uma farpa persistente no coração.- Essas flores também são muito bonitas. Obrigado pelo buquê, Srta. Natália. - Agradeceu Rivaldo, admirando o arranjo com uma reverência silenciosa antes de se despedir com um sorriso gentil, um sorriso que escondia uma admiração profunda. - Srta. Natália, vou para o trabalho agora.Saindo da floricultura, Rivaldo voltou ao seu carro, um carro prateado que brilhava sob o sol matinal. Ele abriu a porta do passageiro com cuidado, como se estivesse manejando um tesouro frágil, e cuidadosamente colocou o buquê no assento, ajeitando as flores com um toque delicado. Antes de entrar no carro, olhou para Natália mais uma vez, sentindo uma pontada de ternura por aquela mulher que, sem saber, começava a conquistar seu coração.Natália escuto
Rivaldo, curioso e um tanto incrédulo, perguntou:- Um médico lendário? Ele pode curar problemas de visão?- Um médico lendário pode curar de tudo. Caso contrário, por que o chamariam assim? - Bruno respondeu com um sorriso enigmático, seus olhos cintilando com um conhecimento oculto.Rivaldo, ansioso, sentiu um sopro de esperança renovada em seu peito. - Onde ele está? Vou mandar alguém para chamar ele. - Continuou, seus olhos brilhando como estrelas numa noite clara.Bruno se inclinou um pouco para frente, apoiando os cotovelos na mesa e entrelaçando os dedos. - Ele apareceu na Mansão Tavares, na Cidade A, mas recentemente não está mais lá. Ouvi dizer que sua discípula, Catarina, está muito próxima da família Tavares, especialmente de Tiago, mas não se dá bem com Walter. Talvez Jean possa saber mais. - Explicou Bruno, pensativo, seus olhos fixos em um ponto distante, como se estivesse revivendo memórias. - Essa Catarina é uma mulher extraordinária. Ela e a esposa do chefe da famíli
A tensão no ar era palpável enquanto Aurora tentava manter a calma e a compostura diante do pessoal da família Francisco. A memória do sequestro de Bernardo ainda era fresca na mente de todos, um exemplo claro das falhas e perigos que espreitavam, mesmo em ambientes que deveriam ser seguros.Naquela hora, Carolina estava distraída, entretida com a multidão, e não percebeu que seu filho havia desaparecido até que ele já estava longe, nos braços de um desconhecido. O pânico que sentiu naquele momento ainda fazia seu coração acelerar quando lembrava, uma mistura de culpa e desespero que nunca a deixava.Cornélio, Arabela, Carolina, Daulo e Bernardo vieram para a livraria, enquanto Juliana, que nunca se deu bem com sua cunhada e desprezava o sobrinho, preferiu não participar. Na verdade, Juliana estava apreensiva. Ela tinha medo de encarar Madalena e Aurora, receosa de que percebessem sua culpa e desconfiassem dela. - Michel, vem cá, deixa eu te abraçar. - Chamou Letícia, com um sorriso