Estar de volta à minha mansão era algo ótimo. Eu estava exausta da viagem, precisava tomar um banho e deitar-me para recuperar todas às minhas forças.
__Às oito e meia eu vou sair para um jantar de negócios, não sei à que horas eu volto.__ Antonio diz.
Eu não o respondo. Os nossos últimos dias em Capri foram marcados por uma grande tensão, embora eu tivesse-me reprimido o máximo que pude, confrontei-o acerca dos preservativos que encontrei na sua roupa e ele foi completamente rude, usou termos depreciativos para se referir a mim e tratou-me muito mal. Desde então passei a ignorá-lo, não falo com ele mais do que o necessário, o que parece incomodá-lo.
Prendo o cabelo num coque desajeitado e vou até ao meu banheiro. A situação em que nos encontramos magoa-me bastante, eu quero ser submissa a ele como à minha mãe me instruiu e ignorar as suas atitudes negativas, mas não consigo. Não consigo acostumar-me a ser pisoteada e receber um tratamento abaixo do que eu consider
Ando de um lado para o outro, sentindo-me aflita. Os meus dedos trêmulos, que seguravam outrora os testes de gravidez que confirmavam o que eu vinha a suspeitar faz semanas, agora puxavam os meus fios de cabelo meticulosamente presos num rabo de cavalo.O barulho vindo do quarto chamou-me a atenção. Apanhei rapidamente os testes do chão e escondi-os, não iria contar ao Antonio sobre o resultado até fazer um exame de sangue. Eu ainda tinha a fé de que não estava realmente grávida, embora fosse uma grande tolice apegar-me a essa esperança, os sintomas estavam tão óbvios que os empregados que passavam mais tempo comigo já começavam a suspeitar de algo." Deve ser uma virose" É isso que eu dizia para afagar-lhes a curiosidade.__ Savanah!?__ a voz do Antonio soou após uma batedela.__ Está tudo bem? Disseram-me que passou mal durante a ceia.Passei água no rosto e sequei-o rapidamente, ajeitei o cabelo e segui até à porta, tentando parecer mais apresentável. Quand
Acordo, sentindo como se um camião tivesse passado por cima de mim. Os meus olhos estão inflamados, deixando evidente que eu passara a madrugada toda chorando incessantemente.Não consigo reconhecer-me quando me vejo ao espelho, nenhum resquício da costumeira Savanah. Parece que tudo à minha volta desabou quando eu consenti em casar-me com o Antonio. Perdi o meu emprego como bailarina, as minhas amizades e a minha dignidade.E o pior é que eu abdicaria de tudo isso, novamente, e mais algo caso ele estivesse disposto a amar-me.Arrasto-me até ao banheiro e entro no box com dificuldade, à minha cabeça está a doer muito. Enquanto me esfrego, lembro-me da minha consulta com o Dr° William, provavelmente eu estou atrasada.__O Antonio não voltou ontem à noite?__ pergunto a uma das criadas, polidamente.__Não senhora.__ responde-me num tom trêmulo.A informação faz-me começar o dia com o pé esquerdo. O motorista insiste em levar-me à clínica, mas eu recuso
Parece que os dias estão se arrastando. Eu ainda não recebi o resultado do exame de sangue, mas os sintomas que tenho sentido, deixam bem claro que estou grávida.O corpo é meu, então à minha decisão sobre o aborto está mais que tomada. Vou esperar o resultado e logo a seguir converso com o Dr° Williams, não pretendo contar nada ao Antonio, pois sei que ele deve aprovar à minha escolha.Nós ainda somos jovens, acredito que ele ainda quer conquistar mais coisas e depois dar esse grande passo.__Senhora de Santis trouxe esse chá para si.A nova governanta anunciou com um sorriso gentil. Ela é bastante discreta e muito mais proficiente do que a outra, os seus cabelos brancos são alvíssimos como a neve, os seus olhos azuis parecem um lago azul e sereno, e possui um sorriso singelo que parece verdadeiro, não daqueles forçados e trêmulos, que os outros empregados sempre me dirigem.__Obrigada Sra. Carter.Eu costumo chamá-la pelo seu sobrenome por possuir
Antonio encarava-me, parado do outro lado do nosso quarto. Apesar de querer parecer controlado, os seus gestos e vez ou outra a sua feição deixavam à vista que estava abalado pelas coisas que eu lhe dissera e pela noticia que seria pai.Eu havia tomado um comprimido para ansiedade e estava mais calma, deitada sobre a nossa cama. Ainda não me sentia pronta para a conversa que tarde ou cedo teríamos, mas sentia-me decidida e firme com o plano do aborto.__Como se sente?__ Antonio inquiriu, acabando com o silêncio que se instalara a quase meia hora.__Eu estou-me sentindo muito melhor. Obrigada.A minha voz parece presa a garganta, tenho dificuldade em pronunciar as palavras.__Não vai voltar ao trabalho?Eu sou uma covarde, não estou pronta para enfrentá-lo agora e ouvir os seus insultos. Porque eu sei que virão, ele é ótimo em humilhar-me.__Nós temos uma conversa pendente, de nada adiantará eu voltar ao trabalho quando tenho um assunto impor
Após tomar um banho eu estava-me sentindo revigorada. Pensei muito na minha conversa com a senhora Carter e acredito que ela esteja certa, eu preciso de um tempo do Antonio, da mamãe e da tia Dakota senão vou acabar enlouquecendo.Quando Antonio chegou, foi direito ao seu escritório. Eu segui-o, precisava ter aquela conversa com ele antes que a coragem se dissipasse do meu corpo.Bati na porta e ouvi um breve "entre". Empurrei a porta e adentrei, vendo-o sentado na sua poltrona com um copo de wiskey na mão.__Podemos conversar?Ele olhou para mim impaciente.__Se é sobre o assunto do aborto eu não estou com disposição Savanah.Balanço a cabeça negando e sento-me à sua frente.__Não é sobre isso, pelo menos não totalmente. Eu preciso conversar sobre nós os dois.Ele deixa o copo sobre a secretária e encara-me com seriedade. Tomo o seu silêncio como um incentivo para prosseguir.__Eu quero desculpar-me com você.__ a surpresa no seu
Eu estou a ter imensas dificuldades para me adaptar a esse lugar. E uma parte de mim está implorando para eu voltar para a mansão e pedir desculpas ao Antonio.Mamãe e tia Dakota têm tentando contactar-me, já lá vão quarenta chamadas não atendidas. Eu não tenho coragem de mandá-las ao inferno, sei que se atender esse telefone eu vou acabar mandado por terra à minha hipótese de livrar-me deles.Eu preciso afastar-me delas e principalmente do Antonio, nem que for por apenas um mês. Eles são nocivos para mim como uma droga.__Senhorita Savanah precisa de mais algo?A mulher do caseiro perguntou, secando as mãos num pano da louça, era uma senhora franzina, mas que não parava quieta. Estava sempre procurando algo para fazer.__Não, como é mesmo o seu nome? Sara... Sandra?Eu não sou boa a decorar nome de empregados.__Julie senhorita.__ a sua feição e o tom que usara deixou claro que não se ofendera.__Eu estou-me sentindo enfadada aqui. Estou
Após mais seis tentativas falhas, eu e a senhora Julie chegamos a unânime conclusão de que talvez o crochê não seja para mim. Eu pedi a um dos empregados que me arranjasse telas, tintas e pincéis. Voltarei a pintar e até mesmo me arriscarei a vender os meus quadros.Levanto um pouco a blusa de seda que estou a usar e olho-me no espelho, sentindo a brisa que vem da janela chacoalhar o meu cabelo. A barriga ainda está pequena e tirando os enjoos, o sono excessivo e a vontade de ir ao banheiro a cada cinco minutos, não há mudanças físicas que fazem com que as pessoas olhem para mim e determinem imediatamente que estou grávida. Talvez se deva a minha magreza excessiva, sempre fiz dietas malucas para ter um peso ideal e ultimamente o vinho estava-me cortando o apetite.Eu quase posso sentir-me em abstinência por não poder tomar mais um copinho de vinho. Segundo alguns artigos que eu li não faz mal tomar um pouquinho, mas não quero arriscar. Essa criança agora é muito especial
Quando eu adentrei a cafeteria localizada na 34th, chamada "Ellen's coffe" um sentimento parecido com nostalgia tocou-me. Eu lembrei-me de quando eu e Antonio nos reencontramos depois de muito tempo. A garota ruiva continuava atrás do balcão, mas dessa vez sem a franja.Olhei brevemente pelo espaço, vendo à minha madrinha sentada, um pouco afastada dos demais fregueses. Caminhei até ela com uma expressão sisuda, e não consegui retribuir o sorriso cordial que me lançara.__Oi querida, como está?A sua voz está nervosa e às suas mãos inquietas.__Contou à minha mãe sobre o nosso encontro, não foi?Ela negou, balançando a cabeça e soltou um suspiro. A garota parou ao lado da mesa, segurando um bloquinho de notas e uma caneta.__O que vai ser senhorita?Eu não estava a usar à minha aliança desde que abandonei a mansão e não fazia questão de corrigir as pessoas quando me interpelavam e usavam o termo "senhorita" para se dirigir a mim. Olhei para