Kayra se sentou na beira da cama, sentindo o coração ansioso de repente tremer levemente. Enrico, sempre tão reservado, tinha o dom de surpreendê-la com gestos gentis quando ela menos esperava.— Não está muito ocupada? Por que está parada aí?Enrico, com os olhos ainda fechados, perguntou de repente, assustando Kayra, que rapidamente pegou o manuscrito e se dirigiu à sala de estar para continuar a memorizar o texto, temendo que ele mudasse de ideia.Após memorizar todos os roteiros, ela se espreguiçou longamente. Enrico, no chão, já dormia profundamente. Ela cuidadosamente o cobriu com um cobertor e foi ao banheiro para lavar o rosto e realizar seu ritual noturno de cuidados com a pele.No mesmo andar, outra sala do hotel havia sido temporariamente convertida em um camarim, usado por toda a equipe de filmagem. Quando Kayra entrou, não esperava encontrar Verônica lá."Era tão tarde, será que ela também estava decorando seu texto no quarto?"Mas Verônica não pensava da mesma forma, el
Se não fosse pela voz inconfundível e estridente de Verônica, que todos tinham acabado de ouvir, ninguém acreditaria que a pessoa diante deles era a Srta. Verônica, tão adorada pela família Moura.— Como você acabou assim? — Perguntou o diretor, chocado.Verônica, com os dentes cerrados e a cabeça baixa, apertava a palma da mão com força.— Meu rosto teve uma reação alérgica...— Que tipo de alergia deixa alguém assim? — Questionavam as pessoas ao redor.Apenas Kayra lançou um olhar gélido por baixo dos cílios, se recordando daquela garrafa de geleia real que havia misteriosamente desaparecido do seu camarim. "Será que essa mulher tola usou ela como óleo facial?"Kayra não pôde evitar um sorriso, e ao vê-la sorrir, Verônica mordeu os molares em segredo.Após rirem o suficiente, o diretor e os produtores finalmente disseram:— Veja bem, nosso cronograma de filmagens não pode ser adiado, está tudo assinado no contrato. Se você desinchar até esta noite, vamos filmar com você, caso contrá
O ambiente ali era sereno, cercado por um mar de flores, que abraçava um vale tranquilo, o qual, por sua vez, envolvia um rio, com montanhas nevadas sagradas ao fundo. Como não era alta temporada turística, havia poucos visitantes, mas as flores ao longo do caminho estavam excepcionalmente vibrantes.Kayra adentrou ainda mais o cenário.De repente, ela avistou uma flor azul-violeta entre os muitos arbustos de camélias.Era uma artemísia verde!Ela ficou levemente surpresa, pois essa rara flor só florescia na Cidade da Aurora, e esta era a primeira vez que a via pessoalmente.Ela não resistiu a se aproximar e cheirar, o aroma único da flor imediatamente permeou seus lábios e dentes, e ela involuntariamente fechou os olhos, subitamente inspirada para sua entrada no grande concurso de perfumaria."Contudo, por que uma artemísia verde tão rara estaria plantada entre as camélias?"Kayra estava intrigada, olhou adiante e, não muito longe, viu outra artemísia verde emergindo entre as camélias
— Prepare o carro! — Enrico disse isso enquanto se levantava e descia as escadas com passos largos e rápidos. Ao chegar ao local de filmagem, já de longe era visível o completo tumulto entre os funcionários. Carlos rapidamente puxou o diretor para frente de Enrico. Ao ver a expressão sombria de Enrico, o diretor presumiu que ele estava insatisfeito com a capacidade de trabalho da equipe e que não planejava mais investir, se apressando em garantir:— Presidente Enrico, este foi um erro nosso, mas nunca antes aconteceu um acidente desses...— Você encontrou a pessoa?A voz de Enrico era fria como uma lâmina envenenada, cortando o blá-blá-blá do diretor. O diretor estremeceu:— Ainda não... Nós... Estamos fazendo de tudo para encontrá-la...Um tic nervoso apareceu no olho de Enrico e, pela rara vez, a emoção começou a superar sua lógica.— Presidente Enrico, os salva-vidas já estão na água procurando. Esta parte do rio é profunda, mas a correnteza não é muito forte...Carlos tentava ac
— Entendo um pouco. — Respondeu Kayra.— Não acredito! — O ancião deixou de lado a expectativa em seus olhos, voltando a ser frio e direto. — O que uma jovem como você poderia saber?— Nesta casa, há o aroma de camélias, magnólias, jasmins e azaleias. Se não estou enganada, você está misturando essências suaves. Todos esses aromas são delicados e voláteis, então você precisa de um aroma forte e profundo para equilibrá-los, por isso está esperando a época de florescimento da artemísia, certo?Kayra apenas moveu levemente seu nariz e já havia analisado os cheiros das essências na casa do velho.De repente, um choque apareceu nos olhos do ancião, que, depois de alguns segundos de contenção, fixou o olhar nela e perguntou:— Você descobriu tudo isso agora? Apenas com seu nariz?Observando a expressão exagerada do ancião, Kayra puxou seus lábios secos e rachados em um sorriso, assentindo:— Exatamente.O ancião semicerrou os olhos cansados e começou a girar no lugar, atônito.— Reconhecendo
— Eles mexeram com minhas artemísia, como eu poderia não ir ver quem estava causando problemas? — O idoso falou irritadamente, se lembrando da artemísia destruída, e seu coração ainda doía.— Você viu como essa pessoa era? — Kayra perguntou.— Mesmo que eu tivesse visto, o que poderia fazer? Eu não o conheço, e também não sou policial. — O idoso disse, lançando um olhar para ela. — Você também não morreu, não é? Espero que, depois dessa lição, você aprenda a pensar mais!Kayra riu:— Na verdade, eu tinha pressentido que era uma armadilha...— E ainda assim você pulou? Que tola! — O idoso zombou.— Mas foi uma emergência, não havia ninguém por perto, e se aquela pessoa estivesse realmente se afogando, ela teria morrido se eu não a ajudasse. — Kayra falou sinceramente.O idoso torceu a boca:— Quem disse que não havia ninguém por perto? Eu não sou uma pessoa?— Você teria salvado ele? — Kayra perguntou, curiosa.— Eu que não salvaria, ele destruiu minhas plantas, eu preferiria vê-lo se a
Após falar, o ancião se virou e saiu pela porta, mas antes advertiu:— O quarto vazio é seu, vá dormir logo e não mexa em nada no meu ateliê de perfumes.O velho caminhava com as mãos nas costas.Kayra não conseguiu resistir a ficar mais um pouco no ateliê de perfumes. Sua paixão pela arte da perfumaria provavelmente explicava como ela conseguia se abrir rapidamente e conversar com facilidade com o ancião. Apesar de pequeno, o ateliê estava completamente equipado, e Kayra encontrou combinações de especiarias que nunca havia sentido antes. Ela se admirava internamente, o ancião parecia comum, mas tinha uma abordagem única e perspicaz em relação à perfumaria.Enquanto caminhava pelo local, Kayra teve revelações sobre suas próprias técnicas de perfumaria, muitas dúvidas que antes pareciam obscuras agora clareavam quase completamente. Ao deixar o ateliê, ela voltou para o quarto vazio mencionado pelo ancião. Era uma noite em um lugar desconhecido, e ela passava o tempo virando na cama
— Você entendeu errado, aquilo... Kayra suspirou. Era uma história longa, mas que ela não podia deixar de contar:— Sim, somos casados, aquele "tio" é apenas um apelido carinhoso. — Ela forçou um sorriso rígido, constrangida enquanto explicava.— Não estou aqui para verificar identidades, não importa se vocês são casados ou não!O velho, impaciente, se virou e apertou algum botão, e a armadilha para ursos na perna de Enrico se abriu automaticamente. Kayra ouviu um gemido abafado dele e, ao ver os buracos sangrando profusamente, não precisava imaginar o quanto ele estava sofrendo. Ela franziu a testa e perguntou apressadamente:— Senhor, tem um hospital por perto?— Você também disse que não há ninguém, como pode haver um hospital? — O velho respondeu sarcasticamente.— É uma ferida superficial, não é nada. — Enrico a tranquilizava, sentado imóvel no chão, com seus olhos fixos nela, preocupados e atentos às suas próprias feridas."Será que ela também se preocupa tanto assim comigo?"—