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Jogo de Pares

Seria uma melhor de três e Josh, tinha que ganhar pelo menos duas para ser o vencedor da partida, ele queria muitas coisas sim, mas não iria pedir nada para o homem a sua frente, se sentia um idiota por não aproveitar a oportunidade, contudo, naquele momento seu orgulho estava ferido, já estava se contradizendo ao beber e fumar, mas achou necessário beber para criar coragem e expor sua noite fracassada. 

Sim, aquilo tinha sido um fracasso, ele poderia muito bem ter isso a boate “Forbidden”, mas escolheu o cassino “Bit Sense”, o local recém inaugurado e mais caro de Vegas, e agora estava tentando fugir de algo que ele tinha ido buscar, apenas para não parecer mais idiota do que já estava se sentindo.

Existe um ditado que diz: “Se está coberto de estrume, o melhor a se fazer é ficar em silencio até que possa se limpar”, e quem tinha o costume de falar isso era uma tia de Josh, falecida a alguns anos, ele se lembrou desse ensinamento, e para aquela situação o ditado se encaixava perfeitamente. 

Agora nas mãos de Josh tinham cinco cartas, o objetivo do jogo era formar três pares, sendo que a sexta carta viria ou das mãos de Noah, ou do monte na mesa. 

Três As, foram tirados do monte, apenas um estava em jogo, ele seria o coringa, o substituto para o par que viesse a faltar, e nas mãos de Josh, nenhuma das cinco cartas combinavam, não faziam sequência, não faziam pares, e nem mesmo os naipes combinavam.

Vendo a péssima mão que tinha pegado sorriu como se tivesse com o jogo ganho, porem em seu interior o pensamento era outro. — “Vou ter que sair com esse homem, e eu não quero isso.”

— Ficou bastante animado com suas cartas Josh, acredito que meu “Porsche” vai ter um novo trajeto hoje, pensei que iria direto para minha casa, mas pelo seu sorriso convencido acredito que não. — Noah sorria, e pelo tom de sua fala até parecia saber quais eram as cartas de Josh.

— Um taxi também seria apropriado... — Murmurou bebendo um gole de whisky, depois de seis goles aquilo já não parecia ser tão ruim, e como a derrota estava diante de seus olhos, se fosse para dormir com um homem era melhor que bebesse até se esquecer do próprio nome.

Noah fez o primeiro movimento, descartando um valete de copas e pegando uma carta no monte, Josh, olhou para sua mão e tinha uma dama de copas, seria interessante pegar aquele valete, já teria um par, ele pensou bem naquele momento, “pegar ou não pegar a carta?” se questionava olhando para o homem a sua frente.

— Use o tempo que precisar Josh, o cassino fecha as seis da manhã, ainda nem é meia noite. — Noah provocou, vendo que Josh estava em um conflito interno.  — Mas seja sábio em sua decisão, eu tenho um palpite muito bom sobre qual será a próxima carta. — Noah falou tão convencido sobre a carta que Josh realmente pensou em pegar a carta virada no monte.

Josh pegou o valete de copas, e pegou já imaginando tudo o que teria que fazer com aquele homem em uma cama. “Eu vou perder, ele parece conhecer muito bem essas cartas”, ele era um ótimo jogador, raramente perdia e conhecia vários tipos de jogos, contudo a bebida, o nervosismo e o constrangimento pela situação que agora ele entendia ter sido ele a causar, o fazia se sentir derrotado logo nas primeiras jogadas.

Em sua mão tinha um oito de espadas, e foi essa carta que ele descartou, olhando novamente para o homem que dava um trago no charuto ele se sentiu ameaçado apenas com a pose do homem. 

— Ótima escolha, a próxima carta no monte não iria te servir, porem na minha mão ela vai ter uma utilidade. — falou pegando a carta sem olha-la, apenas a colocando em sua mão. 

Foi nesse momento que Josh se desesperou, ele conhecia o baralho, e ele nem se atentou que aquele era o baralho de Noah, um que ele tinha trazido com ele, agora as coisas se encaixavam, Noah, sabia quais cartas ele tinha nas mãos, bebeu o restante do whisky num único gole, e viu Noah descartar um seis de paus. “Estou ferrado, é isso!”

Puxou uma carta do monte ignorando o seis de paus, agora em sua mão tinha um três de espadas, se o dois que ele tinha não fosse de ouro, ele poderia até sorrir, mas seu lábio torceu insatisfeito, se aquele fosse ao menos um jogo justo, onde nenhum deles conhecia a carta da mesa.

— Parece não ter gostado da carta que puxou, ela é tão ruim assim? — Inqueriu rindo de forma sarcástica. — Talvez eu tenha uma resposta positiva. — Falou puxando uma carta do monte e descartando um dois de espadas. — Vejo que está mais confiante nas sequencias e não nos pares, acredito que essa carta se encaixe perfeitamente em sua mão... — Noah bebeu um gole de whisky, deu trago no charuto. — Assim como meu corpo vai se encaixar em você nesta noite.

Aquela última frase fez o sangue de Josh ferver, o jogo não era justo, e ele nem podia reclamar, estavam em um jogo particular ali, não era um dos jogos fichados do cassino, era mais por diversão, ele olhou para Noah, seus olhos esmeraldinos pareciam que engoliriam a alma de Noah, a provocação tinha sido demais pra ele.

Noah pegou a carta e a colocou junto com as suas, agora tinha a dama e o valete de copas, o dois e o três de espadas, e um cinco de ouro, ele precisaria de um 4 de ouro para fazer sua jogada final, mas pelo sorriso de Noah ele imaginou que sua carta estivesse nas mãos dele. 

— Vai, pode me chamar de idiota, eu mesmo já me sinto assim, esse é o seu baralho, você conhece as cartas, mesmo que estejam viradas... — Josh pegou outro copo de whisky das mãos de um dos garçons. — Eu não vou ganhar, vamos acabar logo com isso. 

Noah riu das expressões desesperadas e desanimadas no rosto do jovem a sua frente, ele notou que apesar de odiar a bebida, ele estava bebendo sem parar, e de uma forma ou de outra ele acabaria em seu apartamento. 

— Eu conheço as cartas, mas isso não me impede de jogar justo, eu até descartei as cartas que você precisava. — Noah olhou friamente para Josh. — Vai mesmo desistir agora? Podemos trocar de baralho, o resultado vai ser o mesmo.

Josh engoliu em seco, ele era um bom jogador, não tinha o habito de perder, então qual era a jogada daquele homem. 

— Vai trocar o seu baralho por um baralho da casa? Eu duvido muito disso, quando se sentou nessa mesa você já sabia o que queria fazer. — Josh falou desanimado, aceitando as consequências, e pior ainda era saber que realizaria aos desejos daquele homem e seria totalmente de graça. 

O jovem sentiu os olhos esmeraldinos arderem, bebeu o restante da bebida que havia no copo, pegou o charuto do cinzeiro e deu longos tragos, apenas para se sentir atordoado.

— Você não é idiota, as pessoas tem o péssimo habito de tentar jogar comigo. — Noah sorriu gentilmente para Josh. 

Josh por sua vez jogou a carta na mesa e esticou as mãos para frente como se fosse ser algemado.

— Eu desisto, vamos faça o que quiser! — Se entregou com certa irritabilidade em sua voz, e milagre era Josh ainda não estar trocando as palavras depois das doses que tinha bebido, ainda mais pra ele que não era acostumado com aquilo.

— Não quer mesmo insistir? Você tem grandes chances de ganhar, eu sei qual carta vem em seguida, acredito que seja a sua carta. — Noah provocou mais um pouco para ver se Josh, iria recuar. 

— Eu já desisti, foi uma péssima ideia, eu não costumo perder, por isso sugeri isso, mas minha habilidade com jogos não é nada perto de alguém que tem a carta marcada. — falou um pouco mais irritado. 

— A próxima carta era o 4 de ouro, pode virar ela no monte, vai descobrir que falo a verdade.

Josh virou a carta e viu o quatro de ouro, sentiu seu estomago se contrair, o frio na barriga como se estivesse descendo de uma montanha russa. 

— Você disse a pouco que mesmo que trocasse por um baralho da casa, você ainda sim saberia qual carta era... — Josh parou sua fala olhou para os fundos do salão, os tubarões pareciam agitados, nadavam muito próximo ao vidro, e lá estava seu colega rodeado por alguns homens. — Como? — perguntou por fim. 

— Eu aprendi muito cedo a conhecer as cartas... — Noah bebeu o restante do whisky em seu copo, olhou de forma gentil para Josh — Tenho memoria fotográfica, e todas as cartas tem uma marcação mínima, quase imperceptível, eu vou saber qual carta é, mesmo não querendo saber.

Josh olhou novamente para o aquário, viu a inquietação dos tubarões e voltou seus olhos para Noah.

— Só ... por favor pega leve comigo, eu nunca fiz isso, não dessa forma, então seja gentil, nem sei se é essa palavra correta... 

Noah riu um pouco, tirou de seu bolso um baralho e mostrou a Josh.

— Esse é o meu baralho, estávamos jogando com o baralho da casa, você não está acostumado a beber, ficou nervoso, se desesperou, e como um lote de baralho não é muito diferente do outro eu vi que era um quatro, só não tinha certeza do naipe, já que copas e ouro tem a marcação muito parecida.  

— E você me falou isso para que eu me sentisse mais idiota ainda, ou para se gabar? — Josh falou ríspido, olhando friamente para o homem a sua frente.

— Você me perguntou como, e eu lhe respondi, vamos não faça caso com isso, a culpa não é minha se as cartas vêm marcadas de fábrica. — Noah comentou guardando as cartas em seu bolso. — Agora vamos ver como anda sua honestidade, me espere aqui, eu volto logo.

Claro que Josh, iria esperar, ele não tinha muitas escolhas, aquele jogo de pares foi o pior de sua vida, ele agora entendia que iria ganhar, contudo sabia que seu oponente é quem decidiria isso. 

Josh pegou seu celular e procurou pelo contato de Filipe, queria poder dizer alguma coisa, ele se lembrava que tinha anotado o número em algum momento, já que tinham feito um trabalho junto na faculdade, assim que achou o número não teve o menor pudor em lhe m****r a mensagem.

“Hoje me disse para fingir que não te vi nesse lugar, pois agora que entrei pelo cano, gostaria de lhe dizer para fingir que não me conhece.”  

Não demorou muito para ele receber uma outra mensagem de volta.

“Vamos, não seja dramático, Noah é um homem gentil, ele vai ficar feliz em te ajudar, tempestade em copo d'água só tem charme para garotas.”  

Josh nem se deu ao trabalho de responder aquela mensagem, colocou novamente o celular no bolso, olhou para suas roupas, ele sabia que levaria uns seis meses para terminar de pagar por elas no cartão, até mesmo seu perfume tinha sido comprado desta mesma forma, olhou a sua volta e via as pessoas felizes e despreocupadas. “Deve ser bom não ter que se preocupar com as contas no fim do mês” seus pensamentos o deixavam diante de sua situação financeira, ele queria sim dar um golpe de sorte, mas em uma mulher e não em um homem “É, eu estava mesmo com más intenções, é justo que o destino me castigue desta forma” 

Perdido em pensamentos, não viu o momento exato que Noah voltou a mesa. 

— Vamos? — Noah o chamou. — O jogo de pares já acabou, e eu já achei o meu par.

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