Capítulo 39Ruby LuccheseA proposta de Masato vibrava na minha mente como um trovão silencioso.Unir Japão e Itália em matrimônio... Seria o elo mais poderoso já visto entre máfias, mas, ao mesmo tempo, eu não sabia se estava preparada para isso. Não por medo de poder, mas porque meu coração ainda carregava o nome de um russo frio e intenso, e esse sentimento era forte demais ainda, para ser ignorado.Segurei a taça de saquê entre os dedos, observando o líquido cristalino enquanto formulava a resposta, escolhendo as palavras com o máximo de cuidado.— Masato... — falei com firmeza, mesmo que por dentro eu tremesse. — Você me pegou de surpresa. A proposta é grandiosa, mas eu preciso de um tempo para pensar. Isso envolve mais do que poder... envolve minha vida, meu nome e meu filho.Ele me olhou com aquele sorriso calmo e elegante, como se já esperasse por isso.— Claro, Ruby. Não esperava menos de você. Uma mulher como você, eu sei que não aceita nada por impulso... por isso eu te adm
Capítulo 40Nicolai PetrovO telefone vibrou sobre a mesa do quarto onde eu estava hospedado, um dos cômodos da ala de hóspedes da mansão dos Lucchese. Atendi sem pensar. Já esperava a ligação, e claramente temia o que viria.— Senhor, ela acaba de sair do restaurante.— E o Masato?— A acompanhou até o carro. Abriu a porta... ela agradeceu e... o beijou. No rosto.Silêncio.Fechei os olhos com força, sentindo o sangue ferver nas veias. Um beijo no rosto. Simples. Educado. Inofensivo, diriam. Mas não para mim. Não quando vinha de Ruby. Tudo nela carregava intenção, até o silêncio. E eu sabia que aquele beijo não era paixão — mas era proximidade. Era abertura. Era algo que não me incluía.— Continuem atentos — resmunguei e desliguei com ódio.A raiva veio como um soco. Forte, inesperada, pulsando. A garrafa de uísque sobre a mesinha me chamou. Enchi o copo e virei de uma vez. Mas o gosto não desceu fácil. Tinha o gosto da amargura que Ruby sempre deixava quando se afastava de mim. E ag
Capítulo 41Ruby LuccheseAs sessões de quimioterapia têm judiado demais do Ônix. O resultado do DNA saiu, claro que apenas para fins burocráticos — no fundo, eu sabia que ele nunca teve dúvidas de que Ônix era seu filho.Assinamos os novos documentos do Ônix, mas ainda não contamos a verdade para ele.Safira viajou com Mikail para a Rússia, para conhecer os pais dele e começar a se adaptar à futura vida que a espera. Jade, por outro lado, tem se fechado cada vez mais... e isso tem me preocupado profundamente.— Em que está pensando tanto? — sua voz suave me tirou dos pensamentos.— Em nada... só no caos em que nossa vida se transformou nos últimos meses...— Acho que você devia viajar um pouco, Jade. Esfriar a cabeça. Sei que esse mundo não é o seu.— Não, eu realmente não gosto. Mas... é o nosso mundo. E eu não quero te deixar sozinha. Foi tentando carregar tudo sozinha nas costas que você passou anos sofrendo... pelo Ônix... pelo Nicolai...Cortei sua fala de imediato.— Não! Eu nã
Capítulo 42Nicolai PetrovA voz dela.Dura.Fria.Cortante como uma navalha.— Masato Yoshida.Não precisei de mais nada.Meu corpo agiu por impulso. Abri a porta com força e atravessei as escadarias como se algo me queimasse por dentro. Subi no carro, bati a porta e arranquei sem olhar para trás. As rodas cantaram no asfalto e tudo em mim gritava. A imagem de Ruby... aquele rosto que eu conheço tão bem... dizendo que vai se casar com outro. Outro.Ela não hesitou.Não gaguejou.Não tentou esconder.Por que diabos isso ainda me fere tanto? Foi uma escolha minha aceitar e assinar aquela maldita anulação.Peguei a estrada da zona portuária. Virei no beco conhecido e estacionei em frente ao La Notte Rossa, um dos bares mais discretos da máfia. Discretos, mas decadentes. Um lugar onde os homens vêm afogar seus pecados e fingir que têm controle sobre alguma coisa.Entrei sem olhar pra ninguém. O cheiro de cigarro misturado com perfume barato e álcool velho me invadiu. A música vibrava nos
Capítulo 43Ruby LuccheseO silêncio me envolveu como um manto. Encostei na porta ainda trancada, ouvindo os passos de Nicolai se afastando, cada som uma ferida mais profunda. Não havia mais gritos, apenas o eco da minha própria dor.As lágrimas estavam ali, presas, queimando os olhos, mas eu não permiti que caíssem.Porque Ruby Lucchese pode até sangrar…Mas nunca diante do inimigo.E Nicolai era exatamente isso: alguém do outro lado da linha que separa quem constrói de quem destrói.Caminhei pela escuridão do meu quarto e, depois, saí pelo corredor sombrio. Passei pela porta de Ônix, abri devagar, o suficiente para vê-lo dormindo com o gorro novo que cobria a ausência dos fios que o câncer levou. Mas não sua força. Essa, ele herdou de mim.Fechei a porta com cuidado, recostei-me na parede e fechei os olhos.Deixei que a dor me atravessasse em silêncio.Não peguei o celular. Não pedi ajuda.Alguém mandava mensagens. Vi a tela acender, mas não toquei.Eu não precisava de consolo.Não
Capítulo 44 Jade Lucchese Hoje faz seis meses que nosso pai morreu. Seis meses desde que algo em mim se quebrou. Eu era a mais nova das meninas, sempre fui a garotinha do papai. Ele me treinava, mas sabia que eu não gostava. Eu nunca tive grandes obrigações, sempre fui mais livre. Mas desde então, tudo virou um caos. Me envolvi em planos de vingança, descobri quem minha mãe realmente é... Um monstro. Ela mentiu pra mim, pra todas nós. E ainda tem a doença do Ônix. Saber que não posso fazer nada me destrói aos poucos. Ver minha irmã se auto sabotando, tentando carregar o mundo nas costas, fingindo ser forte o tempo todo, me dói. Talvez seja mesmo hora de ir embora. Viajar. Esquecer meu sobrenome... e o peso que ele carrega. Caminhei até a sala onde Ruby conversava com Safira sobre o casamento e chamei por ela. — Ruby, posso falar com você? — Claro. Pra que tanta formalid
Capítulo 45Letícia FirenzeJá se passaram alguns dias desde que cheguei ao Brasil, e aqui sou Letícia No começo, tudo parecia perfeito. O Rio de Janeiro era lindo, vivo, cheio de cores, sons e cheiros que me entorpeciam de uma forma que eu ainda não entendia. Me hospedei em um hotel de frente para o mar, e todas as manhãs caminhava pela areia como se aquilo pudesse lavar minha alma… Mas, aos poucos, percebi que nem o mar era capaz de apagar o que me corroía por dentro.Tinha prometido ligar todos os dias. No começo, cumpri. Mas, quando a voz da Safira começou a parecer distante, e os conselhos da Ruby me irritavam mais do que ajudavam, eu desliguei. Literalmente.Comecei a tomar os comprimidos com mais frequência. Dois já não bastavam. A ansiedade não passava, e a dor no peito parecia aumentar a cada nascer do sol. Eu não queria mais sentir. Não queria lembrar do Ônix e de sua saúde frágil, nem da dor que vi nos olhos de Nicolai, ou do jeito
Capítulo 46Mikail PetrovHá alguns dias, Jade não nos dá notícias. Vejo o desespero de Ruby, e confesso que estou com um pressentimento ruim. Ela saiu daqui sem seguranças — o que já era um erro —, mas prometeu dar notícias todos os dias. No início, ela ligava, trocava mensagens... depois começou a demorar dois dias, até que, há cerca de uma semana, parou de vez.Ruby tenta não demonstrar para a Safira que já está ficando maluca com os detalhes do casamento, mas eu sei que tem algo errado acontecendo. E preciso agir.— Ruby, podemos conversar?— Mikail, estou cheia de problemas. Se for sobre seu irmão, eu não posso...— Não é. Apesar de eu ainda achar que isso tudo é uma loucura... Mas quero falar sobre a Jade.— Vamos ao meu escritório.Assim que entramos, ela me olhou em desespero, perguntando:— O que houve? Você sabe dela?— Exatamente esse é o problema. Deve ter algo errado. Faz mais de u