(Terceiro mês)

A mansão parecia sombria, enquanto Gabriel estava na sala fazendo algumas anotações em seu notebook, Alice estava em seu quarto, Gabriel às vezes podia ouvir a televisão ligada em alguma série, mas era terrível ver Alice deprimida, ela era como o sol, e agora perdeu todo o seu brilho. Gabriel suspirou, ele não sabia o que fazer, a única notícia boa é que finalmente foi contratada uma nova secretária, e desse jeito uma boa parte dos problemas de Gabriel foi resolvida.

O homem deixou seu notebook de lado, não estava conseguindo pensar direito, quando foi que ele começou a sentir tanta preocupação com Alice? Isso não poderia continuar.

— Gabriel…

— Fabiano? O que foi?

— Eu só vim trazer informações sobre a nova secretária.

— Se ela foi contratada, deve ser boa, não preciso disso.

— Que bicho mordeu você?

Gabriel não respondeu, apenas revirou os olhos, ele não sabia lidar com aquela preocupação, o que diabos ele poderia fazer? O homem saiu de seus pensamentos quando Fabiano começou a estalar seus dedos na frente de seu rosto.

— O que foi?

— Você está fazendo uma careta estranha, você está bem?

— Estou sim.

— Você é meu irmão mais novo, e conheço você, então isso é mentira.

Gabriel revirou os olhos.

— Estou preocupado com Alice.

Fabiano olhou para ele surpreso.

— É, você não está bem.

— Eu não posso me preocupar com ninguém?

— Eu diria sim, se não fosse você.

— O pai dela acabou de morrer, e ela está trancada no quarto, é um grande motivo para preocupação.

— Ela não está comendo direito? Você ficou assim quando nossos pais morreram.

— Ela está se cuidando de si mesma, pelo bem do bebê, e se ela acabar ficando presa nesse luto?

— Entendi.

— Não sou bom com essas coisas, julgo que posso pedir para Letícia falar com ela.

— Tenho certeza que vai ficar tudo bem.

Apesar do luto, Alice em algum momento poderia se sentir melhor, Gabriel já estava pronto para concordar com o irmão, quando um grito alto de dor vem do andar de cima, o CEO não pensa duas vezes e mal percebe que saiu correndo e já estava entrando no quarto de Alice.

A mulher estava deitada na cama, uma expressão dolorida em seu rosto, e até algumas lágrimas caiam de seus olhos, Gabriel se aproximou e não entendeu o que estava acontecendo.

— Alice, o que foi?

— É como se fosse uma cólica menstrual, porém, muito forte, eu nunca tive uma cólica tão forte assim, será que tem algo errado?

Dessa vez, Gabriel não tinha respostas e estava começando a ficar ansioso com a situação, por sorte, Fabiano seguiu seu irmão, e ele parecia calmo.

— Fiquem calmos, os dois, isso é normal, as vezes podem acontecer da mulher sentir cólicas durante a gravidez, aparentemente é para acostuma-las com a dor, já que o parto será bem pior. — diz Fabiano.

— Eu não preciso me acostumar com dor, vou ter o bebê de forma cesária. — fala Alice.

— A gente nunca conversou sobre isso. — dessa vez, foi Gabriel que falou.

— Eu não quero sentir a dor do parto normal, por isso pensei que fosse óbvio que eu iria ter um parto cesário.

— Tudo bem, julgo que não tem nenhum problema.

Fabiano logo percebeu que Alice e Gabriel precisavam conversar, então saiu devagar do quarto e nenhum dos dois percebeu isso.

— Eu não queria ser grossa.

— Você não foi, não tem problema.

— Eu não sei o que fazer agora.

— Sei que está de luto, mas no fim, vai se sentir bem, a dor vai diminuir.

— Não é esse o problema.

Gabriel olhou para ela surpreso e curioso.

— Seu pai acabou de morrer, como esse não é problema?

Alice suspirou, a dor da cólica finalmente diminuiu e provavelmente logo vai desaparecer por completo, já era horrível ter cólica enquanto estava menstruada, mesmo estando grávida e não precisando se preocupar com sangue saindo de si, a cólica é sempre a pior parte.

— Quando meu pai faleceu, tive acesso às coisas dele, afinal sou sua única filha, não tinha muito dinheiro para me dar, mas acabei tendo acesso ao seu trabalho, algo que nunca tive, não precisava.

— Pela sua cara, julgo que você encontrou algo desagradável.

— Finalmente descobri como a gente faliu, e foi tudo graças ao meu pai, ele era viciado em drogas, gastou muito dinheiro com isso, foi por isso que ele viajou até a Nigéria, iria comprar drogas de alguém que estava lá.

— Ele gastou todo o dinheiro que tinha, apenas com drogas?

— Eu estava tão ocupada na minha vida de luxo, nunca percebi os sinais de que meu pai poderia ser viciado, como ele queria comprar drogas, ele começou a comprar peças de carro mais baratas, os carros de luxo foram perdendo a qualidade e então meu pai perdeu todos os seus clientes, e a gente faliu.

— Sinto muito por isso.

Alice apenas ficou ali, sem expressão, Gabriel não gostava disso, ele queria a mulher sorridente e cheia de vida, será que ela voltaria a ser como antes?

— Apesar de todas essas revelações, além do fato que meu pai acabou de morrer, eu não consigo chorar, sentir raiva, não sinto nada.

— Fiquei exatamente assim, quando meus pais faleceram.

Alice olhou surpresa para Gabriel, ele nunca mencionou muitas coisas sobre sua vida, afinal o CEO é um homem reservado, e, porque ele diria coisas pessoais para Alice? Quando o bebê nascer, ela vai embora.

— Você não precisa me dizer nada.

— Tudo bem, eles morreram em um acidente de avião, quando isso aconteceu, eu e meus irmãos, vendemos todos os nossos jatos particulares, não conseguimos mais entrar em um avião, quando precisamos fazer viagens, vamos de carro ou barco.

— Sinto muito por isso.

— Fiquei uns dois meses sem ter reação nenhuma, até que finalmente tudo quebrou, e chorei muito.

Alice não disse nada, apenas abraçou Gabriel, ele demorou um pouco, mas correspondeu ao abraço, e logo, Alice estava chorando, simplesmente por tudo que aconteceu.

Ela realmente já segurou o bastante, tudo que precisava agora era chorar, e liberar tudo para fora, finalmente podendo se sentir bem.