Capítulo 6

Órbita Lunar - Quadrante 390

Tempo transcorrido após o primeiro contato: 50h

Dentro do gigante espacial CICLOPE, o clima é de apreensão. Após uma parada na viagem para o recebimento de mais combustível para seus motores de correção de órbita, o satélite retoma seu deslocamento, visando localizar o paradeiro da sonda perdida Andrômeda.

A tripulação do satélite é composta por doze membros, sendo o comandante Arthur Kincaid um dos integrantes.

- Senhores, em instantes estaremos sob a influência do campo gravitacional lunar. Estejam preparados para possíveis correções de curso e altitude.

O comandante Kincaid é o que todos consideram "um velho lobo de guerra". Com uma carreira intocável na aeronáutica, após atingir a idade máxima para pilotos de combate, Arthur migrou do campo de batalha para a exploração espacial. Há três anos no comando do satélite, o veterano já se habituou a passar mais tempo no espaço do que na Terra.

- Comandante Kincaid, já estamos com o C.O.D.A. novamente na linha. Estão aguardando atualização.

- Whittaker? Kincaid reportando. – O comandante assume sua posição na ponte da nave. – Já estamos nos aproximando do destino. Nosso radar não detectou nenhuma aeronave em rota de vôo na atmosfera da Lua. Acreditamos que tenha pousado ou caindo.

- Entendido. – É o próprio Diretor Geral quem responde. – Comandante, quero que prepare o seu sistema de armas.

- O quê?! Vai querer atacar nossa própria aeronave?

Comandante, - Whittaker tenta manter a calma. Arthur Kincaid nunca saberá que essa foi a mesma reação que o Diretor teve ao receber essa mesma ordem do Secretário de Defesa Rohns, - Não sabemos quem ou o quê está pilotando aquela sonda. Só sabemos que, após sessenta anos perdida no espaço, ela retornou até a Lua. E o pior, estamos recebendo os sinais vitais de sua tripulação que já deveria estar morta há décadas. Até termos certeza do que está havendo, não vamos baixar nossa guarda.

Kincaid hesita um pouco, mas sua ética militar nunca o permitiu que fosse contra as ordens de seu superior  antes, mesmo que de um civil. Não seria hoje que ele faria isso.

- Entendido, senhor. – Tripulação, preparar sistema de armas.

A ordem percorre todos os cantos do satélite, viajando através do sistema de som. A tripulação é pequena, mas muito bem treinada. Logo abaixo da Ponte, oficiais digitam códigos em painéis, liberando e ativando o sistema de miras das armas de CICLOPE. Em questão de segundos, todo o monitor que é projetado na ponte, a partir de um sistema holográfico muda do modo "guarda" para "combate".

- Sistemas de armas ativados, senhor. - Kincaid confirma o status ao C.O.D.A. – O alvo deverá ser localizado à qualquer momento.

Enquanto o satélite orbita em torno da Lua, escanceando sua superfície em busca de Andrômeda, na Terra, todos os presentes na Sala de Controle e Gerenciamento de Crises do Comando de Monitoramento e Defesa Espacial aguardam apreensivos.

Erika, que acabara de chegar ao recinto, atravessa a sala e sem falar nada senta em sua cadeira com os olhos fixos na tela do monitor principal.

Na tela central, durante alguns instantes o sistema de mira percorre a superfície sem encontrar nada. De repente a mira trava sobre algo. Inicialmente ninguém consegue distinguir o que é. Mas após alguns segundos, o avançado sistema de mira se ajusta à distância e a qualidade da imagem é ampliada.

E ali está Andrômeda. A primeira nave tripulada com autonomia suficiente para chegar até Marte parece ter tido muitas dificuldades para pousar na superfície rochosa e irregular da Lua. Um rastro de destruição foi deixado por onde a nave se arrastou até parar. Dois dos três trens de pousos estão quebrados e, a fuselagem, rasgada no meio. O que mais impressiona, porém não é o veículo em si, mas sim o que está à frente da nave.

Uma criatura humanoide permanece de pé sobre a carcaça da sonda. Seu corpo inteiro é protegido por um traje espacial escarlate enegrecido. As pernas, braços, torso e ombros da armadura parecem ser feitos de um material metálico grosso e resistente. As articulações do explorador são recobertas por algum tipo de liga maleável, mas de resistência igualmente forte. O tamanho da cabeça é levemente desproporcional ao resto do corpo e quase some entre as ombreiras. Na face, onde em um humano haveria o nariz e a boca há apenas uma peça de proteção levemente triangular com algumas frestas por onde, provavelmente sua voz é projetada. O design da peça lembra muito a proteção de boca e nariz dos antigos elmos dos cavaleiros medievais. Um visor negro ocupa toda a metade superior da face. Na lateral do capacete, na altura das orelhas, duas pequenas antenas que, provavelmente enviam e recebem mensagens, orientando o viajante a navegar pelo espaço.

A criatura não parece ter notado a aproximação de CICLOPE, permanecendo imóvel, sobre a nave, encarando e estudando o planeta à sua frente.

- Estão acompanhando isso, C.O.D.A.?

- Positivo Comandante Kincaid. Consegue ampliar a imagem?

- Me dê um segundo, Diretor. Aí está.

Enquanto a imagem é exibida, os sensores do satélite observatório analisam cada centímetro do alvo, indicando com setas e gráficos todas as características que conseguem ler.

- O alvo possui três metros de altura e pesa aproximadamente duzentos e cinquenta quilos. O material de sua armadura é temblórium endurecido e pela sua massa corporal essa armadura é na verdade seu corpo natural, senhor.

- O quê? Está me dizendo que o esse alienígena é feito de temblórium puro?

- Isso mesmo, senhor Diretor. Sua armadura é na verdade uma espécie de exoesqueleto. Abaixo dela há indicações de presença de carbono, hidrogênio, cálcio, fósforo e potássio. Nosso visitante parece ser um tipo de vida tecno-orgânica.

Com um sinal sonoro, a última análise é confirmada pelos sensores de CICLOPE e projetada na tela juntamente de um foto e uma ficha médica.

- Senhor Diretor, rastreamos a presença de DNA humano em sua composição. Veja.

A espinha de Whittaker gela, juntamente com a de todos os presentes na Sala de Controle e à bordo do satélite.

- Não pode ser. – Erika avança dois passos em direção do monitor. – É Wade O'hara.

O jovem copiloto da sonda era um astronauta de cabelos ruivos, olhos verdes e de nariz e queixo finos. Mesmo através da sua antiga foto, é possível perceber um brilho especial em seus olhos. Um brilho de ansiedade e excitação de uma pessoa prestes a embarcar em uma viagem que prometia mudar o rumo da história humana.

O Secretário de Defesa Rohns, do outro lado do país é o primeiro a se recompor e a quebrar o silêncio.

Comandante Kincaid, passe para o modo infravermelho. Vejamos se os outros tripulantes também estão na sonda.

- É claro, senhor Secretário.

Em instantes o modo de visualização é ativado. Agora o que a lente do telescópio transmite são apenas borrões em diferentes cores. Quanto mais calor um objeto possui, mais quente é a cor que ele emite. Com exceção dos propulsores da nave, nada mais na cena emite calor. Nem mesmo Wade O'hara.

- Senhor Diretor, aguardamos instruções.

- Mantenha a sua posição e aguarde, Comandante.

- Positivo.

Após habilitar o modo "mudo" do sistema de comunicação com o satélite, Roger Whittaker emite um longo suspiro e recai sobre sua cadeira. Como Diretor Geral do C.O.D.A., ele tinha acesso a informações que quase mais ninguém no mundo tinha. Há alguns anos, o Comando já desconfiava da existência de vida alienígena no espaço, tendo inclusive interceptado algumas mensagens. Mas presenciar ao vivo o surgimento de um desses seres é algo inconcebível.

- Senhor Secretário, ainda está aí? – Whittaker esfrega os rostos com as mãos, enquanto aguarda por uma resposta.

- Estou. – No monitor da sala do Secretário de Defesa a imagem está pausada. De um lado da tela a foto dos arquivos internos de Wade O'Hara. Do outro, aquela criatura misteriosa. Ninguém tem a resposta do que fazer. - Aguardem. Vou comunicar tudo isso ao presidente. - E a conexão com a sala do Secretário de Defesa é desfeita.

Por um tempo, ninguém fala nada. O monitor transmite em tempo real as imagens captadas por CICLOPE, que mantém o foco em Andrômeda.

Whittaker se vira, a procura de seu braço direito. A Dra. Barnett está em pé, analisando as informações de Wade em um fichário.

- Me surpreenda! Me diga que você sabe o que fazer daqui para frente!

- Surpreender você, Whittaker? Depois disso? – Erika aponta para o monitor, mas seus olhos miram o Diretor.

- Eles não ensinam nada sobre isso na universidade? – O Diretor é conhecido por usar o humor e sarcasmo para aliviar situações tensas.

- Ah sim! Com certeza. Inclusive é uma cadeira eletiva. – Erika larga a pasta de documentos sobre o painel e vai até o canto da sala, onde uma mesinha com uma máquina de passar café exala um aroma que atrai o olfato da doutora. Ela volta com dois copos de café em uma mão e um punhado de sachês de adoçante na outra. – Acho que você também está precisando. – Ela estende um copo ao Diretor.

- Você leu minha mente, mas vou tomar o meu puro, obrigado.

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