Beto
Assim que chego ao salão, percebo um pequeno movimento e tenho certeza ela deve estar no escritório. Entro na recepção e respiro fundo, devo estar virando um maricas, foram apenas dois dias longe dela que, para mim, representou uma eternidade, bato duas vezes na porta e não tenho resposta, forço a mão na maçaneta e a porta se abre.
Ágata está de cabeça baixa, Paty está ao seu lado passando a mão em seus cabelos, fico estático na porta.
— Loirinha... — Minha voz sai baixa. Paty levanta rapidamente e Ág olha em minha direção e, ao invés de amor e saudade, vejo ódio e fúria em seus olhos.
— Vou deixar vocês à vontade, se precisar de alguma coisa, estarei na recepção — Paty fala e se retira, nos deixando sozinhos.
Pela primei
BetoDepois de um banho gelado, nem me dou ao trabalho de colocar roupa, visto somente minha boxer e caio na cama, as palavras de Ág me vêm à cabeça.— Por quê? Por que alguém iria fazer mal a nós... — Meus olhos são tomados pelas lágrimas, que nas últimas horas, se tornam inseparáveis, abraço o travesseiro que ela usou e seu perfume ainda está impregnado nele e choro como nunca chorei por ninguém em minha vida.Não sei se estou sonhando ou ela realmente está aqui comigo, ela está sorrindo para mim, mas de repente tudo fica negro e não consigo vê-la, fico desesperado chamando por ela e quando começa a clarear, ela está aos beijos com Ditinho. Assim que ela me vê, manda um beijo no ar e volta a beijá-lo com amor e paixão, tento alcançá-la, mas é
BetoDepois de tomar um banho demorado, coloco uma calça de moletom e assim que abro a porta do quarto percebo o quanto estava faminto, o cheiro de molho de tomate faz com que meu estômago faça barulho.— Senta para comer — ele fala assim que percebe minha presença, a mesa está arrumada para duas pessoas e no centro há uma travessa com macarronada.Sento e ficamos durante algum tempo em silêncio, o único barulho ouvido é dos talheres.— Sua irmã ligou — meu pai diz quebrando o silêncio. — Ela quer saber se podem almoçar juntos amanhã, ela estranhou seu celular estar somente na caixa postal e ligou no escritório, estava saindo quando ouvi sua secretária dizendo que não estava e parei para atender.— Amanhã cedo ligo para ela do escritório. Pai, obrigado por vir me ajudar a clarear as ideias, mas não quero arrumar confusão para você, se quiser pode ir que vou ficar bem, vou respeitar esse tempo dela, mas não vou desistir. Vo
Beto— Vim trazer o celular que você esqueceu comigo em Belo Horizonte — diz me entregando o celular com charme, querendo manter uma intimidade que não existe.— Não vai me apresentar sua... namorada, meu filho? Não foi essa a educação que eu te dei. — Era só o que me faltava agora...— Que prazer conhecer a senhora! Meu nome é Janaína e não somos namorados, somos apenas amigos coloridos, sei que a senhora me entende. — Realmente Janaína e minha mãe se merecem, mal se conheceram e já estão trocando figurinhas, Olívia está sem graça e com mil pontos de interrogação na cabeça.— Sim, já tive muitos amigos assim, sente-se e almoce com a gente, nosso prato acabou de chegar, não posso ficar muito tempo porque tenho que levar minha querida filha para a natação, mas tenho certeza de que meu filho pode te fazer companhia.— Não. Não posso fazer companhia para ninguém, se não quer que ela fique sozinha, fique à senhora com ela, par
BetoNo horário marcado chego ao Boêmia, assim que entro vejo, Alice encostada no balcão, conversando com Léo, ela acena assim que me vê.— Oi, como você está? — Alice me abraça, apesar de muita gente acreditar que nós iríamos crescer e nos casar, como ela vivia falando. Sempre a considerei como minha irmã, aquela que Rodrigo e eu defendíamos na escola e afastava os gaviões.— Sobrevivendo — falo saindo do seu abraço, estendendo a mão para o Léo, que está sério, me encarando, com certeza ele deve saber o que aconteceu.— Ana? — pergunto para ele.— Para sua sorte, dei folga para ela, hoje é aniversário do Davi, e ela queria jantar com ele, a festa será no final de semana no salão. — Sinto uma dor no peito, pois gosto muito do Davi, mas não sei se serei bem-vindo a sua festa.— Agora, abre o bico, e me conta tudo o que aconteceu — ela fala assim que sentamos.— Sempre direta — falo chamando a garçonete. — Dois
Beto— Rodrigo está organizando um casamento surpresa para Luana, ele me pediu ajuda e eu irei pedir ajuda para Ágata, que vai precisar ir para a Espanha ajudar a organizar o casamento, sem contar que ela e Luana são sócias, o que faz com que a Ágata seja automaticamente convidada para o casamento.— UAU! — Estou espantado de como ela consegue deixar as coisas tão simples. — Meu amigo vai se amarrar de vez, então? — Sabia que isso iria acontecer, era questão de tempo ver meu amigo amarrado. — E você, já pensou em tudo isso, enquanto eu te contava minha desgraça?— Claro! O que seria de você e Rodrigo sem mim? Aliás, você já comprou o presente para o nosso afilhado?— Afilhado! Nunca imaginei que um dia, nós estaríamos conversando sobre casamento, afilhados, mas como você tem tanta certeza que nós seremos os padrinhos?— Sei que somos a melhor escolha para eles — fala com um sorriso enorme no rosto. Desde que Rodrigo
— Sim, vamos. E não adianta nem começar com desculpas, já tenho tudo arranjado, me encontrei com a sua tia e com a Patrícia, elas irão tomar conta de tudo no Doce Mel enquanto você estiver fora, já estou com seus documentos e pronto! Acabei de comprar nossas passagens, portanto, só falta você arrumar as malas! — Ela fala como se estivéssemos indo passar o final de semana na praia, mas gente, é a Europa! Essa menina ficou doida de vez, acho que o cheiro de gasolina e fumaça dos carros de corrida andam fazendo mal para seu cérebro.— Você tem meus documentos, Alice?— Esqueceu que sou sua advogada? Quando arrumamos a documentação do Buffet, aproveitei e pedi para um amigo providenciar um passaporte para você também, lembra de que quando encontramos um policial lindo? Então, ele trabalha na Receita Federal e naquele dia tiramos seu passaporte.— Você não existe mesmo — digo rindo. — Por que fez isso?— Ágata, minha linda, nunca sabemos
ÁgataDepois de conferir tudo novamente, volto para o salão e vejo Davi desmaiado em um sofá, o coitadinho brincou e pulou tanto que dormiu, dona Cida abre um sorriso ao ver que me aproximo deles.— Obrigada, minha filha, ficou tudo perfeito do jeitinho que o Davi sempre sonhou! — ela diz emocionada.— Onde está a Ana? — pergunto, não vendo minha amiga por perto.— Foi pegar o carro e deixar mais próximo à entrada, esse menino tá um peso que só vendo, ele acaba com a nossa coluna.— Ele está crescendo rápido, Dona Cida, e está cada vez mais lindo!— Vamos, mamãe — Ana diz assim que chega ao nosso lado. — Obrigada por tudo, Ágata, foi tudo perfeito. Nunca vou conseguir retribuir o que você está fez por Davi.— Vai sim, e você sabe muito
ÁgataEntro no carro em silêncio, e durante o caminho não trocamos nenhuma palavra, até que eu resolvo quebrar o silêncio, assim que entramos no estacionamento do aeroporto.— Júlio?— Oi, Ág.— Como ele está?— Trabalhando muito, é o primeiro a chegar, o último a sair e está trabalhando até mesmo nos finais de semana, ele é como eu, quando tem um problema que não consegue resolver, se enterra no trabalho para distrair a mente. — Seu tom de voz é triste. — Sei que sou suspeito para te dizer qualquer coisa, mas ele mudou muito por sua causa e acho que precisam conversar, independente se vão voltar a ficar juntos ou não.Sei que eles têm razão ao me pedir para conversar com ele, mas o medo do que vou ouvir ainda é maior que o pedido deles.