Os dias no vilarejo passaram em um ritmo estranho, marcado por um equilíbrio tênue entre serenidade e tensão. Desde que Ísis e Celina atravessaram o portal, uma nova inquietação se instalou na comunidade. Era como se todos soubessem, instintivamente, que o destino do Véu estava sendo decidido muito além do horizonte visível.Elias, mais reservado do que nunca, passava a maior parte do tempo no templo. Ele estudava o mapa luminoso que o Véu projetava, tentando interpretar os padrões de luz que surgiam e desapareciam como mensagens cifradas. Algo estava mudando nas estrelas, e essa mudança reverberava em cada fibra do universo.O Enigma do VéuNaquela manhã, Elias foi surpreendido por Lúcia, a guardiã do templo, que havia retornado de uma de suas peregrinações às montanhas ao redor do vilarejo. Ela trazia consigo fragmentos de cristal encontrados em uma caverna, cada um brilhando com um brilho peculiar.— Elias, veja isso — disse ela, entregando os cristais ao sábio. — Não são comuns. E
A jornada de Lúcia e Kael atravessou muitas fronteiras, tanto físicas quanto espirituais, até chegarem ao coração da dimensão perdida onde o Véu parecia se desfazer em uma espiral de luz e trevas. O que antes era um caminho claro entre mundos, agora se tornara um abismo insondável. E no centro desse abismo, uma presença estranha aguardava.As florestas que cercavam a cidade onde Ísis e Celina estavam presas eram densas e sombrias, como se o próprio ar estivesse saturado de uma energia desconcertante. Em cada passo que davam, o chão tremia, e um vento frio soprava por entre as árvores, fazendo as folhas brilharem com uma luz metálica e opaca.— Estamos chegando perto — disse Lúcia, sentindo a mudança na atmosfera ao seu redor. Kael, em silêncio, observava o mapa luminoso, que agora parecia desvanecer à medida que se aproximavam do centro da floresta. Eles sabiam que a torre de cristal, com sua energia instável, estava mais próxima do que nunca.De repente, o chão se abriu diante deles,
A torre de cristal estava agora mais próxima do que nunca, sua luz vermelha brilhando com força crescente, como se chamasse as estrelas ao redor para se alinharem em um feixe de pura energia. A batalha que se aproximava não seria apenas física, mas espiritual, uma prova de resistência interna, onde cada ser teria que enfrentar seus próprios demônios.Lúcia e Kael permaneceram em silêncio, encarando a figura imponente do Guardião Sombrio. O ar ao redor deles estava pesado, carregado de uma energia opressiva que fazia o tempo parecer quase imóvel. Cada palavra dita pelo Guardião reverberava nos corações deles, marcando um caminho de escolhas que não podiam mais ser desfeitas.— O Véu é mais do que qualquer um de vocês pode compreender — disse o Guardião, sua voz reverberando como um eco profundo. — Ele não se refaz, nem se restaura. Ele precisa de equilíbrio, e para que esse equilíbrio seja mantido, um de vocês terá que ser deixado para trás.Lúcia sentiu o peso dessas palavras, como se
A torre de cristal havia se tornado o epicentro de uma energia imensurável, seus raios vermelhos tingindo o céu de um tom quase sobrenatural. Lúcia e Kael estavam diante de um abismo de escolhas, suas almas entrelaçadas pela mesma decisão que agora os desafiava a ultrapassar os limites do entendimento humano. O Guardião Sombrio havia desaparecido nas sombras, deixando-os com a sensação de que o tempo estava escorrendo pelas fendas do destino.A cada batida de seus corações, o Véu parecia se aproximar mais, uma força incompreensível que consumia tudo o que tocava. Lúcia sentia uma pressão crescente sobre seu peito, como se o peso do universo estivesse repousando sobre ela. A luz da torre pulsava, chamando-os para dentro, como uma entidade viva que aguardava por sua escolha final.— Eu não posso fazer isso, Kael — Lúcia disse, a voz falhando de tanta emoção. — Não posso escolher entre nós dois. Não posso condenar uma alma para salvar a outra.Kael a observava, os olhos intensos, mas ser
Era uma noite sem lua quando Daniel observava o céu. A vastidão negra parecia um manto infinito, salpicado com minúsculas estrelas, como cicatrizes luminosas no tecido do universo. Ele sempre se perguntava o que existia além do que os olhos podiam ver, além da luz das estrelas que já estavam mortas, mas continuavam a brilhar.Daniel, um jovem astrofísico em ascensão, dedicara sua vida a estudar os mistérios do cosmos. Seu fascínio por buracos negros começou cedo, uma curiosidade alimentada por teorias e especulações. Para muitos, os buracos negros eram ameaças silenciosas no universo; para ele, eram portais para algo maior.Naquela noite, algo mudou.Em meio às observações rotineiras, seus monitores começaram a registrar flutuações que desafiavam qualquer explicação conhecida. Um sinal incomum, vindo de um ponto distante, onde apenas um buraco negro colossal reinava. O nome da região era SG-103, um dos buracos negros mais antigos já descobertos, um verdadeiro monstro cósmico.— O que
As luzes do laboratório piscavam intermitentemente, refletindo o estado caótico da mente de Daniel. Ele mal havia dormido nas últimas quarenta e oito horas, obcecado pela ideia de que o buraco negro SG- cento e três estava escondendo algo que os cálculos e modelos não conseguiam prever. Era como se todo o seu treinamento científico fosse insuficiente para lidar com o que estava diante dele.O buraco negro, que antes era uma ameaça distante e misteriosa, agora parecia um convite tentador. As flutuações eletromagnéticas, os sinais enigmáticos que ele captara, ainda ressoavam em sua cabeça. Mas, estranhamente, não havia pânico em seu coração. Havia uma curiosidade insaciável, quase como se aquilo estivesse destinado a acontecer.Naquela manhã, ele se sentou com Clara, sua parceira de pesquisa e a única pessoa que parecia compartilhar, ao menos em parte, de seu entusiasmo. Clara, uma jovem cosmóloga com uma mente afiada, estava mais cautelosa. Enquanto Daniel via as evidências como um cam
O ar era pesado, quase irreal, e cada respiração parecia trazer consigo um fluxo de energia desconhecida. Daniel e Clara estavam em pé, tentando processar o que viam ao redor. Tudo era ao mesmo tempo familiar e alienígena. As florestas ao longe tinham cores que não existiam no espectro da Terra, e o horizonte se curvava de uma maneira impossível, como se o próprio espaço fosse maleável.— Isso… isso não pode ser real — disse Clara, a voz trêmula. Ela olhava para o céu púrpura com uma mistura de assombro e medo.— É real — respondeu Daniel, ainda fascinado pelo que seus olhos captavam. — Estamos em outro universo. Além do horizonte de eventos. Não é uma simulação, não é uma visão. Estamos aqui.Clara se levantou com a ajuda de Daniel e olhou ao redor. O ambiente parecia deserto, mas havia algo perturbador em sua quietude, uma sensação de que o mundo à sua volta estava apenas adormecido, esperando algo para despertar.— Precisamos entender como isso aconteceu — ela disse, sua mente já v
O silêncio que seguiu a declaração da figura era esmagador. Daniel e Clara permaneciam imóveis, seus corações batendo com força no peito. A figura à sua frente era indistinta, envolta em um brilho que desafiava qualquer definição, como se fosse composta de pura energia. Seus contornos flutuavam entre formas humanas e alienígenas, mudando constantemente, mas os olhos, ou o que pareciam ser olhos, permaneciam fixos neles, brilhando com uma inteligência ancestral.— Vocês... nos esperavam? — Clara conseguiu balbuciar, sua voz tremendo. — Como isso é possível?A figura inclinou-se levemente em sua direção, e a sensação de ser observada aumentou, como se milhares de mentes estivessem focadas neles ao mesmo tempo.— Vocês dois carregam a marca do buscador — disse a figura, suas palavras ecoando não só no ar, mas nas profundezas da mente de Daniel e Clara. — Desde o momento em que olharam para o horizonte de eventos, desde que decifraram os sinais... estavam destinados a chegar aqui. Não foi