Lindsey MartinelliUma semana havia se passado, e se eu já sabia que seria difícil conviver debaixo do mesmo teto que Kiara, agora eu tinha certeza absoluta de que muito em breve cometeria um assassinato.Um não! Dois.Pois o meu limite de paciência com a lerdeza de Levi tinha atingido um nível perigosamente baixo.Olho para minha mesa de trabalho com uma pilha de relatórios, uns para serem arquivados, outros digitalizados e enviados para alguns diretores, outros para tirar cópia para a próxima reunião. Poderia muito bem pedir que Paula fizesse isso, mas depois da última confusão, onde alguns documentos foram parar onde não deveriam, eu mesma faço essa parte. Solto um suspiro frustrado.Levanto o olhar e Paula está concentrada em seu computador do outro lado, resolvo dar uma volta para dissipar um pouco a tensão. Eva parece sentir minha inquietação, pois não para de se mexer.— Paula, eu vou à copa tomar uma água e já volto — aviso.— Posso ir buscar se quiser — oferece prestativa.—
Lindsey MorganNos dias que se seguiram, todas as manhãs ela aparecia decentemente vestida, ou eu não a via. Acho que ela esperava que saíssemos para o trabalho para só então sair do quarto.Questionei Levi sobre o fato de ela ter insinuado que dormiu na cama dele e ele contou que um dia quando estava em viagem, ela apareceu no país sem avisar e acabou se instalando no quarto dele, segundo ele, ela achava que não tinha nenhum mal e que ele não se incomodaria, já que estava fora.Ruanita confirmou dois dias depois a história. Sem que eu perguntasse, ela começou...— Sobre aquilo que a insuportável falou outro dia... — assustada colocou a mão na boca. — Desculpe. A Srta. Martinelli...— Insuportável mesmo — falei sorrindo, ela me acompanhou.— Pois então, ela apareceu um dia quando o Sr. Martinelli não estava em casa, com aquele nariz em pé, dando ordens, parecia a dona da casa. Ficou no quarto dele, mas quando ele chegou, a tirou de lá e disse que ela tinha acesso livre a casa, menos a
Momentos antes...Levi MartinelliEm geral eu apreciava que tudo estivesse em ordem, gostava de tranquilidade. Sou pragmático, admito. Abri mão disso quando mia bella entrou em minha vida como uma furação, muito bem-vindo, aliás. Eu não me via de outra forma agora. Não depois dela, depois que experimentei o caos, depois que deixei que ela tomasse conta do meu mundo e tinha gostado muito disso.Ela é uma mulher com muita personalidade, temperamento forte, e, isso ficou bem evidente nessa última semana.A chegada de Kiara acabou mexendo com a gente, com a nossa rotina e de alguma forma vem afetando nosso relacionamento.Tudo isso era uma droga.Eu me sentia frustrado com o rumo que as coisas estavam tomando. Sentia meu estômago queimar ao ver o olhar frio de mia bella em minha direção. Era terrível saber que a tinha magoado ou não suprido alguma expectativa sua. Meu desejo era sempre vê-la bem.Mas o que eu poderia fazer? Não conseguiria conviver com a ideia de dar as costas a alguém qu
Lindsey MartinelliLevi continuou me olhando de forma longa e penetrante, parecia escolher com cuidado as palavras que diria a seguir. Tentei me manter impassível, sem demonstrar nenhum sentimento."Por que ele não diz logo alguma coisa e para de me olhar?" — pensei.O tempo pareceu parar, eu já não estava mais suportando seu olhar examinador, nervosa, tento me concentrar e quando penso em dizer algo, ele quebra o silêncio.— Então foi aqui que resolveu se esconder... — eu não estava preparada para aquelas palavras.— Esconder? — cortei sua fala, subitamente trêmula, soltando a respiração que nem havia percebido que estava presa. — Não estava me escondendo coisa nenhuma, vim para ter um pouco de paz.— Bem, isso não importa. Quero saber como você teve coragem de colocar sal no suco de uma pessoa que está com problemas cardíacos? O que pretendia? — seu tom é acusatório.— Então é isso — levanto, respirando fundo, reprimindo a vontade de chorar. — Mais uma vez o cavalheiro em armadura b
Lindsey MorganAs horas foram se passando e quando dei por mim, já estava bem adiantada, apesar do sol ainda brilhar no céu, pois nessa época do ano só anoitece quando já é bem tarde.— Foi muito bom conversar com você, Daniel, mas, eu preciso ir — digo me levantando em um impulso, a perna um pouco dormente.Eu tinha que voltar, não sabia exatamente o que faria, mas uma coisa era certa, precisava voltar e enfrentar tudo o que me esperava. Pensar nisso trouxe novamente uma tristeza ao meu coração.— O prazer foi todo meu, Lindsey. Cuide-se e desse neném também.— Pode deixar. Onde tem um ponto de taxi por aqui?— Ali do outro lado. Vamos juntos, também vou para o lado de lá. Tenho que voltar ao trabalho, ou o chefe — faz um gesto de faca cortando o pescoço com a mão. — E farei uma cirurgia em... — ele olha o relógio. — Vinte minutos.Começamos a caminhar e quando penso em todo desgaste que vou ter pela frente ao topar com Kiara quando chegar ao apartamento, me sinto angustiada. Tomara
Levi MartinelliSeguindo o conselho de Ferrell, comprei chocolate meio amargo, os preferidos dela e flores, como estamos na primavera, tem uma variedade enorme delas, optei por tulipas brancas, que segundo a florista, está associada a um novo começo. Era justamente o que eu queria com mia bella. Zerar tudo e recomeçar, ela disse também que esse tipo de flor é um símbolo de paz, tudo que estamos precisando nesse momento.Assim que entro no apartamento, estranho o clima. Sempre que ela vinha mais cedo para casa, quando eu chegava, encontrava um aroma de alguma receita impregnando o ar, as luzes todas acesas, flores novas nos vasos, conferindo ao ambiente, antes estéreo e masculino, um ar feminino e acolhedor. Agora, a sala encontrava-se na penumbra, parecia fria e vazia.Deixo a chave em um vaso raso no aparador e sigo para o corredor que leva ao quarto, mas antes, entro na cozinha e vou até a área.— Oi garoto — falo com Picollo que está deitado. Ele abana sua cauda para mim, mas não s
Momentos antes, no hospital...Lindsey MartinelliPisco os olhos tentando me situar. Sinto um desconforto em meu braço, quando consigo focar a vista, vejo que tem um acesso intravenoso em cima da minha mão esquerda.— Que bom que acordou — diz uma voz grave. Espera aí, já ouvi essa voz.— Daniel? — se ele é real, significa que todas as outras coisas também são. Meu Deus... — Meu bebê...— Calma, vocês estão bem.— O que aconteceu? — pergunto tentando me sentar, ele me ajuda.— Você teve uma queda de pressão e somado a isso, palpitações, precisa ficar o mais relaxada possível — a outra lá com problemas do coração e eu que tenho palpitações? Quanta ironia, penso. — Os exames apontam uma baixa na glicemia, por isso o soro.— Há quanto tempo estou aqui?— Umas duas horas aproximadamente. Tentamos contatar seu contato de emergência, mas não obtivemos sucesso.Taylla! Ela está numa conferência importante hoje.— Vou chamar uma amiga — digo. Penso em Kate, mas descarto, ela tem um filho pequ
Levi MartinelliDepois que eles saem, ficamos nos olhando um tempo, até que me aproximo bem devagar. Tenho certeza de que ainda está brava.— Como você está?— Agora estamos bem — sua voz é baixa.— O que aconteceu? — pergunto me sentando na beirada da cama.— Eu... Eu tentei ficar calma — murmura ela.— Não estou culpando você, jamais faria isso, mia bella. Se alguém tem culpa, sou eu mesmo. Kiara...— Não quero falar sobre isso agora — fecha os olhos recostou-se no travesseiro.— Tudo bem. Não quero estressá-la — digo e mudando de assunto, falo. — Quando terá alta?— Ainda não sei, estou esperando o médico vir me reavaliar.Nesse momento um médico jovem entra na sala, em seu rosto, um largo sorriso.— Como está minha paciente preferida? — o quê? Que intimidade é essa com minha mulher. Levanto-me e ele chega junto dela. Olho para Lindsey que dá um sorriso sem jeito. — O senhor deve ser o marido — dirige-se a mim.— Eu mesmo, Levi Martinelli — apresento-me.— Daniel Michaels — estende