Capítulo 01

Katellyn Welsh

Abro os meus olhos lentamente, estou totalmente desperta, mas continuo deitada, aproveitando mais alguns instantes em minha cama quentinha, antes que a minha mãe apareça na porta do meu quarto, chamando-me, esse é o nosso ritual de todos os dias.

— Querida acor... Ah, já está acordada? Que bom — fala em tom de ironia. — Assim poupa-me um pouco de trabalho.

Falando nela... Minha querida e linda mãe entra em meu quarto. Eu trato logo de me defender.

— Mamãe, eu não lhe dou trabalho para acordar, só para levantar — falo sorrindo, sento-me, recostada em minha cabeceira. — Clhoe já acordou? — pergunto por minha irmã caçula que demora tanto quanto eu para levantar.

— Já está se arrumando para tomar café, e ande logo, está um lindo dia lá fora — mamãe apressa-me, fico observando seu vai e vem, caminhando pelo quarto recolhendo algumas peças de roupa e colocando tudo em um cesto. — Sim... — diz, indo em direção à porta. — A Nicole já ligou querendo falar com você — fala saindo do quarto.

"Qual o problema dessa garota?! Parece que acorda com as galinhas." — penso.

Sempre foi assim, somos amigas desde que me lembro, assim como nossas mães, e toda vez que eu ia dormir na casa dela ou ela aqui em minha casa, era a mesma coisa, pois ela ficava chamando-me, e eu querendo dormir mais um pouco, sempre gostei muito de dormir, admito.

— Vou tomar meu banho e desço! — respondo quase gritando, porque minha mãe não está mais aqui. 

Corro para tomar logo meu banho e fazer minha higiene. Entro no banheiro, e vou logo ligando o radinho que mantenho ali. A música Marshmallow ft. Bastille - Happier  preenche o ambiente e eu sorrio, amo essa canção. 

Apresso-me, antes que a minha mãe venha me chamar de novo, não quero chateá-la, visto que estou querendo muito ir ao passeio de formatura do colégio e se estressá-la vai ficar difícil de convencê-la a me deixar ir.

Esse ano, talvez por ser o último do colegial, foi bem puxado, me dediquei com muito afinco para ficar com as melhores notas e entre os primeiros da turma.

A noite passada houve uma homenagem bem singela aos formandos, no ginásio do colégio, já que não teríamos baile.

Moramos num bairro tranquilo da cidade de Calgary, província de Alberta no Canadá. 

Calgary é uma cidade grande com cara de interior, mas apesar disso, é animada e oferece uma grande variedade de atividades ao ar livre, fica há uma hora de distância das montanhas rochosas canadense, com uma vasta extensão de natureza intocada, agora estamos no verão e eu amo essa estação, que nos proporciona um clima leve e agradável. Isso sem falar na exuberância de cores para todo lado e um maravilhoso sol, que aparece lindo e majestoso em quase todo o ano, mesmo em outras estações. O inverno geralmente é longo e gelado, mas até isso eu gosto. Gosto de todas as estações na verdade, aqui elas são bem definidas e cada uma tem o seu encanto.

Exatamente por ser verão, toda turma optou por um passeio de quinze dias, uma espécie de acampamento com todo tipo de atividade num local lindo, bem próximo às montanhas rochosas, em vez de termos o tradicional baile. Eu achei maravilhoso, o problema é conseguir a autorização dos meus pais para ir...

Eu já tentei introduzir o assunto desse passeio com mamãe algumas vezes, mas não recebi nenhuma resposta positiva para continuar. Minha mãe é muito protetora em relação a mim, porque ela tem medo que aconteça comigo o mesmo que aconteceu a ela.

Quando tinha minha idade, no último ano do colegial, ela conheceu um cara e se apaixonou perdidamente. Acabou entregando-se a ele, e o fruto dessa entrega resultou em minha pessoa. Meu pai não quis assumir sua responsabilidade, e sem o apoio de meus avós, ela teve que ser mãe e pai ao mesmo tempo, dividindo-se entre cuidar de mim e um emprego para nos sustentar. Seu único apoio foi à tia Melanie, mãe da Nick, que muitas vezes cuidava de mim para mamãe poder trabalhar.

Nos meus dezessete anos de idade, eu nunca conheci o homem que me gerou. Eu sempre soube que o Mike era o meu pai do coração e por muitas vezes, quando era menor, perguntava por meu pai biológico. Mamãe nunca gostou de tocar nesse assunto, nós nunca chegamos a ter uma conversa de fato sobre isso. Ao longo dos anos, ao perceber que ela se aborrecida e por vezes ficava triste, pouco a pouco fui deixando de perguntar, até não mais me lembrar dele. Ele nunca fez falta mesmo, e o Mike sempre foi muito carinhoso e atencioso comigo.

Depois do que aconteceu com meu pai biológico, minha mãe fechou-se para o mundo, e não quis mais ter nenhum tipo de relacionamento, até que o Mike apareceu em nossas vidas, eu tinha uns quatro anos e pelo que sei da história deles, deu trabalho para o Mike conquistá-la, mas, persistente, ele conseguiu, e desde então, estão juntos.

Somente alguns anos depois que ela e o Mike estavam juntos, e com o incentivo dele, que ela conseguiu graduar-se e hoje trabalham juntos. Mamãe trabalha como sua assistente na empresa e por meio período, na outra parte do dia ela fica comigo e os gêmeos, sempre foi assim. 

Agora, devido a essa grande desilusão, vive com medo, tentando proteger-me e querendo evitar que eu viva num mundo cheio de rapazes que querem aproveitar-se de "garotas inocentes" como eu.

Quem vê a mim e o Mike juntos, não diz que ele não é meu pai de sangue, pois, somos muito parecidos fisicamente e no temperamento também, pareço-me mais com ele do que com minha própria mãe.  

Ele é o pai dos meus irmãos, os gêmeos Clhoe e Jeffrey, que chamo carinhosamente de Nina e Jeff, agora eles estão com 13 anos, nem os meus irmãos se parecem com ele, eles puxaram a minha avó materna, a qual nós conhecemos apenas por foto.     

Assim que os gêmeos nasceram, ele também me registrou como sua filha. O Mike é o melhor pai do mundo na minha visão, eu o amo muito.

Tanto ele, quanto mamãe, sempre foram muito participativos em tudo que diz respeito a nós três. Eles não perdem os momentos importantes de nossas vidas, sempre assistem as apresentações escolares, eventos esportivos e cerimônias de algum concurso ou premiação dos quais participamos, foi assim comigo, a minha vida toda, e continua com os gêmeos. Ontem fiz um agradecimento especial a eles, minha família.

Falando no meu pai, estou quase apelando para o Mike, para ver se ele me ajuda com a história do passeio, porque, poxa, estou muito a fim de ir.

A comemoração de conclusão do colegial é meio que um marco, é um ciclo que se fecha e outo que se inicia, estou muito ansiosa. Quase todo o colégio vai e eu não queria ficar de fora, até a minha amiga Nick, já conseguiu a autorização dos pais! O problema é que o Mike é tão protetor quanto minha mãe, mas, ele é mais flexível, sem sua ajuda não sei o que vou fazer.

De banho tomado e, vestida confortavelmente, preparo-me para sair do quarto, mas resolvo arrumar minha cama antes de descer. Olho ao redor, e observo que este quarto já não condiz com a garota que sou hoje, tudo rosinha, igual quando eu era pequena, preciso falar com mamãe para trocar a decoração por algo mais moderno e menos menininha.

Desço às escadas e encaminho-me em direção a cozinha, observo que estão todos à mesa, sentados, só falta a minha pessoa.

— Bom dia! — falo alegremente, meu pai logo responde.

— Bom dia, minha princesa, dormiu bem? — meus irmãos não dizem nada, entretidos no celular e minha mãe no fogão vai logo perguntando:

— Vai querer o quê? Seus ovos mexidos de sempre?

— Sim mamãe, por favor. Dormi sim, papai —  respondo, e logo em seguida pergunto. — Chegou alguma correspondência para mim?

— Não querida, apenas aquelas duas que você nem abriu ainda — mamãe fala, referindo-se às cartas das duas universidades que chegaram.

— Nem vou abrir — digo, pelo menos por enquanto, penso — Estou esperando uma que para mim é mais importante do que essas que chegaram — falo distraída.

— E se tiver prazo? E se você não foi aceita? Não tem nem ao menos a curiosidade de saber do que se trata? — minha irmã pergunta, se pronunciando pela primeira vez, e todos ficam esperando minha resposta.

Pego o prato que minha mãe me oferece e respondo.

— Tenho quase certeza que fui aceita nas duas, porém, não são minha primeira escolha — digo tranquila. — E ainda estou esperando a Nick receber as delas.

— Como sabe que ela ainda não as recebeu? — Clhoe insiste. Olho para ela de cara fechada e respondo.

— Nina, simplesmente porque combinamos de abrirmos juntas, e ela ainda não me falou de nenhuma carta que tenha recebido, e eu não quero deixá-la triste, porque recebi as minhas e ela não.

— Isso é muita idiotice de vocês duas — meu irmão fala sem desviar os olhos do celular. — E se ela estiver fazendo o mesmo que você? — diz agora me encarando. — Escondendo o jogo para não magoar seu pobre sentimento?

— Olhe o deboche rapaz — meu pai o repreende e continua. — Largue esse telefone e tome seu café direito — e virando-se para mim, diz: — Seu irmão tem razão — olha-me sério.

Minha mãe não diz nada, fica apenas observando, mas sei que também não concorda.

— Vou pensar nisso! — digo e emendo, mudando de assunto. — Mãe vai precisar de mim agora pela manhã? Eu estava querendo ir ao clube com a Nick — ela tinha deixado uma mensagem no meu celular, dizendo que estaria lá.

— Não, querida, pode ir — responde se levantando. — A Sara chega já, os filhos viajaram e ela resolveu vir passar o dia por aqui para me ajudar com a casa e com o almoço.

— Por favor, me deixa ir também, por favor, por favor, por favor... — Clhoe implora olhando para mim. Olho para minha mãe que faz um gesto positivo com a cabeça e eu respondo. — Tudo bem, vá se trocar que eu só vou escovar os dentes. Não demore ou vou sem você.

Ela sai em disparada, escada acima, saltitando feliz da vida. Nem parece que já é uma pré-adolescente, por incrível que pareça, o Jeffy é mais maduro do que ela. Sempre na dele, centrado em suas palavras e atitudes.

— Estou de saída, então se quiserem carona, apressem-se — meu pai fala quando estou subindo às escadas.

— Queremos sim, pai, desço em cinco minutos.

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