O despertador toca pela milésima vez e, infelizmente, tenho que levantar. Bato com força nesse aparelhinho irritante e sento na cama bocejando. Hoje é o meu primeiro dia de aula na escola e eu não estou com um pingo de vontade de ir.
Sabe quando você tem vontade de praguejar tudo em plena segunda de manhã? Ok, vou ter que engolir essa vontade, pois não quero decepcionar o recomeço maravilhoso da minha mãe nessa cidade esquisita.
Como minha mãe consegue estar empolgada nessa cidade sem graça?
_Julie! Filha!_Ouço ela berrar._Café está na mesa. Desce logo, garota!
_Já vou, mãe!
Tomo um banho rápido, coloco o uniforme e prendo o cabelo em um rabo de cavalo. Logo estou sentada à mesa devorando salada de fruta com granola. Minha mãe cantarola enquanto lava alguns pratos e eu permaneço calada até o fim da refeição. Ela pega minha tigela suja e lava me mandando ir logo para não me atrasar. Escovo os dentes e termino de me arrumar. Antes de sair pra pegar o ônibus, minha mãe me interrompe.
_Presta atenção, Julie, seja simpática. Faça amigos, se enturme. A cidade é muito agradável e qualquer coisa fora do comum me conte. Boa aula.
Eu assinto e ela beija minha cabeça. Tenho 17 anos e minha mãe ainda me trata como um bebê mijão. Vou até o ponto de ônibus e logo o mesmo surge. Sento na última cadeira, no lado da janela. Coloco os fones de ouvido e sintonizo numa rádio só de música clássica. Eu gosto de ouvir esse tipo de música pela manhã. Serve pra me acalmar e eu não ter vontade de matar pessoas. Vi que pouco depois da parada onde embarquei, três garotos subiram fazendo o maior barulho. Eles não tinham o porte físico de um adolescente comum, pareciam malhados e atléticos. Desviei o rosto e segui até a escola apenas observando a paisagem.
Todos desceram do ônibus e seguiram seus rumos. Eu, perdida e sozinha, me dirigi até um quadro onde continha informações sobre as turmas. Vi que minha primeira aula será de história e gostei. Logo segui diretamente para a sala onde acontecerá a aula. Sento no fundo, perto de uma comprida janela. Logo as pessoas foram preenchendo os lugares e isso me incomodou um pouco. Eram muitas pessoas desconhecidas, não gosto de ficar perto de quem não conheço.
_Oi, sou Anne._Ouço a voz de alguém muito perto._Você é novata. Qual o seu nome?
Encaro uma loirinha de olhos cor de mel e sorriso amigável no rosto. Ela está sentada ao meu lado e tem uma mão estendida para mim. Ok, vamos fazer amizade.
_Oi, sou Julie._Aperto sua mão._E sim, sou novata.
_Olha, não se assuste com a quantidade de pessoas. Isso é muito dependente de qual aula será._Ela continua sorrindo._Seja bem-vinda, Julie.
_Obrigada.
Ela sai e vai falar com outras pessoas. Ok, isso não foi tão terrível assim. Percebo que a sala está praticamente lotada. Abro o caderno e começo a rabiscar qualquer coisa. Sempre gostei muito de desenhar. Um burburinho se instala no ambiente e então eu vejo os mesmos garotos do ônibus entrar na sala. Eles chamam a atenção de quase todos na sala. Volto a rabiscar e logo a professora entra na sala.
_Bom dia, turma. Preparados para o ano mais corrido e atarefado de suas vidas?_Ela fala bastante alto.
Bufei em sinal de frustração e abri a apostila que nos é entregue no ato da matrícula. Vamos estudar né?
•••
Era hora do intervalo, eu não tinha nada pra fazer. Estava preparando meus fones para escutar música quando a Anne se aproxima.
_Ei, não fique aqui dentro. Vem, vamos comer alguma coisa._Ela praticamente me puxa e eu vou._É muito tedioso se isolar, garota. Você não tem vontade de conhecer pessoas?
_Não...
Ela tomou minha resposta como uma piada e riu. Talvez as pessoas daqui sejam loucas ou eufóricas demais. Só sei que normais não são. Ela me puxou até a cantina e depois de me empurrar várias comidas, sentamos para comer.
_A Karolla faltou hoje, mas saiba que ela é pior do que eu._Ela diz e abocanha uma coxa de frango.
Eu sorrio meio forçadamente e tomo meu iogurte. Quem, às 10:30am, come coxa de frango mal passada? Ok, eu vou me acostumar.
_Julie, espera um pouco. Meu irmão está me chamando.
Ela enxuga as mãos em um guardanapo e sai apressada. Dei de ombros e mordi uma maçã. Acho que posso me acostumar com as esquisitices das pessoas daqui. É, posso. Logo ela volta e senta no mesmo lugar.
_O idiota do meu irmão quis saber quem você é. Cuidado com ele._Ela me olha nos olhos._É o maior babaca com novatos.
_Devo me preocupar?_Perguntei quase mijando na roupa.
_Um pouco..._Responde sem graça._Mas ele não vai te machucar.
Assinto e realmente fico com medo. Olhei rapidamente em volta, mas não sei quem é o irmão dela. Também não ousaria pedir pra ela me apontar quem é. Comi e depois fui até o banheiro. Anne seguiu para a sala e eu fui conhecer um pouco da escola. Entrei na biblioteca e me assustei com o tamanho e a quantidade de livros. O emblema da escola é um lobo uivando pra lua em cima de um penhasco. Talvez essa cidade tenha muitos lobos ou quem criou esse emblema gostasse de lobos ou... Ok, tô viajando. Mas é um bonito emblema. Passo os dedos nos livros pensando no quanto vou ler e me divertir nesse lugar. Paro em frente a imensa estante só com livros de literatura e admiro.
_Você sabe ler, novata?
Uma voz forte, grave e um pouco tenebrosa ecooa na biblioteca. É, ele me achou. Devo fingir desmaio?
^^
Abro os olhos sentindo uma senhora dor de cabeça. Ontem acabei exagerando um pouco na bebida. Não gosto de álcool, mas queria comemorar. Não é todo mundo que consegue domar seu lobo na segunda transformação. Toda escola sabe disso e me reverencia como mereço. Gosto disso.Tomo meu banho, me arrumo e desço pra ir à escola. Sempre tenho que esperar a chata da minha irmã. Ela insiste em passar mil rebocos no rosto pra ir à escola. Quem passa tanta coisa pra ir estudar?_Vamos, Kalel. Tô pronta.Nossa mãe ainda está dormindo e nosso pai, na condição de alfa, as vezes precisa viajar. Ainda aguardo meu tão sonhado presente, meu carro. Como isso ainda não é possível, partiu busão._Não bate a porta, Annelise._Grito com minha irmã tapada._A mam&atild
Acho que o destino resolveu cooperar com o que eu disse. Permaneci de costas e comecei a me sentir mal. Meu corpo começou a tremer e a suar. Ele torna a falar algo e eu já não ouço. Me viro para pedir ajuda, mas minha mente apaga muito rápido.•••Ainda de olhos fechados, escuto pessoas falando ao meu redor. Resolvo abrir os olhos lentamente e vejo a Anne._Ei, que susto!_Ela quase grita._Você tá legal?Olho em volta e vejo uma mulher me observando. Pela roupa, acho que é médica ou enfermeira. Sento na cama onde estava deitada e toco na minha cabeça._Olá, Srta. Becker. Sou Paola, enfermeira responsável pela enfermaria da escola. Você está sentindo algo?_Não, nada demais. Só estou aérea._Minha voz sai baixa._Posso voltar pra aula?_Já acabou as aulas, sua tontinha._Anne me entrega a minha mochila._Vamos, eu te a
Em meus braços, ela tremia levemente e suava muito. Mesmo assim seu rosto parecia sereno e angelical. Esse cheiro dela é...Droga!Coloco-a no chão e vou atrás da minha irmã. Aviso que encontrei a novata no chão da biblioteca e a mesma corre até lá. Me dirijo até o banheiro e encaro meu reflexo._Você precisa olhar nos olhos dela, seu idiota. _Tauro praticamente grita dentro de mim._Se ela for..._Não é, seu lobo idiota. Não é. Mas vou olhar pra você entender de uma vez por todas.O meu estado de recusa chega a ser desesperador. Ela é muito... Não sei. Ela só não pode ser quem eu penso. Ela não será. Volto pra sala e sigo assistindo as aulas. Na saída, encontro Zac e Jack me esperando._A novata desmaiou. Você tem algo com isso?_Zac pergunta parecendo aborrecido._Você sabe que não. Eu não machuco mulheres. Só se elas pedirem._Tento soar engraça
Voltei pra casa, mas não cheguei antes do meu pai. Ele estava conversando com alguns homens na frente de casa. Passei direto e fui pro meu quarto. Fiquei o resto da noite pensando no que fazer e acabei adormecendo.•••No ponto de ônibus, minha cara não era das melhores. Não quis papo com ninguém. O ônibus chegou e de longe senti o cheiro da maldita. Eu vou persegui-la até ela assumir o caso do meu pai com a mãe dela porque claro que ela sabe. Annelise correu pra perto dela e eu apenas esperei chegarmos na escola. Não contei nada pra Annelise, não enquanto eu não tiver prova._Você está esquisito._Jack bate com um caderno no meu ombro._O que aconteceu? Está apaixonado?_Você tá louco?_Empurro o mesmo com muita força faze
Eu pensei que meu dia iria ser tranquilo. Que eu assistiria minhas aulas, faria novas amizades e iria me adequando lentamente à essa cidade estranha.Que idiota sou eu!Que idiota é o irmão da Anne!Ele simplesmente fez do meu dia um inferno. Além de jogar meu tênis em cima do armário me fazendo perder a aula de educação física, ele também amassou todo o meu cadeado me impossibilitando de ter acesso ao que guardei. Se não fosse a Anne, nem sei como pegaria o material pra aula de inglês. Karolla e Anne foram pra aula de economia doméstica e eu segui pra sala onde a professora de inglês já estava. Vi que ele chegou logo depois. Ele deve ter tanto ódio de mim que nem para os meus olhos ele olha. Agora uma coisa me incomoda: por que tanto ódio e perseguição? Será ele um psicopata?Com a sua chegada, o mesmo cheiro que incendiou o ônibus hoje cedo retornou. É dele. É tão bom, tão novo. Nem parece que um idiota como
Ele não podia ter feito isso comigo. Tauro não podia. Ela é dele. Ela é minha. Droga.E agora ela simplesmente correu, fugiu. Esse papel era meu, eu que rejeitaria sua presença ao meu lado, mas foi ela que me rejeitou. Eu não queria, mas tudo me incitava a correr atrás dela. Lentamente Tauro foi me ajudando a melhorar e na primeira oportunidade que tive, corri. Saí seguindo seu cheiro e o mesmo ficou mais forte no banheiro feminino. Caminho até lá, mas logo fui impedido por Annelise._Eu vou ajudá-la. Sai daqui, vai pra casa. Tenho certeza que ela não quer te ver._Sabia que ela..._Sim, ela é sua. Do Tauro, como queira._Ela me empurra._Só um idiota que nem você não percebeu. Vai, Kalel. Vai embora. Agora.Pisquei os olhos algumas vezes e dei a volta. Ainda vi Annelise carregando Julie nos braços em direção à enfermaria. Sigo até o bar da cidade; preciso beber. Eu me recuso a pensar qualquer co
Abro os olhos vagarosamente sentindo como se pesassem toneladas. Acho que escutei a voz do Kalel, mas com certeza foi a minha mente pregando peças. Dói minha cabeça, dói meu corpo, dói meu coração. Estranhamente ele dói muito._Julienn!_Ouço a voz da minha mãe acompanhada do seu toque._Você está me ouvindo? Fala comigo, filha.Ajeito-me na cama sentindo o cheiro de Kalel. Que droga de brincadeira é essa? Encaro minha mãe e ela está chorando. Muito. Ela tem muito a me dizer e parece disposta a isso._Eu estou com muita fome, mãe. Depois de saciada, eu necessito ouvir toda a verdade._Enxugo suas lágrimas._Por favor, diz que tem comida.Ela sai praticamente correndo do meu quarto e eu fico perdida nas lembranças. Minha mãe adormeceu todas as minhas lembranças da infância. Da vida que tive aqui nessa cidade. Meu pai não morreu de câncer, eu conheci meus avós..._Trouxe frutas, pães, sopa. Tudo que
Chegamos faz uns 15 minutos e já estou segurando um copo de alguma bebida cítrica. Não sou de beber. Na verdade é a primeira vez que bebo e está sendo bom. Karolla foi falar com algum garoto, Annelise foi atrás do dono da festa para me apresentar e eu estou plantada no meio de toda a multidão. Literalmente plantada pois meus saltos estão enterrados no solo do jardim._Oi._Ouço uma voz masculina e acabo me virando pra saber de quem era._Sou Zac, prazer._O amigo de Kalel. Oi._Aperto sua mão que está estendida._Não leve isso em consideração. Não sabia de nada do que ele fez com você até pouco tempo. Não conclua que sou igual a ele por ser amigo dele._Ele dá um sorriso tímido revelando bem seu ponto forte._Você está bem?_Me acostumando com tudo, mas muito bem._Dou um gole na bebida e sorrio._Você me parece legal. Espero que não esteja se aproximando de mim pra espionar minha vida pro seu amigo._Ele arregala os