Eu pensei que meu dia iria ser tranquilo. Que eu assistiria minhas aulas, faria novas amizades e iria me adequando lentamente à essa cidade estranha.
Que idiota sou eu!
Que idiota é o irmão da Anne!
Ele simplesmente fez do meu dia um inferno. Além de jogar meu tênis em cima do armário me fazendo perder a aula de educação física, ele também amassou todo o meu cadeado me impossibilitando de ter acesso ao que guardei. Se não fosse a Anne, nem sei como pegaria o material pra aula de inglês. Karolla e Anne foram pra aula de economia doméstica e eu segui pra sala onde a professora de inglês já estava. Vi que ele chegou logo depois. Ele deve ter tanto ódio de mim que nem para os meus olhos ele olha. Agora uma coisa me incomoda: por que tanto ódio e perseguição? Será ele um psicopata?
Com a sua chegada, o mesmo cheiro que incendiou o ônibus hoje cedo retornou. É dele. É tão bom, tão novo. Nem parece que um idiota como esse usa um perfume que transmite paz e boas sensações. Muito antes da professora começar sua aula, ele cai e parece sentir dores. Rapidamente muita gente fica em torno dele e eu, como boa curiosa, vou também. Parece que ele quebrou algum osso, assim, do nada. Deve estar doendo muito. Aproximo-me dele para saber se o mesmo está consciente.
_Ei, você está bem?
Ele não responde. Seguro em seu rosto e me aproximo para saber se ele está respirando. Seu cheiro de perto adquire um tom diferente. De repente ele abre os olhos e uma forte corrente passa pelo meu corpo. E sem querer, acabo falando o que nem eu entendi. E pior, ele também falou algo esquisito.
_Minha.
_Meu.
Ele me olha confuso e eu recuo me afastando. Ele parece querer se aproximar e se afastar ao mesmo tempo. Acabo saindo da sala às pressas. Minha cabeça começou a doer muito, muito mesmo. Comecei a enxergar as coisas muito turvas e embaçadas. Me apóio em algo que parece ser uma pia. Devo estar no banheiro. Lentamente meu corpo vai amolecendo e eu vou deitando no chão. Não chego a desmaiar, estou com os olhos bem abertos e fixos na parede, mas não tenho forças de sair daqui. De repente, juntamente com um forte tremor no corpo, imagens invadem meus pensamentos. Ou melhor, lembranças.
Lembrança on:
Tudo parece tão confuso. Mamãe chora sem parar e me abraça a todo momento. Eu não sei o que aconteceu, mas o papai não voltou desde ontem. Um amigo do papai está aqui conversando com a mamãe. O filho dele também veio, mas ele parece mal, com raiva. Nem comigo ele fala.
_Temos que ir atrás deles, Janine._O amigo da minha mãe repetia direto._Você vai arriscar deixá-los livres e sem punição?
_Eu vou embora com a Julienn. Eles vão querer matá-la se eu ficar nessa cidade._Vamos embora? E o papai não vai?_É melhor pra ela viver longe disso tudo. Tentarei protegê-la do seu lado sobrenatural o máximo que eu puder.
_Você vai fazer isso com a sua filha, Janine? Fazê-la acreditar que é igual a todos quando ela não é? Isso é um erro, o Paulo não iria querer que...
_O Paulo tá morto, Kaio!_Minha mãe berra me assustando e depois vira pra mim.
_O papai tá morto? Mamãe, cadê o papai? Morto?_Sinto as lágrimas tomarem conta do meu rosto._PAPAI! PAPAI! PAPAI!
Lembrança off.
Meus olhos novamente focam na parede, mas não com a mesma exatidão de antes. Eu estou chorando. As lágrimas borram minha vista. Outro tremor passa pelo meu corpo e mais uma vez lembranças chegam de surpresa.
Lembrança on:
Pedi por tudo pra mamãe me deixar ver meu pai, mas ela disse que ele tava doente e descansou. Ele não estava doente. Brincamos de pega-pega normalmente e eu sei quando ela mente. Nem vovó e vovô ela deixou eu ver. Agora ela está me puxando em direção ao carro onde já colocou minhas malas dentro.
_Mãe? Eu não quero ir._Tento me soltar, mas é em vão._Me deixa com a vovó Angélica, por favor.
_Você só tem 5 anos e eu sou sua mãe, Julieen. Vai pra onde eu for._Ela me coloca no banco do carro e passa o cinto._Está bem preso?
Nesse momento, um grande lobo surge atrás da mamãe. Somos todos lobos, é nossa herança sobrenatural. Antes mesmo que eu expressasse reação de surpresa, ela chutou o lobo sem olhar pra trás. Fechou a porta do carro, se transformou e acabou com ele. Ela entrou no carro um pouco ensaguentada e deu partida levando-nos pra muito longe. No caminho, ela me deu um vidrinho escuro e pequenino.
_Toma isso, Julie. Toma tudo. É pro seu bem, meu amor._Ela está chorando._Você um dia vai perdoar a mamãe por isso. Eu sei que vai. Agora toma.
_Tudo bem._Como uma filha obediente, tomei tudo. O gosto era ruim._Minha cabeça tá pesando...
_Ouve a mamãe, Julie. Você nunca conheceu seu pai, ele morreu de câncer com você ainda pequena. Nunca viu vovó Angélica e nem o vovô Joseph...
Mamãe dizia tantas coisas e minha mente estava uma confusão danada. Aos poucos meus olhos foram fechando e tudo foi se perdendo.
Lembrança off.
Recobro novamente a consciência e dessa vez não estou no chão do banheiro. O cheiro é familiar, mas não assimilo nada. Minha mente está embaralhada. Instintivamente minha mão vai até o meu nariz, pois o sinto molhado e quando olho pra minha mão nela contém sangue. Meu sangue. O que está acontecendo comigo? Quem eu sou?
^^
Ele não podia ter feito isso comigo. Tauro não podia. Ela é dele. Ela é minha. Droga.E agora ela simplesmente correu, fugiu. Esse papel era meu, eu que rejeitaria sua presença ao meu lado, mas foi ela que me rejeitou. Eu não queria, mas tudo me incitava a correr atrás dela. Lentamente Tauro foi me ajudando a melhorar e na primeira oportunidade que tive, corri. Saí seguindo seu cheiro e o mesmo ficou mais forte no banheiro feminino. Caminho até lá, mas logo fui impedido por Annelise._Eu vou ajudá-la. Sai daqui, vai pra casa. Tenho certeza que ela não quer te ver._Sabia que ela..._Sim, ela é sua. Do Tauro, como queira._Ela me empurra._Só um idiota que nem você não percebeu. Vai, Kalel. Vai embora. Agora.Pisquei os olhos algumas vezes e dei a volta. Ainda vi Annelise carregando Julie nos braços em direção à enfermaria. Sigo até o bar da cidade; preciso beber. Eu me recuso a pensar qualquer co
Abro os olhos vagarosamente sentindo como se pesassem toneladas. Acho que escutei a voz do Kalel, mas com certeza foi a minha mente pregando peças. Dói minha cabeça, dói meu corpo, dói meu coração. Estranhamente ele dói muito._Julienn!_Ouço a voz da minha mãe acompanhada do seu toque._Você está me ouvindo? Fala comigo, filha.Ajeito-me na cama sentindo o cheiro de Kalel. Que droga de brincadeira é essa? Encaro minha mãe e ela está chorando. Muito. Ela tem muito a me dizer e parece disposta a isso._Eu estou com muita fome, mãe. Depois de saciada, eu necessito ouvir toda a verdade._Enxugo suas lágrimas._Por favor, diz que tem comida.Ela sai praticamente correndo do meu quarto e eu fico perdida nas lembranças. Minha mãe adormeceu todas as minhas lembranças da infância. Da vida que tive aqui nessa cidade. Meu pai não morreu de câncer, eu conheci meus avós..._Trouxe frutas, pães, sopa. Tudo que
Chegamos faz uns 15 minutos e já estou segurando um copo de alguma bebida cítrica. Não sou de beber. Na verdade é a primeira vez que bebo e está sendo bom. Karolla foi falar com algum garoto, Annelise foi atrás do dono da festa para me apresentar e eu estou plantada no meio de toda a multidão. Literalmente plantada pois meus saltos estão enterrados no solo do jardim._Oi._Ouço uma voz masculina e acabo me virando pra saber de quem era._Sou Zac, prazer._O amigo de Kalel. Oi._Aperto sua mão que está estendida._Não leve isso em consideração. Não sabia de nada do que ele fez com você até pouco tempo. Não conclua que sou igual a ele por ser amigo dele._Ele dá um sorriso tímido revelando bem seu ponto forte._Você está bem?_Me acostumando com tudo, mas muito bem._Dou um gole na bebida e sorrio._Você me parece legal. Espero que não esteja se aproximando de mim pra espionar minha vida pro seu amigo._Ele arregala os
Eu determinei que seria assim. Eu quis, eu escolhi a distância, mas esqueci que ela estuda na mesma escola que eu, é melhor amiga da minha irmã e consequentemente estará em quase todos os lugares que eu for. Só não contei que Annelise a chamaria para a festa de um total desconhecido da garota, o Paul.Não contei também que ela me veria com Tracy, na cama. É até bom ela ver que não sou nenhum apaixonado e que não tenho arrependimento algum pelo que escolhi. Tracy parece perceber que fiquei meio parado depois da saída de Julie do quarto onde estamos._Você me jurou que não quer nada com essa aguada, mas não parece..._Ela começa a beijar meu pescoço._Acho que é por culpa da porcaria da ligação de vocês. Vem, me beija.Eu não tinha mais clima, nenhum clima pra ser sincero. Mas se eu ficar paradão vou estar dando razão às asneiras que Tracy falou. Não chegamos a transar, mas ficamos um bom tempo nos beijamos e curtindo a noite. De
Acabo sorrindo da ingenuidade do meu amigo Zac. A Julie não está apaixonada por mim, ela está sob influência da maldita ligação ainda. Quando ela se dar conta de que é uma idiota por se deixar levar por isso, ela simplesmente bloqueia e fim._Você sabe que isso é só influência da ligação de alma, nada a ver com paixão._Comento encarando o sol forte._Eu não quero a Julie, Zac. Você sabe que não há chance disso ser bom pra ela. Mas com você talvez seja._Você está começando a confundir as coisas. Não me aproximei dela com outras intenções, não me confunda com você._Ele diz de forma direta e eu concordo._Mas ela é especial, não vou machucá-la. Queria apenas conversar com você pra que isso não atrapalhe nossa amizade, mesmo ela estando um pouco afetada por várias coisas.Eu, Zac e Jack somos amigos desde moleques. Crescemos estudando juntos e aprontando também. Zac sempre foi o mais sensato, aquele que apaziguava as coisas quando
Eu não canso de me chamar de ridícula de frente ao espelho. Quem mandou exagerar na bebida e ficar que nem uma boneca mole, dona Julienn? Mas uma coisa eu percebi claramente, mesmo bêbada, é que Kalel sentiu ciúmes de mim. Não sou idiota, sei que é por culpa dessa ligação. Ai, que droga! O ciúme dele pouco me importa, não quero nada do Kalel. De preferência prefiro sua rejeição do que ciúmes. É mais seguro pra mim e meus sentimentos._Sente-se melhor, filha?_Pela milésima vez minha mãe vem até meu quarto perguntar._Tem geléia de framboesa pra você. Fui comprar porque sei que você gosta._Não precisava, mãe._Me aproximo dela e aliso seu rosto com ternura._Você é incrível, mãe. Sei que o papai tá muito orgulhoso de você onde quer que ele esteja. Vou descer já.Ela assente bastante emocionada e sai. Tomo um banho bem gelado, visto uma roupa levinha e desço. Ontem o Zac queria ter me trazido, mas por sorte Karolla não estava agar
Ao entrar no ônibus escolar, vi que a minha presença pouco importou pra ela. Mas por que isso me incomodou? Quando chegamos na escola, vi que ela seguiu com Annelise até um certo ponto e depois saiu. Segui com o olhar e vi que ela foi até o Zac. Eles conversavam e do nada ele pisca o olho pra ela. Isso me dá um ódio..._Ei, está tudo bem?_Jack bate no meu ombro olhando na mesma direção que eu._O Zac quer a sua garota?_Ela não é a minha garota. Droga!_Brado e sigo pro refeitório._Calma, cara. Só perguntei porque toda a escola sabe que ela é sua._Ele diz e eu o encaro exalando raiva._Quer dizer, que ela era pra ser sua. Você parece uma garotinha de tpm. Quer café?_Só se for pra jogar na sua cara!Ele fica rindo de mim e eu fico tentando entender que raiva é essa. Eu simplesmente estou morto de ódio do que vi. Ficamos conversando até que toca o sinal e entramos pra sala. Por sorte essa aula não
Depois de conversar com Zac e passar meu número pra ele, segui pra minha aula. Agradeci por não ter visto Kalel logo no início, mas sabia que uma hora ou outra o veria. E aconteceu na aula de português. Sento na cadeira próxima da parede e logo Zac vem pra perto de mim._Posso sentar perto de você?_Ele pergunta e eu assinto._Você trouxe o livro?Não dá tempo de responder pois logo uma voz exaltada ganha atenção na sala. Acho que minha temporada nessa escola não vai ser nenhum pouco calma._Pega leve, Lancaster. A novata está solteira, pode dar pra quem ela quiser.Meus olhos praticamente saltam quando ouço isso. Toda a turma olha pra mim e o idiota do garoto parece não querer parar._Sortudo você, Zac. Pegou a garota do Lancaster na cara dele. O filho do alfa é corno e conformado.Nesse momento todos nos levantamos e então vejo Kalel morder o garoto. Kalel estava meio transforma