AliceAssim que cheguei na Rodoviária Novo Rio tratei logo de procurar um telefone público para que eu pudesse entrar em contato com a Damares. Mas cadê que consegui? Parecia que todos nessa cidade tem aparelho celular, menos a pobretona aqui e por isso aboliram todos os telefones públicos do Rio de Janeiro. Sabia que as coisas não seriam tão fáceis como eu imaginava, mas sou dura na queda e não vou desistir.Caminho até uma lanchonete que tinha logo na entrada da rodoviária e pergunto a atendente onde consigo fazer uma ligação. Ela na hora me lança um olhar incrédulo como se dissesse: — Telefone público em pleno ano de 2023? De onde tu saiu garota? De alguma nave extra terrestre? Depois que eu expliquei por alto a minha situação, enfim ela me indicou um lugar onde eu conseguiria fazer a bendita ligação, mas deixou claro que eu teria que pagar por isso. Na hora eu agradeço em pensamento ao Jorge por ter me emprestado aquele dinheiro, pois se não tivesse isso, eu estaria perdida. Pelo
PGEstava exausto e sempre que eu saia do morro sentia que uma tonelada tinha sido jogada nas minhas costas, mas dessa vez tudo foi mais intenso, o que me deixava mais cabreiro ainda. Terminei de comer e subi pra buscar uma camisa no meu quarto. Visto, dou um chega no quarto da cachinhos pra ver se estava tudo na paz e logo meto o pé. Eu precisava tirar esse peso do corpo e já sabia o que tinha que fazer. Desço ligeiro e já estava perto da porta quando Nocaute fala:— Vai aonde PG? Nós tem um desenrolo pra resolver lá na boca parceiro. — Nocaute fala me encarando e eu de costas mesmo respondo— Isso vai ter que esperar parceiro, tenho uma situação urgente pra resolver e tem que ser agora.Nocaute levanta ainda com um pedaço de pizza na mão e me segue.— Mas e a pirralha, vai ficar aqui sozinha com a tua irmã?Paro e coloco a mão na cabeça pensando no que fazer. De jeito nenhum a Emilie pode ficar sozinha com a Patricia, eu não posso arriscar, vai que essa sequelada faz merda outra ve
AliceNão havia muito tempo que sai do Rio de Janeiro, mas para mim parecia uma eternidade. Tudo estava tão diferente, mas o calor, esse não mudou nadinha. Eu estava usando uma regata, mas dentro daquela calça jeans eu só faltava derreter e eu precisava de um banho urgente. Durante o caminho Damares me contou um pouco da sua vida nesse tempo que nos afastamos, disse que morava na Penha com sua tia, mas era provisório até ela conseguir um emprego melhor e poder se mudar. Assim como eu, ela sempre foi apaixonada pelo magistério, mas ainda não conseguiu um trabalho de carreira assinada e precisou aceitar a primeira oportunidade que viu pela frente, mas ainda faz bicos como manicure para ajudar nos custos da casa. Então chegou a minha vez de falar e bastou eu abrir a boca para ela xingar até a décima geração do demônio do Filadelfio. Não tiro a razão dela, aquele monstro por pouco não marcou a minha vida para sempre, mas graças à Deus sai "quase" ilesa daquilo tudo, porque no fundo é imp
AliceDona Olga entra e eu a acompanho, Damares vem logo em seguida. A casa era toda arrumada, cheia de detalhes e tinha tudo no seu devido lugar. Uma verdadeira casa de avó! Um sorriso brota em meu rosto e eu só tinha a agradecer por tudo o que estava acontecendo. Depois de tanta luta e sofrimento, enfim um momento de paz. Damares me leva até o quarto, que ficava no segundo andar, enquanto dona Alda segue para a cozinha. Ao entrar me sinto no paraíso, era um quarto pequeno, mas tinha todo o conforto e o carinho distribuídos em cada detalhe. — Amiga, no banheiro tem toalha limpa e tudo o que você precisa para tomar um bom banho. Se precisar de mais alguma coisa é só chamar, meu quarto é aqui ao lado e vou estar lá caso precise. — Damares fala com carinho e eu seguro suas mãos tentando retribuir ao menos um pouco de toda aquela bondade que estavam tendo por mim— Vocês me deram muito mais do que eu precisava e espero algum dia, ainda nessa vida, poder pagar tudo o que fizeram por mi
PGAmanheceu e cadê que eu preguei os olhos? Caralho#! A voz da tia Cremilda ficou atazanando a minha mente e pra completar a cachinhos acordou gritando dizendo que teve um pesadelo e queria dormir comigo.Puta# merda! Logo hoje que tenho um monte de treta pra resolver não dormi porra# nenhuma. Quando cheguei Nocaute estava apagadão no sofá, o certo era ele tá acordado até eu voltar, mas o filho da puta# não aguentou o tranco. Aquele ali não suporta o rojão de cuidar de criança nem a pau# e eu precisava rapidão encontrar alguém de confiança pra olhar a Emilie. Porque levar ela pra boca, sem chance, e deixar ela aqui com a Patrícia, pior ainda. Preciso resolver isso hoje ainda e só tenho até o final da tarde pra conseguir essa pessoa. Mas quem? Esse era o problema. Levanto antes do despertador berrar no meu ouvido e vou direto pro banheiro. Aproveito que a cachinhos tá dormindo pra fazer minhas paradas. Ainda tava zoado, mas depois de um bom banho gelado, desperto de vez e rapid
PGNo Bar/Cantina da Dona Célia— Fala aí... O que tu quer cachinhos? — falo já sentado na cadeira de frente pra pirralha— Batata fita... — ela responde fazendo biquinho — Não pode, isso é só no almoço e olhe lá. — ralho com ela, que cruza os bracinhos e me encara emburrada. Essa daí vai ser cheia das marras, também tem a quem puxar —Trás café pingado e pão na chapa pra mim tia. Pra ela trás um copo de nescau e queijo quente. — falo pra tia Célia que logo acena— Não goto de necau. — Emilie faz birra e bota banca na parada — Quelo quick de "molango" e "futinha". — Tu é folgada mesmo hein! — falo dando um tapa de leve na cabeça dela — Tem isso aí tia?— Tem sim. Já vou levar pra ela... — a tia Célia vai fazer as paradas da Emilie e pouco tempo depois coloca tudo na mesaA pequena estava varada de fome, igual ao tio aqui, em pouco tempo devorou tudinho e ficou de pé dizendo que estava atrasada pra creche e por minha culpa não ia poder brincar no parquinho. É mole um troço desses? M
AliceJoel, Damares e eu ficamos conversando por um bom tempo, e quando nos despedimos já passavam das duas horas da madrugada. E as seis em ponto eu já tinha que estar de pé para me arrumar e ir até a creche conversar com a diretora. Escovei os dentes, fiz uma breve oração e simplesmente apaguei. Quando acordei a claridade do Sol já ardia no meu rosto, havia esquecido que o dia aqui no Rio de Janeiro já amanhecia quente, muito diferente de Minas. Também, lá era rodeado por árvores e vegetação, enquanto aqui só vejo concreto por cima de concreto. Cada lugar com suas qualidades e encantos. Isso que tornava o Brasil um país tão rico em belezas naturais. Infelizmente não é bem administrado, mas isso era assunto para outro momento. Pois agora o importante era eu dar um novo rumo na vida e isso só aconteceria quando eu conseguisse um trabalho.Me espreguiço e em seguida levanto. Arrumo a cama e sigo até a janela. Abro e deixo apenas as cortinas blackout fechadas, assim evitaria do quarto
Enquanto isso no topo do morro da féPG— Anda, responde logo, o que tu veio fazer aqui depois que te expulsei do morro Papalegua? Quer morrer? Se for isso, se ajoelha, que cancelo teu CPF agora. — falo já com a pistola destravada em punho e mirando bem no meio da testa daquele mão lisa do caralho#Papalegua era um menor quando entrou no corre, passou pela pressão que é o batismo e se manteve firme por um bom tempo. Até o dia que o capeta# invadiu a mente desse pau# no cu# e ele decidiu roubar no próprio morro que fortaleceu o fodido. Não deu outra, amarrei uma corrente no pescoço dele e foi arrastado feito cachorro pela favela inteira, ainda cantando a letra de que era um ladrão de merda pra geral ouvir.— Pô patrão, tô sem saída, minha coroa tá doente e o tratamento dela é caro pra caralho. Não tenho pra onde correr, eu já tava fodido mesmo e por isso resolvi vir até aqui. Implorar uma nova chance. — Papalegua não me encara, e com as mãos cruzadas acima da cabeça suplicava por miser