A Queda da Rainha Narração de Luna O porão de La Serpiente é silencioso, mas há algo de terrível que reverbera no ar. Não é o cheiro, nem a sujeira. É a presença das serpentes. Elas estão em todo lugar, escondidas em suas caixas de vidro. A luz fria, refletida na superfície dos aquários, lança sombras inquietantes sobre as criaturas que se contorcem, mostrando suas escamas como facas afiadas, prestes a cortar o ar. Mas o que realmente me arrepia não são as cobras, nem a frieza deste lugar. É o som do meu próprio coração batendo mais rápido a cada passo que dou em direção ao centro do porão. A cela de Blindex, onde La Reina está presa, é uma prisão física e psicológica ao mesmo tempo. Ela está sentada em seu trono de mentira, um sorriso de desdém ainda esboçado no rosto, mas seus olhos, agora, dizem outra coisa. Eles estão tensos, observando tudo ao seu redor, como se buscassem uma saída que não existe. La Reina nunca esperou estar aqui, nunca imaginou que um dia sua prisão fosse
LunaO Grito da Serpente.A porta do porão range ao se abrir novamente. O som ecoa pelas paredes frias, carregado de uma presença ainda mais sinistra. Guadalupe, a Serpente, entra com sua calma perturbadora. Seus olhos brilham na penumbra, analisando a cena como se tudo fosse um teatro ensaiado. Ela não tem pressa, não tem hesitação.Ela se aproxima de La Reina, sua silhueta se movendo como uma sombra viva. O sorriso de Guadalupe é afiado, quase gentil, mas sua presença carrega algo que vai além da ameaça. É uma promessa de dor.— Você sabe o que acontece quando se pisa no ninho errado? — A voz dela é suave, mas cortante. Ela se ajoelha ao lado do corpo trêmulo de La Reina, seus dedos deslizando pelo braço inchado da mulher como se analisasse um objeto frágil.La Reina solta um gemido baixo, lutando para manter os olhos abertos. A dor do veneno já é insuportável, mas agora ela encara algo ainda pior: a presença de alguém que não sente nada além de fascínio pelo sofrimento alheio.— G
LUNA A Insolente e o Velho LoboO sol mal tinha se erguido no horizonte quando a casa de Arturo e Guadalupe Hernández começou a ganhar vida novamente. Depois da noite intensa de revelações, confrontos e vingança, agora era hora de algo que parecia quase surreal: Descanso.Mas Arturo, com sua postura sempre imponente e olhar calculista, não parecia um homem que conhecia esse conceito. Ele estava sentado na varanda, charuto entre os dedos, observando o grupo que se espalhava pelo pátio como se fossem crianças após um longo dia de travessuras.Luna, encostada na pilastra ao lado dele, cruzou os braços e o encarou de soslaio.— Você está estranhamente calado, Arturo. Está chocado com a minha glória? — Ela provocou, o sorriso brincando nos lábios.Arturo soltou uma risada seca, balançando a cabeça.— Insolente como sempre. Você acha que essa foi a sua glória? — Ele ergueu uma sobrancelha, soltando uma baforada de fumaça. — Isso foi apenas um trabalho bem-feito. Mas confesso que, se co
O Brinde dos SobreviventesA noite caiu sobre a chácara, um pedaço do campo no meio da cidade trazendo consigo um frescor agradável que contrastava com os dias intensos que haviam vivido. Era impossível não sentir o peso da batalha vencida, mas, pela primeira vez, todos estavam juntos não para planejar a próxima jogada, e sim para simplesmente existir!O grande salão da casa principal foi transformado em um refúgio de celebração. A mesa, farta de comida e bebida, estava cercada por risadas e conversas animadas. Arturo, sentado à cabeceira, observava tudo com um olhar que misturava orgulho e resignação.Luna ergueu sua taça, um brilho de satisfação nos olhos.— Aos que sobreviveram!Todos repetiram o brinde, as taças tilintando no ar. Jonh e Mateus riam alto de algo que Jonh havia dito, enquanto Joana revirava os olhos, mas sem esconder o sorriso.Théo, ao lado de Luna, girava o copo entre os dedos antes de falar:— Nunca imaginei que terminaria tudo isso cercado de tanta gente que
Entre Risos e SegredosA noite segue como uma chama que se recusa a se apagar. O aroma da comida se mistura ao cheiro amadeirado dos barris de tequila que Arturo insiste em abrir, e o calor dos rostos corados pelo álcool se funde com o som de risadas que ecoam pelo salão. Estou sentada entre Joana e Théo, minha perna encostada casualmente na dele, um gesto silencioso de posse e intimidade.— Não acredito que você fez isso, Jonh! — Joana exclama, quase engasgando na própria bebida.Jonh dá de ombros, rindo.— Ah, qual é! O cara mereceu! Ele ficou me encarando como se pudesse me matar só com os olhos. Achei que um pouco de tequila no sapato dele não faria mal.Mateus se dobra de tanto rir, batendo a mão na mesa.— Se ele descobrir, você tá morto.— Ele não vai — Jonh responde com um brilho travesso nos olhos.Eu balanço a cabeça, rindo, sentindo uma leveza que há muito tempo não experimentava. O peso da vingança, da guerra, da dor… tudo se dissolve no calor desta noite.Do outro lado
LunaUm Lugar Para Chamar de Lar A brisa da noite arrepia a minha pele, trazendo consigo o cheiro da terra e das flores do campo. A chácara parece diferente sob o luar, mais silenciosa, quase mágica. Caminho devagar pelo terraço, sentindo a madeira fria sob meus pés descalços.Lá dentro, as risadas continuam. O clima de comemoração se prolonga, mas eu precisava de um momento para mim. Depois de tudo que enfrentamos, ainda é difícil assimilar que conseguimos.Os passos de Théo ecoam atrás de mim, suaves. Não preciso me virar para saber que é ele.— Achei que você estivesse gostando da festa — ele diz, se encostando na grade ao meu lado.Sorrio, sem desviar o olhar do horizonte.— Estou. Só precisava de um respiro.Ele observa meu perfil por um instante antes de falar:— Você ainda não acredita que acabou, não é?Suspiro, cruzando os braços contra o peito.— Não é isso… é só que… passamos tanto tempo lutando, sobrevivendo, que agora que tudo está tranquilo, parece estranho.Théo se ap
LunaEntre Risos e PromessasO sol já começa a nascer no horizonte, tingindo o céu com tons dourados e alaranjados. A brisa da manhã traz consigo o cheiro da terra molhada.Estamos todos sentados no grande terraço da fazenda, alguns ainda se recuperando da noite de festa, outros simplesmente aproveitando a tranquilidade que há tanto tempo nos foi negada.Théo está ao meu lado, o braço casualmente pousado sobre meus ombros, enquanto Lupita nos serve café quente. Arturo observa a cena em silêncio, um meio sorriso no rosto ao ver seus netos e aliados finalmente relaxados.— Nunca imaginei que veria o dia em que vocês estariam sentados assim, sem um plano de ataque — ele comenta, levando o charuto aos lábios.Sorrio, mexendo o café na xícara.— Acho que até nós duvidávamos disso, vovô.Ele solta um suspiro dramático.— Insolente até no descanso.Théo ri baixo ao meu lado, e eu apenas dou de ombros.— Você não gostaria se fosse diferente.— Disso eu não posso discordar — ele admite, recost
O Silêncio que Dizia TudoA tarde cai suavemente sobre a fazenda, as cores do céu mudando de um azul vibrante para um tom mais suave, quase pastel. O calor ainda persiste, mas a brisa que corre pelos campos traz um alívio sutil. Théo e eu permanecemos debaixo da árvore, nossos corpos relaxados, o silêncio entre nós confortável, como se estivéssemos finalmente no lugar certo, depois de tanta turbulência.Eu fecho os olhos por um instante, absorvendo cada sensação. O cheiro da grama fresca, o som distante do farfalhar das folhas nas árvores. Tudo parece ter um ritmo próprio, algo que nunca experimentamos enquanto estivemos correndo, lutando, vivendo com a adrenalina pulsando.Théo me olha com os olhos mais suaves que já vi. Não é o olhar de alguém que apenas ama, mas de alguém que entendeu o que realmente significa estar ao lado de outra pessoa, no seu melhor e no seu pior. Ele toca meu rosto, o polegar acariciando a linha do meu maxilar de maneira suave.— Luna, você tem certeza