Harvey olhou as horas novamente, sentindo o nervosismo se apoderar de cada fibra do seu corpo. Vinte minutos. Apenas vinte minutos de atraso, e ele já estava inquieto, andando de um lado para o outro no escritório, os pés batendo contra o chão em um ritmo que acompanhava sua crescente ansiedade.Não queria ser o tipo de namorado obcecado, aquele que sufoca a outra pessoa com preocupações excessivas. Sabia que Samanta odiaria isso. Mas não conseguia evitar. A cada segundo que passava sem vê-la atravessar a porta giratória, a inquietação aumentava, e ele começava a imaginar mil cenários diferentes.Claro, não era como se ela tivesse um horário fixo. Ele sabia que funcionários se atrasavam às vezes, e o chefe geralmente nem ligava. Mas Samanta não era qualquer funcionária.Ela era a mulher que ele mais amava, a pessoa que, de algum modo, virou o centro de sua vida. Após seus pais e sua irmã, Samanta ocupava esse lugar no seu coração, e o pensamento de algo ter acontecido a ela o atorment
SamantaAquele dia tinha começado confuso, e meu nervosismo só aumentava conforme as horas passavam. No restaurante, durante o almoço, fiz o possível para ignorar as lembranças e a curiosidade sobre o que aconteceu na sala de reuniões. Deixei que Nathan e Harvey conversassem sozinhos.Nathan e eu já tínhamos nos resolvido, mas com Harvey seria bem mais complicado. Ele era teimoso, orgulhoso, e, por mais que eu soubesse que ele estava tentando me proteger, isso poderia destruir a relação dele com o pai, algo que eu definitivamente não queria.Nathan, ao contrário do que eu imaginava no começo, não era a pior pessoa do mundo. Harvey não sabia do nosso passado. Na verdade, acho que ele nem tinha ideia de que os pais, ou melhor, a mãe dele, tinha considerado adotar uma criança após a morte de seu irmão. Era um segredo que eu pretendia enterrar junto com as outras memórias do passado.Repetia para mim mesma que o passado ficaria no passado, onde ele pertencia, porque se não fizesse isso, p
SamantaEu nunca imaginei que estaria me aprontando para ir a uma festa de executivos. Era um lugar que não aceitava pessoas como eu, mas, aparentemente, a minha vida havia se transformado por completo. Estar ao lado de alguém como Harvey me levava a lugares que jamais imaginei.Não posso dizer que estou confortável—quem estaria? Uma pessoa que nunca teve nada, que veio de baixo e ainda se sente presa ao passado, cercada por homens de tanta fortuna, com vidas aparentemente perfeitas, como troféus a serem exibidos.Parando para pensar, eu não queria ser uma dessas mulheres. E jamais acreditei que Harvey me convidaria para o acompanhar, como esses outros homens fazem com suas esposas. Ele não era como eles. Gosto de pensar que não. Mesmo assim, aceitei o convite. A ideia de deixá-lo ir sozinho já alimentava cenas em minha mente que me deixavam com raiva. Imagine uma mulher linda, com um vestido perfeito, segurando uma taça de champanhe, mirando-o à distância como um predador observa su
Harvey tinha razão em dizer que estes eventos eram chatos. Passei os últimos 40 minutos ouvindo homens falar sobre negócios, contar piadas sem graça, e observando suas esposas, que pareciam mais acessórios do que acompanhantes.De vez em quando, elas se afastavam, formando seus próprios grupinhos para fofocar. Era óbvio, o círculo de amizade perfeito para mulheres como aquelas: muitas com procedimentos estéticos, vestidos exuberantes e sexys. E eu ali, como uma fuga para o meu namorado. Pelo menos, me confortava saber que não era como elas. Ainda assim, devo confessar que aquilo me dava sono.O salto alto apertava meus dedos e machucava o calcanhar. O vestido não me incomodava tanto, mas eu me sentia exposta. Minha amiga estava certa: eu tinha curvas, mas nunca havia me acostumado a mostrar tanto.Minhas roupas normais eram sempre largas, estilo adolescente rebelde ou de alguém deprimida. E, apesar de eu me sentir assim muitas vezes, hoje eu só queria ir embora.Me dei conta de que es
PovSamanta parou a uma certa distância, longe das pessoas do evento, do barulho, que até era bem-vindo, a distraindo da sua realidade. Tudo o que ela mais desejava aquele momento era esquecer.Ela usou sua experiência de anos para controlar o que sentia. Pelo menos externamente. Ao fechar os olhos, se imaginou debaixo d’agua, em um completo vazio, sendo rodeada apenas pela sensação de estar se afogando, contudo, isso não era tão ruim. Na verdade, era acolhedor. Ser abraçada e confortada, mesmo sendo uma presença ameaçadora.Aquilo era a sua mente. Ela não tinha com o que se preocupar. Se existia algo que pudesse a machucar, estava dentro da sua mente, não fora.A menina amedrontada surgiu do nada, ao ouvir as palavras de Mary Ann. Jamais pode imaginar que algo assim pudesse acontecer. Uma parte, lhe dizia para acreditar na mera fantasia. Mary era sua mãe. Ela nunca a abandonou, mas sim foi forçada a isso.Entretanto, essa versão era tão absurda que ela optava por ignorar, rindo de si
SamantaEra bom acordar com a sensação de que eu não estava sozinha naquela cama enorme. Claro, ela não era minha, mas fazia parte da minha vida agora. Era reconfortante ouvir alguém ao meu lado, alguém que se importava, perguntando por que eu estava tão estranha. Harvey era assim, perceptivo. Ele sabia quando eu precisava de espaço, quando minhas próprias sombras me dominavam. E ele respeitava isso, nunca forçava, apenas deixava claro que estava ali, ao meu lado, em silêncio.Jamais imaginei encontrar alguém assim. Harvey foi uma surpresa, uma dessas que você nunca espera, mas que secretamente deseja a vida inteira. E eu estava amando ter essa surpresa. Com ele ao meu lado, eu me sentia capaz de qualquer coisa.Mas, ao mesmo tempo, algo dentro de mim insistia que eu não estava sendo suficiente para ele. Era uma culpa que me corroía. Como alguém podia se doar tanto e não receber de volta na mesma medida?Eu o amava, e amava tanto que era difícil até explicar. Mas abrir-me completamen
SamantaNosso início de manhã foi melhor do que eu esperava, especialmente depois da noite anterior. Ao tomarmos café, tudo parecia tão perfeito, relaxado, tranquilo. A atmosfera era de pura calma, quase irreal, e por um momento me permiti acreditar que estava tudo resolvido. Mas a verdade é que ainda havia questões não ditas, e isso me incomodava.Porém, naquela manhã, eu me sentia confiante, pronta para falar. O café da manhã foi maravilhoso, e eu tinha que admitir: Harvey tinha um talento especial para a culinária, muito diferente de mim. Sim, éramos o casal perfeito à nossa maneira, mas eu sabia que poderia me esforçar mais. Não porque sentisse que as mulheres deviam cozinhar para agradar seus maridos, mas porque era algo pessoal. Ele se dedicava tanto a mim, que eu queria retribuir de alguma forma, mas isso ficaria para depois.Agora, havia algo mais importante para ser dito, algo que me fazia molhar os lábios de nervosismo. Cruzei os braços, buscando algum tipo de conforto naque
Aquela conversa foi reveladora. Harvey abriu os meus olhos, e ele tinha razão. Estava na hora de parar de ter medo. Eu sempre usei o medo e a fuga como uma capa de proteção, uma forma de evitar que o mundo me atingisse de novo. Enquanto me escondesse, ninguém poderia me machucar. Ninguém iria me usar como antes. Mas eu precisava deixar o passado onde ele pertencia. Ou melhor, precisava deixar os medos no passado. Era óbvio que tudo o que vivi me moldou e me trouxe até aqui. Mas agora eu já era adulta. Já tinha conquistado tanto. E não podia, simplesmente, perder tudo o que construí tão rapidamente.Este era Harvey na minha vida. Ele chegou para mudar completamente o conceito que eu acreditava ter. Ele protegia as minhas barreiras, mesmo que, de algum jeito, tivesse sido ele a derrubá-las. E o mais estranho é que não sei exatamente quando isso aconteceu. Quando foi que me apaixonei por ele? Tudo o que sei é que entrei naquele elevador, ficamos presos... e essa foi a melhor c