MaiaUm frio percorreu minha espinha com as palavras dele. Chegamos? Como assim? Acabamos de sair do aeroporto, nem deu tempo para me preparar psicologicamente.— Reconhece o lugar? – Ele me perguntou, e foi aí que parei para olhar ao redor. Faz 10 anos que saí da casa de meus pais, e o lugar era exatamente o mesmo.O mesmo chão de terra, os terrenos bastante espaçados e as poucas casas ao redor. Por isso meus pais precisavam ir até a cidade para vender algo, pois aqui não venderíamos muita coisa.— Sim. – Continuo olhando tudo.— Estamos no lugar certo, então. – Meneio a cabeça em confirmação ainda observando o local. – Onde é a casa?Meus olhos fixam em uma porteira de madeira velha, a cerca de arame meio caída e muito mato saindo para o lado de fora. Me aproximei da velha casa que eu reconhecia muito bem, minha infância foi dura, mas feliz na medida do possível. Corria por estas ruas e me embrenhava no mato com as outras crianças em busca de passarinhos.— É aqui.Ele olhou o lugar
DmitryPode até ser loucura, mas ser apresentado como noivo dela me fez sentir realmente como tal. Enxerguei nela a mulher que ela seria para mim. No futuro, é claro. Mas os noivados podem durar bastante tempo.Senti a tensão dela durante todo o início da conversa. A mãe, dona Selma, era uma senhora durona, já o senhor Walter era um homem mais amistoso.Vi a emoção da família no reencontro com a filha que não viam há tantos anos, não podia negar a ela a possibilidade de vê-los nos próximos dias. E ela aproveitou cada dia, levou os pais para almoçar em lugares legais, foi à praia com eles e eu era sempre a presença constante para dar apoio quando precisasse. As conversas se tornaram mais fáceis, e os poucos dias que tínhamos passou voando.Notificamos que precisávamos ir embora, já que eu tinha que voltar ao meu país pois meus negócios não funcionam muito tempo sem minha presença, o que é totalmente verdade, mas eles não podem nem imaginar que não é bem dos cavalos e das maçãs que esto
MaiaRealmente o frio que fazia aqui na Rússia agora não era nem de perto o frio que fazia meses atrás, se eu sentia frio naqueles dias de verão, imagina em pleno inverno.Saí do aeroporto encolhida no meu casaco superpesado de frio e ainda abraçando o braço de Dmitry, a fim de lhe roubar algum calor.Ania nos recebeu com seu jeito durão, mas com um sorriso no rosto. Comi algo e fui descansar da viagem. Dmitry estava calado desde que chegamos aqui, talvez sejam as preocupações. Ele às vezes ficava pensativo, até pode achar que não percebo quando divaga, mas eu não deixo passar nada, minha profissão me deixou assim.Quando despertei de minhas horas de descanso, noto que ele não está em casa. Espero que ele não faça como da outra vez. Naquele momento eu era a acompanhante e ele não me devia satisfações. Agora ele havia me tirado de meu país e eu estava com ele, não sei bem o que significava para esse russo, mas agora não era mais a acompanhante de luxo. Por isso espero que ele não suma,
Dmitry— Não, você tá maluco! – Meu primo disse exaltado.— Não é nada demais, Mikhail, preciso dar algo a ela para que se sinta útil. Ela vai ficar trancada naquele apartamento? – Estávamos discutindo no meu escritório secreto no subsolo desde que cheguei aqui, e fiz isso logo que cheguei de viagem.— É uma solução.— Não, não é.— É sim. – Meu primo estava sério, o que não era normal. Mikhail sempre sustenta uma postura tranquila e divertida, agora ele parece tenso.— Posso saber o porquê que um subordinado está questionando um pedido meu, que eu posso transformar em ordem agora mesmo?— Porque é loucura, Dmitry. Essa mulher é nova aqui, não a conhecemos e estaremos a colocando dentro da organização.— Ela não está envolvida em nada, Mikhail, esqueceu que investigamos a vida dela de todas as maneiras?— Mas estaremos colocando dentro da organização uma pessoa que não sabemos se permanecerá. Isso é arriscado.— Maia é de confiança, sem contar que não falei nada da organização. Para e
MaiaEu estava vivendo um sonho. Às vezes eu até duvidava de que tudo isso estivesse acontecendo de verdade. Não pertencia mais àquela vida de prostituta, não era obrigada a transar com alguém, estava trabalhando da maneira que sempre quis: um trabalho normal. Estava vivendo com um cara lindo e muito legal, atencioso e carinhoso, tinha até medo de acordar desse sonho.Será que viriam atrás de mim? Até quando teria esse sossego? Será que Ruy já havia encontrado a tal carta, já sabia meu endereço? Falei com Dmitry se não era arriscado dar nosso endereço, ele me garantiu que não, mas embora adorasse a provocação, na verdade eu estava morrendo de medo deles me encontrarem novamente e me levarem embora, e o pior: eles poderiam me punir por tentar fugir deles, e conheço bem a forma como eles punem. O que minha amiga Lorena passou se prostituindo em barzinhos estava lá como exemplo.Já fazia dois meses que eu estava na Rússia, estávamos agora no auge do inverno aqui. Os dias mais curtos e mu
Maia— Isso significa que você aceita continuar comigo, mesmo sabendo disso? – Ele perguntou esperançoso.— Sim, mas preciso saber que tipo de negócios você trabalha, na máfia, quero dizer.— Não posso te contar esse tipo de coisa, Maia.— Só quero saber se trabalha com prostituição.— Sim. – Arregalei meus olhos, decepção se espalhou por meu coração. Não posso ficar com alguém que obriga as mulheres a se prostituir. – Mas não como está pensando, Maia. As mulheres que trabalham para nós não são exploradas, não são traficadas e nem coagidas a fazer o que fazem. Se não fizerem isso para nós, farão para outras pessoas, não estão nisso obrigadas.Alívio tomou conta de mim, ele com certeza notou isso.— Então posso pensar em te dar uma chance. – Ele sorriu e eu não aguentei, tive que beijá-lo.— Me sinto aliviado por ter te contado, tinha receio que se você descobrisse de outra forma pudesse ficar chateada, mas por outro lado tinha medo de te contar e você ir embora.— Já falei que estou p
MaiaNão entendi uma única palavra que saiu da boca do médico, mas pelo seu sorriso e olhar, eu soube qual era o resultado. Mas precisava ter certeza.— O que ele disse? – Perguntei ainda de frente ao médico que nos olhava com um sorriso simpático.— Você está grávida, Maia. – Dmitry me ofereceu um sorriso leve, hesitante, não sabia o que se passava em sua cabeça. – O resultado deu positivo. – Ele me abraçou e isso me deu uma sensação gostosa de segurança.Dmitry voltou sua atenção ao médico que começou a dizer mais alguma coisa. Ele digitou algo no computador, imprimiu uma folha e entregou-a ao meu namorado. Enquanto o médico falava ele somente concordava. Agradeceu e então deixamos o consultório.Durante o percurso até o carro, ele me abraçou aproximando seu corpo do meu. Beijou meus cabelos e me acariciou, apesar de ter ficado em silêncio, ele me passou conforto.Entramos no carro e eu quebrei o silêncio.— Dmitry?— Huumm – Ele estava concentrado, se era em guiar o carro para a sa
DmitryO velho está irritado. Não posso tirar a razão dele, larguei muitas coisa de lado para dar atenção a Maia, relaxei, eu sei. Tem a investigação do desaparecimento do Nikolai, e ainda tem aquela nota perdida entre os documentos, nunca mais investiguei sobre aquilo, mandei que averiguassem, até agora ninguém me disse nada, mas eu deveria pressionar e não fiz isso. Não visitei as casas noturnas, e meu velho está soltando os cachorros em cima de mim, com toda a razão. Penso se devo falar sobre a gravidez de Maia. Pondero, acho melhor ainda não falar nada. Ele só se irritaria ainda mais.— Saudades também, meu pai. – Disse debochado.— É por isso que preciso voltar a trabalhar, você e Mikhail são dois imprestáveis. Fazem nada direito.— Pai, o senhor não pode voltar. Ainda está se recuperando.— Estou bem, Dmitry. Esta manhã tinha uma alta na pressão, mas o médico já veio e disse que só preciso de um pouco de repouso. Não aguento mais ficar aqui cercado nessa fortaleza. Preciso traba