MaiaRealmente o frio que fazia aqui na Rússia agora não era nem de perto o frio que fazia meses atrás, se eu sentia frio naqueles dias de verão, imagina em pleno inverno.Saí do aeroporto encolhida no meu casaco superpesado de frio e ainda abraçando o braço de Dmitry, a fim de lhe roubar algum calor.Ania nos recebeu com seu jeito durão, mas com um sorriso no rosto. Comi algo e fui descansar da viagem. Dmitry estava calado desde que chegamos aqui, talvez sejam as preocupações. Ele às vezes ficava pensativo, até pode achar que não percebo quando divaga, mas eu não deixo passar nada, minha profissão me deixou assim.Quando despertei de minhas horas de descanso, noto que ele não está em casa. Espero que ele não faça como da outra vez. Naquele momento eu era a acompanhante e ele não me devia satisfações. Agora ele havia me tirado de meu país e eu estava com ele, não sei bem o que significava para esse russo, mas agora não era mais a acompanhante de luxo. Por isso espero que ele não suma,
Dmitry— Não, você tá maluco! – Meu primo disse exaltado.— Não é nada demais, Mikhail, preciso dar algo a ela para que se sinta útil. Ela vai ficar trancada naquele apartamento? – Estávamos discutindo no meu escritório secreto no subsolo desde que cheguei aqui, e fiz isso logo que cheguei de viagem.— É uma solução.— Não, não é.— É sim. – Meu primo estava sério, o que não era normal. Mikhail sempre sustenta uma postura tranquila e divertida, agora ele parece tenso.— Posso saber o porquê que um subordinado está questionando um pedido meu, que eu posso transformar em ordem agora mesmo?— Porque é loucura, Dmitry. Essa mulher é nova aqui, não a conhecemos e estaremos a colocando dentro da organização.— Ela não está envolvida em nada, Mikhail, esqueceu que investigamos a vida dela de todas as maneiras?— Mas estaremos colocando dentro da organização uma pessoa que não sabemos se permanecerá. Isso é arriscado.— Maia é de confiança, sem contar que não falei nada da organização. Para e
MaiaEu estava vivendo um sonho. Às vezes eu até duvidava de que tudo isso estivesse acontecendo de verdade. Não pertencia mais àquela vida de prostituta, não era obrigada a transar com alguém, estava trabalhando da maneira que sempre quis: um trabalho normal. Estava vivendo com um cara lindo e muito legal, atencioso e carinhoso, tinha até medo de acordar desse sonho.Será que viriam atrás de mim? Até quando teria esse sossego? Será que Ruy já havia encontrado a tal carta, já sabia meu endereço? Falei com Dmitry se não era arriscado dar nosso endereço, ele me garantiu que não, mas embora adorasse a provocação, na verdade eu estava morrendo de medo deles me encontrarem novamente e me levarem embora, e o pior: eles poderiam me punir por tentar fugir deles, e conheço bem a forma como eles punem. O que minha amiga Lorena passou se prostituindo em barzinhos estava lá como exemplo.Já fazia dois meses que eu estava na Rússia, estávamos agora no auge do inverno aqui. Os dias mais curtos e mu
Maia— Isso significa que você aceita continuar comigo, mesmo sabendo disso? – Ele perguntou esperançoso.— Sim, mas preciso saber que tipo de negócios você trabalha, na máfia, quero dizer.— Não posso te contar esse tipo de coisa, Maia.— Só quero saber se trabalha com prostituição.— Sim. – Arregalei meus olhos, decepção se espalhou por meu coração. Não posso ficar com alguém que obriga as mulheres a se prostituir. – Mas não como está pensando, Maia. As mulheres que trabalham para nós não são exploradas, não são traficadas e nem coagidas a fazer o que fazem. Se não fizerem isso para nós, farão para outras pessoas, não estão nisso obrigadas.Alívio tomou conta de mim, ele com certeza notou isso.— Então posso pensar em te dar uma chance. – Ele sorriu e eu não aguentei, tive que beijá-lo.— Me sinto aliviado por ter te contado, tinha receio que se você descobrisse de outra forma pudesse ficar chateada, mas por outro lado tinha medo de te contar e você ir embora.— Já falei que estou p
MaiaNão entendi uma única palavra que saiu da boca do médico, mas pelo seu sorriso e olhar, eu soube qual era o resultado. Mas precisava ter certeza.— O que ele disse? – Perguntei ainda de frente ao médico que nos olhava com um sorriso simpático.— Você está grávida, Maia. – Dmitry me ofereceu um sorriso leve, hesitante, não sabia o que se passava em sua cabeça. – O resultado deu positivo. – Ele me abraçou e isso me deu uma sensação gostosa de segurança.Dmitry voltou sua atenção ao médico que começou a dizer mais alguma coisa. Ele digitou algo no computador, imprimiu uma folha e entregou-a ao meu namorado. Enquanto o médico falava ele somente concordava. Agradeceu e então deixamos o consultório.Durante o percurso até o carro, ele me abraçou aproximando seu corpo do meu. Beijou meus cabelos e me acariciou, apesar de ter ficado em silêncio, ele me passou conforto.Entramos no carro e eu quebrei o silêncio.— Dmitry?— Huumm – Ele estava concentrado, se era em guiar o carro para a sa
DmitryO velho está irritado. Não posso tirar a razão dele, larguei muitas coisa de lado para dar atenção a Maia, relaxei, eu sei. Tem a investigação do desaparecimento do Nikolai, e ainda tem aquela nota perdida entre os documentos, nunca mais investiguei sobre aquilo, mandei que averiguassem, até agora ninguém me disse nada, mas eu deveria pressionar e não fiz isso. Não visitei as casas noturnas, e meu velho está soltando os cachorros em cima de mim, com toda a razão. Penso se devo falar sobre a gravidez de Maia. Pondero, acho melhor ainda não falar nada. Ele só se irritaria ainda mais.— Saudades também, meu pai. – Disse debochado.— É por isso que preciso voltar a trabalhar, você e Mikhail são dois imprestáveis. Fazem nada direito.— Pai, o senhor não pode voltar. Ainda está se recuperando.— Estou bem, Dmitry. Esta manhã tinha uma alta na pressão, mas o médico já veio e disse que só preciso de um pouco de repouso. Não aguento mais ficar aqui cercado nessa fortaleza. Preciso traba
MaiaJá tinha se passado três dias desde a visita à casa da família de Dmitry. Ele acabou contando a Lara sobre minha gravidez e ela ficou super animada, mas ele pediu segredo e eu não entendo o motivo. Durante o almoço, pensei que ele iria contar a novidade, mas nem ele nem Lara tocaram no assunto.Lara é irmã de Mikhail, e é bem mais agradável que o irmão, pelo menos não são todas as russas que me odeiam. Mas a comunicação é bem restrita, pois meu russo é bem ruim, ela não fala uma única palavra em português e fala pouco o inglês, que acabou sendo o meio pelo qual conseguimos nos comunicar um pouco. Definitivamente eu precisava ter aulas de russo. Falei com Dmitry que as aulas de russo precisavam “sair do papel”, eu realmente precisava aprender a língua. E hoje é minha primeira aula com a professora Violeta.Dmitry já saiu para o trabalho na base da organização, e as minhas primeiras horas da manhã serão exclusivas para aprender a língua, diariamente. Mas ele tem estado distante ess
DmitryOs últimos dias foram tensos. Prometi a meu pai que me dedicaria com mais afinco, que solucionaria os mistérios que envolvem a organização, e terei que cumprir ou ele retornará e eu não quero isso, não agora.No mesmo dia em que deixei a casa de meu pai, já chamei os homens para uma reunião. Nada de novo foi contado e isso me deixou preocupado. Havia deixado sob responsabilidade de Kirill a investigação da carga que nunca chegou, mas seu documento se encontrava em minha mesa. Por quê? Quem deixou? O que aconteceu? Sem contar que este caso pode estar ligado ao desaparecimento de meu amigo que todos teimam em achar que ele está morto e congelado em algum canto do rio Moscovo.O próprio desaparecimento de meu amigo foi abandonado. Meu pai tinha razão, se eu me afasto, as coisas não são levadas a sério e agora tenho que finalizar as investigações. E mais um ponto onde deveríamos ter avançado e não sabemos de nada ainda, é sobre o atentado ao meu pai. Não sabemos mais do que descobr