PRINCESA: Não acredito, era um presente da minha mãe, fruto de uma lenda... [choro].
RAINHA: Acalme-se... Antes de tudo, seu querido irmão tem algo a lhe confessar, por favor, não chore... [...]. Há muito tempo atrás chegou uma maldição ao reino: crianças foram para as batalhas armadas com espadas, escudos e elmos, para acordar uma mulher herege que queria o povo como escravo de seus privilégios. Muitos deuses da magia negra se apossaram de outras almas e os tornaram legítimos cárceres de suas ambições. A alma corrompida dos outros doou sangue de animais sacrificados para o alimento do Deus Cornífero.
PRINCESA: O que aconteceu com Filipe?
RAINHA: Esses dias, após ter cavalgado com alguns súditos pelo vilarejo à sua procura, Filipe sentiu-se muito doente e chamamos um médico para ajudá-lo. Descobrimos que ele tem algo terrível.
PRINCESA: O que houve? O que ele tem?
PADRE: Respeitáveis senhores e senhoras desta igreja, quero comunicar-lhes sobre um male terrível: estamos à sombra de uma epidemia. Deus revela punição aos homens desobedientes, que não se sentem envergonhados pelos seus pecados imundos. A doença veio para castigar aqueles que não se rendem ao caminho dos céus! Lembrem-se de que Adão e Eva ao comerem do fruto proibido foram expulsos do jardim do Éden. Lembrem-se de que os fornicadores são punidos por Deus com a praga! Há neste vilarejo feiticeiras luxuriosas que trazem a maldição a este reino sagrado! Perdidas estão as almas daqueles que não seguem o caminho da igreja! Perdidos estão os seres imundos que deixam os males do demônio se alastrarem em suas casas, fazendo o banquete e levando o ser humano à escuridão, para um caminho repleto de trevas! O livro sagrado condena os fornicadores! Lembrem-se: Deus tudo sabe e concebe castigo àqueles que não seguem a sua palavra! A doença então é punição divina! Arrependei-vos de todo o male!
CENA XXI: A FUGA DA PRINCESA PRINCESA: Que horror! Que absurdo! Neste momento vejo no horizonte uma imagem de como se anjos caíssem dos céus feito pássaros sem poderem mais voar e eu fosse mais uma entre eles... Caindo num abismo... Como num naufrágio... Há aqueles que jazem no Reino dos Mortos e seus corpos perecidos para este mundo, habitam o fundo dos Oceanos com seus corações pesados como diamantes brutos. Uma cólera dentro de mim surge, uma aversão. Algo tão negativo toma conta de mim a ponto de eu sentir vontade de matar quem quer o mal me fazer. Eu não posso acreditar nessa crueldade! Eu não consigo crer que alguém seja tão imbecil a ponto de querer sacrificar uma vida em nome de seus rituais malignos... Para mim não passam de tolos que veneram a destruição! Sinto uma amargura por dentro e ao mesmo tempo, tristeza... Agora, a dor faz latejar e toma conta de mim até chegar, querendo me rasgar de pranto! A angústia surge
ALQUIMISTA: Vossa Majestade, com grande modéstia... Desta vez lhe trago estas águas-de-cheiro feitas com flores de jasmim, folhas de hibisco, mel, canela e um pouco de gengibre, junto com uma mistura secreta de minhas experiências para que você se proteja do seu envelhecimento.Às vezes penso que o homem é unido com alianças de comunhão entre tudo em todos. Sentir uma energia vinda de algo que está além dos costumes de nossa imaginação, é para poucos... Somente os mais sensíveis podem ver o que eu vejo em todos os divinos sinais enviados por Deus... É isso que eu observo como alquimista: São apenas dois corpos dentro de um zodíaco em forma de olho onde há os dez signos representados desde um caranguejo, um leão, uma donzela, uma balança, um escorpião, e um centauro com uma flecha, uma cabra e outro um homem com um jarro
PROFETISA: O homem nasceu para desvendar os enigmas da natureza divina, para alimentar o seu corpo com o sulco das árvores, para sentir o poder maravilhoso em cada única criação de cada folha, cada fruto, cada flor, cada semente, cada animal, cada grão de areia. Eles não ouviram as flautas e as harpas das criaturas mágicas invisíveis em torno de nós. Será que eles conseguem sentir o sopro do devaneio para fortalecerem a sua própria crença de todo coração? ALQUIMISTA: Se a cólera de Deus estourar como os raios das tempestades mais pesadas, se Ele compreender o ódio pelos seus servos e ao mesmo tempo o amor dele com todas as nossas bênçãos? A raiva domina nossos corações, os devora com o contágio, deixando os nossos tecidos doloridos, nossos corpos sem forças para enfrentarmos as guerras que em breve ao deixarmos nossos segundos do tempo passarem, só nos deixa o desânimo e o desencanto para lamentarmos por aquelas preces que não conseguimos fazer. Deixemos os ri
ALQUIMISTA: Agora estamos ouvindo o sino da Catedral mais próxima... Eis que recebemos uma mensagem divina, pois haviam me aprisionado com suas mentes e eu temia a morte até gritar “Socorro”, mas o Todo-Poderoso sabe bem o que ocorreu nesta Era e do que você precisa... Então Ele a protege... Minha fé é por algo importante e maravilhoso da mesma forma... Agora, eu a indago: Como você vê Deus em todas as coisas? PROFETISA: [Silêncio]. Eu o vejo em cada única perfeição da Natureza, em cada amizade, em cada momento que Ele me dá, nas visões que eu tenho e até mesmo na minha capacidade de prever o futuro... Para mim não existe nada melhor que a felicidade para si mesmo, porque Deus quer isso de nós, você tem que obedecer seu Livro Sagrado, se você tem fé o suficiente para acreditar em milagres, eles se tornam reais, como a morte do sol quando inicia a escuridão com estrelas brilhantes. Bem, em um mundo como esse, com coisas maravilhosas e horríveis, os mor
[Ouvem-se gritos da profetisa, que foi acusada de bruxaria e está prestes a ser incendiada pela Inquisição.] SACERDOTE: Senhoras e senhores, estamos aqui porque precisamos afastar os males de nossas casas. Há uma acusada de bruxaria entre nós. Essas feiticeiras desobedecem às leis do reino sagrado, nos trazem pragas e profecias falsas! Elas são as porta-vozes do diabo, nos enganam e transformam nossa verdade em pó ao vento com suas crenças advindas do poder das trevas! Esse poder não é bem-vindo, pois nos traz sérios problemas, inclusive a morte! Nossos rios, como um dia já foi escrito no livro sagrado, podem ter sua água transformada em sangue! Nossas colheitas podem ser comidas pelos insetos e não prestar para nos servir de alimento! Nossos vilarejos podem receber infestações de sapos! Nossos campos podem ter o gado louco! E o pior, a peste pode invadir nossos lares, gerando doenças e mais doenças! É isto que a bruxaria traz para nosso reino, uma ma
[O alquimista, o cavaleiro, o escudeiro e a cigana vão até a Ilha dos Mortos levando o corpo da profetiza no barco]. ALQUIMISTA: [Remando a barca]. Vamos velar o corpo nessa Ilha onde há o santuário dos mortos... Descanse em paz... Para sempre, minha cara profetisa... No embalo das águas verde-esmeralda com essas ondas transparentes brilhando com o anel de prata da lua cinzenta, tento fechar os olhos e me recordo dos meus amigos do passado... Sinto um medo absurdo aqui dentro, não ouvi vozes de monstros ainda, mas temo naufragar... O que será que há lá? Eles queriam sacrificá-la e deixaram isso impune... Você tentou se defender sozinha, junto com seus próprios erros do passado e tudo que você amava era a vida, os seres vivos. Quem deu razão de lhe prejudicarem dessa forma? Eles não viram a própria voz deles ser morta, apedrejada... Tudo o que eles cobram tanto são indulgências... Mas ninguém pode comprar o
[Ao entrar no cemitério da Ilha, a cigana ouve um canto etéreo dentro da sua mente e pensa com o seu outro Eu: “Venha meu conto de fadas, alcance meu Sol”.] CIGANA: Quem está aí? Eu ouço um canto de longe. É suave como o brilho da neve... Pueril como se estivesse dentro de um conto de fadas... Eu amava Francisco... Eu não lembro se ele havia me tocado sem minha permissão... Infelizmente alguns amores são insatisfeitos, ou completamente imperfeitos... Eu vejo o Sol irradiar nas montanhas, como se eu estivesse procurando Deus em algum lugar e eu pudesse ouvir a sua voz eterna dentro de minha consciência... Eu lhes ofereceria a minha memória, talvez amaria mais os meus inimigos... Eu sinto sono e eu preciso de descanso como estivesse no embalo das sombras cintilantes... [...]. Uma vez estava dentro de uma igreja incendiada e as cores eram mesmo assim belíssimas... Eu m