Capítulo 2

Lorenzo Callegari

Assim que cheguei na empresa, abri o zíper da minha jaqueta de couro e joguei a mochila no ombro, retirando meus óculos estilos aviador, e o enfiei na gola da minha camiseta preta me direcionando ao elevador privativo, onde dava acesso ao último andar do prédio, a sala do Ceo Lorenzo Callegari.

Apesar de ser um homem de negócios, confesso que não me vejo administrando e gerindo empresas pelo resto da minha vida, ao menos não dessa forma em que vivo atualmente, e acredito que esse desgosto atual seja pelo excesso de cansaço e estresse. Ultimamente me sinto sufocado, como se estivesse sendo enjaulado por engravatados e tubarões dos negócios, que só pensam em dinheiro e ao contrário de mim, não tenho nada a perder enquanto administro as corporações visando o conforto e segurança de cada pessoa que está aqui comigo. Se olhar por esse lado, é mais fácil de engolir a obrigação que foi jogada em meu colo.

Mesmo que eu não goste de viver essa vida de empresário, ainda assim tenho um lado muito humanizado, gosto de ver e acompanhar tudo de perto e ter boas conversas pessoalmente com meus colaboradores e acredito que seja isso que me mantenha firme nesse trabalho que considero tão sufocante. 

De fato, não gosto do trabalho que preciso exercer, mas não tenho escolha, como um homem e herdeiro, preciso fazer o meu dever com maestria para ter minha própria paz interior, pois não aceito nada menos que excelência. Não aceito nada abaixo disso.

Enquanto digitava um e-mail formal informando a minha viagem a trabalho aos acionistas e diretores gerais, meu celular vibrou em cima da mesa, e desviando a atenção do notebook, vejo que é meu pai ligando.

— Oi, papai.

Murmurei acionando o botão do viva-voz e continuei a digitar, até que ouço meu pai falar:

— Você está no escritório?

Eu concordei em silêncio e respondi:

— Sim, estou resolvendo as últimas pendências antes de pegar o avião.

Ouvi meu pai suspirar por alguns segundos, e isso foi o suficiente para chamar minha atenção e então eu disse em minha língua nativa:

— Não se preocupe, papa. Irei com calma.

Ele ficou em silêncio por alguns segundos e pediu:

— Me mantenha informado, por favor, meu filho.

Eu concordei em um gesto e em seguida encerrei a ligação.

Não quero estender a agonia que meu pai sente depois que soube a verdade. Sei que ele quer resolver isso tudo, e também penso que ele sinta algo em relação a mãe do meu irmão, pois vi um brilho diferente em seus olhos, talvez um interesse maior quando perguntei sobre ela, e sinceramente, isso nem me incomodou. 

O que me deixou realmente frustrado foi ter crescido sem a presença de um irmão e agora saber que ele estava por aí esse tempo todo, me deixou mais aliviado, pois de fato nunca estive sozinho.

Sabemos que no mundo dos negócios nunca estamos sozinhos, mas tudo isso é muito superficial, especialmente quando é um cargo de prestígio, no meio de pessoas que talvez esperam a sua queda a qualquer momento,  nada chega aos pés de um apoio familiar.

Confesso, ser o Ceo é meu último desejo na vida, não gosto do que faço e minhas carrancas e forma de vestir deixam isso bem claro, e talvez seja por isso que as pessoas temem bater de frente comigo, pois realmente não dou o braço a torcer e não fico mostrando os dentes para todo mundo, e sinceramente, não é nem pelo cargo que ocupo e sim pela minha personalidade, afinal, eu sou assim, e eles terão que me engolir caso contrario, não irei pisar no freio.

Vou atropelar mesmo.

Sempre deixei claro ao meu pai que trabalho contra minha vontade, mas por confiar em mim,  ele sempre me deixou à vontade para me vestir da forma que eu desejasse, pois sabe que trabalho com excelência e que sempre dei o meu melhor.

Meu pai nunca me diminuiu por ter o corpo tatuado, se acostumou com o fato de eu não usar conjuntos de alfaiataria com frequência pois gosto de viver livremente, talvez, eles tenham o pé atrás comigo justamente por eu ser assim, diferente, intenso e firme, e não vejo problema algum nisso.

Eu trabalho duro e tudo o que me proponho a fazer fica excelente, então não vou padronizar meu estilo e personalidade para agradar ninguém. Não desejo agradar nenhum engravatado pois não fazem nem meu tipo.

O que deve ser apreciado é o trabalho bem feito, então ou eles aturam ou surtam.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo