Quando ninguém mais o insultasse.Nem pensasse nele.Era aí que uma pessoa realmente desapareceria deste mundo.Esse era o verdadeiro fim da morte.Sílvio sabia que, nos insultos dela, havia acusações e insatisfações, mas, acima de tudo, havia arrependimento, relutância e saudades."Se o meu avô ainda estivesse vivo..."Se o avô dele ainda estivesse vivo, ele não teria ido para o campo na infância participar daquela atividade de sucessão, tampouco teria encontrado Aurora, muito menos teria surgido entre eles um laço de gratidão pela vida salva.Ele também não teria confundido a mulher dos seus sonhos, nem teria erroneamente tomado Lívia como uma substituta.- Você está certa. - Sílvio olhou para Eduarda, pequenina e frágil, mas ainda cheia de vitalidade, e suspirou. - O avô merece ser repreendido!O rosto de Eduarda imediatamente se contraiu em descontentamento e ela ergueu a cabeça, o dando um tapa.- Garoto insolente! Seu avô é meu marido! Eu posso o repreender, e você?!Sílvio riu c
Aurora estava sentada no banco de trás, observando as gotas de chuva do tamanho de grãos de feijão batendo no carro, formando linhas contínuas que atingiam a frente do veículo com um som ensurdecedor. Isadora foi a primeira a sair do carro.- Essas chuvas de outono estão tão irritantes este ano.Ela calçava sapatos de pele de carneiro macios recém-comprados por João, que praticamente se arruinavam ao tocar a água. Seu humor estava terrivelmente azedo naquele momento.- Sim, é verdade. - Aurora, por outro lado, sorria o tempo todo.Mas seu sorriso não tinha um pingo de sol, era sombrio e carregava uma malícia brilhante. Ela levantou a cabeça para olhar o túmulo amarelo brilhante não muito distante.- Até o céu está do meu lado.Ela refletia sobre como, em suas más ações anteriores, a chuva sempre ajudava a lavar as evidências. E o túmulo dessas duas crianças era amarelo brilhante, tão visível no cemitério que ela não precisava se esforçar para encontrar. Quanto mais João convivia com Au
Ela parecia louca, cada traço do seu rosto carregava um intenso significado de destruição.João, tremendo, se aproximou.- Aurora...Mas ela, com os olhos vermelhos de raiva, continuou a gritar:- Vá cavar!Isadora, preocupada com o desconforto de João, rapidamente jogou o guarda-chuva fora, sem nem se importar com os sapatos.- João, eu vou com você."Isadora é sempre tão compreensiva, gentil e atenciosa. Pena que Aurora foi pressionada a esse ponto por Sílvio!"João não podia evitar sentir ressentimento por Sílvio, mas esse sentimento se dissipou ao lembrar de sua posição, murchando como uma fumaça azul e ele sussurrou para Isadora:- Esses não são apenas os filhos de Lívia, mas também de Sílvio...Se realmente fossem desenterrar o túmulo, quando Sílvio descobrisse, estariam acabados!- Não esqueça, Aurora salvou a vida de Sílvio! - Isadora decidiu firmemente ficar ao lado de Aurora.- Eu sei... - João respondeu. - Mas as crianças...Um lampejo de culpa passou pelos olhos de Isadora,
Sob a cortina de chuva, Aurora ouvia o som do ferro caindo na terra e seu sorriso se alargava cada vez mais.Finalmente.O barulho do ferro cessou gradualmente e, acompanhado pelo som da chuva, a lápide amarela desabou estrondosamente.Logo, as urnas com as cinzas das crianças se revelaram...Aurora riu com desdém e pisou fortemente sobre elas...Rapidamente, o conteúdo das caixas, se misturando com a água da chuva, fluiu lentamente para o esgoto em posição mais baixa....Hoje chovia.Lívia se sentia inquieta interiormente.- Este aniversário parece não estar muito tranquilo. - Até o bom humor que ela deixou na Mansão dos Duarte desapareceu. - Ana, nunca senti isso antes, o que você acha que é?- Se fosse outra pessoa, eu diria para perguntar logo aos seus pais se algo aconteceu. - Ana dirigia calmamente. - Mas seus pais, acho que não devem estar em apuros...Isso fez Lívia sentir uma ponta de compaixão.- Vou ligar para a Helena.Ninguém atendeu do outro lado, e, pensando melhor, Lív
Se tivesse que começar de novo, ele certamente não teria aceitado Aurora!Depois de tantos anos convivendo com Aurora, mesmo sem ouvir o conteúdo de suas conversas telefônicas, ela percebeu os pensamentos de João naquele momento. Estendeu a mão, arrancou o celular e desligou com um sorriso frio:- Você está pensando de novo que Lívia, sua filha, é melhor?João negou rapidamente com a cabeça.- Não, não.Mas, no fundo, sentiu uma certa hesitação.Seus olhos vagaram por um momento, observando os túmulos que haviam sido escavados em quatro lugares grandes.- E agora, o que fazemos?Aurora disse sinistramente:- Deixemos assim aberto, para encher de chuva, até Lívia descobrir.Ela está ansiosa para isso.Sua querida irmã, ficaria com o coração despedaçado ao ver essa cena....- Eles estão bem. - Lívia, sentada no banco de trás do carro, esfregou a testa cansada enquanto reportava a Ana pelo telefone. - João ainda teve ânimo para me xingar.Como se xingasse um cachorro.Mesmo depois de eu
A cama já estava toda amarrotada. Sua consciência novamente mergulhou em um estado de luta inútil. Justo quando ele estava irritado, a porta do quarto se abriu. "Quem será?" Se a família Fernandes realmente pretendesse usar métodos desonestos, ele preferiria morrer a se submeter! Enzo apertou os dentes, se preparando para lutar com todas as suas forças. Mas a pessoa que lentamente entrou em seu campo de visão era... "Lívia?!" Antes que sua consciência se turvasse novamente, a mente de Enzo estava cheia de dúvidas. Lívia estava ainda mais confusa do que ele. Depois de trocar os sapatos, ela entrou no apartamento sem perceber que havia alguém lá, só percebendo algo estranho ao entrar no quarto. Havia claramente um homem deitado na cama! O medo que Murilo a causou ainda não havia desaparecido do fundo de seu coração e a imagem de estar presa sem defesa na coluna de ferro da fábrica ainda estava vívida em sua memória. As mãos de Lívia tremiam. Ela recuou vários passos, perden
Ao perceber que a expressão de Lívia não estava normal, a nutricionista perguntou:- Você conhece?- Ele é meu amigo. - Lívia, com o coração numa montanha-russa de emoções, se apressou em providenciar água e uma toalha, enquanto chamava incessantemente por Enzo. - Enzo, acorde, por favor, acorde.Com a ajuda de Lívia, Enzo rapidamente voltou a si.Os dois se olharam, surpresos e logo após, um pouco constrangidos.- Eu...- Você...Lívia acenou para que os outros saíssem do quarto e só então ajudou Enzo a se levantar.- Como você veio parar aqui?Enzo deu um sorriso sem jeito.- Eu também não sei... - Ele passou a mão na cabeça. - Posso usar seu banheiro para lavar o rosto?- Eu te ajudo a ir até lá. - disse Lívia. - Você pode ter dificuldade para andar agora.- Não precisa. - Enzo mexeu os membros para mostrar que estava bem. - Veja, meu corpo se recupera rápido. O problema era aquele joss ou incenso em bastão que estava suprimindo minha força. Desde que o segurança o retirou, melhorei
Lívia estava inquieta por dentro.- Vamos primeiro à sala de controle, não vou ficar tranquilo até descobrirmos quem está por trás disso esta noite.Sílvio permanecia de pé, junto à janela.Observava a chuva bater no vidro, mudando de cor.Depois, contemplava os relâmpagos e tempestades, se fixando na escuridão da noite.Seu olhar se perdia no horizonte, mais confuso e perturbado a cada momento."O que Lívia estaria fazendo agora? Será que ela ficaria feliz em ver a pessoa que gosta sendo levada para o seu quarto? Essa noite, será que ela e Enzo teriam algum avanço?"Ele desejava ardentemente ouvir boas notícias, que Lívia pudesse realizar o desejo de estar com quem amava, mas ao mesmo tempo, esperava que tal notícia nunca chegasse.Suas mãos tremiam ao ordenar que Enzo fosse levado até lá.Não foi fácil tomar essa decisão.Mas para a felicidade de Lívia, ele a fez.Era seu presente de aniversário para ela.Um esforço desesperado para a ver feliz.Caso contrário, se Lívia fosse atrás d