Sílvio se encontrava cercado pelos Arruaceiros ao seu redor. Seu poder não era excepcional, porém, eles eram numerosos. E o local em que o haviam encurralado era o beco mais remoto, claramente planejado com antecedência. O problema residia no fato de que essas pessoas estavam decididas a manter ele preso, exigindo grande esforço. Após lidar com um grupo, surgia outro. Era evidentemente um plano bem orquestrado e eles estavam constantemente drenando sua energia. Há pouco tempo, era difícil chegar até ele, mas Sílvio conseguia se defender. Agora, entretanto, se encontrava sobrecarregado e o poder de um chute lateral já não era o mesmo. Particularmente porque Lívia estava se aproximando cada vez mais e Murilo a observava de perto. Sílvio se distraiu por um instante e recebeu um golpe na cabeça. A chuva caía suavemente. Seus ouvidos começaram a zumbir. Sílvio sacudiu os cabelos abruptamente, mas seus olhos estavam mais alertas do que nunca. Sua voz permanecia calma e ele conseg
Murilo pegou a faca e olhou para os capangas ao seu redor. - Batam nele com força, o deixem mais machucado do que eu! - Em seguida, dirigiu o olhar para Lívia. - Venha comigo, assim ele poderá sobreviver.Nesse momento, a vigilância de Murilo estava bastante relaxada, mas Sílvio estava em uma situação terrível. Inúmeros punhos atingiram seu corpo e ele estava completamente em desvantagem. O som das gotas de chuva se misturava com o som dos socos atingindo a carne, ecoando como um trovão em sua mente. Alguém até pegou uma pedra e se preparava para golpear as pernas de Sílvio!Ele desejava desesperadamente correr em direção a Lívia, mas muitas mãos o agarravam. Além de o distrair, ele não conseguia fazer mais nada. As pedras continuavam a cair, uma, duas, três vezes. A expressão no rosto de Sílvio se tornava cada vez mais angustiada e suas pernas... Já estavam dobradas, com manchas de sangue aparecendo em suas calças. Agora ele estava em um estado lamentável.Quando Lívia se viro
Quase instintivamente, Lívia gritou alto:- Cuidado, à frente à esquerda! Sílvio, cuidado à frente à esquerda!Ela gritou duas vezes seguidas, sua voz rouca e exausta como se estivesse perdendo suas forças.Mas Sílvio apenas virou a cabeça e sorriu para ela.- Não tenha medo, eu já tinha visto.Falando isso, ele arrancou rapidamente sua camisa, a torcendo em forma de corda e rapidamente bloqueou o ataque do punhal e do cacetete de Murilo.Era apenas um alarme falso.Lívia sentiu todo o seu corpo enfraquecer, estava prestes a se sentar quando viu outro cacetete mirando a cabeça de Sílvio pelas costas!Era esse o plano de Murilo!Porém, naquele momento, Sílvio ainda estava lidando com os objetos nas mãos de Murilo, gritar para ele prestar atenção seria inevitavelmente seguido por ataques de outras direções.Sem tempo para pensar, Lívia se levantou de um salto e, ficando na ponta dos pés, colocou seu braço atrás da cabeça de Sílvio.Parecia que o mundo inteiro havia parado.Somente a dor
Murilo sentiu medo mais uma vez.De forma apressada, ele fez sinais com as mãos para as pessoas ao redor.- Dispersar! Todos, dispersar!Assim que terminou de falar, outro conjunto de passos foi ouvido.Passos alinhados e treinados.Murilo olhou para cima e viu um grupo uniforme de homens de preto.À frente estava Pedro, que ele havia encontrado antes.Atrás de Pedro estava Ian, que, mesmo sob o tempo chuvoso, estava coberto de suor.Depois de voltar do local do acidente, ele contou alegremente para Lívia que ela não precisava se preocupar, não era Sílvio, mas só descobriu que ela havia desaparecido quando chegou ao carro.Porque o lugar onde Murilo havia cercado Sílvio era remoto e escondido, ele não percebeu imediatamente.Mas ele tinha certeza de que algo havia acontecido com Lívia.Por isso, ele correu diretamente para a Avenida Claro Sol.Felizmente, Pedro era eficiente no trabalho, quando Ian chegou, a estrada e as comunicações já haviam sido restauradas e ele conseguiu contactar
- Lívia...Sílvio sabia que aceitar a perda de um filho era algo devastador, mas aquela situação...Ele ainda não tinha encontrado provas ligando Aurora ao ocorrido.- Murilo está morto, a vingança pelo nosso filho foi consumada. - Ele tentava oferecer algum conforto com suas palavras, tentando acalmar Lívia. - Os Monteiro agiram antes de mim, provavelmente para evitar o escândalo familiar. O pai dele, chegou na minha frente e matou Murilo com as próprias mãos e seu corpo, foi levado por Pedro para alimentar os cães.Nos dias sombrios dela no hospital, apesar de ele ter ficado ao seu lado o tempo todo, não ficou de braços cruzados.A cidade inteira estava em desassossego por causa disso.Todos sabiam da dor de Sílvio por perder os filhos e do preço que a família Monteiro pagou para se proteger.Os Monteiro sacrificaram Murilo e, apesar de terem salvo o clã, sofreram uma queda em seu poder.A violência e o sangue derramado remexeram a tranquilidade da Cidade C, realinhando o poder entre
Sim.Ele tinha se enganado.Sempre se acostumou com o estado delicado de Lívia quando estava ao seu lado, mas esqueceu que ela também era uma mulher resiliente que tinha lutado muito para chegar à Cidade C vindo do interior.Mesmo lidando com Murilo, ele só pensava em não a assustar e muito menos deixar que ela sujasse suas mãos.Essas coisas era melhor que ele fizesse.Mas esqueceu que Lívia precisava desse processo para se consolar, precisava para expressar suas emoções.Ela não era um canário, nem uma flor de seda e muito menos uma peônia delicada. Ela era uma flor de algodoeiro.Uma flor de algodoeiro que fica em pé contra o vento.- Desculpe. - A voz de Sílvio também estava rouca, ele quase não tinha comido nos últimos dias, todas as suas emoções estavam voltadas para Lívia, temendo que ela tivesse alguma ideia imprudente. - Eu não pensei direito.Ele deveria ter dado a ela o direito de decidir o que fazer com Murilo.Ao invés de apenas querer a esconder atrás de si para a protege
- O que você quer dizer com isso? - Lívia arregalou os olhos, olhando para ele com hostilidade. - Eles estavam bem no meu ventre, como poderia haver sinais de necrose?!- Você reclamava de dores abdominais ocultas naqueles dias, que na verdade eram um sinal, só que não lidamos com isso a tempo.- Impossível! Isso era apenas o desenvolvimento embrionário, dor oculta devido à expansão do baixo ventre! Como poderia ser...A palavra necrose era demasiado cruel e Lívia batia nele freneticamente.- Isso simplesmente não pode ser!- Mas foi o que o médico disse. - Sílvio tentou a acalmar. - Lívia, lembre bem, seu paladar voltou ao normal de antes da gravidez?Sim.Ela, que não podia comer carne após engravidar, de repente podia comer peixe e camarão novamente.Mas...- O que isso tem a ver com a criança?Ela não aceitava!Mas sua voz ficava cada vez mais baixa.- Mudanças no paladar durante a gravidez são normais...Sílvio segurou a seringa para ela, prevenindo o refluxo sanguíneo.- Fui eu q
Ele estava furioso.Imensamente furioso.Não podia permitir que Lívia continuasse se machucando assim.Mas não conseguiu proferir uma única palavra de censura. Em vez disso, apenas a abraçou.- Eu entendo, sei que você também está sofrendo, pode me dar mais um pouco de tempo?Ele precisava de mais tempo, ele tinha que esclarecer a questão dos fetos.Iria ajudar Lívia a se acalmar gradualmente.Daria a ela uma resposta satisfatória.Mas, de jeito nenhum poderia deixar que ela continuasse se ferindo.Esperava que seu abraço pudesse dar a Lívia um pouco de força.Finalmente.Ela chorou.Um choro de dor.Como se quisesse liberar todas as emoções reprimidas dos últimos dias e morder seus ombros com força.- Sílvio, o que aconteceu com as crianças... Realmente não tem nada a ver com a Aurora?Ela soluçava, quase incapaz de falar.Estava se mostrando vulnerável.Começando a aceitar a realidade.Mas Sílvio sabia que não podia ter pressa, tudo deveria ser guiado pelas emoções de Lívia, além do