Sim.Ele tinha se enganado.Sempre se acostumou com o estado delicado de Lívia quando estava ao seu lado, mas esqueceu que ela também era uma mulher resiliente que tinha lutado muito para chegar à Cidade C vindo do interior.Mesmo lidando com Murilo, ele só pensava em não a assustar e muito menos deixar que ela sujasse suas mãos.Essas coisas era melhor que ele fizesse.Mas esqueceu que Lívia precisava desse processo para se consolar, precisava para expressar suas emoções.Ela não era um canário, nem uma flor de seda e muito menos uma peônia delicada. Ela era uma flor de algodoeiro.Uma flor de algodoeiro que fica em pé contra o vento.- Desculpe. - A voz de Sílvio também estava rouca, ele quase não tinha comido nos últimos dias, todas as suas emoções estavam voltadas para Lívia, temendo que ela tivesse alguma ideia imprudente. - Eu não pensei direito.Ele deveria ter dado a ela o direito de decidir o que fazer com Murilo.Ao invés de apenas querer a esconder atrás de si para a protege
- O que você quer dizer com isso? - Lívia arregalou os olhos, olhando para ele com hostilidade. - Eles estavam bem no meu ventre, como poderia haver sinais de necrose?!- Você reclamava de dores abdominais ocultas naqueles dias, que na verdade eram um sinal, só que não lidamos com isso a tempo.- Impossível! Isso era apenas o desenvolvimento embrionário, dor oculta devido à expansão do baixo ventre! Como poderia ser...A palavra necrose era demasiado cruel e Lívia batia nele freneticamente.- Isso simplesmente não pode ser!- Mas foi o que o médico disse. - Sílvio tentou a acalmar. - Lívia, lembre bem, seu paladar voltou ao normal de antes da gravidez?Sim.Ela, que não podia comer carne após engravidar, de repente podia comer peixe e camarão novamente.Mas...- O que isso tem a ver com a criança?Ela não aceitava!Mas sua voz ficava cada vez mais baixa.- Mudanças no paladar durante a gravidez são normais...Sílvio segurou a seringa para ela, prevenindo o refluxo sanguíneo.- Fui eu q
Ele estava furioso.Imensamente furioso.Não podia permitir que Lívia continuasse se machucando assim.Mas não conseguiu proferir uma única palavra de censura. Em vez disso, apenas a abraçou.- Eu entendo, sei que você também está sofrendo, pode me dar mais um pouco de tempo?Ele precisava de mais tempo, ele tinha que esclarecer a questão dos fetos.Iria ajudar Lívia a se acalmar gradualmente.Daria a ela uma resposta satisfatória.Mas, de jeito nenhum poderia deixar que ela continuasse se ferindo.Esperava que seu abraço pudesse dar a Lívia um pouco de força.Finalmente.Ela chorou.Um choro de dor.Como se quisesse liberar todas as emoções reprimidas dos últimos dias e morder seus ombros com força.- Sílvio, o que aconteceu com as crianças... Realmente não tem nada a ver com a Aurora?Ela soluçava, quase incapaz de falar.Estava se mostrando vulnerável.Começando a aceitar a realidade.Mas Sílvio sabia que não podia ter pressa, tudo deveria ser guiado pelas emoções de Lívia, além do
- Está tudo bem agora. - Sílvio percebeu seu abatimento e, não querendo a deixar mais triste por sua causa, se apressou em dizer. - Não fique assim, vou investigar imediatamente o que aconteceu com o feto.Ele devia uma explicação a Lívia.Ela assentiu com a cabeça.- E o seu ferimento?- Já cuidei disso hoje.Afinal, ele tinha que sair do hospital para resolver as coisas, não podia ficar com essa aparência.- Certo. - Lívia assentiu novamente. - Vá, eu ficarei bem esperando aqui no hospital.Após dizer isso, ela se deitou novamente na cama do hospital, olhando para ele como uma boneca de porcelana.Lívia tinha agora uma beleza fragmentada.Essa perda, no fim das contas, teve um impacto irreversível sobre ela.Sílvio não ousou a olhar por muito tempo ou as memórias do dia chuvoso, quando Lívia caíra em seus braços, inundariam sua mente novamente.Ela disse para salvar Victor e Alice, mas ele não conseguiu salvar nenhum dos dois.Seu nariz começou a arder novamente, um homem grande não
A crueldade de Sílvio para com a família Monteiro, que não deixou nem os ossos de Murilo para trás, foi um desfecho que nem mesmo Aurora poderia prever. Neste momento, até seus dentes tremiam em sua culpa e ela precisou de muito esforço para se acalmar um pouco. Não importava, Murilo estava morto e nem mesmo antes de sua morte teve a chance de a denunciar. E sem qualquer notícia de Diogo, ela finalmente relaxou, até dando tapinhas na borda da cama e rindo inocentemente.- Você veio me ver?Ele veio a procurar tarde da noite.Será que ele queria que ela engravidasse, para substituir a criança no ventre de Lívia?Com esse pensamento, Aurora se tornou ainda mais proativa.Ela até pensou em puxar para baixo o vestido do hospital.Sílvio nunca se sentiu tão enganado por alguém.Aurora, ela realmente era a menina que o havia salvado quando criança?Por que, quanto mais conviviam, mais sentia que ela era tão diferente daquela pessoa de suas lembranças nebulosas.Quando a luz do quarto do h
Aurora não se sentia culpada por ter admitido secretamente a si mesma o que deveria ter sido a gratidão de Lívia por salvar a vida de Sílvio. Com isso, ela questionou Sílvio:- Desde que nos reconhecemos, você foi muito bom para mim, mas você foi bom demais! Você me deu todas as belas ilusões da minha juventude, você me deu tanto amor e carinho, até que se casou com Lívia, que é parecida comigo, depois que eu desapareci. Você destruiu seu casamento para manter a minha memória. - Aurora foi ficando cada vez mais emocionada. - Você acha que, como mulher, diante de um homem como você, quem poderia não se entregar completamente, quem não pensaria em casar com você?! Mas e você? Sem qualquer explicação, de repente me disse que queria cortar nossa relação e mesmo depois que eu me machuquei, não perguntou por mim, só me entregou ao Pedro. Você já pensou o que eu sentiria?!O que ela disse era verdade.Sílvio sabia que, no processo de retribuir o favor, de fato houve momentos em que confundiu
Embora Diogo tenha trocado o medicamento e acidentalmente preservado a capacidade reprodutiva de Lívia, as crianças já estavam enfraquecidas por terem se assustado no início, inalado almíscar e sido exposta à droga abortiva dada por Aurora. Nos olhos de Aurora, Lívia e as crianças já não representavam uma ameaça. Até esperava que, quando algo acontecesse com Sílvio, ela pudesse simplesmente entregar Lívia a Murilo. Este deveria ser o termo do acordo deles. Ele nunca poderia esquecer o modo como Murilo olhava para Lívia, e por isso, o alimentou aos cães. Aurora já não ousava respirar. Porque Sílvio havia adivinhado tudo corretamente.- E quando eu ficasse deficiente, então o quê? - Sílvio olhou para ela. - O que você planejava fazer?Seu olhar era opressivamente intenso. Aurora se sentia como se tivesse sido jogada em um poço escuro onde, se levantasse a cabeça, engasgaria com água, e, se baixasse, alguém pressionaria seu pescoço até a sufocar. Sob essa imensa pressão, ela desmoron
A expressão de Sílvio já era de grande descontentamento.- Aurora, as suas armações contra mim eu até poderia não me enfurecer tanto, mas você envolveu a Lívia e, mais ainda, tramou contra os filhos que ela tanto valoriza. - Disse o homem, com um tom de voz tão suave que era arrepiante. - Por isso, você também merece a morte!Aurora estremeceu violentamente, jamais esperando ouvir tais palavras e ao pensar no destino de Murilo, ficou tão aterrorizada que não conseguiu articular sequer uma sílaba.- Porém. - A voz de Sílvio mudou de tom. - Uma vez você me salvou.Como Aurora havia dito, o que ela se tornou hoje, de uma forma ou de outra, também era responsabilidade de Sílvio.- Eu não vou te matar.Ele podia relevar a agressão e as conspirações, mas em relação a Lívia e as crianças, ele tinha que prestar contas.Aurora, sem ter tempo para aliviar sua ansiedade, viu a porta do quarto ser aberta violentamente, enquanto Pedro e dois homens robustos de roupas negras entravam pelo corredor.