Marcelo estava estacionando o carro em frente ao prédio da namorada.— Você podia pelo menos deixar que eu passasse em casa para colocar uns sapatos mais confortáveis, André! Fiquei de sapato social o dia todo, e merecia trocar por uns tênis.— Não, Marcelo, estou ansioso para conhecer logo a sua amiga gostosa!— Nós vamos chegar lá cedo demais, nem sei se elas estarão prontas nos esperando.— Não tem problema, vale a pena esperar por uma mulher bonita.— Sou pontual, mas chegar antes da hora costuma irritar as mulheres.— Ah, que nada!Marcelo bufou.Chegaram ao edifício, e a portaria estava escancarada, sem o porteiro.O instinto policial de ambos entrou em ação, os alertando ao mesmo tempo. Marcelo lançou um olhar significativo para André, que respondeu levantando a barra do paletó e mostrando a pistola automática. Entraram silenciosamente, e seguiram pelas escadas, parando em cada pavimento e ouvindo atrás das portas. Era um prédio pequeno, com quatro apartamentos por andar, e log
— O varal de roupas do meu apartamento parece até loja de lingerie. Nunca vi tantas calcinhas e sutiãs juntos! André dava risadas ao escutar as histórias de Marcelo. Estavam tomando café, enquanto falavam sobre o fato de Marina e Lorena estarem provisoriamente hospedadas com ele, traumatizadas demais para voltarem à casa onde haviam visto o diabólico Dimitri morrer.— Mas em compensação minha casa nunca foi tão divertida. Marina e Lorena juntas são muito engraçadas, você sabe.André estava namorando com Lorena, e o grupo estava quase sempre junto.— E, além disso, no final do dia você tem duas beldades para admirar. — Gracejou o perito criminal.— Quando a Simone vai lá para casa conversar com elas, então parece o paraíso: é muita perna de fora e muito bumbum empinado ao mesmo tempo. Tem que ver os shorts que elas usam, é uma loucura...— Meu Deus, você é um depravado... — Sou um sortudo. — Marcelo riu.— Isso é inquestionável — concordou André. — Mas tudo que é bom dura pouc
Marcelo se despediu do amigo de forma vaga e se afastou resmungando.Uma coisa era manter um namoro com Marina quando ela morava em outro bairro. Outra coisa muito diferente seria fazer isto com ela morando em outra cidade, em outro Estado. Com horas de distância entre eles, talvez até um dia inteiro de viagem. Muito provavelmente precisaria viajar de avião para encontrar com ela, ou vice versa, isto é, se houvesse tempo para isso. Ele trabalhava muito, e sabia que o horário de serviço de um artista de novela também ea intenso, com tomadas de madrugada, e gravações que podiam demorar mais de doze horas para serem feitas, tomando o tempo de todos os envolvidos no projeto.Ele enlouqueceria se não a pudesse ver todos os dias da semana.Ele enlouqueceria se não pudesse mais tê-la nos braços todas as noites.E logo depois de quase perdê-la para um louco! Quando Lorena e Marina narraram tudo o que Dimitri lhes dissera, Marcelo e André ficaram pasmos. Era então aquele homem, estatelado no c
Ela continuava a saltitar, como uma criança feliz:— Sim! Eu consegui um emprego que eu queria muito!Ele deixou-se cair no sofá, sentindo seu mundo girar fora do eixo. Estava tonto:— Eu... Eu não sabia que havia um emprego que você queria muito...As sobrancelhas dela se ergueram, e o sorriso se abriu mais:— Na verdade, eu sonho com isso têm anos!!— Oh... é mesmo?Ela guardava-lhe segredos?— É mesmo! — Ela sacudiu uma mão no ar, minimizando a questão: — Ah, é que tem certas coisas que dá azar ficar falando. E todo o ano eu faço tentativas, provas, algumas vezes passo na primeira fase, mas depois... recebo o aviso de que não fui escolhida, então não sabia que agora, finalmente, eu iria conseguir.— É uma coisa que você deseja há anos... — Marcelo estava atordoado.Ele não era tão importante que merecesse saber de todos os sonhos que ela guardava? Ele não tinha sido um namorado interessado, que perguntava tudo sobre a garota aque amava? Tinha achado que sim, mas, pelo visto, havia
Ele quase gaguejou:— Você está falando da Escola de Teatro? A que fica no Centro da Cidade, aqui perto?Ela coçou a bochecha, pensativa:— É, não tão perto assim, acho que leva uns quarenta minutos para chegar lá, de ônibus...Marina viu a expressão de Marcelo mudar completamente, e um sorriso radiante surgiu no rosto anteriormente pálido.— Quarenta minutos de ônibus! É fantástico!— Fantástico? Quarenta minutos? – Marcelo estava doido?— É, não é? É aqui, na cidade!— Sim, isso que falei inicialmente. — Doido, definitivamente. Devia ser o calor, o Sol forte na rua.Marina pôs a mão na testa de Marcelo. Sem febre. Talvez só estivesse desidratado... Ele aproveitou e abraçou-a, segurando-a firme junto dele.— Eu estou muito feliz!E para provar isso, rodopiou com ela pela sala.— Parece mais feliz do que eu, agora. Você está bem?— Sim! — Marcelo parou de rodopiar, e segurou o rosto de Marina em suas mãos, encarando-a com intensidade — Era isso mesmo que você queria? Dar aulas? E as n
No casamento de Marina e Marcelo tudo o que André mais fazia era admirar Lorena. Ela iria partir depois da cerimônia. Outra vez.Não a via fazia uns quatro meses, desde que ela partira para outra cidade, para fazer parte do elenco de uma novela que já estava começando, no horário das dezoito horas, na emissora mais famosa do país.Ela não tinha levado o papel de protagonista, mas sua personagem tinha certo destaque, e como Lorena era de fato talentosa, roubava a cena sempre que aprecia na tela.E roubava um pouco mais o coração de André a cada aparição.Ela era linda, e seu sorriso... era espetacular!Provavelmente ele nunca tinha visto mulher mais bonita, muito menos tinha tido algo tão precioso em mãos. E deixara escapar...Não que ela fosse apenas bonita, não. Era bem mais do que uma bela embalagem. Lorena era uma boa pessoa, amava os amigos, era atenciosa, gentil com idosos e crianças, amorosa com animais ─ mesmo os de rua, que não tinham a melhor das aparências e muito menos o mel
A festa estava divertida, havia boa comida e bebida de qualidade. André não era sofisticado, tampouco entendia muito de decoração, mas tinha plena certeza de que Marcelo, Marina e suas famílias não haviam poupado esforços ou grana para bancar a festa.O local onde estava acontecendo a comemoração era bom, em um bairro acessível, chique, em uma das melhores áreas da cidade. Os convidados não ficariam com medo de serem assaltados na saída da festa, se o endereço escolhido para a festividade não fosse bem localizado. Não era por ser da polícia que André fingiria que sua cidade era cem por cento segura, e que todo os bairros ostentavam o mesmo nível de segurança... Marcelo havia pensando em tudo para seu grande dia, incluindo a tranquilidade de um endereço com bom policiamento.E coisas assim demandavam custo.Se fosse ele o noivo, André, no dia mais feliz da sua vida, também não economizaria nos gastos. Incluiria até um terno de marca. Imaginou-se vestindo um traje de modelo azul marinho.
André foi um dos padrinhos de Marcelo, e um dos amigos escolhidos para fazer um brinde aos noivos. Ele precisou escrever algumas vezes o que falaria, e decorou o rascunho final como se fosse um ator.Na hora H, porém, fugiu do roteiro e acabou falando mais do que previsto, e pelas lágrimas nos olhos da noiva e de outras mulheres presentes, o resultado foi melhor do que esperava.Espontaneidade era tudo, pensou consigo mesmo, satisfeito, afinal.Também havia gravado em sua mente algumas coisas para falar para Lorena.Porém, tudo que havia ensaiado para dizer a Lorena, enquanto a observava interagir com os outros convidados da festa, foi lentamente sendo derramado no ralo, e mais ainda quando seu coração disparou ao parar diante dela, no momento em que o DJ da festa convidou a todos para se juntarem aos noivos na pista de dança.Era justo que o padrinho dançasse com a madrinha, certo? Eles haviam passado pelo corredor cerimonial de braços dados, para assistir aos votos do casal, mais ce