Parte 10
Isabela
Quando eu abri os olhos novamente, tudo estava embaçado. A dor latejava por minha cabeça e meu corpo parecia mais pesado para me mover. Senti mãos me segurando e fiquei nervosa.
Eu não conseguia distinguir ainda as coisas ao meu redor e isso me assustou. Eu ouvia o som de vozes distantes, que se misturava com o zumbido em meus ouvidos. Fiquei apavorada porque sei que estou de olhos abertos, mas existe uma névoa que não me permite ver direito.
Aos poucos os contornos foram ficando mais nítidos. Estou deitada no chão, o asfalto duro contra minhas costas. Tentei me levantar, mas senti vertigem e alguém me impediu.
— Não levante, moça – ouvi uma voz feminina — A ambulância está vindo.
Continuei deitada e segurei minha barriga. Ouvi uma mulher gritar que eu estava grávida e que corressem. Logo depois, m
Parte 1EnzoEu andei pelo quarto, falando ao celular, enquanto observava Isabela deitada, meus pensamentos tumultuados, em uma mistura de alívio e preocupação. Estava falando com Manollo quando ela se mexeu e se virou, sorrindo de leve ao me ver perto da cama. Desliguei.— Isabela... Você me assustou muito, sabia? – eu peguei sua mão e beijei sua testa de modo suave. Quando vai parar com isso? – brinquei para aliviar.— Desculpe, amore... Eu estou bem, Enzo – sua voz estava baixa.Eu segurei seu rosto com cuidado e a beijei com todo carinho, me sentindo mais reconfortado, agora que ela acordou. Tenho que agradecer a Deus por ela ter escapado de mais essa.— Pode falar o que houve, querida? – acariciei seu rosto e sentei na cama.— Eu não sei bem... – ela molha os lábios com a língua.— Quer um pouco
Parte 2VictorMeu coração bate acelerado, fora do compasso. Tenho Bartolo e alguns de seus capangas espalhados fora dessa velha danceteria, quase esquecida pela população. Vejo pouco movimento de entra e sai do lugar.A iluminação é pouca e deixa o ambiente sombrio. Alguns postes próximos completam a iluminação, mostrando que na rua o que menos tem são pessoas e mais ratos, rastejando pelos cantos e se enfiando nas latas de lixos e sumindo nos buracos das paredes.Minha raiva se transforma em ódio, ao ver o local degradante e nojento para onde trouxeram Lívia. Ela não deveria estar aqui. Sinto a mão de Bartolo em meu ombro, escondido comigo atrás da van de entrega de bebidas.— Tenha calma, Victor – ele diz, com sua voz baixa e pausada — Alessandro conseguiu essa localização com os policiais de nossa lista.— Não quero nenhum deles aqui – eu disse apertando os lábios — Quem vai resolver isso sou eu.— Eles não virão, já foi tudo acertado. Enzo já está vindo também com os homens dele.
Parte 3Victor— Por favor, Vicente, pense com calma! – o outro implora com voz preocupada e trêmula — Você sabe o que isso significa para nós... Existe um acordo e todos entraram nisso...— Ah! Vão à merda todos vocês – Vicente gritou — Eu não me importo mais com nada disso, já perdi tudo... – ouvimos pancadas e Enzo abriu um pouco a porta, apenas uma fresta — Não podemos continuar vivendo sob as ordens daquela família – sua voz estava carregada de raiva e revolta — Você sabe o que aquele filho da put* fez com a minha neta e com meu filho?— Infelizmente, sua neta iria acabar dessa forma, Vicente... E seu filho estava envolvido com outras coisas também... Por favor, não se faça de inocente.— Então você está ao lado deles, é isso? – ouvi
Parte 4VictorEnquanto carregava Lívia nos braços, senti seu corpo frágil tremendo de dor. Era preocupante seu estado físico agora e nunca pensei que teria tanta raiva dentro de mim, por vê-la chorar. A urgência de chegar em casa se tornou minha única prioridade, enquanto a preocupação com seu machucado se apoderava de mim.— Não se preocupe, querida, vamos cuidar de você — sussurrei, tentando transmitir segurança apesar do tumulto ao nosso redor. Olhei para Enzo que também estava preocupado e ele assentiu, pegando o celular.— Tales... Precisamos de você com urgência – ele ligou direto para Tales. Ainda bem. Meu coração vai sair por minha boca a qualquer momento — Sim, vá direto para casa e leve tudo o que for preciso. É Lívia!Eu engoli em seco e a apertei ainda mais no
Parte 5IsabelaO sol se pôs lentamente no horizonte enquanto eu finalmente saio do hospital, dois dias depois do acidente de carro que me deixou tão assustada e machucada. Meu corpo ainda está dolorido, mas o alívio de estar em casa novamente me envolve como um abraço reconfortante.Tenho duas preocupações nesse momento. Meu bebê e Lívia. Apesar do médico ter me dito que eu fique despreocupada, ele me deu também uma relação de coisas que devo evitar fazer. E tenho que entrar em contato com meu médico particular e relatar a ele o ocorrido para que ele me acompanhe.Meu coração está pesado pelo que aconteceu com a Lívia, mesmo Enzo me dizendo que eles conseguiram retirá-la de seu cativeiro. Quando entrei em casa eu estava muito ansiosa para vê-la. Ouvi logo o tic-tac do relógio na parede. Eu me movo devagar.Victor vem até mim. Sua aparência está bem abatida. Pelo pouco que falei com Enzo, ele acha que o irmão está com alguma ideia de se afastar. Isso seria péssimo para Yelena. Ele me
Parte 6IsabelaO silêncio pairou tenso no quarto, interrompido apenas pelo som abafado do respirar entrecortado de Lívia. Seu olhar, antes fixo no bordado do lençol, agora encontrava o meu com uma determinação que não deixava espaço para dúvidas. E eu não posso deixar que ela tome essa atitude baseada na emoção de agora. Eu sei como ela se sente. Também estive nessa situação, mas eu não tinha escolha e por isso me adaptei.— Você vai terminar com o Victor? - minha voz saiu mais firme do que eu esperava, tentando entender a fragilidade dela e o impacto do que ela acabara de declarar, para a família — Tão perto do seu casamento? Vocês até já estavam falando sobre a festa.Ela assentiu, os lábios apertados e os olhos marejados, mas a tensão em seus ombros denunciava a luta interna que estava travando.— Eu... Eu preciso, Isabela – ela gesticulou nervosa, esfregando os olhos — Eu não posso viver nesse mundo de constantes ameaças, de incertezas. Eu quero paz, normalidade... Eu não sei se
Parte 7AlessandroEu não gosto de perder tempo com discussão que não leva a nada e no momento, não estou nem um pouco a fim de continuar a brigar com Emma por algo tão tosco.— Emma, eu não vou perder tempo com isso – eu gesticulei, quase gritando ao falar, enquanto ando pelo apartamento — Tenho coisas mais importante para me preocupar agora.— Ah, é mesmo, Alessandro? – ela me dá um tapa no braço e eu paro — Então, acertar nossa relação não é importante para você?Eu ergo o rosto e começo a falar baixinho em siciliano, porque eu sei que ela não entende bem minha reclamação assim. E ela me dá outro tapa.— Não fale em sua língua nativa, Alessandro – ela reclama e passa na minha frente — Eu sei falar italiano, não esse dialeto misturado que você tem aqui.— É minha língua-mãe – eu a olho com ironia.— Ah, é assim? – ela bate o pé com força no chão — Então está certo.Ela começa a soltar um monte de palavras, uma atrás da outra e eu me perco, franzindo a testa. Poucas eu consigo entend
Parte 8EnzoA madrugada já começou, mas enquanto a casa está quieta e Isabela dormindo em nosso quarto, aproveito para conversar com Victor sobre o que Lívia está sentindo sobre nossa família. A lua está muito bonita no céu, cheia, iluminando nosso caminho entre os arbustos e as árvores.Depois do que houve com Bianca, nós resolvemos colocar alguns cães de guarda também. Quatro dos seguranças andam com dois rottweilers e dois cane corsos. São duas raças muito boas para segurança e também são bem adestrados.— Mas será que você não consegue mudar esse pensamento dela, irmão? – eu olho para o céu estrelado.— Não... E não sei se eu quero mudar... Entende? – ele para e respira fundo — Eu nunca quis participar efetivamente desse tipo de